A rainha do combate
Um argumento pela capacidade da verdadeira infantaria leve
Gen Bda Gregory K. Anderson, Exército dos EUA
Cel Brian M. Ducote, Exército dos EUA
Ten Cel D. Max Ferguson, Exército dos EUA
Maj Mark G. Zwirgzdas, Exército dos EUA
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As unidades de infantaria leve se tornam os senhores de seu ambiente. Os soldados da infantaria leve não lutam contra o ambiente, não o temem ou resistem a ele; eles o adotam como abrigo, proteção, provedor e lar. Aprendem a se sentir confortáveis e seguros em qualquer terreno e clima, seja na selva, na montanha, no deserto, no pântano ou na tundra ártica. Excepcionalmente adaptáveis, as unidades de infantaria leve dominam o terreno em que operam e o utilizam como vantagem contra seus inimigos.
—Scott McMichael,
A Historical Perspective on Light Infantry
Este artigo é um apelo ao restabelecimento da verdadeira infantaria leve, a “rainha do combate”, para todas as eventualidades da guerra.1 O Exército dos Estados Unidos da América (EUA) dependerá de divisões de infantaria leve para combater e vencer em terrenos acidentados e inóspitos e em formações pequenas e possivelmente isoladas durante operações de combate em larga escala. Este artigo foi elaborado para iniciar um diálogo dentro da Força a fim de compreender as origens da verdadeira infantaria leve e expressar a necessidade de redescobrir suas vantagens intrínsecas. Além disso, este artigo apresenta considerações sobre como operacionalizar a doutrina emergente e transformar a infantaria leve, dentro das prioridades de modernização do Exército, na formação mais leve, mais autossuficiente e letal que o campo de batalha moderno exige.
A infantaria é tão antiga quanto a guerra. Quer sejam chamados de pés de poeira, fuzileiros ou infantes, eles são a força do combate aproximado. A infantaria é a rainha do combate porque, assim como a rainha no xadrez, a infantaria vai a qualquer lugar onde precisem dela. Montanhas, selvas, planícies árticas ou cidades em ruínas.
Certamente há concessões envolvidas e limitações para as forças de infantaria leve. Viver e combater carregando tudo o que precisa em uma mochila possibilita agilidade e reações rápidas. Porém, uma vez posicionadas no campo de batalha, as tropas a pé ficarão limitadas ao terreno que conseguirem cobrir ou dependerão de meios externos de transporte aéreo e terrestre para fins de reposicionamento. As forças mais pesadas poderão cobrir de forma orgânica um terreno maior, explorar penetrações e acrescentar um nível de letalidade que a infantaria leve não conseguirá alcançar sozinha.
Portanto, a infantaria leve serve como um elemento essencial — mas apenas complementar — da equipe de armas combinadas. Quando comandada, treinada e equipada adequadamente, torna-se a peça mais versátil do tabuleiro de xadrez, especialmente em ambientes restritivos, inóspitos e isolados. A infantaria leve se fará necessária no futuro nas regiões alpinas, paisagens urbanas, ilhas contestadas no Pacífico e nas planícies árticas. Este artigo é um apelo para revigorar ou, talvez, redescobrir uma parte crucial do nosso arsenal de manobras de armas combinadas em nossa próxima guerra: as verdadeiras forças de infantaria leve.
O Exército dos EUA alega ter divisões inteiras de infantaria leve, mas essas designações originais diminuíram com o passar dos anos. Os requisitos de missão imediatamente abaixo do limiar do conflito e as iniciativas de distribuição de equipamento corroeram, de forma lenta porém contínua, a essência da identidade da infantaria leve e tornaram pesadas nossas divisões de infantaria leve, com viaturas blindadas e toneladas de equipamentos em excesso. A infantaria leve se desviou de seu verdadeiro propósito e se ancorou em caudas logísticas, linhas de comunicação terrestres e contêineres TriconNT1 repletos de equipamentos. Frotas de viaturas e reboques ainda se acumulam em suas frotas motorizadas, mesmo após a recente redução das formações de infantaria motorizada de acordo com o anúncio da “Transformação da Estrutura da Força do Exército” (“Army Force Structure Transformation”) em fevereiro de 2024.2 Pilhas de equipamentos de comando de missão entulham os postos de comando. As cargas individuais dos soldados, que chegam a quase 50 quilos, desgastaram o que costumavam ser as formações de infantaria leve.
NT1: Tipo de contêiner usado pelas Forças Armadas dos EUA; três deles equivalem a um contêiner padrão de 20 pés.
A arquitetura física da infantaria leve já existe na forma de unidades de infantaria impressionantes, como a 10a Divisão de Montanha, a 11a Divisão de Infantaria, a 25a Divisão de Infantaria, a 82a Divisão Aeroterrestre e a 101a Divisão Aeroterrestre. Essas divisões têm um histórico marcante advindo da Segunda Guerra Mundial, da Coreia, do Vietnã, bem como de conflitos modernos no Iraque e no Afeganistão. Estão entre as melhores divisões de infantaria do mundo. No entanto, nenhuma delas é verdadeiramente uma divisão de infantaria leve, conforme originalmente planejado. Ninguém é necessariamente culpado por isso; apenas perdemos de vista o que representa uma autêntica divisão de infantaria leve, o que faz com que a infantaria leve seja realmente leve e qual é o papel que a infantaria leve sempre teve e terá em conflitos futuros.
