Revista Profissional do Exército dos EUA

Edição Brasileira

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(Data de publicação original: Military Review Edição Brasileira Outubro 1945)

Ensaio para o Reno

A operação “Grenade” do IX Exército norte-americano

Tenente General W. H. Simpson, Comandante do IX Exército

O rio Roer adquiriu importância histó­rica no inverno de 1944-45, quando se tornou uma parte integrante da defesa oriental alemã. Com efeito, êsse rio fechava uma brecha de 40 km. que o nosso avanço através de Aachen havia aberto. Para o IX Ex., uma invasão ulterior da Alemanha, para alcançar o Reno, dependia da travessia do Roer.

Era evidente que se tratava de uma operação da maior importância. O Roer cobria o acesso direto à região industrial do Ruhr (veja fig. 1). O nosso avanço em direção a êsse rio, durante o mês de Novembro, tinha sido uma luta vagarosa contra resistência resoluta. Durante todo o inverno, os alemães se mostraram muito sensíveis a qualquer penetração na margem oriental. A situação exigia a organização de uma poderosa fôrça de ata­que antes que uma travessia fôsse iniciada.

Figura 1. Zona de combate doo ix exercito map

Havia outra séria dificuldade. Os diques do Roer, ao sul de Düren, em frente do I Ex. norte-americano, estavam em poder dos alemães. Êsses diques continham água suficiente para inundar o vale do Roer durante duas semanas, o que constituia uma séria ameaça no caso de alcançarmos a margem oriental enquanto êles estivessem intatos em suas mãos. Uma tentativa para capturá-los não tinha sido bem sucedida, assim como em vão foram os vários esforços para destruí-los do ar. O IX Ex. encarou a possibilidade de criar cabeças de ponte, suscetíveis de serem isoladas pela enchente. Várias medidas de segurança foram traçadas contra êsse perigo; um grande estoque de aprovisionamento, preparado com antecedência e colocado na margem distante, ajudaria a tornar as cabeças de ponte quase totalmente auto-suficientes. O aprovisiona­mento aéreo, por meio de pára-quedas, estava preparado para apoiar quaisquer unidades isoladas. Em princípios de Dezembro, quando pela primeira vez atingimos o rio, começámos a traçar planos detalhados para a travessia. Contudo, as operações foram adiadas por mais de um mês pela contra-ofensiva alemã, quando a maior parte das tropas do IX Ex. foi retirada para lutar nas Ardenas. Fomos obrigados a mais um adiamento, enquanto o IX Ex. esperava a conclusão de operações preliminares pelos exércitos adjacentes. O I Ex. canadense atacou a área de Goch-Clove, afim de assegurar posições para a grande ofensiva (veja fig. 2), enquanto o I Ex. norte-americano, auxiliado por uma divisão do IX Ex., realizou um novo ataque para se apo­derar dos diques do Roer. O progresso dessa última operação forçou os alemães, a 9 de Fevereiro, a abrir as válvulas de descarga e soltar as águas detrás do dique Schwam­manuel. A inundação resultante obrigou o IX Ex. a adiar novamente o seu ataque. Durante êsses adiamentos forçados, utilizámos o tempo para aperfeiçoar nossos planos, treinar e preparar a travessia do Roer.

Desde que o rio em si era o X do nosso problema, um grupo de engenheiros foi destacado para trabalhar com cada divisão de assalto e um treino combinado engenharia­-artilharia mereceu particular atenção. Cur­sos especializados em travessia de rios foram organizados nos rios Maas e Inde, onde as unidades de infantaria, retiradas da linha de frente pelo sistema de rodízio foram treinadas diretamente com as da engenharia à disposição. Grupos de engenheiros e infantes ensaiaram o assalto da travessia em terreno semelhante ao do Roer.

