Military Review

 

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Guadalcanal

Um Estudo de Caso para o Combate em Múltiplos Domínios

Chris Rein

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Fuzileiro naval norte-americano de guarda no PCot 80 em Edson’s Ridge (também conhecida como Bloody Ridge), Guadalcanal, em 1942. A foto mostra a vista na direção sul, de onde os japoneses atacaram durante a “Batalha de Bloody Ridge” em setembro de 1942. (Foto cedida por Wikimedia Commons)

Nota do Editor: O texto a seguir consiste em um capítulo da recém-publicada monografia de Christopher M. Rein, “Multi-Domain Battle in the Southwest Pacific Theater of World War II” (“O Combate em Múltiplos Domínios no Teatro de Operações do Sudoeste do Pacífico na Segunda Guerra Mundial”), detalhando precedentes para o combate em múltiplos domínios empregados pelas Forças Aliadas contra as Forças Armadas Imperiais Japonesas no teatro de operações (TO) do Sudoeste do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. Foram realizadas leves alterações para adaptar o texto ao estilo da Military Review.

A batalha pela Ilha de Guadalcanal, no Pacífico, entre agosto de 1942 e janeiro de 1943, oferece um claro exemplo histórico do conceito e dos benefícios de se conduzir um combate em múltiplos domínios simultaneamente. Embora tenham surgido novos domínios, como o espacial e o cibernético, desde o término da Segunda Guerra Mundial, capacidades e multiplicadores de poder de combate a eles relacionados afetaram a luta pelo controle da ilha em 1942, como, por exemplo, superioridade de informações, comunicações seguras, vigilância de área e apoio econômico e popular em uma economia de guerra totalmente mobilizada. As forças terrestres, incluindo elementos do Corpo de Fuzileiros Navais – CFN (Marines) e do Exército dos EUA, acabaram conquistando a ilha no início de 1943, mas seu êxito dependeu fortemente do apoio naval e aéreo direto, que forneceu um apoio logístico essencial e efetivamente interditou os esforços japoneses para aumentar seu poder de combate e prover suas forças. A alguma distância dali, tênderes de hidroaviões conduziam constantes patrulhas de reconhecimento para fornecer informações vitais sobre os movimentos e intenções da frota japonesa; bombardeiros pesados executavam incursões contra bases japonesas como Rabaul, na Ilha de Nova Bretanha; e submarinos interditavam o fluxo de matérias-primas para a economia japonesa, possibilitando que os Aliados vencessem a disputa logística. Embora representasse apenas um passo na longa marcha rumo à libertação das Filipinas e à derrota do Império Japonês, Guadalcanal foi o combate de desgaste crucial, que mudou o rumo da situação e estabeleceu o padrão de cooperação em múltiplos domínios, que levou, por fim, à vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial.

No final da primavera de 1942, as forças japonesas dominavam o Pacífico. Com a rendição das forças norte-americanas e filipinas em Bataan e Corregidor em abril e maio, os japoneses haviam, de modo geral, concluído a conquista da “Área de Recursos Sul”. Haviam forçado as forças navais britânicas a recuar para a costa leste da África após bem-sucedidos ataques a partir de navios-aeródromos contra bases da Marinha Real na ilha de Ceilão (Sri Lanka), logo ao sul da Índia, e as forças norte-americanas e australianas sofreram com pesadas incursões aéreas ao se empenharem em manter o controle sobre a Nova Guiné, última barreira entre o Império Japonês em expansão e a própria Austrália. Somente a batalha naval no Mar de Coral em maio — um empate tático, mas uma vitória estratégica, pelo fato de ter repelido uma força anfíbia com destino ao centro de suprimentos aliado em Port Moresby — interrompeu a sucessão contínua de êxitos japoneses até então.

Um acontecimento no final de abril colocaria os japoneses em um curso bem mais perigoso. Em 18 de abril, o Tenente-Coronel James H. “Jimmy” Doolittle comandou uma força de 16 bombardeiros médios B-25, das Forças Aéreas do Exército* (AAF, na sigla em inglês), que saíram do convés do USS Hornet rumo ao arquipélago japonês, antes de seguirem para áreas da China em posse dos nacionalistas. A incursão, fonte de constrangimento para as forças armadas japonesas, convenceu-as de que sua barreira defensiva tinha de ser ampliada ainda mais, principalmente pela conquista das Ilhas Aleutas, perto do Alasca, e Midway, no Pacífico Central. A Marinha dos EUA, alertada por hábeis criptógrafos na sede da Frota do Pacífico, previu corretamente as intenções japonesas, possibilitando que seus navios-aeródromos resistissem, efetivamente, à invasão planejada de Midway. A vitória resultante demonstrou ainda mais o valor de informações corretas de Inteligência para as operações militares, qualquer que seja a tecnologia que possibilite sua obtenção.

