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Identificando Janelas de Oportunidade na Ascensão da China

Problematização da Estratégia de Cem Anos da China rumo ao Status de Grande Potência

Axel Dessein

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O Presidente chinês Xi Jinping (à esquerda), que também é o Secretário-Geral do Comitê Central do PCC e Presidente da Comissão Militar Central, passa em revista as forças navais, 12 Abr 2018, no Mar do Sul da China. (Foto de Li Gang, Xinhua via Agence France-Presse)

A Dinastia Ming parece ser seu modelo, embora de uma forma bem mais vigorosa, exigindo que outras nações se tornem Estados tributários; prostrando-se diante de Beijing.

Ex-Secretário de Defesa dos EUA James N. Mattis


Uma das avaliações mais preocupantes sobre a ascensão da China aparece no livro The Hundred-Year Marathon: China’s Secret Strategy to Replace America as the Global Superpower (“A Maratona de Cem Anos: A Estratégia Secreta da China para Substituir os Estados Unidos da América [EUA] como Superpotência Global”, em tradução livre), de Michael Pillsbury. Na obra, o autor vislumbra um plano mestre chinês envolto em mistério e dissimulação, que tem por objetivo tomar o lugar dos EUA como poder hegemônico do mundo. Acredita-se que a estratégia se desenrole ao longo de um período de cem anos, que teve início em 1949, quando foi fundada a República Popular da China (RPC), sob Mao Tsé-tung1.

Pillsbury, que serviu, anteriormente, como assessor na equipe de transição do Presidente Donald Trump, foi chamado por este de “maior autoridade sobre a China”2. Além disso, segundo o ex-Estrategista-chefe Stephen K. Bannon, o livro de Pillsbury fornece a “arquitetura intelectual [para a mudança em direção à] modalidade de confronto com a China”3. Essa mudança ficou evidente durante um discurso feito pelo ex-Secretário de Defesa dos EUA James N. Mattis, em uma cerimônia de formatura no Naval War College. Mattis comparou a China de hoje à da dinastia Ming (1368-1644), afirmando que o país “mantém projetos de longo prazo de reescrever a ordem mundial existente”4.

Objetivo deste Artigo

Esse alerta sobre as ambições imperiais da China se seguiu à divulgação da Estratégia Nacional de Segurança dos EUA, um documento que designou a RPC como grande potência rival5. Quanto a esse ponto, o livro The Hundred-Year Marathon deixa muito a desejar quando se trata de delinear a estratégia chinesa (não surpreende que uma forte crítica tenha sido apresentada pelo cientista político canadense Alastair Iain Johnston; veja a referência no 3). No presente artigo, proponho que a estratégia de cem anos, conforme descrita por Pillsbury, não deve ser descartada, pois ela está, claramente, em sintonia com a perspectiva da liderança chinesa. Entretanto, é preciso ajustar o ângulo, com especial atenção a fontes em chinês.

Se a China realmente tem um plano mestre para substituir os EUA como poder hegemônico do mundo no espaço de cem anos, é importante entender como ela pretende realizar isso. Os líderes chineses realmente querem restaurar o status de grande potência de que o país usufruiu durante seu passado imperial, mas essa própria estratégia é propícia à mudança. Portanto, é importante prestar muita atenção às declarações e aos sinais dados pela liderança chinesa. Essa abordagem nos permite acompanhar mais de perto a ascensão da China e as mudanças concomitantes em sua postura assertiva ao longo do tempo.

Este artigo tem como foco os objetivos expressos para o período 2002-2050 durante os governos de Jiang Zemin (1989-2002), Hu Jintao (2002-2012), e Xi Jinping (2012-presente). Pretende-se oferecer uma introdução sobre a ascensão da China e o modo pelo qual os líderes chineses pensam estrategicamente sobre o tempo e o futuro de seu país. Para isso, foram consultados dois tipos de fonte: discursos proferidos pela alta liderança chinesa (tanto em inglês quanto em chinês), que contêm importantes declarações sobre políticas, e trabalhos acadêmicos chineses. As traduções são do autor, a menos que especificado de outra forma.

Neste artigo, constata-se que, em lugar de uma estratégia de longo prazo, a liderança chinesa está plenamente ciente do aqui e agora. Embora os objetivos por ela definidos sejam fruto de sua crença em oferecer um futuro melhor, a liderança chinesa reconhece, ao mesmo tempo, que o caminho até eles está repleto de oportunidades e desafios, concebendo suas políticas com base nesse fato e discutindo-as abertamente em discursos e importantes documentos sobre políticas. Atualmente, o período de transição histórica da China (2017-2022) representa uma ferramenta útil para a abordagem ocidental em relação ao país.

Na obra The Hundred-Year Marathon, Michael Pillsbury afirma que o governo da China está executando uma estratégia com o objetivo de suplantar os EUA como potência predominante no mundo até 2049 e de utilizar esse poder para mudar a natureza da economia e cultura mundial. Pillsbury sustenta que os EUA e a maioria das nações ocidentais cometeram o erro de perseguir, ingenuamente, uma estratégia baseada no pressuposto de que a integração da China no sistema econômico mundial promoveria as forças democratizadoras dentro daquele país. Contudo, em vez disso, o desenvolvimento econômico fortaleceu a capacidade da China para oprimir sua população e intimidar e controlar seus vizinhos geográficos. O livro descreve a ascensão da China como a maior ameaça à segurança nacional e internacional no século XXI, aconselhando uma mudança radical da forma pela qual os EUA e outras nações ocidentais enxergam e lidam com aquele país ao longo do espectro dos enfrentamentos internacionais. Para obter mais informações sobre esse livro, acesse https://thehundredyearmarathon.com/.

The hundred year marathon book by Michael Pillsbury

Perspectivas Temporais sobre Potências em Ascensão

Conforme defende Johnston, em sua resenha sobre o livro The Hundred-Year Marathon, o caráter inquietante da obra deslegitima uma próxima coordenação entre os EUA e a China, inclusive em relação a questões como o comércio, o desenvolvimento e a mudança climática, contribuindo, ao mesmo tempo, para um entendimento desequilibrado das “complexas motivações por trás da política externa chinesa”6. O que é pior, a interpretação determinista da ascensão da China evidente nessa suposta estratégia de cem anos gera o risco de se obscurecer a visão de longo prazo da alta liderança chinesa, deixando muito pouco espaço para mudanças na natureza e na conduta da política externa daquele país.

Linus Hagström e Bjorn Jerdén, por exemplo, lamentam a rejeição ou falta de teorização sobre a mudança da ordem mundial, levando à percepção de deslocamentos de poder como desdobramentos óbvios7. Outras obras sobre a ascensão da China demonstram que é difícil identificar mudanças radicais na época atual. Entretanto, Brantly Womack propõe que a crise financeira mundial (2007-2008) e as revoltas políticas no Ocidente (2016-2017) talvez representem um marco decisivo, quando a China deu “um grande salto em termos de prestígio político”8.

Manjari Chatterjee Miller apresentou um argumento semelhante em seu estudo sobre “potências em ascensão”, observando que, ainda que esteja implícito em tal conceito, o objetivo final de alcançar o status de grande potência permanece, com frequência, indefinido9. Por essa razão, existe uma grande confusão sobre a trajetória da potência em ascensão e sobre como sua liderança administra tal ascensão. Segundo Miller, uma potência em ascensão apresenta, essencialmente, três tipos de comportamento: aumento de seu relativo poder militar e econômico, globalização de seus interesses e demonstração de um reconhecimento interno da evolução de seu status10. Com efeito, o foco exclusivo nas relativas capacidades materiais dessas potências pressuporia a possibilidade de converter, diretamente, recursos em poder e influência, uma falácia já identificada por diversos autores11.

Com base na premissa de que nenhuma estratégia sobrevive ao primeiro contato com o oponente, é imperioso explorar como o pensamento de longo prazo da China sobre sua ascensão evolui e como essas mudanças se refletem no desenvolvimento da postura assertiva do país em consequência dessa ascensão. Dedica-se especial atenção ao “socialismo com características chinesas”, a ideologia que norteia o país, com base em sua própria interpretação do marxismo-leninismo.

China: Ascensão ou Revitalização?