Grandes estoques de aprovisionamentos tinham que ser acumulados. Os pedidos foram calculados, levando-se em conta a possibili­dade de pesadas perdas por acidente e pela ação inimiga na primeira fase da operação, Preenchimento de claros e substituição de material foram providenciados até 100%, especialmente na equipagem de engenharia. Foram impostas severas restrições no gasto de munições durante o período estático e, assim, gradualmente, se conseguiu uma reserva adequada. As enormes concentrações de tropas e de abastecimento atulharam a péssima rêde de estradas a oeste do Roer. As poucas estradas pavimentadas começaram a ruir sob o pesado tráfego, especialmente depois do degêlo antecipado, em princípios de Fevereiro. A mais intensa manutenção não resolvia completamente êsse problema. Afim de reduzir a intensidade de transporte que forçosamente escorreria, após o início do ataque, enviou-se à frente, durante o período de espera, todo o aprovisionamento possível. A manutenção necessária às divisões de assalto, num espaço de sete dias, foi colocada em sítio próximo ao rio. Essas reservas, que seriam transportadas ràpidamente à outra margem, com o fim de tornar as cabeças de ponte auto-­suficientes, foram de grande valor no sustento do avanço rápido durante a operação real. Apesar de ter sido muito longo o período preparatório, obtivemos êxito em manter a nossa concentração suficientemente oculta, a ponto de obter a surprêsa tática. Tôdas as medidas de segurança foram rigorosamente mantidas, incluindo a evacuação e a estreita vigilância dos civis na circunvizinhança das áreas de treinamento, restrição das tropas nas zonas de concentração, disfarce de identidade das novas unidades, restrições de rádios e similares. As tropas foram concentradas na zona da retaguarda e só avançaram no último minuto. Conservar em sigilo os sítios da nossa travessia foi uma tarefa bem difícil, pois o inimigo tinha perfeito campo de vista da margem ocidental do rio, que era uma planície aberta. A maior parte dos avanços do material foi feito à noite. Essas trabalhosas precauções foram bem pagas. Embora em meados de Fevereiro, o inimigo pressentisse a iminência de um ataque na frente de Aachen, êle não sabia sua intensidade, situação e direção.

Figura 2. ordem de batalha operacao granada map

A linha de frente nessa ocasião era o próprio rio, à nossa direita e ao centro, estendendo-se do nosso limite sul até um ponto ao norte de Linnich. À nossa esquerda, o inimigo ainda mantinha a margem ocidental; a frente do XVI C. Ex. formava um ângulo com o rio, afim de estabelecer contato com os ingleses a oeste de Roermond. Aqui, a linha Siegfried estende-se a leste do Roer. Além do Roer, havia defesas bem preparadas que se estendiam por todo o terreno, chegando em certos pontos até às margens do Reno. A primeira dessas era uma linha dupla de trincheiras que se estendia para o sul, através de Erkelenz, até Linnich e daí, na direção leste, até o Canal Erft. A última parte dessa linha dominava o planalto vital de Linnich-Harff. Cêrca de 8 km. para trás, ficava uma segunda linha de defesa, cobrindo os acessos a Munchen-Gladbach, e que incluia múltiplas trincheiras, faixas de minas, cêrcas de arame farpado e numerosas vilas fortemente defendidas. Ambas as linhas, assim como outras fortificadas áreas isoladas, voltavam-se geralmente para o oeste e sudoeste, mas eram mais vulneráveis a leste. Um avanço vindo do sul teria a vantagem de desbordar os flancos da maioria dessas defesas.

O terreno que ocupávamos, em declive para o norte, favorecia um movimento do sul para o norte. Um planalto de leste para oeste, estendendo-se entre Linnich e Harff, era o acidente-chave do terreno em tôda a nossa zona de ação. Os objetivos eram as principais cidades da planície de Colônia: Erkelenz, Neuss, Munchen-Gladbach, Krefeld, Kampen e as duas vilas de Viersen-Dulken. Considerando a nossa missão e o terreno de nossa operação, de todos êsses objetivos a grande cidade industrial de Munchen-Gladbach estava situada de maneira que dominá-la era de importância capital. Estava situada exatamente no meio de nossa zona como uma casamata bem colocada.

