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Artigos Exclusivamente On-line de Março 2017

A Operação Sangaris:

Um Estudo de Caso sobre Intervenção Militar Limitada

Maj Rémy Hémez, Exército Francês

Artigo publicado em: março de 2017

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Integrantes da Missão Multidimensional

Em 5 de dezembro de 2013, a França lançou a Operação Sangaris na República Centro-Africana (RCA). Nos dias que se seguiram, ocorreram debates acirrados sobre a provável eficácia da operação. Os críticos salientaram os baixos efetivos de tropas francesas e multinacionais, considerando a complexidade da missão e o tamanho da área de operações. Também, ressaltaram que, em termos de eficácia militar, parecia provável que a Operação Sangaris fosse menos efetiva que a Operação Serval (2013-2014), apesar das suas naturezas fundamentalmente diferentes. A Serval foi lançada no Mali onze meses antes, e “muitos observadores franceses e estrangeiros ficaram surpreendidos tanto pela velocidade do desdobramento quanto pela rapidez dos resultados”1.

No entanto, na Sangaris, os militares franceses tiveram êxito: foram capazes de se adaptar ao contexto e serem militarmente efetivos2. De fato, a Sangaris não resolveu a crise na RCA, mas ajudou a evitar o genocídio, estimulou o processo de desarmamento enquanto fomentou uma nascente estrutura administrativa e restaurou o fornecimento de bens essenciais — tudo isso com relativamente poucas baixas3. Acima de tudo, a Sangaris conseguiu ser uma “operação de transição” para a Missão Multidimensional Integrada de Estabilização da Organização das Nações Unidas (ONU) na República Centro-Africana, conhecida como a MINUSCA, e essa conexão era o estado final desejado4.

Por isso, a Sangaris mostra como a adaptação nos níveis tático e operacional e a aceitação de risco podem garantir que uma intervenção militar limitada atinja o estado final pretendido. Não obstante, questões sobre a sustentabilidade das condições do estado final são justificadas, e aqui as consideramos.

Uma Olhada nos Números

A quantidade combinada das forças internacionais e francesas na RCA aumentou de 4.500, em dezembro de 2013, para 11.700, em agosto de 2015. A França desdobrou 1.600 militares em dezembro de 2013, aumentando a quantidade para 2.000, em fevereiro de 2014, e, subsequentemente, reduzindo para 900, em junho de 2015. Em dezembro de 2013, uma primeira tentativa liderada por africanos, conhecida como a Missão Internacional de Apoio na República Centro-Africana (MISCA), forneceu 4.500 militares5. Subsequentemente, essa missão foi substituída pela MINUSCA que, já em 2015, tinha mais de 10.800 tropas na RCA. A força da União Europeia, conhecida como a EUFOR-RCA, desdobrou 700 militares em julho de 2014. Esses números, dependendo do período sob análise, representam uma relação entre 1,1 e 2,2 soldados por cada 1.000 habitantes — muito menos do que as recomendações típicas de forças para uma operação de estabilização6. Os peritos recomendam entre 10 e 20 militares por cada mil habitantes7. Além disso, esses contingentes tinham de executar uma missão complexa no meio de uma guerra civil étnico-religiosa, e em um país tão vasto como a França, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo juntos — 622.000 quilômetros quadrados com aproximadamente 5,3 milhões de habitantes. Isso é um ótimo exemplo da incoerência entre a doutrina ocidental, que estipula grandes efetivos para as operações de estabilização, e as visões políticas ocidentais atuais, que buscam evitar grandes desdobramentos.

Esse relativamente baixo nível de desdobramento de tropas francesas foi o resultado de causas cíclicas, estruturais e culturais. Na realidade, em dezembro de 2013, o Exército Francês já estava sobrecarregado: 7.400 militares estavam desdobrados em operações no exterior e 11.640 estavam sendo empregados como forças de presença e de garantia da soberania8. Pode-se acrescentar a isso a relutância dos integrantes de estado-maior e dos formuladores de políticas de empreenderem uma nova missão de estabilização que prometia ser longa e difícil.