Para entender o argumento pelas capacidades da verdadeira infantaria leve nas operações de combate em larga escala, devemos primeiro compreender o que significa ser uma infantaria leve e como esse estilo distinto de infantaria surgiu no Exército dos EUA. Este artigo começa analisando a infantaria leve em retrospecto, desde o seu estabelecimento na década de 1980. Em seguida, acompanhamos as raízes das características centrais da infantaria, desde a Revolução Americana até os infantes da Segunda Guerra Mundial. Depois de traçar as características que tornam a infantaria leve estadunidense única, analisamos as perspectivas para o futuro da infantaria leve com base em observações de conflitos contemporâneos para possivelmente embasar a transição doutrinária do Exército dos EUA rumo às operações em múltiplos domínios. Por fim, este artigo examina como as seis prioridades de modernização do Exército estadunidense podem ajudar a capacitar a rainha do combate a amplificar e viabilizar a capacidade de verdadeira infantaria leve que a força conjunta, sem dúvida, precisará nas operações de combate em larga escala.
Uma distinção moderna que separa a infantaria regular da leve
A ideia universal de infantaria leve não é nova. Certamente não foi inventada pelo Exército dos EUA. No entanto, o conceito moderno de uma divisão de infantaria leve como uma organização distinta das forças de infantaria mecanizada e regular só surgiu no Exército dos EUA por volta de 1984.3
O processo começou quando o Exército dos EUA fez uma análise cuidadosa sobre o que a infantaria havia se tornado na década pós-Vietnã. O Gen Ex John Wickham era o Chefe do Estado-Maior do ExércitoNT2 na época. A União Soviética continuava sendo a ameaça iminente como o principal adversário na Guerra Fria, e as forças de manobra dos EUA foram concebidas para se defenderem dos avanços blindados através do Passo de Fulda previstos no Pacto de Varsóvia. A infantaria estava preparada para enfrentar combates em larga escala juntamente com, ou como apoio a engajamentos de carros de combate em larga escala. Por esse motivo, o Exército substituiu muitas das viaturas blindadas de transporte de pessoal em unidades de infantaria mecanizada pela nova viatura de combate Bradley, e a infantaria foi treinada para um combate de apoio desembarcado, concentrando-se em abater carros de combate, invadir fortalezas fortificadas e ocupar e manter acidentes capitais. Essas tarefas essenciais à missão fizeram com que até mesmo as unidades de infantaria padrão dependessem de viaturas para “carregar a gama de equipamentos pesados necessários para realizar seu trabalho”.4 Assim, como os Dragões do século XVI, o infante sobrecarregado do início da década de 1980 foi treinado para chegar no local do combate, desembarcar e combater o inimigo a pé.
NT2: Equivalente a Comandante do Exército, no Brasil.
Mas comandantes como Wickham reconheceram uma lacuna preocupante na capacidade: a rainha do combate não conseguia mais ir aonde quisesse. A infantaria havia se tornado muito pesada e morosa. A infantaria regular havia se prendido às suas próprias necessidades logísticas, o que comprometia um dos maiores atributos da infantaria: sua versatilidade. O Exército dos EUA depende e continuará a depender de formações de infantaria leve para se infiltrar, invadir, atacar e emboscar o inimigo, apesar do terreno, do clima e das circunstâncias mais implacáveis.
O que é a infantaria leve?
A essência da infantaria leve transcende o modo como é equipada, o que deve fazer e até mesmo onde deve atuar. O Instituto de Estudos de Combate (Combat Studies Institute) publicou em 1987 uma extensa pesquisa do Maj Scott McMichael examinando as perspectivas históricas do que significava ser uma infantaria leve. McMichael concluiu que “A infantaria leve é, em primeiro lugar, um estado de espírito e, em segundo lugar, um produto da organização”.5 Esse estado de espírito é mais bem descrito como uma atitude de autossuficiência e iniciativa do comandante de pequenos escalões. Livres das amarras das estradas e das montanhas de logística, os integrantes da infantaria leve aprendem a viver com o que carregam em sua mochila apenas. Seus estômagos são seus proverbiais tanques de combustível. E sempre que possível, eles reabastecem seus cantis com água de riachos e neve ao seu redor.
Os homens e mulheres da infantaria leve incorporam uma “forte confiança de que sobreviverão e terão sucesso em qualquer situação em que se encontrem”. Não se intimidam com condições desfavoráveis (como por estarem isolados ou em inferioridade numérica) […] [e] elaboram esquemas para cumprir suas missões, por mais difíceis que sejam as tarefas”.6
O Cel Huba Wass de Czege, um dos principais arquitetos da doutrina de Combate Ar-Terra, definiu em 1985 a infantaria leve como uma força “especializada em transportabilidade aérea rápida, inserção clandestina, terrenos muito acidentados, operações noturnas, infiltração, incursões e emboscadas. Produz apenas pequenas assinaturas táticas”.7 Wass de Czege reconheceu que a infantaria leve combate onde as forças pesadas não conseguem combater, defendendo “áreas de terreno acidentado para que possam se tornar o ponto de apoio para manobras defensivas e contra-ataques”.8 Ele descreve o equilíbrio como “leve, mas poderosamente equipado” e ágil.9 As forças de infantaria leve abrigadas em terrenos restritivos tornam-se difíceis de serem detectadas e mais difíceis ainda de serem desalojadas. A infantaria leve tinha o objetivo de propor dilemas inquietantes para os adversários embarcados. As tripulações dos carros de combate aprenderam na Segunda Guerra Mundial que uma das maiores ameaças aos blindados eram os soldados de infantaria leve na beira das estradas, escondidos em algum lugar entre as encostas, com sistemas de armas anticarro de disparo sobre o ombro.