Desde que a missão do IX Ex. era atacar para NE., em conjunto com o II Ex. britânico e o I Ex. canadense, para limpar de inimigos a área entre os rios Reno e Maas, o primeiro movimento, depois que o Roer tivesse sido transposto com êxito, devia ser a posse do planalto de Linnich-Harff e a rotura das defesas inimigas ao sul. O I Ex. norte-americano devia operar com um forte Corpo, à nossa direita, na direção leste até o Rio Erft, que nos proporcionaria a necessária proteção dos flancos. Uma vez êsse vital acidente do terreno em nossas mãos, o objetivo imediato do nosso ataque seria Munchen-Gladbach. Eu tinha várias alternativas para subjugar essa cidade bem fortificada. O terreno favorecia um envolvimento partindo de leste, através de um corredor bem definido, que se estendia do planalto Linnich-Harff até Neuss, na direção nordeste. A defesa inimiga era aí mais fraca. Tal operação requeriria o emprêgo de uma divisão para bloquear o flanco oriental e o espaço para essa manobra era limitado. Tambem, o aprovisionamento se tornaria mais difícil. Um ataque partindo do oeste teria que atravessar regiões florestais, maior número de cidades e vilas e encontraria fortes defesas. Um ataque frontal exigiria uma grande força para atravessar uma área muito populosa, escalonada em profundidade contra nós. Um envolvimento duplo permitiria maior espaço para a manobra, assim como maior flexibilidade, mas somaria as desvantagens de cada um dos envolvimentos simples e tornaria as linhas de aprovisionamento ainda mais largamente separadas. Grande parte dependia da natureza de oposição que o inimigo oferecesse e, embora a linha do Rio Roer nos parecesse fracamente defendida, sabíamos que os alemães possuiam reservas consideráveis, que poderiam oferecer ao nosso avanço uma resistência obstinada. Em vista disso, dei instruções baseadas em planos alter­nativos:

  1. No caso de grande resistência, depois de estarem asseguradas as cabeças de ponte iniciais, o XIIIo Corpo deveria avançar para nordeste, paralelamente ao rio, afim de des­bordar o flanco das defesas Siegfried, e estabelecer uma cabeça de ponte para o XVIo Corpo. Então, os 3 Corpos atacariam justa­postos em direção ao Reno.
  2. No caso da nossa travessia apanhar o inimigo desequilibrado, o XIIIo Corpo de­veria avançar imediatamente atrás da linha Siegfried, apossar-se de Erkelenz, marchando ràpidamente para o norte além da área fortificada de Munchen-Gladbach, infletindo, então, para nordeste afim de alcançar o Reno defronte a Duisburg. O XIXo Corpo, depois de avançar para leste em direção ao Canal Erft, deveria voltar-se para o norte, tomar Munchen-Gladbach, atacando de leste, e apossar-se da margem próxima do Reno, desde Neuss até Uerdingen. O XVIo Corpo atraves­saria o Roer, na esteira do XIIIo Corpo, tomaria as fortificações Siegfried pela reta­guarda e limparia a margem oriental do Roer e do Maas até Venlo, voltando-se, então, para leste, no flanco norte do Exército, para ligar­-se aos canadenses. Ainda havia a possibili­dade de capturar uma ponte do Reno ainda intata com uma rápida perseguição.

Todos os preparativos tinham sido termi­nados e estávamos de prontidão para o ata­que, quando o inimigo abriu os diques. En­quanto esperávamos que a enchente abaixasse, só nos foi possível manter nossos preparati­vos. O rio inundou os terrenos marginais ao longo de tôda a frente do IX Exército. Em dois dias, o nível da água subiu cêrca de 1,60 m.; a largura do rio aumentou para 1.830 m. e a velocidade alcançou 10 km. por hora. A persistência da inundação foi agravada pelo precoce degêlo antecipado a 31 de Janeiro. O Roer permaneceu intransponível durante duas semanas.