Para dar as boas-vindas ao ano de 2019, o presidente chinês Xi Jinping defendeu, em seu discurso aos compatriotas taiwaneses da China: “Não se pode escolher a história, [mas] se pode aproveitar o presente [e] forjar o futuro”12. Essa assertiva é interessante para uma potência em ascensão como a China, especialmente como uma introdução às suas perspectivas temporais. Em seu discurso, o Presidente Xi Jinping indica, explicitamente, que Taiwan é parte essencial da integridade territorial do país e, como tal, da grande “revitalização”, ou “rejuvenescimento”, do povo chinês13. Contudo, Xi Jinping acaba abordando muito mais que o Estado insular. Sua declaração demonstra que considerações temporais são essenciais para o Partido Comunista da China (PCC).

Por um lado, autores como Christopher Layne estão certos em destacar o fato de que, dentro da China, a ascensão do país é conhecida como “revitalização [ou rejuvenescimento] nacional”. Por outro lado, a futura trajetória do país — e, por extensão, do PCC — é deixada sem definição ou é descrita apenas como um iminente retorno à antiga glória do “Reino do Meio”14. Evidentemente, faz-se necessário um entendimento mais concreto dessa ascensão e de seu objetivo. A China de hoje está, realmente, retornando ao seu passado imperial, conforme mencionado na epígrafe, ou devemos estudar a atual ascensão da China como um fenômeno relativamente novo?

Em outras palavras, a trajetória de ascensão da China está seguindo uma história cíclica ou avançando ao longo de um futuro linear? Essas são perguntas importantes, que podem melhorar nosso entendimento da ascensão da China ao poder. A figura 1 ilustra o primeiro ponto, segundo o qual a China está revertendo para o status que detinha antes do chamado “século de humilhação”, isto é, o período de 109 anos entre sua derrota na Primeira Guerra do Ópio e a fundação da RPC (durante o qual a tecnologia chinesa foi ultrapassada pelo Ocidente e as guerras civis, ocupações estrangeiras e revoluções devastaram o país)15.

Figura 1. A Grande Revitalização da China. (Figura utilizada com permissão de Tom Miller)

De forma semelhante, Pillsbury afirma que a estratégia de maratona da China se baseia nas “lições aprendidas do período dos Estados Combatentes”, uma era de desunião que terminou com a unificação da China pela dinastia Qin e o início da primeira dinastia imperial (475-221 a.C.)16. Contudo, como observa Johnston, a alegação feita no livro The Hundred-Year Marathon, de que a atual arte de governar da China inclui “[aplicar conscientemente] antigas máximas estratégicas chinesas”, não é corroborada pelas evidências apresentadas por Pillsbury17.

Uma Ruptura Socialista na História

Como observadores externos, estamos interessados em examinar como o antigo pensamento estratégico como o de Sun Tzu se reflete no atual processo decisório do Estado chinês18. Entretanto, esse foco em estratagemas tradicionais pode obscurecer acontecimentos mais recentes. A ruptura socialista na história é importante nesse aspecto. É extremamente revelador que, durante o 15o Congresso Nacional do Povo, em 1997, o ex-Secretário-Geral do PCC, Jiang Zemin, tenha observado “três grandes mudanças de importância histórica” entre 1911 e 1978: (1) a Revolução de Xinhai, sob o ex-Presidente Sun Yat-sen, que “derrubou a monarquia autocrática que governou a China por milhares de anos”; (2) a “fundação da RPC e o estabelecimento do sistema socialista com Mao Tsé-tung como núcleo”; e (3) o “[período] de reforma e abertura” sob o falecido estadista chinês Deng Xiaoping19.

Essa declaração sugere que, durante o século XX, a China se distanciou, gradativamente, da natureza cíclica de seu passado imperial. Essa perspectiva foi substituída, subsequentemente, por uma ótica socialista, após a revolução chinesa de 1949, liderada por Mao. Em outras palavras, o trajeto de progresso histórico mudou de um movimento circular para um movimento de subida e avanço, em estágios quase evolutivos20.

Embora o marxismo-leninismo também tenha uma sequência histórica, sua natureza é totalmente diferente. O materialismo histórico, uma das características básicas da teoria política marxista-leninista, sustenta que a história avança através do material (forças produtivas que avançam através dos estágios de desenvolvimento)21. Além disso, embora o marxismo-leninismo seja apresentado como uma verdade universal, essa teoria é aplicada, subsequentemente, às circunstâncias nacionais em que a doutrina esteja inserida22.

Essa relação entre o universal e o particular é importante. Ao entrar na China, o socialismo cresceu no solo fértil de um sistema ideológico já existente: o do passado imperial chinês. Qual é, então, a relação entre a China tradicional e o sistema do país sob o marxismo-leninismo? Em outras palavras, como essas duas “Chinas” se relacionam uma com a outra atualmente? Nas seções adiante, continuarei a explorar como a China de hoje é diferente de seu passado.

Delegados do partido deixam o Grande Salão do Povo após a sessão de encerramento do 19o Congresso Nacional do PCC, em Beijing, 24 Out 2017. O nome do Presidente Xi Jinping foi acrescentado à constituição do PCC em um congresso decisivo, elevando-o, ao lado de Mao Tsé-tung, ao panteão dos fundadores do país. (Foto de Nicolas Asfouri, Agence France-Presse)

Janelas de Oportunidade na Ascensão da China

O economista George Magnus afirma que a China, hoje, chegou ao fim da extrapolação, uma fase para a qual já não há nenhum ponto de referência disponível23. Além disso, em termos ideológicos, o sistema chinês é descrito por Sun Daizhen e Li Jing como tendo transcendido os modelos e teorias de desenvolvimento ocidentais (incluindo o próprio marxismo)24. Com o desatar da “camisa de força” mais comumente associada à União Soviética, pode-se dizer que a China está apresentando, cada vez mais, uma forma de independência ideológica, isto é, sua própria interpretação e promoção do socialismo. Em vez de um futuro “dependente da trajetória” (ou path-dependent, que fica evidente em uma perspectiva cíclica), esses desdobramentos positivos indicam que a China da atualidade avança ao longo de uma trajetória de “criação do caminho” (path-creative)25. Enfatizo essa lógica para se compreender o conceito da ascensão da China e propor que o conceito de uma (grande) revitalização determina o objetivo final do país, e não a trajetória em si.

Como é importante entender se a China está ou não seguindo um plano estratégico de cem anos, dedica-se especial atenção às percepções de tempo da liderança chinesa26. Essa abordagem temporal é especialmente visível no conceito de “janelas de oportunidade”. Esse conceito aparece de forma destacada em estudos sobre conflitos armados e mudanças institucionais nacionais, mas, conforme demonstrado por Fredrik Doeser e Joakim Eidenfalk, não é visto com frequência em pesquisas sobre mudanças da política externa27. Doeser e Eidenfalk definem “janela de oportunidade” como um “momento em que ocorre algum tipo de mudança estrutural, que cria uma situação em que um Estado detém uma significativa vantagem militar […] ou cria um momento de oportunidade que pode ser usado por líderes para propor novas políticas”28. O que é mais importante, o argumento desses autores aponta para a importância da liderança individual em lugar do Estado para se reconhecer a “janela de oportunidade”. Entretanto, embora a literatura se concentre em uma janela de oportunidade baseada em circunstâncias externas (mudanças na frente internacional), é preciso entender como e quando esse período é visto internamente.

Este artigo explora como a China está avançando rumo a um futuro significativo ao enfatizar a mudança de um “período de oportunidade estratégica” para um “período de oportunidade histórica”. É uma diferença sutil, mas crucial, que pode nos informar sobre a ascensão chinesa ao poder e sua assertividade ao longo do trajeto. Contudo, também fica evidente que, dentro desses próprios períodos, também há importantes mudanças de estilo.

Sonhando com um Futuro Melhor

Logo após se tornar Secretário-Geral do PCC em 2012, o Presidente Xi Jinping declarou seu “Sonho Chinês”, sua política para finalizar a grande revitalização do povo chinês29. O futuro positivo vislumbrado nesse sonho representa um significativo distanciamento do passado imperial chinês, que assistiu a ciclos de “perdas e ganhos [como seu] tema central”30. Além disso, em um relatório ao 19o Congresso Nacional do Partido Comunista da China [PCC] em 2017, Xi Jinping proclamou uma “nova era para o socialismo com características chinesas, durante a qual a China avançaria rumo ao objetivo de se tornar uma grande potência sob um socialismo modernizado”31. Essa mudança rumo à modernização em um futuro distante é importante, porque ela denota uma nova transformação histórica, semelhante às descritas pelo ex-Secretário-Geral do PCC, Jiang Zemin.