A definição de Wass de Czege sugere que agora temos uma falta de entendimento fundamental a respeito da infantaria leve em sua verdadeira forma, o que resultou em formações de infantaria leve saturadas de equipamentos e em uma falta generalizada de entendimento sobre sua missão e intenção originais. Diz-se que a 10a Divisão de Montanha se tornou uma unidade de infantaria motorizada com excesso de equipamentos acumulados ao longo de anos de combate de contrainsurgência. Os últimos 20 anos condicionaram as unidades de infantaria “leve” a depender de caminhões para transportar pessoal, entregar suprimentos e alimentar equipamentos de comando de missão. As frotas motorizadas exigiam mais de 32% de um batalhão para deslocar seus veículos.10 Quando um terço do batalhão afivelava os cintos de segurança apenas para operar seu equipamento orgânico, já não era mais leve. Tornava-se motorizado. Essas unidades motorizadas de fato foram condicionadas a permanecer conectadas às linhas de comunicação terrestres; não às colinas, aos pântanos ou às montanhas, mas às estradas, que são facilmente alvejáveis. Nossas formações “leves” perderam a verdadeira essência da infantaria leve necessária para combater e vencer durante operações de combate em larga escala. A atitude obstinada de autossuficiência e versatilidade incomum só é obtida mediante condicionamento físico e mental constante. Combater, de posse apenas do que cabe em uma mochila, requer mais do que disciplina individual — requer cultura organizacional.
A próxima guerra será violenta e implacável. Se as formações de infantaria leve não alinharem sua ordem de batalha e suas missões com os requisitos das operações de combate em larga escala, sofreremos grandes perdas no campo de batalha. Se não conseguirmos restabelecer, codificar na doutrina e modernizar a verdadeira infantaria leve, poderemos correr o risco de sacrifícios desnecessários e de reaprender lições que a nação já conhece. A boa notícia é que a essência da infantaria leve já está bem codificada no DNA do etos da mentalidade do combatente estadunidense e do modo de guerra estadunidense. Portanto, recuperá-la está totalmente dentro do campo do possível.
O que precisamos é de uma infantaria leve estadunidense livre de equipamentos volumosos e liderada por comandantes de pequenos escalões que assumam a responsabilidade pelas operações, resolvam problemas táticos e demonstrem astúcia, ardileza e tenacidade para combater em pequenas unidades enquanto estiverem isolados. Eles combatem em terrenos que só podem ser acessados a pé, não por rodas, para complementar a força conjunta. A infantaria leve estadunidense combate em pequenos elementos não conectados às linhas de comunicação. Eles entram na retaguarda das formações inimigas para desestabilizar e causar medo. As verdadeiras unidades de infantaria leve não só prosperam em terrenos acidentados, condições adversas e à noite, como também aproveitam suas vantagens no ambiente para ajudá-las a destruir o inimigo.
Em última análise, há duas maneiras de tornar ágil um elemento de combate: retirar peso para tornar os soldados mais leves e permitir que comandantes competentes exerçam a iniciativa disciplinada, pois a agilidade também vem do fato de permitir que comandantes de pequenos escalões assumam riscos calculados. Os comandantes que operam em cantos remotos do campo de batalha podem obter dividendos inestimáveis ao tomar decisões oportunas em um combate de operações de combate em larga escala, com base em seu discernimento e compreensão da missão mais ampla. É aí que o Exército dos EUA está em sua melhor forma.
A infantaria leve estadunidense
Um treinamento rigoroso e equipamentos mais leves tornam mais letal qualquer boa unidade de infantaria leve. O que distingue a infantaria leve estadunidense é a iniciativa disciplinada e a confiança mútua promovida entre os infantes do Exército dos EUA e seus comandantes de pequenos escalões. Os graduados da infantaria do Exército dos EUA são admiráveis. Nossos comandantes de pequenos escalões tornam a infantaria leve do Exército dos EUA única. A infantaria leve estadunidense combate como formações descentralizadas em terrenos restritivos, equipada com suas armas, mochilas, algum entendimento compartilhado, a intenção do comandante e as ordens de missão.