Eu queria atacar o mais cedo possível, acreditando que quaisquer dificuldades adicionais que pudéssemos ter com o rio seriam compensadas se fossemos bem sucedidos em atravessá-lo antes que o inimigo julgasse isso possível. A 21 de Fevereiro, o Engenheiro do Ex. foi de parecer que, embora o rio ainda estivesse muito cheio, seria possível atraves­sá-lo a 23. Agindo de acôrdo com essa pers­pectiva, dei ordens para que na manhã de 23 de Fevereiro se iniciasse o ataque, precedido por uma preparação de artilharia de 45 minutos.

O terreno ao longo do Roer era desfavorá­vel a uma travessia em qualquer ponto da nossa zona. O rio corre através de uma larga planície pantanosa, em vários leitos para­lelos, e com muitos canais de drenagem. As margens estavam em péssimas condições de­pois da inundação e as possibilidades de acesso eram diminutas. Os pontos para a tra­vessia foram escolhidos, tendo-se em vista as limitadas vantagens que ofereciam.

O único ponto suscetível de travessia no setor do XIIIo Corpo era em Linnich. Os se­tores norte e sul da cidade estavam fora de cogitação por causa do largo vale cortado por numerosos canais e pântanos, das margens desfavoráveis e dos péssimos pontos de acesso. Linnich oferecia a melhor proteção que se podia encontrar na margem ocidental, e era servida por estrada pavimentada nos dois lados do rio. Inaconselhável como fôsse atravessarem duas divisões numa frente de 3 km. em um ponto tão exposto, era essa a melhor solução possível.

No XIXo Corpo, idênticas considerações aconselharam a travessia de uma divisão em Julich, embora nêsse ponto não houvesse qualquer proteção na margem ocidental e o inimigo estivesse em posição dominante na cidade e no forte da margem oriental. Ao sul de Julich, a travessia seria impossível pela confluência do Rio Inde com o Roer. Restava apenas um local nas vizinhanças da pequena estrada Pier-Krauthau­sen (veja fig. 3), exatamente ao norte da linha limite do Exército. Êsse era por muita razões um local inconveniente, exigindo várias pontes secundárias nos pontos de acesso e de chegada. Mas, por falta de um lugar me­lhor, deveria ser usado pela outra divisão de assalto.

Figura 3. IX Ex. norte-americano transpondo o Roer, 23 de Fevereiro até 10 de Março de 1945

Todo os pontos eram desfa­voráveis a uma travessia à luz do dia. A margem ocidental ofe­recia pouca proteção. O inimigo tinha uma posição bem organi­zada e a elevação do terreno na margem oriental dava-lhe exce­lente observação e campo de tiro sôbre os pontos de acesso na margem ocidental. Apesar da dificuldade que a escuridão tra­ria à travessia e a despeito do lamaçal e dos campos de minas e arame farpado na margem distante, a Hora H foi marcada para 3,30 de 23 de Fevereiro.

A travessia real encontrou tô­das as dificuldades esperadas, porém, nada que não tivesse sido previsto e para o que não esti­véssemos preparados. Por essa razão, nosso assalto alcançou êxito e tôdas as operações se processaram ràpidamente e como tinham sido planejadas.

O assalto foi precedido por 45 minutos de preparação de ar­tilharia, reforçada pela infanta­ria, canhões, morteiros, canhões anti-aéreos e destruidores de carros. As defesas inimigas foram dominadas. As primeiras vagas de assalto receberam pou­co fogo hostil e encontraram o inimigo ao longo da margem do rio num estado próximo de co­lapso. Êsse fato, acrescido pela surprêsa que alcançamos, quan­to à hora e o local de travessia, tornou possível a todos os Btls. de assalto um avanço rápido em direção aos seus objetivos.

Um dos principais efeitos da preparação de attilharia foi desorganizar completamente as comunicações do inimigo na outra mar­gem. É digno de nota o fato do inimigo nunca ter conseguido restaurar efetivamente essas comunicações devido à rapidez do avan­ço, o qual por sua vez obteve a sua velocidade inicial em conseqüência dessas condições.