Em 04 Jun 42, decolando da ilha sitiada de Midway, o Capitão de Corveta Lofton R. Henderson, comandante do Esquadrão de Reconhecimento e Bombardeio VMSB-241, do CFN, liderou 16 bombardeiros de mergulho SBD em um ataque contra a força de navios-aeródromos japoneses que escoltavam a força de invasão. A patrulha aérea de combate dos navios-aeródromos destruiu o avião de Henderson, que recebeu, postumamente, a medalha Navy Cross por seus esforços para incapacitá-los. Apesar de não ter destruído nenhum alvo, seu esquadrão forçou os navios-aeródromos japoneses a manobrarem e contribuiu para um atraso na recuperação, reabastecimento e remuniciamento de suas aeronaves. Esse e outros ataques facilitaram a destruição de todos os quatro navios-aeródromos japoneses por um ataque executado pouco mais de uma hora depois, quando bombardeiros de mergulho dos navios-aeródromos norte-americanos Enterprise e Yorktown encontraram os conveses dos navios-aeródromos japoneses cheios de aviões carregados com combustível e bombas. Esse combate proporcionou à Marinha dos EUA certa liberdade de ação, por ter reduzido a diferença em número de navios-aeródromos no Pacífico, permitindo que os Aliados assumissem a iniciativa no TO. Sem o controle dos céus sobre Midway, ou dos mares ao seu redor, a força de invasão japonesa teve de retornar, poupando os defensores sitiados da ilha de um assalto anfíbio e conservando o campo de pouso como sentinela para a base em Pearl Harbor1.

[* Componente do Exército dos EUA que, mais tarde, deu origem à Força Aérea como Força Singular. — N. do T.]

Aeronave Douglas SBD-3 Dauntless, da Marinha dos EUA, sobrevoa os navios-aeródromos USS Enterprise (CV-6) (frente) e USS Saratoga (CV-3) em 19 Dez 42, perto de Guadalcanal. A aeronave provavelmente realizava um patrulhamento antissubmarinos. O Saratoga é escoltado por seu contratorpedeiro de resgate. O conjunto de antenas e radares no Enterprise foi obscurecido por medidas de contrainteligência da época de guerra. (Foto cedida pela Marinha dos EUA)

Guadalcanal, perto do extremo sul do arquipélago das Ilhas Salomão, tem uma área de aproximadamente 145 km por 50 km. Samuel Eliot Morison, que visitou a ilha e escreveu, posteriormente, a história oficial da Marinha dos EUA, qualificou-a como “fecaloide”, que é uma descrição adequada para seu formato oblongo e composição. Situada a apenas cerca de 100 km ao sul da Linha do Equador, sua costa era coberta por uma mata densa e manguezais, que apresentavam vários obstáculos à habitação humana, incluindo o mosquito transmissor da malária. No interior da ilha, recifes de corais que emergiram do fundo oceânico abrigavam densos grupos de árvores frondosas, que impediam a observação aérea, e as únicas clareiras eram cobertas por tufos de capim agreste de quase dois metros de altura e bordas afiadas. As áreas mais densamente povoadas estavam situadas ao longo da costa, onde as poucas aldeias nativas e as plantações de coco dos colonizadores salpicavam o litoral.

Em abril de 1942, as tropas japonesas desembarcaram em Guadalcanal e deram início à construção de um campo de pouso na planície costeira perto de Lunga Point. Sem equipamentos pesados, o trabalho avançou lentamente e não passou despercebido pelos aviões de reconhecimento aliados baseados nas Novas Hébridas, hoje o país insular de Vanuatu. No dia 23 de julho e, novamente, no dia 25, os B-17 das Forças Aéreas do Exército realizaram um reconhecimento fotográfico de Guadalcanal, utilizando câmeras da Marinha operadas por fotógrafos do CFN, e descobriram que as tropas japonesas estavam prestes a concluir a construção do campo de pouso2. A ameaça que bombardeiros baseados em terra japoneses estacionados em Guadalcanal representavam para o transporte marítimo até a Nova Caledônia, no Sul, e a capacidade da nova base para negar acesso às Ilhas Salomão estimularam os planejadores a iniciarem preparativos para retomar a ilha e concluir o campo de pouso inacabado. A 1a Divisão/CFN saiu de San Francisco rumo à Nova Zelândia em junho, com o 1o e o 5o Regimentos/CFN, mas nenhum dos dois dispunha dos níveis de suprimento suficientes para o combate. O terceiro regimento da Divisão, o 7o Regimento/CFN, guarnecia Samoa na época.