É um novo estágio de desenvolvimento na modernização socialista chinesa, desde que Xi Jinping, na mesma apresentação do relatório ao 19o Congresso Nacional do PCC, definiu uma nova “principal contradição [dentro da] sociedade” entre “as crescentes demandas do povo por uma vida melhor e o desenvolvimento desequilibrado e insuficiente”32. Por essa razão, o período de hoje é descrito, muitas vezes, como uma “terceira revolução” e como o “fim de uma era” simultaneamente33. Na preparação para essa nova China, discussões sobre o conceito de sua “crescente assertividade” se tornaram cada vez mais comuns.

Com efeito, descreve-se, frequentemente, essa evolução como um significativo redirecionamento em relação à sua conduta discreta e “voltada ao status quo dos 30 anos anteriores”34. Essa suposta mudança em assertividade revela uma modificação da política externa por parte da China? Caso não se apresente uma explicação, o aumento em assertividade oferece poucas evidências concretas para interpretar a mudança de comportamento da China. Contudo, argumenta-se que essa suposta mudança está ligada a uma transformação das diretrizes estratégicas do país.

A diretriz estratégica de Deng Xiaoping, denominada taoguang yanghui e geralmente entendida como “evitar chamar a atenção e aguardar o momento oportuno”, segundo Pillsbury, define o estratagema de dissimulação da China para derrubar e vingar-se do atual poder hegemônico, ou seja, os EUA35. Sua estratégia, foi, evidentemente, formulada durante os anos 80 e 90, depois dos distúrbios internos relacionados ao incidente na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) e do colapso súbito da União Soviética. À semelhança da estratégia de cem anos, a promulgação, por Deng Xiaoping, de uma “estratégia de três etapas”, de 1981 a 2050, aponta, efetivamente, para a existência de algum tipo de estrutura temporal ao longo da qual a China realiza sua ascensão36.

Um Período de Oportunidade Estratégica

A visível mudança nas diretrizes estratégicas se torna ainda mais interessante quando aliada ao “período de oportunidade estratégica”, com duração de 20 anos, conforme definido por Jiang Zemin, em seu relatório ao 16o Congresso Nacional do PCC37. O Professor Xu Jian define esse período como “tempo no qual se supõe que a força nacional abrangente, competitividade internacional e influência de um país aumentem constantemente em consequência de fatores favoráveis subjetivos e objetivos”38. Esse conceito de “período de oportunidade” constitui um útil instrumento heurístico para se começar a delinear as mudanças na política externa da China, com base nas modificações de suas diretrizes estratégicas.

O chamado período de oportunidade estratégica foi alavancado sob a liderança do ex-Presidente Hu Jintao. Na época, Zheng Bijian, da Escola Central do PCC, definiu o slogan “ascensão pacífica da China”, reformulado, posteriormente, para “desenvolvimento pacífico da China”39. Assim, é interessante que só desde o período de Xi Jinping se tenha percebido uma alteração na assertividade da China40.

Esses estudos sobre a crescente assertividade da China abordam uma simples mudança de “fazer algo”, sob Deng Xiaoping, para “empenhar-se por realizações” sob Xi Jinping41. No entanto, documentos em chinês indicam que a verdadeira mudança é, na verdade, bem mais complexa. Neste artigo, defende-se que a evolução do comportamento de política externa da China pode ser delineada com base nas diretrizes (ou disposições) estratégicas que acompanham os períodos de oportunidade definidos pelo próprio país.

Essas diretrizes parecem oferecer informações sobre a natureza e a intensidade da assertividade chinesa dentro de cada período. Nessa abordagem, é possível verificar mudanças no período inicial de oportunidade estratégica, passando de “fazer algo”, sob a abordagem reservada de Deng Xiaoping, para “ realizar grandes feitos” e, progressivamente, “empenhar-se por realizações”, sob Xi Jinping42. Essa ambição fica clara na declaração dos “objetivos de luta” dos “dois centenários”, que devem ser cumpridos entre 2021 e 2050.

Contudo, esses “objetivos de luta” geralmente associados a Xi Jinping já haviam surgido no 16o Congresso Nacional do PCC em 2002, assentando as bases da mudança da China para o esforço em avançar sob Hu Jintao43. Assim, devemos abordar as atuais transformações como uma mudança de estilo, em vez de conteúdo? É preciso entender a China de hoje no contexto da história do país. Nesse sentido, um estudo de Hu Angang e Zhang Wei sobre o atual lugar da China no mundo oferece uma análise útil sobre a evolução do país desde a revolução socialista. Eles dividem o período entre 1949 e 2049 conforme apresentado na tabela44.

Tabela. Estratégia de Cem Anos. (Tabela de Hu Angang e Zhang Wei; tradução a partir da versão em inglês do próprio autor)

Esse enquadramento histórico mostra que a ideia por trás da maratona de cem anos está claramente ligada à ascensão da China. Entretanto, em vez de exibir uma estratégia direcionada a suplantar os EUA como poder hegemônico do mundo, o foco está fortemente voltado para considerações internas. Com efeito, crescer com a finalidade de obter o status de grande potência parece ser a força motriz nesse caso. É possível traçar uma interessante analogia com o chamado “século de humilhação” forjado pelas mãos de potências ocidentais45.

De Volta para o Futuro?

Contar a história da ascensão da China envolve relatar uma história de degradação durante a dinastia Qing (1644-1912), seguida da salvação sob os auspícios do PCC46. O objetivo de recuperar o status perdido demonstra a importância da ruptura socialista na história da China. Com efeito, conforme reiterou Xi Jinping durante o 19o Congresso Nacional do PCC:

Conforme o socialismo com características chinesas entra em uma nova era, há possibilidades brilhantes de realização da grande revitalização dos povos chineses, cujos problemas persistem nos tempos modernos desde que nos erguemos [sob Mao Tsé-tung] e nos enriquecemos [sob Deng Xiaoping] até um [novo] grande salto de fortalecimento47.


Embora Xi Jinping se coloque, em seu discurso, ao lado de ilustres estadistas que o precederam, cabe entender a mudança para o conceito de “empenhar-se por realizações” sob sua liderança. Podemos pressupor que, por causa de um crescimento econômico mais lento, há uma urgência cada vez maior em obter o status de grande potência? Apresenta-se, adiante, uma resposta aproximada, por meio de uma visão geral de alguns eventos e declarações recentes relacionadas à evolução da China rumo ao status de grande potência.

Ainda que não se possa estabelecer uma ligação direta com o crescimento econômico para explicar toda a história por trás da ascensão da China, a evolução de sua definição de janelas de oportunidade pode ser justaposta às tendências e dinâmicas evidentes dentro do padrão de crescimento do produto interno bruto do país (veja a figura 2)48. A segunda metade do modelo apresentado no estudo de 2017 de Hu Angang e Zhang Wei, citado anteriormente, é de particular interesse, especialmente em relação ao período sob a liderança de Xi Jinping (2012 até o presente).

Figura 2. Crescimento do Produto Interno Bruto da China (% Anual), 1961-2017. (Figura e dados do Grupo do Banco Mundial)

Uma tendência de queda no período de 2008 a 2010 levou Xi Jinping a declarar, em 2014, a “nova normalidade”, em que a economia chinesa passaria do desenvolvimento em ritmo acelerado para um desenvolvimento de boa qualidade49. Além disso, conforme declarou Xi Jinping em uma sessão de estudos após o 19o Congresso Nacional do PCC, o país entrará em um “período de oportunidade histórica” durante o qual “será possível realizar grandes feitos” entre 2021 e 205050. Mais uma vez, cabe notar as disposições estratégicas que guiam o tom e a intensidade das ações chinesas durante esse período.