As vagas de assalto que seguiram as pri­meiras atravessaram o rio debaixo de um intenso fogo de morteiro e de armas portáteis, o que causou a perda de muitos barcos. Ou­tros foram levados ou danificados pela forte corrente. Dos 60 barcos de assalto postos em serviço no Roerdorf, sòmente 2 estavam ainda prestáveis quando terminou o transporte de uma margem para a outra. As baixas durante a travessia foram, contudo, relativamente poucas. As precauções de salva-vidas adota­das, incluindo cintos salva-vida, guardas e lanchas de salvamento, tiveram completa jus­tificação. Os LVT foram empregados com bom resultado. Êles provaram ser capazes de atravessar as margens enlameadas, mas 6 dêles foram inutilizados pelas minas na mar­gem próxima. A maior fonte de dificuldades com êsses veículos foi a inexperiência dos operadores. Os motoristas precisam de um treino considerável, principalmente na técnica de entrada e saída d’água e na maneira de operar na escuridão.

A construção de pontes começou com bas­tante antecedência. Diversas passadeiras foram iniciadas durante a preparação da artilharia, outras na Hora H. Duas pontes de ro­dagem já estavam em construção duas horas depois da Hora H e três outras foram começadas pela manhã. Conseqüentemente, tropas e equipamentos puderam atravessar assim que conseguiram-se acomodar na cabeça de ponte.

Em vários lugares, foi empregada a cor­tina de fumaça para ocultar a construção das pontes, assim como para encobrir algumas das travessias. Algumas dificuldades surgi­ram. A fumaça atrapalhou o trabalho de construção e interferiu com a artilharia e a aviação, obscurecendo os alvos. O controle da fumaça pelas divisões provou ser inade­quado. Em operações dêsse tipo é aconselhá­vel coordenarem os Corpos os planos para o uso da fumaça e, no caso de uma interferência inesperada, decidir se será vantajoso continuar ou cessar o encombrimento.

Alguns aviões inimigos obtiveram êxito no bombadeio de nossas pontes. Conseguiram destruir a ponte de equipagem aberta com guia rodas, abaixo de Linnich e, por algum tempo, a única ponte de rodagem no XIIIo Corpo foi a de Roerdorf. Êsse êxito inimigo pode ser atribuído à falta de artilharia anti-aérea na margem distante. O incidente veio provar a importância de uma alta prioridade para a travessia de artilharia anti-aérea.

A artilharia inimiga localizou algumas de nossas pontes com tal exatidão que logrou batê-las repetidamente. Duas delas eventual­mente tiveram que ser transportadas para sítios menos favoráveis. Outras tiveram que ser reconstruídas várias vezes por causa do fogo inimigo e da correnteza.

Além do efeito do fogo inimigo, uma grande quantidade de equipagem de pontes foi per­dida pela quebra de cabos e pela colisão de barcos soltos com as próprias pontes. Essas perdas, devidas diretamente à fôrça da corrente, não foram inesperadas, tendo sido o preço da surprêsa obtida pela travessia antes de ter cessado a enchente. Não tivéssemos à mão reservas de equipamento, e o grande desaparecimento de material de engenharia poderia ter resultado numa demora que viria comprometer tôda a operação. A substituição de 100% de barcos e equipagem de ponte no parque de engenharia, próximo ao rio, for­neceu os meios para manter o progresso ininterrupto do assalto. Considero isso um dos fatores essenciais do nosso êxito.

O mesmo princípio aplicado ao material bélico provou ser de grande valor durante tôda a operação. As perdas foram regular­mente substituídas em um ou dois dias por postos de reaprovisionamento com grande estoque, que seguiam logo atrás da linha de frente.

Antes de terminado o primeiro dia, as cabeças de ponte do Roer eram um fato consumado, com 4 divisões estabelecidas na margem oposta. Tinha sido uma travessia complicada por muitas dificuldades que nós deliberadamente havíamos multiplicado, atacando quando o rio estava ainda cheio. Conseguimos, no entanto, com a surprêsa e a rapidez assim obtidas, confundir a defesa a tal ponto que a transposição se tornou urna rotura.