Os planos iniciais previam um desembarque preparatório na Ilha de Tulagi, cerca de 30 km ao norte de Lunga Point, com o objetivo de fornecer um ancoradouro seguro, seguido do assalto principal à própria Ilha de Guadalcanal. Os planejadores não esperavam que as tropas japonesas de engenharia, da guarnição e de comunicações fossem oferecer grande resistência, mas a ameaça de uma forte resposta naval e aérea, seguida de contradesembarques por tropas de outras áreas das Ilhas Salomão, exigia que o campo de pouso fosse conquistado rapidamente, a fim de preparar uma defesa em todas as direções contra ataques aéreos, terrestres e navais. Apesar do planejamento apressado, os desembarques iniciais obtiveram êxito, sem grandes dificuldades, pois os fuzileiros navais se apossaram tanto de Tulagi quanto do campo de pouso, rebatizado de Henderson em homenagem aos esforços do comandante morto em Midway. Contudo, os desembarques desencadearam uma resposta agressiva por parte das forças aéreas e navais japonesas, ameaçando os vulneráveis navios-transporte que ainda estavam desembarcando os estoques de munição, alimentos e equipamentos pesados dos fuzileiros navais.

O Vice-Almirante Frank “Jack” Fletcher, que comandava a força de cobertura dos navios-aeródromos, hesitava em arriscar os três navios-aeródromos da esquadra que lhe restavam dentro do alcance das aeronaves baseadas em terra japonesas e, assim, decidiu retirar-se na noite de 7 de agosto, deixando uma pequena força de superfície composta de cruzadores pesados para proteger os navios-transporte ainda espalhados pela cabeça de praia. Na noite de 8 de agosto, a Marinha Japonesa lançou a primeira do que se tornaria uma série de investidas regulares através da “Fenda” entre os arquipélagos paralelos que compõem as Ilhas Salomão, a qual ficou conhecida como “Ironbottom Sound” (“Baía do Fundo de Ferro”), devido ao número de navios afundados no local. No combate noturno próximo à Ilha de Savo, a Marinha dos EUA sofreu uma das piores derrotas de sua história, quando sete cruzadores pesados japoneses afundaram cinco cruzadores aliados, deixando os navios-transporte praticamente desprotegidos. Somente a retirada antecipada do Almirante Mikawa — para deixar a área antes do alvorecer, quando decerto haveria aeronaves à sua busca — salvou os navios-transporte da destruição. O submarino norte-americano S-44 obteve a única vingança dos Aliados ao afundar um cruzador. Sem proteção aérea ou naval, os navios-transporte se retiraram com quase a metade dos suprimentos dos fuzileiros navais ainda a bordo, incluindo valiosos equipamentos de radar e rádio. Conforme observado na história oficial do Exército dos EUA: “A partida das Forças de Apoio Aéreo e Anfíbias deixou a 1a Divisão/CFN sozinha na área de Guadalcanal-Tulagi, exposta a ataques japoneses, sem cobertura aérea ou apoio naval”3.

Operações em Guadalcanal e nas Ilhas Salomão

Sem apoio aéreo ou naval, os fuzileiros ficaram, com efeito, por conta própria, até que comboios de ressuprimento e reforço pudessem chegar até a ilha. Enquanto isso, a guarnição suplementou suas rações com o arroz japonês apreendido, e os Batalhões de Construção da Marinha (Seabees) se empenharam em concluir os trabalhos no campo de pouso Henderson, a fim de ajudar a defender a ilha mediante a interdição do fluxo de reforços e suprimentos japoneses. Ao mesmo tempo, os japoneses tentaram, em vão, interromper o fluxo de suprimentos e reforços para a guarnição sitiada. Com o domínio do ar, os norte-americanos podiam operar com segurança durante o dia e, assim, trouxeram comboios de Nouméa, na Nova Caledônia, supreendentemente sem nenhuma oposição dos submarinos japoneses, que preferiam, com base em sua doutrina, concentrar seus esforços contra navios de combate. À noite, porém, quando a escuridão mantinha as aeronaves em terra, os japoneses, com sua propensão para o combate noturno, controlavam as águas à volta de Guadalcanal e movimentavam comboios, apressadamente, de sua base em Rabaul, na Nova Bretanha, até as tropas terrestres na ilha. Esse vaivém na disputa entre os dois lados continuou durante meses, porque nenhum deles conseguiu defender, totalmente, suas linhas de comunicação, levando a uma prolongada campanha de desgaste ao redor do perímetro do campo de pouso.