Um Período de Oportunidade Histórica

Com base na definição de “período de oportunidade estratégica” do Professor Xu Jian, citada anteriormente, pode-se entender esse novo “período de oportunidade histórica” como a época em que os avanços decorrentes das oportunidades estratégicas de períodos anteriores devem ser consolidados e desenvolvidos, rumo ao objetivo de alcançar a revitalização histórica. Conforme ilustrado pela estratégia de modernização descrita pelo “Sonho Chinês” de Xi Jinping, esse objetivo será realizado por meio dos “objetivos de luta”.

Esses objetivos se referem, respectivamente, ao estabelecimento de uma sociedade relativamente próspera até 2021, centenário do PCC, e a subsequente transformação da China em uma grande potência socialista modernizada, cem anos após a fundação da RPC51. A crescente urgência que parece estar personificada no espírito do “esforço em avançar” é interessante, especialmente quando aliada a declarações de um “período de oportunidade histórica”. Essa mudança, que deixa para trás o conceito de “período de oportunidade estratégica”, parece indicar uma conduta de política externa mais proativa — ou assertiva — por parte da China.

Contudo, se a assertividade chinesa em sua conduta de política externa estiver, de fato, ligada a mudanças nessas janelas de oportunidade, será igualmente importante entender como esses intervalos de tempo são definidos pela liderança chinesa.

Uma interessante consequência do fato de a China estar se aproximando de seu ‘período de oportunidade estratégica’ é uma convicção maior quanto à superioridade de sua ideologia socialista, sua teoria, seu sistema e sua cultura, conforme representados na doutrina das quatro confianças: ideologia, teoria, sistema e cultura.

Entendendo uma China em Transformação

No Fórum Econômico Mundial de 2017, Xi Jinping apresentou a China como uma defensora ferrenha da globalização (em um contraste radical com a postura do Presidente Trump)52. Essa forma de otimismo persistiu durante o 19o Congresso Nacional do PCC naquele mesmo ano e durante o 13o Congresso Nacional do Povo, em 2018. Com efeito, a mensagem está clara por meio de declarações como “Só o socialismo pode salvar a China” e “Leste, oeste, sul, norte e centro: O partido lidera todos”53.

Em comparação à desordem política no Ocidente, Xi Jinping descreveu o modelo de governança fortemente centralizado da China como um “novo tipo de sistema político partidário”54. Com efeito, uma interessante consequência do fato de a China estar se aproximando de seu “período de oportunidade estratégica” é uma convicção maior quanto à superioridade de sua ideologia socialista, sua teoria, seu sistema e sua cultura, conforme representados na doutrina das quatro confianças: ideologia, teoria, sistema e cultura55.

Contudo, um ajuste de contas chegou rapidamente para o país. Em vez do “grande salto em termos de prestígio político”, 2018 foi o ano em que os desafios tanto internos quanto externos da China cresceram e se entrelaçaram56. Embora seja difícil determinar se as políticas do governo Trump voltadas à competição com grandes potências (conforme definidas na Estratégia Nacional de Segurança dos EUA) marcam um término precoce do período de oportunidade estratégica, não resta dúvida de que um novo entendimento sobre a posição da China no mundo está em curso naquele país.

Durante a Conferência Central de Política Externa, realizada entre 22 e 23 de junho de 2018, Xi Jinping ressaltou que, desde o 18o Congresso Nacional do PCC, a China vem enfrentando um número cada vez maior de desafios57. Dessa forma, foi necessário conceber uma perspectiva estratégica nova e holística para reunir considerações nacionais e internacionais como um todo. Embora o país ainda se veja nos últimos anos de seu período de oportunidade estratégica, Xi Jinping formulou um “período de transição histórica” entre 2017 e 202258.

Esse período de transição é importante por apresentar uma espécie de “janela de vulnerabilidade”, durante a qual a China enfrenta a possibilidade de um declínio acentuado em relação a seu rival (os EUA). Nesse sentido, como defende Costantino Pischedda, o país, em sua “aposta por uma ressurreição”, ficará “tentado a recorrer à força contra um rival, em uma tentativa desesperada de superar sua situação”59. Mais especificamente, o período de transição histórica é descrito como o intervalo durante o qual os “objetivos de luta” dos dois centenários convergirão.

Com efeito, embora o primeiro objetivo se concentre no estabelecimento de uma sociedade próspera (ou xiaokang) entre 2021 e 2035, o segundo objetivo aponta mais explicitamente para o lugar da China no mundo como uma grande potência socialista moderna até 205060. Esses objetivos podem ser compreendidos como diferentes polos da ascensão da China: um polo nacional (o PCC cria uma sociedade próspera) e um internacional (o PCC alça a China ao status de grande potência sob um socialismo modernizado). Surge, então, a seguinte questão: o que acontece quando mudanças na economia interna ocorrem simultaneamente a mudanças na esfera internacional?

A Ascensão da China Não é Fato Consumado

Os economistas vêm alertando que os riscos na economia chinesa estão se acumulando, incluindo as bolhas imobiliária e de dívida e a necessidade de reformar as empresas estatais. Assim, o crescimento da economia chinesa já se encontra na situação perigosa da “armadilha da renda média”61. Acresça-se a esses desafios a crescente hostilidade por parte dos EUA, que hoje vê a China como uma grande potência rival, e surge uma perspectiva mais complicada sobre a ascensão chinesa.

A liderança chinesa reconhece que sua oportunidade estratégica está chegando ao fim e está se redirecionando para a busca de oportunidades históricas? Em outras palavras, o país ainda está aguardando o momento oportuno ou reconhece este período como o momento certo para avançar? Cabe notar que o “esforço em avançar” é um elemento crucial durante essa transição do estratégico para o histórico62. Curiosamente, desde 2016, a existência de uma urgência maior quanto à ascensão da China é visível nas frequentes referências às oportunidades e desafios futuros63.

Para entender o objetivo final de modernização socialista da China, vale examinar o papel do socialismo no país. Em seu estudo sobre o “utopismo” após a revolução socialista de Mao Tsé-tung, Maurice Meisner assevera que, ao contrário do que afirmam outros socialistas, a visão utópica chinesa de uma futura ordem social perfeita tem ficado cada vez mais em destaque, sem que seja definida de um modo mais tangível64. Entretanto, apresentar o socialismo chinês como uma espécie de “utopismo desenfreado” é, como afirma Richard Pfeffer, algo fundamentalmente incorreto65.

Quando se identificam as “janelas de oportunidade” na formulação de políticas da China, fica claro que, enquanto os objetivos alcançáveis estão definidos de uma forma mais direta, os mais remotos continuarão a ser de caráter utópico até que se tornem mais próximos. A “estratégia de três etapas” de Deng Xiaoping é um bom exemplo. Enquanto o período de 2001 a 2050 foi descrito como um terceiro passo de modo geral indefinido, esse período de 50 anos se converteu em algo mais concreto com o decorrer dos anos e novos governos.

Conclusão

Embora a China se veja, atualmente, em um período de oportunidade estratégica (2002-2020) que ela própria definiu, pode-se discernir uma urgência cada vez maior na forma pela qual o país enxerga as esferas nacional e internacional. Esse aspecto está bastante visível nas modificações das diretrizes estratégicas que acompanham esse período de oportunidade estratégica, que passou de “fazer algo” para “realizar grandes feitos” e, mais recentemente, para “empenhar-se por realizações”.

Esta última mudança, em particular, indica que o período de oportunidade estratégica está chegando ao fim e se transformará no “período de oportunidade histórica” (2021-2050), durante o qual a China se tornará uma grande potência sob um socialismo modernizado, cem anos após a fundação da RPC.

Contudo, a liderança chinesa se refere, explicitamente, aos últimos anos do período de oportunidade estratégica como um “período de transição histórica” (2017-2022), ocasionado pela pressão dupla da desaceleração econômica do país e sua designação como concorrente estratégico pelo governo do Presidente Donald Trump. Durante esse período, os “objetivos de luta” dos dois centenários convergirão e, por isso, os períodos de oportunidade representam um importante instrumento heurístico para se entender a crescente assertividade da China desde 2008. Mais especificamente, essa assertividade ainda pode adquirir mais força entre 2021 e 2035, pois esse período estabelecerá as bases para o objetivo final da ascensão chinesa.