Há muito tempo, os estadunidenses são mestres no uso de soldados de infantaria leve para contornar os pontos fortes e as vantagens do inimigo, de modo que possam atacar as vulnerabilidades críticas nos momentos que escolherem. A infantaria leve estadunidense, aproveitando os princípios de patrulhamento, emboscadas e incursões, iniciou sua linhagem com Robert Rogers, que introduziu o conceito de ranging no século XVIII contra os franceses e os indígenas.11 Como adolescente no “Vellho Oeste” estadunidense na década de 1740, Rogers passou grande parte de sua infância com comerciantes indígenas estadunidenses e membros das tribos vizinhas Mohawk e Penacook.12 Os indígenas estadunidenses ajudaram Rogers a se tornar autossuficiente nas florestas da Nova Inglaterra e lhe ensinaram maneiras de sobreviver aos invernos rigorosos da região.13 O mais importante é que os indígenas estadunidenses ensinaram a Rogers “não apenas boas práticas de caça, mas também como pensar sobre a guerra”.14
Outros pioneiros da infantaria leve estadunidense incluem Francis Marion, conhecido como “Swamp Fox” (Raposa do Pântano, em tradução livre), e Thomas Sumter, que atormentaram os britânicos com seus ataques de infantaria leve durante a Guerra Revolucionária estadunidense.15
A infantaria leve estadunidense remonta à Guerra Revolucionária, na qual os britânicos e outras nações europeias não compreendiam totalmente a letalidade que os soldados da infantaria leve estadunidense poderiam infligir em terrenos acidentados. Em seu artigo na [publicação] Army History, “The Influence of Warfare in Colonial America: On the Development of British Light Infantry” (“A influência da guerra nos EUA colonial: Sobre o desenvolvimento da infantaria leve britânica”, em tradução livre), Jack E. Owen Jr. destaca como os britânicos não compreenderam essa faceta única do modo de guerra estadunidense:
Eles não reduziram sua ênfase na disciplina rígida nem abandonaram a linha regular de táticas de combate, mesmo no interior dos EUA. Adaptaram e modificaram suas táticas e técnicas militares ao inimigo francês e indígena e ao terreno de floresta, mas essa resposta à singularidade da guerra nos EUA não constituiu nem a conversão do Exército britânico às táticas da infantaria leve nem a aceitação da ação independente por pequenos grupos de soldados no campo de batalha.16
A mentalidade da infantaria leve estadunidense também ficou evidente durante a Segunda Guerra Mundial em uma ampla gama de atividades, desde os Rangers de Rudder em Pointe du Hoc até as forças que conquistaram as praias da Normandia por terra, mar e ar. Do ponto de vista do inimigo, a incrível mentalidade da infantaria leve estadunidense resultou em vários erros de cálculo do Eixo. Por exemplo, durante a Operação Cobra — a expansão dos Aliados a partir da Normandia —, os alemães tentaram impedir o sucesso dos Aliados com um contra-ataque blindado agressivo na cidade de Mortain, que foi inesperadamente defendida pela infantaria leve estadunidense.17
Por seis dias, o 2o Batalhão, 120o Regimento de Infantaria, manteve suas posições no topo da Colina 314, com vista para uma importante via de acesso de cinco divisões Panzer e Schutzstaffel (SS) alemãs.18 O batalhão de infantaria acabou isolado do restante do regimento no primeiro dia. Eles continuaram combatendo. No terceiro dia, estavam sem água, alimentos, munição e suprimentos médicos. Eles continuaram combatendo. Um oficial alemão da SS se aproximou de suas linhas sob uma bandeira branca com uma oferta para aceitar sua rendição. Em vez disso, a infantaria estadunidense optou por combater mais. Um lançamento aéreo conseguiu entregar uma carga valiosa de munição, alimentos e baterias. Suprimentos médicos, incluindo ataduras, curativos e morfina, foram disparados (sem sucesso) em granadas fumígenas vazias para o batalhão isolado pela artilharia.19 O 120o Regimento de Infantaria nunca abandonou a Colina 314 e acabou sendo substituído por outras unidades de infantaria estadunidenses. “Sua defesa brilhante neutralizou o avanço dos Panzer e possibilitou um grande triunfo para os aliados”.20 A 120a Infantaria, combatendo como um batalhão desembarcado na Colina 314, revelou-se muito difícil de ser derrotada pelas divisões mecanizadas e blindadas alemãs. Os alemães não consideraram totalmente o poder de combate da infantaria leve em terrenos restritivos, com o apoio de fogos indiretos e especialistas em seus ofícios. Nas palavras do Gen Omar Bradley, a decisão alemã de atacar “iria custar um exército ao inimigo e nos dar a França”.21
Durante a Segunda Guerra Mundial, os soldados de infantaria leve estadunidenses da 10a Divisão de Montanha romperam a Linha Gótica, que havia bloqueado o 5o Exército na Itália por quase seis meses. As tropas leves de montanha escalaram os penhascos de 4.500 metros do Cume de Riva (Riva Ridge) com cordas fixas, à noite, sob a neve e a neblina de inverno, e infiltraram mil soldados no topo sem serem detectados pelos combatentes alemães. Foi a primeira operação deles na guerra e desnorteou os alemães, que não acreditavam que uma manobra daquele tipo fosse possível. Após a operação no Cume de Riva, a 10a Divisão de Montanha manteve pressão implacável em um terreno difícil e derrotou os alemães no Monte Gorgolesco, no Monte Belvedere e no Monte della Torraccia. A história dessa grande ofensiva é uma história de sargentos e tenentes e de formações tenazes física e mentalmente, que os alemães não sabiam como enfrentar.
Combater isolado e incomunicável por longos períodos tornou-se, desde então, a verdadeira essência da mentalidade da infantaria leve estadunidense. Os “Pequenos Grupos de Paraquedistas” das 82a e 101a Divisões Aeroterrestres na Segunda Guerra Mundial demonstraram o poder das unidades de infantaria leve estadunidenses que se infiltram em profundidade no território inimigo, guiadas apenas pelas ordens de missão e a intenção.22 O 506o Regimento de Infantaria na Batalha de Bastogne comprovou a tenacidade das forças de infantaria leve, mesmo quando isoladas e com suprimentos mínimos nas condições mais persistentes. Isolado e cercado, o comandante estadunidense capturou o espírito da infantaria leve estadunidense em uma única palavra quando os alemães pediram sua rendição. Ele simplesmente respondeu: “LOUCURA!” Os estadunidenses então deixaram claro aos negociadores alemães: “Se vocês continuarem com esse ataque insensato, suas perdas serão gigantescas”.23 Não estavam blefando.
Mas o poder de uma força de infantaria leve é mais do que apenas um forte senso de autossuficiência e determinação. Ela deve ser capaz de combater como pequenas unidades em ambientes complexos contra um inimigo avançado do ponto de vista tecnológico. O empoderamento de comandantes de pequenos escalões por meio dos princípios de comando de missão é o que torna a infantaria leve estadunidense diferente da força de infantaria leve de qualquer outra nação.24 Hoje, o Exército dos EUA treina seus combatentes para se superarem em condições adversas sob as ordens de missão e a intenção apenas.