Os japoneses desferiram o primeiro golpe, quando mais de mil homens de seu 28o Regimento de Infantaria (RI) desembarcaram logo ao leste do perímetro dos fuzileiros navais norte-americanos em 19 de agosto. No confronto, que ficou conhecido como “Batalha do Tenaru”, fuzileiros navais norte-americanos entrincheirados atrás do rio conseguiram conter, facilmente, o que se tornaria o primeiro de muitos contra-ataques contra o perímetro, aniquilando praticamente toda a força atacante. Até esse momento, o inexpressivo esforço japonês representava um entendimento falho de exatamente quantos soldados norte-americanos estavam na ilha, bem como os perigos de informações inexatas. Os comandantes japoneses pensaram, inicialmente, que a operação consistia apenas em um ataque de surpresa para destruir o campo de pouso, e não esperavam, na verdade, que os norte-americanos fossem tentar mantê-lo com todos os seus efetivos. Ao ficarem plenamente cientes do total de efetivos da guarnição, os japoneses resolveram enviar uma força bem maior em meados de setembro.

No dia seguinte, 20 de agosto, o campo de pouso Henderson entrou em operação ao receber 19 aeronaves F4F Wildcat do Esquadrão de Caças VMF-223 e 12 aeronaves SBD Dauntless do Esquadrão de Reconhecimento e Bombardeio VMSB-232, ambos do CFN, procedentes do navio-aeródromo de escolta Long Island. Relutante em arriscar os lentos e carregados navios-transporte em águas disputadas, a Marinha colocou seus contratorpedeiros rápidos em operação, para trazer combustível de aviação, bombas, e o pessoal de terra dos esquadrões do CFN dos EUA. O ressuprimento aéreo complementou o esforço, e bimotores R4D (C-47) do Grupo Aéreo 25 do CFN trouxeram produtos básicos essenciais e evacuaram os casos médicos mais graves. “Esses aviões realizavam voos diários de Espiritu Santo a Guadalcanal, geralmente trazendo cargas úteis de 3 mil libras [1.360 kg] e evacuando 16 pacientes de maca por viagem”4.

Em 22 de agosto, navios trouxeram o que restava de um terceiro regimento para a 1a Divisão/CFN — o 2o Regimento/CFN — com o objetivo de reforçar o batalhão que havia tomado Tulagi. Naquele mesmo dia, as Forças Aéreas do Exército fizeram sua primeira contribuição, quando cinco caças P-400 (a versão de exportação do P-39 Airacobra) do 67o Esquadrão de Caças chegou, reforçado por outras nove aeronaves em 27 de agosto. O esforço da Marinha não foi totalmente planejado, e bombardeiros de mergulho do USS Enterprise chegaram em 24 de agosto, após seu navio-aeródromo sofrer graves avarias na “Batalha das Ilhas Salomão Orientais”. Em 31 de agosto, foram reforçados com o efetivo do Saratoga, após aquele navio-aeródromo ser avariado por torpedos ao patrulhar a área ao sul das ilhas. Esse conglomerado de três Forças Singulares foi designado “Força Aérea CACTUS” (CACTUS era o codinome de Guadalcanal), todas sob a direção da 1a Ala Aérea do CFN, comandada pelo destemido Almirante Roy Geiger. Conforme observou um historiador: “Pilotos do CFN, Marinha e Exército voaram juntos em missões, sobreviveram juntos durante bombardeios aéreos, e muitos morreram juntos em voo ou em abrigos”5. A Força Aérea CACTUS forneceu um modelo para o emprego moderno do poder aéreo em um TO.