Assim, este artigo mostra que pensar sobre a ascensão da China como um retorno a seu passado imperial é algo inerentemente falho, pois é importante entender o impacto de acontecimentos internos e externos sobre essa ascensão. De fato, como as fontes chinesas dividem os anos entre 2002 e 2050 em vários períodos de oportunidade, é possível utilizá-los como instrumentos heurísticos úteis para compreender a ascensão da China. Neste estudo, essa ascensão é mais explícita tanto em termos de sua trajetória quanto de seu objetivo final.

Em vez de enfatizar a mudança de “aguardar o momento oportuno” para “empenhar-se por realizações”, este estudo mostra que a estratégia é mais dividida e propícia à mudança, enquanto a trajetória de crescimento é linear e não cíclica. Uma sugestão é considerar essas diretrizes estratégicas como a força motriz por trás dos períodos de oportunidade e do crescente sentido de urgência em realizar a revitalização da China. Em lugar de enxergar uma estratégia de cem anos voltada para suplantar os EUA, este artigo mostra que a China está, antes de mais nada, preocupada com sua própria modernização (socialista), que a alçará ao status de grande potência, tanto econômica quanto politicamente.


Referências

  1. Michael Pillsbury, The Hundred-Year Marathon: China’s Secret Strategy to Replace America as the Global Superpower (New York: Henry Holt, 2015), p. 28-30.
  2. David Tweed, “This Is the Man Trump Described as ‘The Leading Authority on China’”, Bloomberg, 26 Sept. 2018, acesso em 28 mar. 2019, https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-09-27/trump-identifies-the-leading-authority-on-china-who-is-he.
  3. Alan Rappeport, “A China Hawk Gains Prominence as Trump Confronts Xi on Trade”, New York Times (site), 30 Nov. 2018, acesso em 28 mar. 2019, https://www.nytimes.com/2018/11/30/us/politics/trump-china-trade-xi-michael-pillsbury.html. Alastair Iain Johnston, “Shaky Foundations: The ‘Intellectual Architecture’ of Trump’s China Policy”, Survival 61, no. 2 (March 2019): p. 189.
  4. Mattis, “Remarks by Secretary Mattis at the U.S. Naval War College Commencement, Newport, Rhode Island”.
  5. The White House, National Security Strategy of the United States of America (Washington, DC: The White House, Dec. 2017), https://www.whitehouse.gov/wp-content/uploads/2017/12/NSS-Final-12-18-2017-0905.pdf.
  6. Johnston, “Shaky Foundations”, p. 189-202. Alastair Iain Johnston observa que “A Maratona de Cem Anos” se baseia em um entendimento equivocado da obra The China Dream: Great Power Thinking and Strategic Posture in the Post-American Era, do “um tanto excêntrico propagandista militar chinês [Cel Liu Mingfu]”, cujo livro se referiu à campanha social e econômica “Grande Salto Adiante” de Mao Tsé-tung (1958-1962), na qual a China tentaria ultrapassar os EUA economicamente em um prazo de 20 a 30 anos. Além disso, o período de cem anos do livro se refere a uma evolução do pensamento sobre a obtenção da primazia pela China, que vai do ex-Presidente da República da China, Sun Yat-sen, ao político chinês Deng Xiaoping, isto é, o período entre 1900 a 2000, em lugar de 1949 a 2049.
  7. Linus Hagström e Björn Jerdén, “East Asia’s Power Shift: The Flaws and Hazards of the Debate and How to Avoid Them”, Asian Perspective 38, no. 3 (Jul.-Sept. 2014): p. 337-62. Em seu artigo, Hagström e Jerdén observam que o debate sobre um deslocamento do poder na Ásia Oriental é inerentemente falho, porque seu foco recai, principalmente, sobre “os casos isolados ou bilaterais ou regionais relacionados a questões específicas” em vez de explicar mudanças no nível macro.
  8. Shaun Breslin, “Still Rising or Risen (or Both)? Why and How China Matters”, The Pacific Review 30, no. 6 (March 2017): p. 870-84; Brantly Womack, “International Crises and China’s Rise: Comparing the 2008 Global Financial Crisis and the 2017 Global Political Crisis”, The Chinese Journal of International Politics 10, no. 4 (Winter 2017): p. 383-401.
  9. Manjari Chatterjee Miller, “The Role of Beliefs in Identifying Rising Powers”, The Chinese Journal of International Politics 9, no. 2 (Summer 2016): p. 211-38. Miller define uma potência em ascensão como “em ascensão para se tornar uma grande potência”.
  10. Ibid.; Karl Gustafsson, “Recognising Recognition through Thick and Thin: Insights from Sino-Japanese Relations”, Cooperation and Conflict 51, no. 3 (2016): p. 255-71; Steven Ward, Status and the Challenge of Rising Powers (Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2017). Outros estudos interessantes sobre as demandas de status das potências em ascensão incluem os trabalhos de Steven Ward, da Cornell University, e Karl Gustafsson, do Swedish Institute of International Affairs.
  11. Hagström e Jerdén, “East Asia’s Power Shift”; Miller, “The Role of Beliefs in Identifying Rising Powers”, p. 211-12; William Wohlforth, “Not Quite the Same as it Ever Was: Power Shifts and Contestation over the American-led World Order”, in Will China’s Rise Be Peaceful? Security Stability and Legitimacy, ed. Asle Toje (Oxford, UK: Oxford University Press, 2018), p. 57-77.
  12. Xi Jinping, “为实现民族伟大复兴, 推进祖国和平统一而共同奋斗 ——在《告台湾同胞》发表40周年纪念会上的讲话” [Promover a luta popular pela reunificação pacífica da pátria (e) a realização da grande revitalização do povo (chinês): Um discurso proferido por ocasião do 40o aniversário da mensagem aos compatriotas taiwaneses], Xinhua News Agency (discurso, Great Hall of the People, Beijing, 2 jan. 2019), acesso em 18 jun. 2019, http://www.xinhuanet.com/politics/2019-01/02/c_1123937757.htm.
  13. Quanto aos aspectos raciais dessa “grande revitalização”, veja Jeremy E. Taylor, “Nation, Topography, and Historiography: Writing Topographical Histories in Hong Kong”, Modern Chinese Literature and Culture 15, no. 2 (Fall 2003): p. 45-74; James DeShaw Rae e Wang Xiaodan, “Placing Race, Culture and the State in Chinese National Identity: Han, Hua, or Zhongguo?”, Asian Politics & Policy 8, no. 3 (2016): p. 474-93.
  14. Miller, “The Role of Beliefs in Identifying Rising Powers”, p. 211-12 e p. 216-18.
  15. Luo Gang, “五四: 不断重临的起点———重识李泽厚 ‘启蒙与救亡的双重变奏’” [O movimento do quatro de maio: Um ponto de partida constantemente retomado sobre a “Variação Dupla de Esclarecimento e Salvação Nacional” de Li Zehou], Journal of Hangzhou Normal University 1, no. 4 (2009); Matt Schiavenza, “How Humiliation Drove Modern Chinese History”, The Atlantic (site), 25 Oct. 2013, acesso em 10 maio 2019, https://www.theatlantic.com/china/archive/2013/10/how-humiliation-drove-modern-chinese-history/280878/. quanto à figura 1, veja Tom Miller, “A Dream of Asian Empire”, Gavekal Dragonomics China Chartbook, acesso em 23 mar. 2019, https://gavekal.com/doc.cfm?id=9167&src=rss. Com efeito, ao longo do século XX, a China se viu em meio a um debate entre a salvação nacional e o esclarecimento. Como o Partido Comunista da China se apresenta como um poder pastoral, sem a sua orientação e liderança, não haverá uma nova China. Com efeito, o fim do partido levaria diretamente à queda do país.
  16. Pillsbury, The Hundred-Year Marathon, p. 31-51.
  17. Johnston, “Shaky Foundations”, p. 189.