A faceta crítica da cultura da infantaria leve estadunidense talvez seja a mais evidente no corpo de graduados e na formação de comandantes de pequenos escalões do Exército dos EUA. Soldados e comandantes de pequenos escalões altamente qualificados continuarão sendo o ponto forte do Exército dos EUA nos próximos conflitos. O Gen Ex James Rainey e a Gen Div Laura Potter escreveram sobre o Exército de 2030, afirmando: “O fator mais importante para vencer no futuro campo de batalha não é um novo equipamento ou conceito, mas nosso pessoal”.25 O combate futuro dependerá dos comandantes de pequenos escalões, e os princípios de comando de missão serão essenciais. As pequenas unidades de infantaria leve estadunidenses, com pouco mais do que suas armas, mochilas e alguma iniciativa disciplinada, “identificarão oportunidades e atuarão de forma independente para alcançar a intenção geral sem ordens específicas”.26 Se é isso que o combate futuro exigirá, então as formações verdadeiramente leves serão essenciais para atender às necessidades da força conjunta nas operações de combate em larga escala. Podemos aproveitar esse aspecto único do modo de guerra estadunidense usando conhecimentos de hoje para atualizar nossa doutrina e modernizá-la adequadamente para, em última instância, criar uma capacidade de infantaria leve.
Transformando a infantaria leve para o campo de batalha moderno
Em 2022 Exército dos EUA formalizou na doutrina o conceito operacional de operações em múltiplos domínios.27 A transição para as operações em múltiplos domínios, pelo menos para a infantaria leve, é uma evolução — não uma revolução. À medida que o papel do Exército evolui no apoio à força conjunta sob as operações em múltiplos domínios, a infantaria leve deve se adaptar. As lições aprendidas com os conflitos contemporâneos, incluindo a guerra na Ucrânia, “moldaram e continuam a moldar nosso conceito transformacional de combate das operações em múltiplos domínios”.28 Esses conflitos oferecem muitos insights úteis sobre como desenvolver a doutrina e transformar a infantaria leve para combater também em operações de combate em larga escala.
Um estudo do Instituto Real de Serviços Unidos (Royal United Services Institute, RUSI) sobre a guerra na Ucrânia concluiu: “Não há santuário na guerra moderna. O inimigo pode atacar em toda a profundidade operacional. A capacidade de sobrevivência depende da dispersão dos estoques de munição, do comando e controle, das áreas de manutenção e das aeronaves”.29 A dispersão e as forças sem sobrecargas foram fundamentais à capacidade de sobrevivência. “A Ucrânia se esquivou com sucesso da onda inicial de ataques da Rússia, dispersando seus arsenais, aeronaves e defesas antiaéreas. Por outro lado, os russos conseguiram engajar 75% das áreas de defesa estática nas primeiras 48 horas da guerra”.30
As unidades de infantaria leve obterão vantagens distintas ao evitar a detecção e o processamento de alvos em um campo de batalha moderno. A infantaria leve é especialmente adequada à dispersão e manutenção de uma assinatura reduzida. O estudo do RUSI sobre a Ucrânia observou que “a capacidade de sobrevivência é, geralmente, alcançada por estarem suficientemente dispersos para que se tornem um alvo antieconômico, movendo-se com rapidez suficiente para desestabilizar a cadeia de ataque do inimigo, evitando, assim, o engajamento, ou entrando em estruturas reforçadas”.31 A cobertura e a camuflagem admitem novas considerações no campo de batalha moderno. À medida que as unidades de combate se esforçam para se ocultar no espectro eletromagnético e mascarar as assinaturas térmicas, acústicas e sísmicas facilmente detectáveis, a infantaria leve obterá a vantagem para a força conjunta.
Pequenas unidades de infantaria leve na Ucrânia conseguiram frustrar o inimigo por meio de sua capacidade de dispersão, cobertura e ataque sob comando. Um estudo observou que “bandos itinerantes de infantaria leve saqueadora agem de maneira semelhante às operações dos submarinos alemães (U-boats) durante a Batalha do Atlântico”.32 O autor os descreveu “como alcateias terrestres” que podiam se espalhar pelo interior simplesmente “para se concentrar e explorar oportunidades identificadas antes de se dispersar novamente”.33
A guerra na Ucrânia também destaca como a infantaria leve pode desempenhar ainda um papel fundamental como as primeiras linhas de contato para a defesa contra os sistemas de aeronaves remotamente pilotadas (SARP) inimigos. As unidades de infantaria leve se sobressaem em ambientes distribuídos que lhes permitem operar em densidades e massa pequenas o suficiente para reduzir a probabilidade de serem alvejadas.34 O uso de sistemas de mísseis portáteis Stinger desempenhou um papel decisivo na defesa de meios críticos ucranianos contra ataques do apoio aéreo aproximado russo.35 Os sistemas portáteis de defesa antiaérea se tornarão especialmente eficazes contra drones e o apoio aéreo aproximado do inimigo quando o Exército dos EUA desenvolver sistemas portáteis de defesa antiaérea que possam ser integrados em radares móveis.36
A infantaria leve prospera em terrenos extremamente restritivos, e o campo de batalha moderno provavelmente será dominado por cidades ou entre montanhas e selvas. Até mesmo campos agrícolas lamacentos podem prejudicar as operações embarcadas, como os russos descobriram durante a invasão inicial da Ucrânia. As forças motorizadas russas rapidamente se viram retidas nas estradas após o degelo em fevereiro de 2022, quando os campos agrícolas descongelaram na rasputitsa (estação da lama) da Ucrânia.37 As viaturas sobre lagartas também tiveram dificuldades para atravessar os campos inundados da Europa. Consequentemente, nos arredores de campos de batalha como Bakhmut, é possível ver onde as “viaturas blindadas inimigas percorreram uma única estrada de acesso estreita, [e passaram por] […] carcaças de caminhões explodidos e queimados que não conseguiram chegar ao destino”.38 Os desafios da Rússia com relação à mobilidade servem como alerta para as unidades de infantaria do Exército dos EUA que se tornaram muito dependentes e vinculadas às suas frotas motorizadas. A transição de volta para a infantaria leve irá prepará-las melhor para combater em terrenos restritivos.