Contudo, o índice elevado de perdas ameaçava a sobrevivência da Força Aérea CACTUS. Depois de apenas quatro dias, restavam apenas três dos P-400 originais. Além disso, as aeronaves não dispunham de um sistema de oxigênio, restringindo os caças a operações em altitudes mais baixas. Em consequência, sua missão mudou de superioridade aérea para ataques ao solo, graças, em parte, ao armamento disponível em cada aeronave (canhão de 37 mm e seis metralhadoras de calibre .50). Ironicamente, apenas os caças Wildcat do CFN podiam alcançar as grandes alturas onde os bombardeiros bimotores japoneses “Betty” operavam, fazendo com que — em uma mistura de papéis contemporâneos — a aviação do CFN desempenhasse a missão de superioridade aérea enquanto as Forças Aéreas do Exército executavam o Apoio Aéreo Aproximado. Os onipresentes bombardeiros de mergulho do CFN e da Marinha, que haviam afundado todos os quatro navios-aeródromos japoneses em Midway, eclipsaram os esforços de ambos os caças. Conforme observado na história oficial das Forças Aéreas do Exército, o “bombardeiro de mergulho, apesar de sua vulnerabilidade, mostrou ser uma arma mortífera contra todos os tipos de navio a um raio de 320 km de Henderson”6.

A Força Aérea CACTUS entrou em operação em um momento decisivo, em que contratorpedeiros e navios-transporte japoneses tentavam introduzir um regimento reforçado para destruir a cabeça de praia. Esses esforços precipitaram a Batalha das Ilhas Salomão Orientais em 24 de agosto, a qual demonstrou que nenhum dos dois lados controlava os mares à volta das ilhas ainda. Ataques aéreos executados naquele dia impediram o desembarque de 1.500 tropas japonesas e, dois dias depois, bombardeiros de mergulho afundaram outro navio-transporte com mais de mil homens a bordo, repetindo essa proeza ao repelir outra força de desembarque a bordo de contratorpedeiros dois dias mais tarde. Finalmente, no dia 1o de setembro, os japoneses conseguiram introduzir mais de mil homens às escondidas da Força Aérea CACTUS, que estava enfraquecida pelas perdas decorrentes de incursões aéreas diárias. Reforços adicionais chegavam todas as noites nos contratorpedeiros rápidos do “Expresso de Tóquio”, ampliando essa força para quase 6 mil homens até meados daquele mês, incluindo o restante do 28o RI e o 124o RI, da 18a Divisão japonesa, todos os quais agora representavam uma ameaça imediata para operações que partissem do campo de pouso Henderson. Felizmente, o descarregamento apressado havia impedido as tropas japonesas de trazer qualquer arma pesada, e a vantagem dos fuzileiros navais norte-americanos na artilharia desempenhou um papel decisivo, entre 12 e 14 de setembro, na “Batalha de Bloody Ridge [Cume Sangrento]”, rebatizado, posteriormente, de “Edson’s Ridge”, em homenagem ao comandante do batalhão de comandos (raiders) do CFN que manteve o terreno durante o combate. Apesar de terem sido forçados a recuar até quase o limite do campo de pouso, os comandos, em situação de inferioridade numérica, defenderam o perímetro e destruíram a força atacante. O intenso combate, aliado a índices elevados de doenças na ilha pantanosa e assolada pela malária, esgotou o efetivo terrestre do CFN dos EUA, exigindo reforços (substituição, na verdade) em 18 de setembro, com a chegada do 7o Regimento/CFN. Além das perdas em combate, mais de mil homens haviam sido evacuados devido a doenças incapacitantes. O reforço impôs um pesado custo à Marinha dos EUA, pois, em 15 de setembro, o submarino japonês I-19 torpedeou e afundou o navio-aeródromo USS Wasp, enquanto este cobria o comboio de tropas do 7o Regimento/CFN.

A ameaça mais grave ao controle sobre Guadalcanal surgiu no final de outubro, quando os japoneses enviaram às ilhas a maior parte de duas divisões, a 2a e a 38a, apoiadas por peças pesadas de 150 mm. Bombardeios aéreos diários procedentes de Rabaul contribuíram para o aumento no número de casos de fadiga de combate entre os pilotos da ilha. Os pilotos conduziam múltiplas surtidas todos os dias, em aeronaves que os mecânicos mal conseguiam manter em condições de operar, seguidas de noites agitadas, interrompidas tanto pelos mosquitos quanto pelo “Washing Machine Charley” — um bimotor japonês que conduzia ataques noturnos, circulando o campo de pouso e lançando bombas antipessoal a intervalos aleatórios. As perdas em combate resultaram em um elevado desgaste na Força Aérea CACTUS. A maior parte das duas divisões japonesas conseguiu penetrar na área no final de setembro e início de outubro, mas as tropas tiveram de arrastar materiais pesados e suprimentos por várias milhas através de uma selva sem trilhas, até chegarem ao perímetro à volta do campo de pouso Henderson.