  18. Andrea Ghiselli, “Revising China’s Strategic Culture: Contemporary Cherry-Picking of Ancient Strategic Thought”, The China Quarterly 233 (2018): p.166-85. À semelhança dos textos de Tucídides, a obra do famoso estrategista chinês Sun Tzu sofre de citações seletivas e de uma conversão direta entre o passado e o presente.
  19. Jiang Zemin, “高举邓小平理论伟大旗帜,把建设有中国特色社会主义事业全面推向二十一世纪-江泽民在中国共产党第十五次全国代表大会上的报告” [Levantar a bandeira da Teoria de Deng Xiaoping e promover a causa de desenvolver de modo abrangente o socialismo com características chinesas no século XXI: Relatório de Jiang Zemin no 15o Congresso Nacional do Partido Comunista da China] (relatório, 12 set. 1997, Beijing), http://cpc.people.com.cn/GB/64162/64168/64568/65445/4526285.html.
  20. “Por isso, o método dialético entende que os processos de desenvolvimento não se devem conceber como movimentos circulares, como uma simples repetição do caminho já percorrido, mas como movimentos progressivos, como movimentos em linha ascensional […].” Veja Joseph V. Stalin, Dialectical and Historical Materialism (New York: International Publishers, 1938), acesso em 18 jun. 2019, https://www.marxists.org/reference/archive/stalin/works/1938/09.htm. [Texto traduzido extraído da versão em português: https://www.marxists.org/portugues/stalin/1938/09/mat-dia-hist.htm . — N. do T.]
  21. Nikolai Bukharin, Historical Materialism: A System of Sociology (New York: International Publishers, 1925), p. 53-88 e p. 247-76; Schlomo Avineri, “Marx and Modernization”, The Review of Politics 31, no. 2 (April 1969): p. 172-88. Schlomo Avineri observa que o marxismo é, de certa forma, uma dicotomia, pois Karl Marx, “o fundador do marxismo”, apresentou uma “teoria unificada […] baseada no caráter mutável das relações entre forças produtivas e relações produtivas [ao mesmo tempo que advertiu] contra uma aplicação mecanicista de sua teoria a toda e qualquer situação histórica”.
  22. Esse argumento é expresso na “teoria do sapato” de Xi Jinping, quando ele afirma: “[Se] o sapato serve ou não, só se pode saber colocando-o no próprio pé. [Se] a trajetória de desenvolvimento de um país [serve ou não], só seu povo vai saber”. Veja Qin Han Xiongfeng, “What Deeper Message is Conveyed in Xi Jinping’s Shoe Theory?”, Communist Party of China News Network (CPC), 25 Mar. 2013, acesso em 28 mar. 2019, http://cpc.people.com.cn/n/2013/0325/c241220-20903516.html.
  23. George Magnus, Red Flags: Why Xi’s China is in Jeopardy (New Haven: Yale University Press, 2018), p. 53-74.
  24. Sun Daizhen e Li Jing, “中国方案的生成逻辑” [A lógica formativa do plano da China], Foreign Theoretical Trends 12 (2017): p. 10-16.
  25. Em um estudo de Raghu Garud, Arun Kumaraswamy e Peter Karnøe, a criação do caminho é definida como considerar “uma ideia de agência que é distribuída e emergente por meio de processos relacionais que constituem fenômenos”. Veja Raghu Garud, Arun Kumaraswamy e Peter Karnøe, “Path Dependence or Path Creation?”, Journal of Management Studies 47, no. 4 (April 2010).
  26. David M. Edelstein, Over the Horizon: Time, Uncertainty, and the Rise of Great Power (New York: Cornell University Press, 2017), p. 14-28.
  27. Fredrik Doeser e Joakim Eidenfalk, “The Importance of Windows of Opportunity for Foreign Policy Change”, International Area Studies Review 16, no. 4 (2013): p. 390-406.
  28. Ibid., p. 392-93. Doeser e Eidenfalk observam que, para que a janela de oportunidade funcione, é preciso uma combinação de vontade nacional e oportunidade externa. De fato, quando o momento é considerado propício, o tempo é crucial dentro dessa suposta janela. Karin Guldbrandsson e Bjöörn Fossum, “An Exploration of the Theoretical Concepts Policy Windows and Policy Entrepreneurs at the Swedish Public Health Arena”, Health Promotion International 24, no. 4 (2009): p. 434-44. Um exemplo de como essa janela de oportunidade funciona na mudança de política consta de um estudo de Guldbrandsson e Fossum. Guldbrandsson e Fossum basearam seu estudo no modelo de John Kingdon, que defende que a janela de oportunidade é concretizada pela convergência do problema, da política e das correntes políticas.
  29. Xi Jinping, “承前启后继往开来 朝着中华民族伟大复兴目标奋勇前进” [Avançar rumo à meta da grande revitalização do povo chinês], CPC, 29 Nov. 2012, acesso em 23 mar. 2019, http://cpc.people.com.cn/n/2012/1130/c64094-19746089.html.
  30. Um exemplo clássico desse aspecto cíclico histórico consta da obra Romance dos Três Reinos, do cânone literário chinês, que observa: “O império, há muito unido, precisa se dividir; há muito dividido, precisa se unir”. Veja Moss Roberts, trad., “Afterword: About Three Kingdoms” in Luo Guanzhong, Three Kingdoms: A Historical Novel (Los Angeles: Foreign Languages Press/University of California Press, 2014), p. 411.
  31. Ao ligar seu próprio nome a esse avanço teórico da ideologia vigente do país, o Presidente Xi Jinping foi elevado ao patamar dos famosos estadistas que o precederam: Mao Tsé-tung e Deng Xiaoping. A inclusão da “Reflexão de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era”, sua teoria política ou filosofia sobre o socialismo, no estatuto do 19o Congresso Nacional do PCC constitui uma honra que não foi concedida a seus antecessores imediatos Jiang Zemin e Hu Jintao. Veja Xi Jinping, “习近平:决胜全面建成小康社会 夺取新时代中国特色社会主义伟大胜利——在中国共产党第十九次全国代表大会上的报告” [Terminar de desenvolver de modo abrangente uma sociedade xiaokang, conquistar a grande vitória do socialismo com características chinesas na nova era: Relatório ao 19o Congresso Nacional do PCC], Xinhua News Agency, 27 Oct. 2017, acesso em 24 mar. 2019, http://www.xinhuanet.com//politics/19cpcnc/2017-10/27/c_1121867529.htm.
  32. Ibid. [Trecho traduzido extraído do site do Ministério de Relações Exteriores da China: http://portuguese.china.org.cn/china_key_words/2018-11/06/content_70570140.htm — N. do T.] A “principal contradição” é um importante elemento da filosofia marxista, pois explica o “movimento e a mudança com base na dialética marxista”. Com efeito, o “confronto de forças e tendências conflitantes em todas as coisas e fenômenos é a fonte de movimento, de mudança e de desenvolvimento”. Em vez de uma contradição entre “um juízo afirmativo e um negativo” (como na lógica), a contradição denota, nesse caso, que “surgiu uma incompatibilidade entre as forças produtivas e as relações de produção de modo que o mecanismo social não pode funcionar adequadamente; o sistema social entra em colapso em consequência das tendências opostas ativas dentro dele”. Veja, também, Adam Schaff, “Marxist Dialectics and the Principle of Contradiction”, The Journal of Philosophy 57, no. 7 (Mar. 1960): p. 241-50.
  33. Elizabeth C. Economy, The Third Revolution: Xi Jinping and the New Chinese State (New York: Oxford University Press, 2018); Carl Minzner, End of an Era: How China’s Authoritarian Revival is Undermining Its Rise (Oxford, UK: Oxford University Press, 2018).
  34. Alastair Iain Johnston, “How New and Assertive is China’s New Assertiveness?”, International Security 37, no. 4 (Spring 2013): p. 7-48; Björn Jerdén, “The Assertive China Narrative: Why It Is Wrong and How so Many Still Bought into It”, The Chinese Journal of International Politics 7, no. 1 (Spring 2014): p. 47-88. Uma análise específica sobre onde essa suposta “nova assertividade” se manifesta consta de Michael Yahuda, “China’s New Assertiveness in the South China Sea”, Journal of Contemporary China 22, no. 81 (2013): p. 446-59.