No primeiro dia de ataque, ultrapassámos a fraca fôrça de cobertura que o inimigo tinha em posição ao longo do rio e o avanço prosseguiu forçando vários km. para o inte­rior. A 25 de Fevereiro, o IX Ex. tinha feito junção com o I Ex. para criar sólida cabeça de ponte numa extensão de 40 km., do norte de Baal até o sul de Düren. Em­bora 5 divisões do XV Ex. alemão estivessem no setor do IX Exército, foi-lhes impossí­vel entrarem em posição a tempo de impedir o nosso avanço e apenas conseguiram efe­tuar contra-ataques locais de pouco efeito. Ficando claro, a 25 de Fevereiro, não haver resistência séria à nossa frente, ordenei a execução do plano de rotura, que foi ini­ciado e levado a cabo com êxito completo.

O XIIIo Corpo deu aos seus blindados a missão de avançar para o norte afim de iso­lar Erkelenz, importante nó rodoviário, si­tuado na parte vital de uma linha dupla de estrada de ferro. Êsse ataque interceptou uma divisão alemã que se dirigia para de­fender a cidade. As unidades inimigas ten­taram alguns ataques fragmentários, que não puderam interferir sèriamente com o nosso avanço e, assim, a infantaria tomou Erkelenz no mesmo dia (25 de Fevereiro). A conquista dessa cidade tornou insusten­táveis duas linhas inimigas: as fortifica­ções Siegfried, em frente ao XVIo Corpo, e a linha que se estendia a leste de Linnich. E, ao mesmo tempo, abriu caminho para o norte. O XIIIo Corpo prosseguiu num avanço rápido através de resistência desarticulada, a oeste e ao norte de Munchen-Gladbach, para alcançar Krefeld e o Reno (3 de Março).

O XIXo Corpo continuou para leste, em direção ao canal Erft, esmagando elementos da 9a Div. Panzer, que se preparava para entrar em ação. Com o seu flanco no canal, o XIXo Corpo infletiu para o norte (28 de Fevereiro) e avançou com os seus blindados para o Reno, perto de Uerdingen, contornando Munchen-Gladbach por leste. Seguindo os blindados, a infantaria tomou Munchen-Gladbach em um dia (1o de Março), desbordando a resistência pelo sul e o leste e limpando a margem ocidental do Reno até a linha limite do Ex., em Neuss (3 de Março).

O XVIo Corpo atravessou o Roer, reduziu a linha Siegfried e limpou tôda a parte ocidental da zona do Exército até Venlo e Geldern, onde estabeleceu contato com os canadenses. (3 de Março).

Todo o avanço depois de 25 de Fevereiro tinha sido muito rápido, desorganizando com­pletamente a defesa. Êsse foi o fruto das nos­sas manobras flanqueantes, que puseram o inimigo fora de posições bem preparadas e obrigaram a sua retirada apressada. Além do conjunto da manobra do Exército, a operação foi rica em exemplos de táticas flanqueantes de escala menor. Um exemplo notável é Mun­chen-Gladbach, que foi ultrapassada pelos elementos da ponta de lança, ficando a lim­peza do terreno entregue à infantaria. Por outro lado, em Krefeld, os ataques frontais foram feitos pelos primeiros escalões de dois Corpos, resultando ficarem os mesmos enre­dados na luta, o que atrasou todo o avanço.

As táticas de golpe de blindados seguidas pelas D.I. para limpeza do terreno e conquista das resistências ultrapassadas, deram ótimos resultados nessa rotura. Fôrças-missões mo­torizadas, organizadas pela D.I. foram de grande valor para manter estreita cooperação entre a infantaria e os blindados.