Ao mesmo tempo, a 1a Divisão/CFN foi, gradativamente, chegando aos limites de sua resistência, já que os reforços mal podiam repor as constantes perdas, resultantes, em sua maior parte, de doenças, entre os regimentos que defendiam o perímetro. Em consequência, o General de Brigada Millard Harmon, que comandava todas as forças do Exército no TO, determinou o emprego de elementos da “Divisão Americal” para reforçar os fuzileiros navais. Composta de três regimentos de infantaria “órfãos”, que haviam sobrado da transformação de todas as divisões de infantaria em divisões ternárias logo antes da guerra e sido despachados como reforços para a Nova Caledônia, a divisão recebeu seu nome como uma abreviação de “American-Caledonian Division”, em homenagem à ilha onde havia sido oficialmente formada. Seus três regimentos eram o 132o RI, anteriormente da 33a Divisão de Infantaria (DI) da Guarda Nacional do Estado de Illinois; 164o RI, da Dakota do Norte, anteriormente da 34a DI; e 182o RI, de Massachusetts, anteriormente agregado à 26a DI. Harmon enviou o 164o RI primeiro, aumentando o efetivo de Guadalcanal para aproximadamente 23 mil homens, chegando a tempo de ajudar os fuzileiros navais a repelirem um grande assalto japonês.

O comboio que levava o primeiro regimento da Americal para Guadalcanal desencadeou uma nova batalha naval, a Batalha do Cabo Esperança, em 11 de outubro, quando a força de cobertura travou combate com uma considerável flotilha japonesa que tentava introduzir suas próprias forças terrestres. Os Aliados contavam com uma superioridade numérica em cruzadores sobre os japoneses, com uma margem de 4 para 3, e se beneficiaram do maior uso de radares para neutralizar a vantagem japonesa em operações noturnas, combatendo-os até uma situação de empate. Contudo, ambas as forças alcançaram seu principal objetivo, que era o de escoltar os navios-transporte que levavam forças terrestres para a ilha. Mais de mil tropas japonesas desembarcaram ao mesmo tempo que prosseguia a batalha naval, enquanto os homens do 164o RI chegaram a salvo dois dias depois. Em face da indefinição dos combates navais, o combate terrestre de desgaste continuou.

Os navios de guerra japoneses receberam o 164o RI em Guadalcanal com o que ficou conhecido, simplesmente, como “O Bombardeio”. Na noite de 13 de outubro, dois encouraçados japoneses escoltaram o “Expresso de Tóquio” noturno, mas, com o objetivo de garantir certo grau de segurança para futuras viagens, eles se desviaram e bombardearam o campo de pouso Henderson com quase mil projéteis de 14 polegadas, tirando de ação cerca da metade dos aviões no campo de pouso e destruindo praticamente todas as reservas de combustível da Força Aérea CACTUS, exigindo outro transporte aéreo de emergência pelos C-47, carregados com 12 tambores de combustível cada. Durante as duas noites seguintes, cruzadores japoneses repetiram o feito sem nenhuma oposição, impedindo que aeronaves aliadas interferissem com os desembarques. O bombardeio de aeronaves baseadas em terra a partir da costa foi mais um emprego criativo de fogos em múltiplos domínios, pelo qual sistemas de armas projetados para operar em um domínio influenciaram um outro de modo decisivo. No decorrer de toda a campanha, a sorte das forças terrestres mudou conforme os êxitos ou fracassos das forças navais de apoio em trazer suprimentos e reforços. Esses comboios dependiam, fortemente, da proteção aérea, fornecida por aeronaves baseadas em terra ou em navios-aeródromos. O emprego japonês de forças navais pesadas contra aeronaves baseadas em terra foi uma tentativa de neutralizar a vantagem que os Aliados tinham no emprego de suas aeronaves para controlar o domínio marítimo. O fato de os fuzileiros navais não terem uma artilharia de costa capaz de alcançar os navios de guerra japoneses impediu-os de interferir com o bombardeio da costa ou interditar os navios-transporte japoneses, o que sujeitou as forças aéreas no campo de pouso Henderson ao bombardeio por artilharia baseada em terra também. Cada domínio dependia do outro de modo vital para obter a vitória, conforme observado pelo historiador oficial da Marinha: “A campanha de Guadalcanal é única pela variedade e multiplicidade de armas empregadas e pela coordenação entre poder marítimo, poder terrestre e poder aéreo”7.