Uma das observações mais interessantes sobre o conflito na Ucrânia é a dicotomia entre os sistemas russos e ucranianos de logística e sustentação. O estudo do RUSI avaliou que “os estoques de guerra ucranianos sobreviveram porque podiam ser rapidamente deslocados e dispersos. O material bélico russo permaneceu extremamente vulnerável aos fogos de longo alcance”.39 Quanto mais leve for a unidade, menor será a logística necessária no nível operacional para sustentar esse elemento de combate. O estudo concluiu que “a redução da cauda logística e, portanto, a vulnerabilidade reduzida dos sistemas de precisão, talvez seja tão importante quanto seu efeito em termos de superioridade em relação aos fogos que não sejam de precisão”.40 A dependência pela Ucrânia das unidades mais leves desagregadas revelou-se promissora para que a sustentação da infantaria leve seja um fator importante em conflitos futuros.41
À medida que o Exército se transforma para as operações de combate em larga escala e codifica os papéis na doutrina, a infantaria leve oferecerá uma combinação das formas subordinadas do ataque (emboscada, contra-ataque, demonstração, finta, incursão e contra-ataque de desorganização) na defesa e no ataque para gerar um campo de batalha descontínuo favorável às ações amistosas subsequentes.42 Ao frustrar a atividade tática do inimigo e criar diversos dilemas para o adversário, a infantaria leve pode forçar o inimigo a combater de forma fragmentada e em várias direções, impedindo a unidade de esforço e massa contra as forças amigas. À medida que o Exército operacionaliza ainda mais as operações em múltiplos domínios para combater e vencer em operações de combate em larga escala, podemos tirar proveito das vantagens únicas que a verdadeira infantaria leve oferece, considerando o ambiente operacional emergente.
Uma abordagem holística da modernização da infantaria leve
Os esforços de modernização para fogos de precisão de longo alcance, viaturas de combate de última geração, transporte vertical futuro, rede e defesa antiaérea atraem a maior parte da atenção de artigos e diálogo acadêmicos sobre o que será importante para a sobrevivência e a vitória no futuro campo de batalha. Nesta última seção, oferecemos algumas recomendações sobre como adotar uma abordagem holística à transformação da infantaria leve conforme as seis prioridades de modernização do Exército.43
Das seis categorias, “letalidade do combatente” sugere uma ênfase na criticidade da infantaria leve. De acordo com o Gen Bda Bob Scales, da reserva remunerada, a infantaria leve “recebe menos de um por cento do orçamento total do Departamento de Defesa alocado para custear equipamentos e treinamento de pequenas unidades”.44 As prioridades de modernização podem ser vistas de forma holística, sendo a infantaria leve um componente essencial para a manobra de armas combinadas em qualquer campo de batalha futuro restritivo e tecnologicamente saturado. Para a infantaria leve, os esforços de modernização são meios econômicos de amplificar as capacidades intrínsecas, em vez de fins distintos. Portanto, com um custo relativamente baixo, a infantaria leve pode proporcionar à força conjunta um alto retorno sobre o investimento.
Desonerar as formações táticas de infantaria leve, a redundância e a simplicidade devem ser parte do mantra do Exército para os esforços de modernização da rede. Ao deixar a complexidade com os escalões superiores de comando, que dispõem de mecanismos de proteção e guerra eletrônica mais avançados, a infantaria leve pode utilizar sistemas mais simples para se integrar ao ambiente e manter uma baixa assinatura eletrônica em um ambiente vulnerável. Devem continuar sendo exploradas formas de modernizar a rede com base em constelações de satélites de órbita terrestre baixa, redes celulares 5G e pequenas aberturas para formações de infantaria leve.
A rede deve proporcionar soluções de rádio intuitivas, leves e portáteis, que sejam capazes de operar em banda cruzada (crossbanding). A infantaria leve deve ter rádios que se comuniquem com outras formações e parceiros de coalizão. Formas de onda personalizadas patenteadas por corporações que neguem à infantaria leve a capacidade de se comunicar com unidades fora de seu comando direto resultarão em uma inflexibilidade significativa.
Um campo de batalha amplamente descontínuo exigirá uma ênfase renovada nas capacidades de transporte para reabastecer a infantaria leve em posições avançadas ou para permitir que as forças combatam isoladas por períodos mais longos. Além disso, a evacuação de baixas da infantaria leve contará com transporte modernizado usando sistemas de drones, pois acredita-se que a evacuação será mais desafiadora nas operações de combate em larga escala e que o número de baixas deverá aumentar. Se nada for feito, as evacuações médicas se tornarão uma operação deliberada esgotante que impedirá que as formações de infantaria leve combatam de forma eficaz em terrenos acidentados.
As prioridades de letalidade do combatente geralmente estão alinhadas com os requisitos da infantaria leve para capacidades desembarcadas e respectivas cargas dos militares. Isso inclui esforços para desenvolver armas de pequeno porte mais capazes e avanços no Sistema Integrado de Aumento Visual (Integrated Visual Augmentation System). No entanto, exceções importantes estão visivelmente defasadas em relação ao investimento do Exército dos EUA em sistemas de mísseis anticarro desembarcados e anti-SARP para soldados da infantaria leve.