Estruturalmente, o Exército Francês tem reduzido significadamente o seu tamanho desde o final da Guerra Fria de 660.904, em 1990, a 270.849, em 2014. Segundo o French White Paper on Defence and National Security (Livro Branco de Defesa e Segurança Nacional Francês), de 2013, o Exército Francês precisa ser capaz de desdobrar 15.000 militares por seis meses em um teatro principal e 7.000-8.000 em um teatro secundário9. O Exército Francês não é projetado para realizar missões de estabilização de longo prazo que envolvem grandes efetivos de tropas. Em vez disso, é estruturado para operações de “incursão estratégica/modelo expedicionário”. Culturalmente, a França está acostumada à “sobriedade operacional”. Desde 1964, tem conduzido mais de 50 operações em 20 países africanos. As operações, além da Operação Licorne (2002-2015) na Costa do Marfim e da Operação Serval no Mali, quase sempre eram realizadas com relativamente poucas tropas, em geral entre 1.000 e 3.000. Isso talvez possa ter criado a imagem de um modelo francês da intervenção na África capaz de produzir resultados a um custo relativamente baixo.

A Eficácia Militar por meio da Adaptação

O pequeno desdobramento de tropas em uma operação de estabilização prejudica a efetividade militar? Desde a Guerra do Vietnã, temos aprendido que números não vencem uma guerra, e que adaptações nos níveis tático e operacional podem permitir que uma força seja efetiva apesar de pouco numerosa. Vamos analisar de que maneira o Exército Francês tem se adaptado na RCA.

No nível operacional, o desdobramento de 2.000 militares em uma área de operações tão vasta necessariamente significa uma reconsideração e uma limitação das linhas de ação. Isso é verdade em relação às ações francesas na capital da RCA, Bangui, que mostrou ser difícil de controlar após a saída do Grupamento de Combate Panther (um grupamento de combate é composto de aproximadamente 800 a 1.000 militares), em fevereiro de 2014, para áreas mais remotas. O Grupamento de Combate Amarante tinha de controlar Bangui, uma população de mais de um milhão, com apenas duas companhias reforçadas (cerca de 300 militares). Consequentemente, as tropas francesas se concentraram no centro e no sul da cidade e alguns bairros tiveram que ser deixados sem proteção. Os 400 militares adicionais que chegaram em fevereiro de 2014 foram usados para obter mais liberdade de ação.

No resto do país, devido a vastidão do território, a sincronização era importante. Para cumprir as suas missões, as forças francesas tinham de estar no lugar certo, na hora certa com a quantidade de força adequada. Isso significava que eles só podiam ter poder relativo de combate favorável para uma ação que tinha sido antecipada e planejada, ao mesmo tempo mantendo suficiente mobilidade. No entanto, a falta de infraestrutura rodoviária na RCA fazia a mobilidade dentro do teatro de operações, no mínimo, desafiante portanto a liberdade de ação no nível operacional dependia principalmente da capacidade da força de reconhecer, abrir e manter pistas de pouso secundárias em boas condições10.

O fato de que as unidades francesas eram equipadas principalmente com viaturas leves facilitou a mobilidade às custas da proteção — no início da operação, apenas 50% dos grupamentos de combate franceses eram blindados. O emprego de meios aéreos provou ser essencial, mesmo que a escassez dos recursos desdobrados (10 helicópteros em junho de 2014) e a ausência de helicópteros pesados fossem fatores limitadores. A centralização desses meios no nível operacional foi essencial para a otimização do seu emprego.

As manobras escolhidas no nível operacional refletiam o fato de que as forças da Operação Sangaris tinham o âmbito completo de capacidades, mas o seu pequeno efetivo impunha ações sucessivas. Por isso, foi decidido que as manobras se desdobrariam em três fases. Primeiro, entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, o foco foi Bangui — onde a maioria da população e os estrangeiros expatriados moravam — para obter uma vantagem sobre o inimigo e implementar medidas de construção de confiança (veja a Figura 1).

Figura 1

As operações na segunda fase, janeiro a março de 2014, se concentraram no oeste. O grande objetivo era proteger a principal estrada logística da RCA, entre Bouar e Bangui (veja a Figura 2).

Figura 2

Durante a terceira fase, começando em março de 2014, as operações voltaram-se para o leste. As forças buscaram restabelecer a autoridade do governo e manter unificado o território da RCA (veja a Figura 3).