A 2a Divisão japonesa finalmente iniciou seu ataque na noite de 24 de outubro, mais uma vez no acidente geográfico conhecido como Bloody Ridge, onde se chocou contra o esgotado 1o Batalhão do 7o Regimento/CFN, do Tenente-Coronel “Chesty” Puller, apoiado por dois batalhões do 164o RI. Durante a batalha, os fuzileiros do 3o Batalhão do 164o RI e os fuzileiros navais do batalhão do Tenente-Coronel Puller (7o Regimento) combateram juntos, com homens de ambas as unidades muitas vezes compartilhando a mesma posição de combate. A experiência dos fuzileiros navais nos ataques anteriores, reforçados por efetivos do 164o RI, todos apoiados pela artilharia e munições trazidas sob o fogo cruzado dos ataques aéreos e navais japoneses contra a ilha, mostrou-se decisiva, pois as forças atacantes sofreram, mais uma vez, um elevado número de baixas em assaltos frontais simples.

Enquanto o combate terrestre prosseguia, a frota imperial japonesa mais uma vez conduziu surtidas de apoio, engajando uma força de navios-aeródromos norte-americanos em combate aéreo e marítimo na “Batalha das Ilhas de Santa Cruz”, entre 25 e 27 de outubro. As unidades navais norte-americanas incluíam dois novos encouraçados rápidos, apoiando dois navios-aeródromos com mais de 170 aeronaves embarcadas e outras 60 disponíveis em terra. Os japoneses enviaram quatro encouraçados e quatro navios-aeródromos (incluindo dois navios-aeródromos de escolta, menores), com mais de 200 aeronaves reforçadas por outras 200 nas várias bases terrestres do TO. Durante aquela que seria a batalha naval mais cara de sua história até Okinawa, a Marinha dos EUA perdeu o Hornet, que, felizmente, foi o último navio-aeródromo de esquadra afundado na guerra, e sofreu graves avarias no Enterprise, o que disponibilizou outra ala aérea de navio-aeródromo à Força Aérea CACTUS. A 1a Divisão/CFN ainda detinha o campo de pouso em Guadalcanal, mas estava se esgotando ao tentar mantê-lo. Conforme resumido na história oficial do Exército dos EUA: “Até esse ponto da campanha, as forças aéreas e navais aliadas haviam combatido valorosamente, mas não haviam alcançado ainda o resultado que é um requisito para um bem-sucedido desembarque em uma ilha hostil: a destruição ou efetiva interdição do potencial marítimo e aéreo do inimigo, para impedi-lo de reforçar suas tropas na ilha e de romper a linha de comunicação da força atacante”8.

Os três meses de combate, incluindo o assalto de grande vulto em outubro, ameaçavam minar a força ofensiva dos quatro regimentos de fuzileiros navais. Em novembro, os dois regimentos remanescentes da Divisão Americal chegaram à ilha, assim como o 147o RI da 37a Divisão (Guarda Nacional de Ohio). Os fuzileiros navais começaram a enviar a 2a Divisão/CFN, cujo 8o Regimento chegou com o 147o RI em 4 de novembro. Esses reforços permitiram contra-ataques limitados a partir do perímetro, que infligiram um elevado número de baixas aos extenuados japoneses que padeciam na selva, gerando maior segurança. Com o Havaí agora protegido contra ataques, Harmon solicitou, formalmente, em 3 de novembro, que a guarnição das ilhas, a 25a DI, também fosse transferida para Guadalcanal. A 25a DI havia sido alertada sobre a movimentação em 14 de outubro, mas não recebeu ordens formais do Estado-Maior Conjunto até o dia 30 de novembro. Ela reforçou a Divisão Americal, já enfraquecida pelos combates de desgaste e pelas enfermarias de bordo cheias de soldados de Dakota do Norte, que sucumbiram rapidamente ao calor insuportável e às doenças fatais do ambiente tropical. Reforços constantes tornaram-se necessários só para manter o efetivo: “Entre 19 e 25 de novembro, 117 integrantes do 164o RI haviam sido mortos, e 208, feridos. Trezentos e vinte e cinco haviam sido evacuados da ilha devido a ferimentos ou doença, e 300 outros homens, incapacitados por ferimentos, malária, disenteria ou neuroses, foram mantidos nas áreas de retaguarda”9.