Os conflitos atuais na Ucrânia, no Iraque, na Síria, nos Bálcãs e em Israel demonstram que a modernização da defesa antiaérea será primordial para as operações de combate em larga escala, principalmente em preparação para combates de manobras ofensivas de nossas forças terrestres. Atualmente, o foco da modernização continua sendo derrotar os SARP maiores que estão sendo empregados como mecanismos de ataque unidirecional. “Abater aeronaves tripuladas e grandes VANT [veículos aéreos não tripulados] é relativamente simples, como os ucranianos demonstraram. Os micro e pequenos VANT são um desafio diferente”.45 Os Stingers não são a solução para o combate aos SARP. Precisamos encontrar formas de integrar pequenos sistemas de mísseis desembarcados interceptadores de drones aos sistemas de radares da força conjunta para que os infantes os carreguem na fronteira do combate e ajudem a proteger o restante da força.
No entanto, há um equilíbrio entre proteção e letalidade, e o acréscimo de equipamentos muitas vezes reduz o ritmo. Os assessores do Grupo de Assessoria Especial dos EUA para a Ucrânia (U.S. Special Advisory Group-Ukraine) alertam contra a tentação de sobrecarregar os infantes com muitos meios antidrone e de pequenas aeronaves não tripuladas, além de seus equipamentos básicos. O Exército russo na Ucrânia compensou a redução do ritmo enviando levas maciças de tropas descartáveis. As equipes pequenas de forças de infantaria leve estadunidenses devem permanecer ágeis e letais para preservar o ritmo, operando de forma sincronizada contra o inimigo em todo o campo de batalha.
Embora o Exército dos EUA não tenha exclusividade sobre a noite, ele ainda tem uma vantagem única. Os russos e os ucranianos geralmente não combatem durante as horas de visibilidade limitada. Embora provavelmente haja uma série de motivos para isso, é razoável concluir que há uma falta de familiaridade e, possivelmente, de disponibilidade de equipamentos de visão noturna. Em flagrante contraste, o Exército dos EUA promove uma cultura de combate sob condições de visibilidade limitada para treinar, certificar e validar as forças. A capacidade diferenciada do Exército estadunidense para combater à noite continuará sendo uma vantagem competitiva contra seus adversários. O combate e as manobras noturnas permitirão que a infantaria leve estadunidense se concentre e crie uma vantagem de ritmo.
Os esforços de modernização do Exército podem ajudar a encontrar maneiras de capacitar, proteger e amplificar os efeitos das forças de infantaria leve em combate aproximado, considerando a realidade das operações de combate em larga escala. Essas prioridades não são fins, mas sim meios para liberar todo o potencial da infantaria leve e o que essa força pode alcançar em operações de combate em larga escala. A capacidade da infantaria leve de se deslocar por grandes distâncias para tomar e fortificar posições em acidentes capitais, realizar emboscadas, executar outras formas de ataque e conduzir operações defensivas dispersas determinarão o resultado de um combate em operações em larga escala.
Conclusão
Para se preparar para um combate iminente em operações de combate em larga escala, a nação e o Exército estadunidenses dependerão da infantaria leve para combater em terrenos restritivos, inóspitos e isolados. Em preparação, devemos primeiro declarar o verdadeiro significado da infantaria leve e, em seguida, reformular segundo as prioridades doutrinárias e de modernização emergentes. A essência da infantaria leve está no cerne do etos do combatente estadunidense. A história e os conflitos contemporâneos revelam a criticidade da infantaria leve, e os comandantes mais antigos atuais entendem isso melhor do que a maioria.
O Gen Ex Randy A. George, Chefe do Estado-Maior do Exército, delineou suas quatro prioridades para a Força: combate, disponibilização de formações de combate prontas, transformação contínua e fortalecimento da profissão.46 A infantaria leve é, por natureza, adequada para se ajustar a fim de atender às prioridades do Exército e deve continuar sendo um componente essencial da concepção operativa do Exército dos EUA. Mas o papel da infantaria leve deve ser reimaginado para as operações de combate em larga escala. Nossa doutrina e nossos equipamentos devem se transformar para capacitar os soldados a pé que combaterão na próxima guerra — as pequenas unidades que se infiltram através de pântanos e escalam cumes. São aqueles que atormentarão uma força inimiga maior e manterão um acidente capital, independentemente das condições. Abraçar a importância e a versatilidade da infantaria leve estadunidense operacionaliza a visão do Chefe do Estado-Maior do Exército.
Combate significa preparar a força para combater em operações de combate em larga escala em qualquer terreno. A infantaria leve treina tanto para os ambientes operacionais que o Exército dos EUA inevitavelmente enfrentará quanto para aqueles que não podem ser previstos. Conforme mencionado neste artigo, a essência da mentalidade do combatente estadunidense é a tenacidade, a engenhosidade e a iniciativa disciplinada, que há muito tempo são as marcas registradas de nossas formações de infantaria leve. Para a força conjunta, essas formações de infantaria leve tornam-se as forças rapidamente desdobráveis, capazes de proteger sistemas-chave de armas, a infraestrutura essencial e as zonas de apoio. Para a equipe de armas combinadas do Exército, a infantaria leve irá onde outras formações não conseguem ir. A infantaria leve estadunidense combaterá em condições climáticas extremas, nos terrenos mais acidentados e isolada de sua base logística. Combate refere-se a aproveitar os pontos fortes da infantaria leve da nação nos campos de batalha do próximo grande conflito.