Figura 2

Essa abordagem passo a passo, feita necessária pela pouca quantidade de tropas, repetiu a linha de ação implementada pelo Gen Ex Joseph Gallieni, do Exército Francês, em Tonkin, no Vietnã, no Século XIX, conhecida como o conceito do “ponto de óleo”11. Em face a recusa dos seus superiores de concedê-lhe mais homens, apesar de ter recebido ordens de proteger uma vasta área, estendendo-se de Lao Kay a Dien Bien Phu, Gallieni decidiu proceder metodicamente e não mudar de setor até que aquele que estava em sua posse fosse controlado. Gallieni escolheu essa linha de ação completamente ciente de que levaria uma grande quantidade de tempo. De fato, para um setor ser considerado controlado, melhorias econômicas precisavam ser visíveis e a ocupação vista como definitiva pela população.

Contudo, em contraste com essa inspiração do passado remoto, o ritmo operacional na RCA foi muito mais rápido. A Operação Sangaris tinha de manter um alto ritmo operacional para acompanhar os objetivos políticos e impedir massacres. Como resultado, áreas nunca foram realmente controladas, mesmo depois da MINUSCA ter sido desdobrada na sequência da Operação Sangaris.

A meta era controlar apenas o que fosse absolutamente necessário e atuar onde a população corria o risco maior, enquanto buscava entregar o controle de cada local às forças internacionais, logo que possível. Com efeito, o sucesso tático foi alcançado ao mudar continuamente os esforços no nível operacional. O tríptico “limpar, proteger e construir” não foi aplicado na sua totalidade pela Sangaris. Nesta operação de transição, as forças francesas tinham que se concentrar no “limpar” enquanto deixavam o “proteger” e o “construir” serem empreendidos por forças multinacionais, organizações internacionais e governos locais.

O Exército Francês estava bem preparado para adaptar-se aos desafios táticos da Sangaris. As forças francesas possuem habilidades valiosas e experiências obtidas nas operações no Afeganistão e na Operação Serval, no Mali. No nível tático, o alto envolvimento das Forças Armadas francesas por mais de 20 anos faz que sejam uma boa opção para uma operação complexa, considerando que quase todos os oficiais e graduados possuem experiência em combate.

Para maximizar a efetividade, pequenas equipes táticas de armas combinadas, conhecidas como sous-groupement tactique interarmes (SGTIAs, aproximadamente cem combatentes) foram distribuídas por toda a RCA. Já que as forças francesas tinham estado empregando SGTIAs nos anos recentes, os militares que compõem essas unidades estavam completamente treinados e acostumados ao combate das armas combinadas. No início da operação, os SGTIAs eram frequentemente divididos em duas partes que operavam autonomamente. Isso levantou a questão de quão pequena uma unidade independente pode ser enquanto permanece taticamente com as capacidades de manobra e de sobrevivência. Essa questão foi especialmente relevante desde que o inimigo era polimórfico.

Um grupo inimigo, chamado Sélékas, geralmente lutava em grupos de 30 pessoas em torno de uma metralhadora 14,5mm, fazendo manobras quase como um exército regular. Outro, chamado anti-balakas, se comporta mais irracionalmente. Esse grupo frequentemente agia sob a influência de drogas e bebidas alcoólicas, equipado, no melhor dos casos, com Kalashnikovs. Os anti-balakas preferiam ações de ataque-e-fuga, do estilo guerrilha12. Os grupamentos de combate foram forçados a analisar, continuamente, a sua organização de tarefas e se desdobrar em grandes extensões de território, de uma maneira bem fora das normas doutrinárias. Por exemplo, o Grupamento de Combate Panther, atuando na RCA oriental, entre fevereiro e março de 2014, tinha unidades desdobradas a uma distância de mais de 300km, com unidades de nível pelotão operando a mais de 100km do seu comandante de companhia (mais de cinco horas em uma viatura sobre lagartas). Entre março e julho de 2014, o Grupamento de Combate Scorpion tinha uma área de operações que estendia de Sibut a Bria, uma distância de aproximadamente 350km, com uma área de 60.000km2.13

É difícil nesses casos considerar as manobras de reação e o reforço rápido. Essa era a razão pela qual o apoio de asa rotativa era essencial, especialmente considerando os seus efeitos psicológicos sobre as forças inimigas. Algumas áreas tinham de ser deixadas sem controle ou monitoradas por observação móvel em intervalos. Havia problemas com as ligações por rádio: As ondas de rádio de frequência muito elevada (VHF — very high frequency) não abrangem essas distâncias efetivamente, e os SGTIAs normalmente não eram equipados com rádios de alta frequência (HF) ou de satélite. As imensas distâncias faziam o comando mais complexo, uma vez que é difícil para um posto de comando de grupamento de combate desdobrar mais de um posto de comando tático. Para ser capaz de controlar a sua área de operações, o Grupamento de Combate Scorpion, a partir de um posto de comando de 10 oficiais, desdobrou um posto de comando principal e três postos de comando tático (compostos de uma equipe de sinais e um ou dois oficiais) permanentemente, por quatro meses. Claro, as limitações de estado-maior eram significativas, mas as unidades ainda eram capazes de manter comunicações e um nível de contato adequado com as autoridades locais.