  35. Pillsbury, The Hundred-Year Marathon, p. 65-68. Uma tradução mais fiel de taoguang yanghui é “esconder o brilho [e] nutrir a obscuridade”. Faz parte de uma estratégia de caráter múltiplo que requer que a China “observe calmamente; lide com questões calmamente; oculte [suas] capacidades e aguarde o momento oportuno; nunca reivindique a liderança; e faça algo. Veja Zhang Xiangyi e Qin Hua, “Observe Calmly, Cope with Affairs Calmly, Hide our Capacities and Bide our Time, Never Claim Leadership, and Do Some Things”, People’s Network, 28 Oct. 2012, acesso em 24 mar. 2019, http://theory.people.com.cn/n/2012/1028/c350803-19412863.html.
  36. “The Three-Step Strategy”, Xinhua News Agency, acesso em 24 mar. 2019, http://cpc.people.com.cn/GB/64156/64157/4509545.html.
  37. Jiang Zemin, “江泽民同志在党的十六大上所作报告全文 全面建设小康社会,开创中国特色社会主义事业新局面” [Texto completo do relatório de trabalho do camarada Jiang Zemin ao 16o Congresso Nacional do PCC: Desenvolver de modo abrangente uma sociedade xiaokang e criar uma nova situação para o socialismo com características chinesas] (relatório, Grande Salão do Povo, Beijing, 8 nov. 2002), https://www.fmprc.gov.cn/web/ziliao_674904/zyjh_674906/t10855.shtml.
  38. Xu Jian, “Rethinking China’s Period of Strategic Opportunity”, China International Studies (March/April 2014): p. 52.
  39. Zheng Bijian, “China’s ‘Peaceful Rise’ to Great-Power Status”, Foreign Affairs 84, no. 5 (September-October 2005), acesso em18 jun. 2019, https://www.foreignaffairs.com/articles/asia/2005-09-01/chinas-peaceful-rise-great-power-status. Hiroko Okuda, “China’s ‘Peaceful Rise/Peaceful Development’: A Case Study of Media Frames of the Rise of China”, Global Media and China 1, no. 1-2 (2016): p. 121-38.
  40. Nesse sentido, um interessante contraponto é oferecido por Rush Doshi, que relaciona muitos dos acontecimentos da atualidade aos períodos sob Zemin e Hu. Com efeito, Shaun Breslin afirma: “Não é preciso ir até 1978 para perceber como a China mudou […] 2008 já é suficiente”. Curiosamente, o ano de 2008 é, frequentemente, citado em relação à assertividade da China. Veja Rush Doshi, “Hu’s to Blame for China’s Foreign Assertiveness?”, Brookings Institution, 22 Jan. 2019, acesso em 24 mar. 2019, https://www.brookings.edu/articles/hus-to-blame-for-chinas-foreign-assertiveness/; Shaun Breslin, “China in 2018: Presidents, Politics, and Power”, Asian Survey 59, no. 1 (2019): p. 21-34.
  41. Chen Dingding e Jianwei Wang, “Lying Low No More? China’s New Thinking on the Tao Guang Yang Hui Strategy”, China: An International Journal 9, no. 2 (2011): p. 195-216; Yan Xuetong, 韬光养晦到奋发有为” [De Taoguang Yanghui a Fenfa Youwei], Quarterly Journal of International Politics 4, no. 40 (2014): p. 1-35; Camilla T.N. Sørensen, “The Significance of Xi Jinping’s ‘Chinese Dream’ for Chinese Foreign Policy: From ‘Tao Guang Yang Hui’ to ‘Fen Fa You Wei’”, Journal of China and International Relations 3, no. 1 (2015): p. 53-73.
  42. Jiang, “江泽民同志在党的十六大上所作报告全文全面建设小康社会,开创中国特色社会主义事业新局面” [Texto completo do relatório de trabalho do camarada Jiang Zemin ao 16o Congresso Nacional do PCC: Desenvolver de modo abrangente uma sociedade xiaokang e criar uma nova situação para o socialismo com características chinesas]; Li Xueren, “习近平在周边外交工作座谈会上发表重要讲话” [Xi Jinping profere um importante discurso à Conferência sobre Diplomacia Periférica], CCTV, 25 Oct. 2013, acesso em 26 mar. 2019, http://www.xinhuanet.com//politics/2013-10/25/c_117878897.htm.
  43. Jiang, “江泽民同志在党的十六大上所作报告全文全面建设小康社会,开创中国特色社会主义事业新局面” [Texto completo do relatório de trabalho do camarada Jiang Zemin ao 16o Congresso Nacional do PCC: Desenvolver de modo abrangente uma sociedade xiaokang e criar uma nova situação para o socialismo com características chinesas]; Gong Xinli, “奋发更有为——学习胡锦涛总书记重要讲话评论” [Empenhando-se por maiores realizações: Aprendendo com o importante discurso do Secretário-Geral Hu Jintao], CPC, 31 Jul. 2007, acesso em 26 mar. 2019, http://cpc.people.com.cn/GB/67481/86695/97208/6053737.html.
  44. Hu Angang e Zhang Wei, “如何认识当今中国的历史方位” [Como entender a posição histórica da China contemporânea], Journal of East China Normal University Humanities and Social Sciences 5 (2017): p. 13-18.
  45. A derrota da China nas Guerras do Ópio de 1839-1842 e 1856-1860 com a Grã-Bretanha obrigou o país a fazer concessões às potências ocidentais. Veja Jeremy E. Taylor, “The Bund: Littoral Space of Empire in the Treaty Ports of East Asia”, Social History 27, no. 2 (2002): p. 125-42; Jia Ruixue, “The Legacies of Forced Freedom: China’s Treaty Ports”, The Review of Economics and Statistics 96, no. 4 (Oct. 2014): p. 596-608.
  46. William A. Callahan, “National Insecurities: Humiliation, Salvation, and Chinese Nationalism”, Alternatives 29, no. 2 (March 2004): p. 199-218; Zhang Feng, “The Rise of Chinese Exceptionalism in International Relations”, European Journal of International Relations 19, no. 2 (2011): p. 305-28.
  47. Xi Jinping, “习近平:决胜全面建成小康社会 夺取新时代中国特色社会主义伟大胜利——在中国共产党第十九次全国代表大会上的报告” [Terminar de desenvolver de modo abrangente uma sociedade xiaokang], 18 Oct. 2017, acesso em 18 jun. 2019, http://www.xinhuanet.com//politics/19cpcnc/2017-10/27/c_1121867529.htm.
  48. “[China’s] GDP Growth (Annual %)”, The World Bank Group, acesso em 26 mar. 2019, https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.KD.ZG?locations=CN.
  49. “习近平首次系统阐述 ‘新常态’” [Xi Jinping, pela primeira vez, explica sistematicamente o conceito de ‘nova normalidade’], Xinhua News Agency, 9 Nov. 2018, acesso em 26 mar. 2019, http://www.xinhuanet.com//world/2014-11/09/c_1113175964.htm. Nele Noesselt, “Introduction: ‘New Normal’ under Xi Jinping”, Journal of Chinese Political Science 22, no. 3 (2017): p. 321-25; Xi, “习近平:决胜全面建成小康社会 夺取新时代中国特色社会主义伟大胜利——在中国共产党第十九次全国代表大会上的报告” [Terminar de desenvolver de modo abrangente uma sociedade xiaokang]. Com essa declaração, Xi Jinping criou as condições para uma reformulação completa dos modelos econômico e de governança da China.
  50. “习近平:以时不我待只争朝夕的精神投入工作 开创新时代中国特色社会主义事业新局面” [Xi Jinping: Aproveitar o ímpeto para implementar o espírito de trabalho do 19o Congresso do PCC e iniciar uma nova era para a causa de uma nova fase do socialismo com características chinesas], Xinhua News Agency, 5 Jan. 2018, acesso em 26 mar. 2019, http://www.xinhuanet.com/2018-01/05/c_1122217981.htm. Da mesma forma, em tal período de oportunidade histórica, a sociedade pode esperar um aumento na retórica nacionalista, em consequência dessa maior urgência em alcançar os objetivos estabelecidos.
  51. He Chengxue, “新“三步走”:实现“两个阶段”战略目标的行动指南” [A nova ‘estratégia de três etapas: Um guia operacional para a realização dos ‘dois estágios’], China Social Science Network, 17 Nov. 2017, acesso em 26 mar. 2019, http://www.cssn.cn/mzx/201711/t20171117_3745816.shtml. Xi, “习近平:决胜全面建成小康社会 夺取新时代中国特色社会主义伟大胜利——在中国共产党第十九次全国代表大会上的报告” [Terminar de desenvolver de modo abrangente uma sociedade xiaokang]. Pode-se dizer que a definição desses “dois estágios” representa uma atualização da estratégia de “três etapas” de Deng Xiaoping.