Disponibilização de formações de combate prontas significa treinar a infantaria leve para o combate que teremos no futuro, e não para o que tivemos no passado. As formações de infantaria leve devem treinar para as realidades do combate aproximado contra adversários com poder de combate quase equiparado e projetar, capacitar e sustentar suas forças em operações de combate em larga escala. Disponibilizar formações de combate prontas é um objetivo duplo para a infantaria leve. Em primeiro lugar, prontidão significa que a infantaria leve pode empregar tecnologia moderna de forma eficaz para atingir seu propósito tradicional em um campo de batalha moderno. Segundo, a prontidão implica que a verdadeira infantaria leve está preparada para operar em ambientes inóspitos, em um campo de batalha descontínuo e distante das linhas de comunicação tradicionais. Os soldados da infantaria leve devem fazer mais do que sobreviver em terrenos complexos; devem estar prontos para prosperar e dominar o terreno em vantagem própria.
Transformação contínua significa encontrar maneiras de modernizar a capacidade do Exército de manobrar a pé em terrenos acidentados e inóspitos. Cada objetivo de modernização não pode se tornar um fim independente em si mesmo ou existir para tratar de sintomas ou desafios distintos apresentados pelas operações de combate em larga escala. Transformação contínua significa também alinhar a doutrina emergente e operacionalizar as operações em múltiplos domínios de forma a tirar proveito da verdadeira infantaria leve a fim de capacitar a força para combater e vencer em operações de combate em larga escala.
Fortalecimento da profissão inclui o desenvolvimento contínuo de comandantes de pequenos escalões, principalmente nossos graduados, para criar uma infantaria leve estadunidense competente, inteligente e astuta. Comandantes de pequenos escalões habilitados e confiáveis criam formações coesas, autônomas e letais. Diferentemente de qualquer outro exército do mundo, os graduados e os comandantes de pequenos escalões do Exército dos EUA impulsionam a infantaria leve estadunidense para que seja capaz de operar apenas com as ordens de missão e a intenção. A mentalidade da infantaria leve estadunidense cria uma coesão eficaz por meio de dificuldades compartilhadas no treinamento e no combate, quando as unidades operam de forma independente e isolada.
A infantaria leve estadunidense deve continuar a habilitar e a confiar nos comandantes de pequenos escalões para que treinem a fim de alcançar a autonomia radical. As pequenas formações tornam-se extremamente letais, disciplinadas e agressivas devido à responsabilidade, autonomia e primazia dos graduados que as lideram. Esses graduados são especialistas na aplicação técnica e tática da violência. Além disso, eles treinam as equipes aptas, tenazes e coesas que os combates modernos exigem. Essas equipes são orientadas pelo preceito de que a infantaria leve não é apenas uma estrutura de força, mas uma mentalidade fundamental que assegurou as vitórias da nação ao longo da história.
Preparar a infantaria leve no contexto das diretrizes do Chefe do Estado-Maior do Exército não se refere apenas a cada prioridade isoladamente. Na verdade, trata-se de oferecer um caminho que atenda a grande parte do que o Exército dos EUA deseja para a Força em geral. Incutir uma mentalidade de verdadeira infantaria leve, fundamental para a essência do combatente estadunidense, posicionará a rainha do combate para que apoie a força conjunta sob quaisquer condições e em qualquer terreno. Mais importante ainda, uma verdadeira infantaria leve será um componente insubstituível para a equipe de armas combinadas do Exército que irá combater e vencer a próxima grande guerra.
Referências
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O Gen Bda Gregory K. Anderson, do Exército dos EUA, serviu como Comandante da 10a Divisão de Montanha e de Fort Drum, de setembro de 2022 a maio de 2024. Anteriormente, atuou como diretor de operações e cibernética (J-3) do Comando da África dos EUA, de julho de 2021 a agosto de 2022.
O Cel Brian M. Ducote, do Exército dos EUA, é o Comandante da 1a Brigada de Assistência às Forças de Segurança em Fort Moore (Benning), Geórgia. Anteriormente, serviu como Comandante da 1a Brigada de Combate, 10a Divisão de Montanha, em Fort Drum, Nova York. É bacharel em Espanhol e Engenharia de Ciência da Computação pela Academia Militar dos EUA e tem três mestrados pelo U.S. Army Command and General Staff College e pelo U.S. Army War College. Serviu no Afeganistão, Iraque, Síria e Kosovo.
O Ten Cel D. Max Ferguson, do Exército dos EUA, comanda o 2o Batalhão, 14o Regimento de Infantaria, 2a Brigada, 10a Divisão de Montanha. É oficial de carreira da infantaria com seis desdobramentos no Iraque, Afeganistão e África Ocidental em unidades de operações convencionais e especiais. Recentemente, concluiu doutorado em Políticas Públicas pela University of Texas at Austin como bolsista do programa ASP3 Goodpaster Scholar.
O Maj Mark G. Zwirgzdas, do Exército dos EUA, conduz atualmente a coordenação de defesa interagências na região dos Grandes Lagos [da América do Norte]. Anteriormente, serviu como oficial de operações e oficial executivo do 1o Batalhão, 87o Regimento de Infantaria, 1a Brigada de Combate, 10a Divisão de Montanha. Comandou ainda a Companhia A, 2o Batalhão, 325o Regimento de Infantaria Aeroterrestre durante a Batalha de Mosul, em 2017. Suas atribuições incluem desdobramento de mais de 42 meses na área de responsabilidade do Comando Central dos EUA. É bacharel em Gestão de Operações pela Ohio State University e tem mestrado pela U.S. Army Command and General Staff College.
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