Essa dispersão necessária de unidades no terreno foi, também, um desafio em termos de logística. Uma equipe de armas combinadas requeria sete toneladas de suprimentos por semana (além da munição). Isso significava que a entrega por avião C-130 não era suficiente. Contudo, um comboio de estrada requeria quatro dias para uma viagem de ida e volta entre Bangui e Bouar. Durante a estação das chuvas (junho a setembro), de Bangui levaram 48 horas para chegar à fronteira com o Chade (350km)14. Além disso, esses comboios tiravam militares das outras tarefas operacionais. Tudo isso levou à consideração de operações de entrega por lançamento aéreo para unidades isoladas, em casos de emergência. O assunto era semelhante em relação a helicópteros. Dentro de uma hora, um helicóptero de ataque leve Gazelle ou dois helicópteros de transporte médio Puma consomem dois metros cúbicos de combustível, então voos de longa distância requeriam reabastecimento no itinerário. A logística era uma limitação real para as operações, e essa situação exigia a aplicação de uma lógica “estritamente o suficiente” Isso é especialmente verdade desde que a relação “boca a cauda”, ou seja o número de combatentes contra o número de apoio, foi entre 20 e 25%, que é considerada um baixo nível15.

Além desses ajustes táticos, a Operação Sangaris foi militarmente efetiva porque, mesmo nos níveis hierárquicos mais baixos, os comandantes eram capazes de implementar uma “abordagem abrangente”. De fato, comandantes de companhia em áreas isoladas, e às vezes até comandantes de pelotões, se encontraram coordenando ou envolvidos em tarefas administrativas, e tinham que comandar sem um sistemade apoio jurídico16. Eles improvisaram e inovaram. O Grupamento de Combate Scorpion estabeleceu projetos locais de restauração e integração (chantiers de rehabilitation et d’intégration locale), com o objetivo de reunir ex-combatentes voluntários em um projeto comum, enquanto provia treinamento vocacional para ajudar na sua reintegração à sociedade17. Isso foi feito com a noção de que não havia uma maneira de controlar completamente uma área de operações tão vasta, por isso a persuasão, em vez da força, era necessária.

Conclusão e Recomendações

Faça ações sustentáveis para evitar ter que voltar. Agir com velocidade para sair com rapidez18.
— Gen Bellot des Minières

O modelo expedicionário atual do Exército Francês implica que a nação desdobrará apenas contingentes modestos se os interesses vitais do país não estiverem em jogo. No entanto, se alguns riscos são aceitos, o emprego de contingentes modestos não necessariamente faz com que o modelo seja ineficiente. O problema é que no contexto de um envolvimento modesto, é difícil transformar realizações militares em resultados duradouros. Os franceses estão longe de ser capazes de cantar vitória, as raízes da crise centro-africana são profundas, e a normalidade na RCA só pode ser considerada em uma perspectiva de longo prazo. O estado final almejado da Sangaris foi de ser capaz de entregar as operações (em uma condição aceitável) a uma força internacional, não criar uma paz duradoura. Os eventos no Mali e uma nova política africano-francesa decididamente multilateral e indireta têm levado à coordenação entre as operações francesas no exterior e às operações de manutenção da paz da ONU19. Essa divisão de tarefas não é atípica para a França e tem se tornado comum nos últimos dez anos. Como resultado, na RCA, a França interveio em apoio da MISCA, e essa cooperação é apenas um exemplo da determinação francesa de implementar medidas de construção da confiança. A substituição da MISCA pela MINUSCA, em setembro de 2014, e o aumento gradual do efetivo de tropas da MINUSCA permitiram que a Operação Sangaris mudasse aos poucos, a sua missão. Tornou-se uma força de reação e de segurança em apoio à MINUSCA, que foi reduzida a 900 militares em junho de 2015.