A 3 de Março, restavam aos alemães duas vias de fuga através do Reno, uma em frente a Wesel e a outra na área de Orsoy-Rhein­berg. Essa última linha de retirada foi fe­chada quando o XIIIo Corpo, usando nova­mente táticas flanqueantes, tomou Moer e cortou entre Orsoy e Rheinberg em direção ao rio (15 de Março), enquanto o XVIo Corpo tomava posse de Rheinberg (6 de Março). Infelizmente, a ponte Wesel abrigava-se numa curva do Reno e no limite entre o IX Ex. norte-americano e o I canadense não podendo ser desbordada. Os alemães conseguiram manter ali uma cabeça de ponte durante quatro dias o que lhes deu tempo para retirar as suas tropas e destruir as pontes. A luta mais dura em tôda a operação foram os ataques frontais à bôlsa do Wesel.

A última resistência na margem ocidental do Reno, no setor do IX Exército, foi reduzida a 11 de Março e, asim, o Exército estava em posição para a investida final ao coração da Alemanha. Duas semanas depois, assaltámos o Reno. Nessa operação pudemos nós utilizar da maioria do equipamento, planos detalhados e processos, que com tanto sucesso havíamos empregado no Roer. Se a travessia do rio maior parecia mais fácil do que a do menor, era em grande parte devido ao fato de que o trabalho básico na primeira ocasião tinha sido bem feito.

Pondo de lado o êxito positivo que obtivemos, um dos aspectos mais gratos da operação reside no fato de que ela novamente provou a solidez de certos velhos princípios táticos. Por exemplo, tôda a operação estava baseada no uso máximo da manobra, empregando massa e movimento nos terrenos mais convenientes com planos alternativos de exploração, conforme determinasse a situação. A rápida investida para o norte, em seguida ao estabelecimento das cabeças de ponte iniciais, puseram o inimigo fora de suas posições cuidadosamente preparadas e forçaram a sua retirada. Subseqüentemente, as manobras foram empregadas pelas unidades subordinadas, para facilitar um rápido envolvimento e a redução dos pontos fortes.

Do mesmo modo, a continuidade do avanço foi assegurada, antes do comêço da operação, por meio da reunião inicial de unidades e reservas de assalto. Em cada Corpo, a infantaria atravessou o rio, estabeleceu cabeças de ponte e escorou os flancos vulneráveis; os blindados seguiram imediatamente atrás, preparados para explorar a rotura que se seguiria; a infantaria adicional estava escalonada atrás dos blindados para reduzir defesas isoladas, limpar o terreno de unidades ultrapassadas e proteger os flancos e a retaguarda do avanço. Foi muito grato para mim verificar essa idéia de manobra tomar forma, à medida que a operação se processava, seguindo o plano com pequenos desvios ditados pela situação imediata.

Durante tôda a operação, tanto o Exército como os Corpos estavam providos de amplas reservas para explorar qualquer vantagem e é significativo o fato de que durante a operação uma divisão inteira, substituída a intervalos, estava sempre na reserva do Exército.

Outro fato que me deu grande satisfação tambem foi haver a operação se realizado com uma perda mínima de pessoal e material. Isso tambem foi devido, em grande parte, ao hábil emprêgo de manobras táticas e ao freqüente rodízio entre as unidades assaltantes ou no desempenho de alguma missão, permitindo assim, reservas frescas e prontas a qualquer momento.

Um outro princípio da arte militar novamente provada nessa operação foi a importância dos planos e da preparação. Muito tempo e esfôrço foi despendido no desenvolvimento e aperfeiçoamento dos planos em todos os escalões do comando. Estou certo de que o tempo e o esfôrço assim despendidos pelos respectivos estados maiores foram grandemente recompensados pelos resultados obtidos.

A operação recebeu o nome-código “Grenade”. Talvez haja uma certa significação nêste nome, pois a operação, de uma maneira figurada, explodiu no rosto do inimigo com a violência estraçalhadora de uma granada, constituindo o sinal para o último grande avanço que continuou, salvo um breve intervalo preparatório para a travessia do Reno, até o contato com os russos às margens do Elba.

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