  52. Jamil Anderlini, Wang Feng e Tom Mitchell, “Xi Jinping Delivers Robust Defence of Globalisation at Davos”, Financial Times, 17 Jan. 2017, acesso em 26 mar. 2019, https://www.ft.com/content/67ec2ec0-dca2-11e6-9d7c-be108f1c1dce.
  53. Xi Jinping, “习近平:在第十三届全国人民代表大会第一次会议上的讲话” [Xi Jinping: Discurso durante a primeira sessão do 13o Congresso Nacional do Povo] (discurso, Grande Salão do Povo, Beijing, 20 Mar. 2018), acesso em 18 jun. 2019, http://www.xinhuanet.com/politics/2018lh/2018-03/20/c_1122566452.htm. Enquanto o Congresso Nacional do PCC é realizado a cada cinco anos, o Congresso Nacional do Povo é uma reunião anual do governo chinês.
  54. “立“新”除“弊” 习近平纵论新型政党制度” [Construir o ‘novo’ e remover o ‘velho’: Xi Jinping explica o novo tipo de sistema político partidário], Xinhua News Agency, 5 Mar. 2018, acesso em 26 mar. 2019, http://www.xinhuanet.com/politics/2018-03/05/c_1122491671.htm.
  55. Xi, “习近平:在第十三届全国人民代表大会第一次会议上的讲话” [Xi Jinping: Discurso durante a primeira sessão do 13o Congresso Nacional do Povo].
  56. Kerry Brown, “The Year China’s Luck Ran Dry”, East Asia Forum, 9 Dec. 2018, acesso em 28 mar. 2019, https://www.eastasiaforum.org/2018/12/09/the-year-chinas-luck-ran-dry/. Brown propõe duas premissas como base para a ascensão da China nas últimas décadas: a primeira foi o compromisso contínuo dos EUA com a ordem mundial baseada em regras, e a segunda, a crescente imprevisibilidade do mundo externo.
  57. O ex-Primeiro Ministro australiano Kevin Rudd descreveu essas conferências chinesas como “grandes reuniões oficiais com toda a liderança, destinadas a sintetizar a análise oficial das tendências internacionais e a avaliar como a China deveria se antecipar e responder a elas na busca de seus interesses nacionais”. Veja Kevin Rudd, “Kevin Rudd Speaks to the Lee Kuan Yew School of Public Policy: Xi Jinping, China and the Global Order — The Significance of China’s 2018 Central Foreign Policy Work Conference” (discurso, National University of Singapore, Singapore, 26 jun. 2018), acesso em 18 jun. 2019, http://kevinrudd.com/portfolio-item/kevin-rudd-speaks-to-the-lee-kuan-yew-school-of-public-policy-xi-jinping-china-and-the-global-order-the-significance-of-chinas-2018-central-foreign-policy-work-conference/.
  58. “习近平在中央外事工作会议上强调坚持以新时代中国特色社会主义外交思想为指导努力开创中国特色大国外交新局面” [Durante a Conferência Central de Política Externa, Xi insistiu em (empregar) a nova era do Pensamento Diplomático Socialista com Características Chinesas como diretriz para iniciar, com grande esforço, a nova situação de diplomacia de grande potência com características chinesas], Xinhua News Agency, 23 Jun. 2018, acesso em 28 mar. 2019, http://www.xinhuanet.com/politics/leaders/2018-06/23/c_1123025806.htm.
  59. Constantino Pischedda, “Wars within Wars: Why Windows of Opportunity and Vulnerability Cause Inter-Rebel Fighting in Internal Conflicts”, International Security 43, no. 1 (Summer 2018): p. 138-76.
  60. Para obter mais informações sobre os objetivos dos centenários, veja Cui Zhiyuan, “‘Xiaokang Socialism’: A Petty-Bourgeois Manifesto”, Chinese Economy 36, no. 3 (2003): p. 50-70; Bart Dessein, “A New Confucian Social Harmony”, in From Dog to Rabbit: 5 Years (Ghent, Belgium: China Platform/Ghent University, 2011), p. 72-77.
  61. George Magnus, Red Flags: Why X’s China is in Trouble (New Haven, CT: Yale University Press, 2018); veja, também, Bruno Maçães, Belt and Road: A Chinese World Order (London: Hurst, 2018), p. 75-76. Essa desaceleração também é descrita como a “armadilha da renda média”. Por causa do aumento do custo da mão de obra, a China deixou de ser competitiva em setores de produção em massa, mas, por causa da baixa produtividade, também já não consegue competir em indústrias de maior valor agregado.
  62. Qin Yaqing, Presidente e Professor da China Foreign Affairs University, defende que a mudança de “evitar chamar a atenção” para “empenhar-se por realizações”, evidente no discurso de uma China assertiva, é “desaconselhável, e a continuidade através da mudança é uma descrição [mais] realista da atual estratégia internacional da China”. As mudanças ocorrem, assim, “principalmente por meio de questões consideradas relevantes para interesses nacionais centrais”. Veja Qin Yaqing, “Continuity through Change: Background Knowledge and China’s International Strategy”, The Chinese Journal of International Politics 7, no. 3 (Autumn 2014): p. 285-314; Wei Xingsheng, “在大有可为的历史机遇期奋发有为” [Empenhar-se por realizações no período de oportunidade histórica durante o qual grandes feitos podem ser realizados], QS Theory CN, 10 Sept. 2018, acesso em 28 mar. 2019, http://www.qstheory.cn/laigao/2018-09/10/c_1123407336.htm. David Gitter, “Is China’s Period of Strategic Opportunity Over?”, The Diplomat (site), 28 Mar. 2016, acesso em 28 mar. 2019, https://thediplomat.com/2016/05/is-chinas-period-of-strategic-opportunity-over/.
  63. Wang Yang, “汪洋代表全国政协第十三届全国委员会常务委员会作报告(全文)” [Wang Yang apresenta relatório de trabalho do comitê permanente do Congresso Nacional do Povo durante o 13o Congresso Nacional do Povo (texto completo)] (relatório, Grande Salão do Povo, Beijing, 3 mar. 2019), http://finance.jrj.com.cn/2019/03/03161127110607.shtml. Durante a segunda sessão da reunião de 2019 com o 13o Congresso Nacional do Povo, o “período de transição histórica” e 2019, em particular, foram expressamente citados pelos membros do Comitê Permanente do Politburo (mais alto órgão político da China). O desenvolvimento rumo a uma “sociedade xiaokang”, uma sociedade chinesa modernizada e próspera, por exemplo, foi descrito por Wang Yang, o Presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, como uma “questão decisiva durante um ano decisivo”. Veja Su Feng “习近平新时代中国特色社会主义思想与历史交汇期的基本关系” [Sobre a relação básica entre a Reflexão de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era e o período de convergência histórica], Gansu Theory Research (甘肃理论学刊) 6, no. 244 (November 2017): p. 9-14. A declaração desse período de transição histórica, segundo Su Feng, pode ser compreendida como uma importante avaliação estratégica, pois é crucial entender o desenvolvimento da “Reflexão de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era”.
  64. Maurice Meisner, “Maoist Utopianism and the Future of Chinese Society”, International Journal 26, no. 3 (1971): p. 535-39.
  65. Richard M. Pfeffer, “Mao and Marx in the Marxist-Leninist Tradition: A Critique of ‘The China Field’ and a ‘Contribution to a Preliminary Reappraisal’”, Modern China 2, no. 4 (1976): p. 430-37.

Axel Dessein é doutorando no Centro de Grande Estratégia do Departamento de Estudos de Guerra do King’s College London e editor geral do blog do departamento, intitulado Strife Blog. Concluiu o bacharelado e o mestrado em idiomas e culturas orientais pela Ghent University, em Gent, na Bélgica. Recebeu a bolsa Leverhulme Trust Scholarship em agosto de 2018, e sua pesquisa se concentra nas perspectivas internas sobre a ascensão da China.

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Primeiro Trimestre 2020