Com certeza, esse efeito cria ambiguidades na hora de abordar o assunto de como avaliar os resultados. Não obstante, para a França o aspecto principal em tais operações se torna a transferência de responsabilidade para as forças parceiras, e, em particular, a uma missão de manutenção da paz da ONU que possa oferecer a “massa crítica” e operar com uma perspectiva de longo prazo “onde ninguém tem vontade de manter tropas”20. Isso cria um verdadeiro desafio de coordenação para garantir a unidade de esforço entre todas essas forças, e exige um investimento significativo em oficiais de ligação. Outro assunto é a questionável qualidade das tropas que substituem as forças francesas.

Não devemos tirar conclusões genéricas sobre a experiência da Operação Sangaris. Como o Marechal Lyautey escreveu, “Não há um método .... Há dez, há vinte, ou particularmente se há um método, é chamado flexibilidade, elasticidade, conformidade aos lugares, tempos, circunstâncias”21. No entanto, as medidas de adaptação tomadas por unidades durante essa operação nos permitem identificar — além da questão do nível de tropas — algum critério de efetividade nas operações de estabilização sob a limitação de forças disponíveis:

  • Ser capaz de rapidamente desdobrar tropas experientes e bem treinadas22.
  • Não se abster do desdobramento de ambos os meios, pesados e móveis.
  • Ser capaz de inverter o curso.
  • Exibir contenção e discriminação no emprego da força, ao mesmo tempo, ser capaz de usar a força bruta, se necessária, para estabelecer credibilidade.
  • Ser capaz de operar com frequentes mudanças de esforço, ao longo de grandes distâncias.
  • Ser capaz de concentrar esforços rapidamente, depois do recebimento de informações para criar um sentido de ubiquidade.
  • Dedicar recursos especializados para monitorar áreas não observadas no mapa.
  • Adaptar a estrutura das unidades e do seu comando continuamente para melhor adequar-se às exigências da missão.
  • Ter unidades capazes de operar independentemente, até o nível pelotão reforçado.
  • Implementar uma abordagem abrangente até nos escalões mais baixos.
  • Reformar, treinar e equipar forças locais desde o início da operação, e não depender delas durante a fase de planejamento.

Este artigo é adaptado e traduzido de Rémy Hémez e Aline Leboeuf, “Retours sur Sangaris: Entre Stabilisation et Protection des Civils,” Focus Stratégique 67 (April 2016), acesso em: 23 ago. 2016, http://www.ifri.org/sites/default/files/atoms/files/fs67hemez_leboeuf.pdf. Focus Stratégique é uma publicação do Institut Français des Relations Internationales (Ifri). Os mapas são do Ifri e do Centre de Doctrine d’Emploi des Forces (CDEF), usados com permissão.

Os pontos de vista expressos neste artigo são do autor e não refletem os do Exército Francês.

Um Terrorista Global Especialmente Designado: Joseph Kony

Em março de 2016, o Ministério da Fazenda dos EUA anunciou novas sanções contra o “terrorista global especialmente designado” Joseph Kony e o Exército de Resistência do Senhor (ERS). Segundo o Ministério da Fazenda, desde os seus primórdios no norte da Uganda, nos anos 80,

o ERS se envolveu no sequestro e na mutilação de milhares de civis por toda a África central. Em vez de recrutar, o ERS, que se considera cristão, sequestra crianças e as transforma em combatentes. Sob pressão militar cada vez mais forte [dos Estados Unidos e de outras nações], Kony ordenou a retirada do ERS de Uganda em 2005 e 2006 [depois de ter expulsado quase duas milhões de pessoas, segundo o Departamento de Estado dos EUA]. Desde então, o ERS tem se concentrado no leste da República Centro-Africana (RCA) e ... na fronteira do Sudão e do Sudão do Sul ..., enquanto atuam, também, na República Democrata do Congo (RDC) e no Sudão do Sul.

“Desde dezembro de 2013, o ERS tem sequestrado, desabrigado, cometido violência sexual, e matado centenas de indivíduos por toda a RCA, bem como pilhado e destruído bens civis ...

“As células do ERS são frequentemente acompanhadas por prisioneiros que são forçados a trabalhar como carregadores, cozinheiros e escravos sexuais. O ERS está envolvido em uma alta prevalência de violência baseada em gênero, incluindo estupros de mulheres e meninas jovens ... . No sudeste da RCA, ... aproximadamente 21.000 africanos centrais e 3.200 refugiados da RDC foram deslocados como resultado da violência do ERS.

“Além dos seus ataques contra civis, o ERS tem se envolvido no tráfico ilícito de diamantes, caça ilegal de elefantes e no tráfico de marfim para a geração de renda, desde pelo menos 2014”1.

Em “How Killing Elephants Finances Terror in Africa” (“Como a Matança de Elefantes Financia o Terror na África”, em tradução livre), na National Geographic online, Bryan Christy narra como um perito em taxidermia criou uma presa artificial que pode conter um sistema de rastreamento e depois ser colocada com presas caçadas ilegalmente para rastrear a rota de tráfico ilícito, que passa pela República Centro-Africana. No final, as presas africanas são vendidas na China por milhares de dólares2.

Referências

1. Department of the Treasury, “Treasury Sanctions the Lord’s Resistance Army and Founder Joseph Kony,” Department of the Treasury Press Center website, 8 Mar. 2016, acesso em: 17 mar. 2016, https://www.treasury.gov/press-center/press-releases/Pages/jjl0376.aspx; consulte também Department of State, Office of the Spokesperson, “The Lord’s Resistance Army: Fact Sheet,” Department of State website, 23 Mar. 2012, acesso em: 29 fev. 2016, http://www.state.gov/r/pa/prs/ps/2012/03/186734.htm.

2. Bryan Christy, “How Killing Elephants Finances Terror in Africa,” website da National Geographic, 12 Aug. 2015, acesso em: 17 mar. 2016, http://www.nationalgeographic.com/tracking-ivory/article.html.

 

Referências

21. Hubert Lyautey, Lettres du Tonkin et de Madagascar (1894-1899), vol. II (Paris: Librairie Armand Colin,1920), p. 129.

  1. Antoine d’Evry, L’opération Serval à l’épreuve du doute, Focus Stratégique 59 (July 2015): p. 1. Nota do editor: para mais informações sobre a Operação Serval, consulte Olivier Tramond e Philippe Seigneur, “Operation Serval: Another Beau Geste in Sub-Saharan Africa?” Military Review 94, no. 6 (November-December 2014): p. 76–86.
  2. A eficácia militar é definida classicamente como “o processo pelo qual forças armadas convertem recursos em poder de combate. Um força militar completamente efetiva é uma que deriva o máximo poder de combate dos recursos disponíveis física e politicamente. Allan R. Millett e Williamson Murray, eds., Military Effectiveness, vol. 1 (Cambridge: Cambridge University Press, 2012), p. 2.
  3. Durante a Operação Operation Sangaris, três militares franceses foram mortos em combate, um acidentalmente, e 120 foram feridos em combate.
  4. MINUSCA significa Mission multidimensionnelle intégrée des Nations unies pour la stabilisation en Centrafrique, ou Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas de Estabilização na República Centro-Africana.
  5. MISCA significa Mission internationale de soutien à la Centrafrique sous conduite africaine, ou Missão Internacional de Apoio à República Centro-Africana sob Condução Africana. Veja o website da MISCA para mais informações, acesso em: 21 set. 2016, http://misca.peaceau.org/en/page/110-about-misca.
  6. A Sangaris não é considerada oficialmente como uma operação de estabilização, mas uma de transição. Contudo, as missões realizadas pelas unidades foram claramente concentradas na estabilização.
  7. James T. Quinlivan, “Force Requirements in Stability Operations,” Parameters 23 (Winter 1995-1996): p. 59–69; Quinlivan, “Burden of Victory: The Painful Arithmetic of Stability Operations,” Rand Review 27 (Summer 2003): p. 28–29; John J. McGrath, Boots on the Ground, Troop Density in Contingency Operations (Fort Leavenworth, KS: Combat Studies Institute Press, 2006).
  8. As atualizações da Sangaris são publicadas no website do estado-maior conjunto francês (Etat-major des armées [EMA]), acesso em: 21 set. 2016, http://www.defense.gouv.fr/operations/centrafrique/actualites.
  9. French Ministry of Defense, French White Paper on Defence and National Security: 2013 (France: Ministry of Defense, 2013), acesso em: 23 ago. 2016, http://www.defense.gouv.fr/portail-defense/mediatheque/publications/livre-blanc-2013.
  10. “RETEX Sangaris,” Sapeur la Revue du Génie, no. 16, June 2015, p. 19. Nota do Editor: RETEX é uma abreviação para retour d’expérience, que se refere à análise de experiências para desenvolver feedback que levará a melhorias ou à análise pós-ação.
  11. Joseph Gallieni, “Rapport sur la conquête de Madagascar,” in Anthologie Mondiale de la Stratégie (Paris: Robert Laffont Collection Bouquins, 1990) p. 1016–25.
  12. Para mais informações sobre os grupos insurgentes na República Centro-Africana, veja Yannick Weyns et al., “Mapping Conflict Motives: The Central African Republic,” relatório do International Peace Information Service, November 2014, acesso em: 21 set. 2016, http://ipisresearch.be/publication/mapping-conflict-motives-central-african-republic-2/.
  13. Ten Cel Philippe, “RETEX du GTIA 5e RIAOM/Scorpion sur l’opération Sangaris,” Lettre du RETEX-Témoignages no. 26, CDEF [Centre du Doctrine et d’Enseignement du Commandement], December 2015.
  14. “RETEX opérations Sangaris,” Fantassins 32 (Summer 2014): p. 93–105.
  15. John J. McGrath, The Other End of the Spear: the Tooth-to-Tail Ratio (T3R) in Modern Military Operations, Long War Series Occasional Papers 23 (Fort Leavenworth, KS: Combat Studies Institute Press, 2007).
  16. “RETEX opérations Sangaris,” p. 93–105.
  17. Philippe, “RETEX du GTIA 5e RIAOM/Scorpion sur l’opération Sangaris.”
  18. Gen Bellot des Minières, Journées de la Cavalerie (annual armor conference), Paris, 12 out. 2015, traduzido de francês pelo autor.
  19. Aline Leboeuf et Héléne-Quenot Suarez, “La politique Africaine de la France sous François Hollande,” Etudes de l’Ifri, 2014, acesso em: 26 ago. 2016, https://www.ifri.org/fr/publications/etudes-de-lifri/politique-africaine-de-france-francois-hollande-renouvellement-impense.
  20. Michel Liégeois, “Quel Avenir pour les Casques Bleus et le Maintien de la Paix?” Politique Etrangère, Fall 2013, p. 65–78.
  21. Stephen Watts e Stephanie Pezard, “Rethinking Small-Footprint Interventions,” Parameters 44 (Spring 2014): p. 23–36. Nota do Autor: Um desdobramento rápido pode evitar que a situação se agrave, e as forças francesas foram capazes de desdobrar rapidamente no RCA devido às forças pré-desdobradas na África.
 

O Major Rémy Hémez, do Exército Francês, é bolsista militar no Centro de Estudos em Segurança do Institut Français des Relations Internationales (Ifri).

A Different Viewpoint

Rémy Hémez recomenda uma abordagem abrangente e a adaptabilidade como as chaves para intervenções limitadas bem-sucedidas ao mesmo tempo que reconhece que é difícil avaliar o êxito. As lições aprendidas pelas forças francesas na República Centro-Africana incluíam a necessidade de “operar com frequentes mudanças de esforço ao longo de grandes distâncias” e de ter “unidades capazes de operar independentemente até o nível pelotão reforçado”. As operações ao longo de grandes distâncias representam desafios para o fornecimento de apoio às unidades.

Em “The First Regionally Aligned Force: Lessons Learned and the Way Ahead” (“A Primeira Força Regionalmente Alinhada: Lições Aprendidas e o Caminho à Frente”, em tradução livre), Military Review, July-August 2015, páginas 84–93, o Cap Cory R. Scharbo, do Exército dos EUA, descreve os desafios de infraestrutura que a 2a Brigada de Combate, 1a Divisão de Infantaria, enfrentou enquanto realizou operações na África em 2013–2014.

>A unidade de Scharbo conduziu operações de segurança e esforços de parceria em vez das operações de combate, mas como Hémez, ele atribui o êxito à adaptabilidade. Da mesma forma, Scharbo acredita que o Exército dos EUA falta medidas objetivas e válidas para avaliar o sucesso das missões das forças alinhadas regionalmente.

 

Para acesso on-line do artigo de Scharbo, consulte: http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/
MilitaryReview_20150831_art016.pdf

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