Após o insucesso do assalto em Bloody Ridge em outubro, os japoneses começaram a duvidar de sua capacidade para tomar o controle do campo de pouso das mãos dos norte-americanos, percebendo que estavam, agora, presos em um brutal combate de desgaste, o qual estava minando os efetivos de sua força aérea e naval nas Ilhas Salomão. Incapazes de romper o contato, eles continuaram a inquietar Guadalcanal com novos ataques a partir da selva, incursões aéreas e surtidas do “Expresso de Tóquio” através de “Ironbottom Sound”. O crescente efetivo naval norte-americano nas Ilhas Salomão tornou essas operações de reforço e inquietação noturnas ainda mais perigosas. Na noite de 12 de novembro, dois encouraçados japoneses mais uma vez atravessaram a “Fenda”, com a esperança de causar suficientes danos ao campo de pouso Henderson para permitir que 11 navios-transporte de grande porte levassem 7 mil tropas para Guadalcanal. Alertado pelo sempre presente reconhecimento aéreo e submarino, o Almirante Halsey despachou uma forte força de cruzadores para deter os japoneses e escoltar os reforços terrestres norte-americanos. O combate resultante demonstrou que os norte-americanos ainda não haviam conquistado o controle sobre os mares, pois todos os seus cinco cruzadores sofreram graves avarias — o Atlanta foi afundado e, mais tarde, o avariado Juneau foi torpedeado e perdido. Em contrapartida, os cruzadores causaram grandes danos ao encouraçado japonês Hiei, o qual aeronaves da CACTUS terminaram de destruir na manhã seguinte. O combate impediu que os navios-transporte japoneses chegassem até a ilha, exigindo uma outra tentativa duas noites depois.

A incapacidade de encaminhar, com segurança, os 11 navios-transporte completamente carregados até Guadalcanal sinalizou o fim dos esforços japoneses para invadir o campo de pouso Henderson ou neutralizá-lo a partir do mar ou ar.

Dessa vez, Halsey, cansado de levar “facas para um tiroteio”, enviou seus dois modernos encouraçados rápidos, o Washington e o South Dakota, para enfrentar os cruzadores de combate japoneses. O South Dakota contribuiu pouco e sofreu graves avarias, mas o Washington, em uma das duas únicas ações de encouraçados na guerra, afundou o encouraçado Kirishima, poupando o campo de pouso Henderson de outro bombardeio como o que havia sofrido em outubro. Ao afundar um segundo encouraçado japonês, a força acertou as contas pelos dois encouraçados norte-americanos perdidos permanentemente em consequência do ataque contra Pearl Harbor. No dia seguinte, aviões da Força Aérea CACTUS localizaram e afundaram todos os 11 navios-transporte, mas alguns deles já haviam abicado e começado a descarregar, permitindo que 4 mil homens alcançassem a margem, mas sem seus materiais pesados. Com a Marinha agora empenhada em proteger o campo de pouso, a esperança japonesa de conduzir um outro assalto como o de outubro foi frustrada; a Batalha de Guadalcanal havia atravessado um ponto crítico. A incapacidade de encaminhar, com segurança, os 11 navios-transporte completamente carregados até Guadalcanal sinalizou o fim dos esforços japoneses para invadir o campo de pouso Henderson ou neutralizá-lo a partir do mar ou ar. Desejando evitar maiores perdas, os japoneses começaram a construir um novo campo de pouso em Munda Point, na Ilha da Nova Geórgia, com o objetivo de criar um obstáculo adicional entre os norte-americanos e Rabaul.

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Multi-Domain Battle

Em 2016, o General de Exército David Perkins, então Comandante do Comando de Instrução e Doutrina do Exército (U.S. Army Training and Doctrine Command — TRADOC) delineou um conceito de guerra do futuro que ele denominou Combate em Múltiplos Domínios. O conceito enfatiza uma expansão do número de dimensões em que um conflito poderia ser conduzido, acrescentando as dimensões espacial e cibernética às aérea, terrestre e marítima do modelo de guerra vigente. Também enfatiza que o êxito em futuros conflitos dependerá, em grande parte, da capacidade de uma força para sincronizar, estreitamente, as atividades ofensivas e defensivas entre essas dimensões de um modo complementar, que otimize os efeitos dos esforços combinados contra um inimigo. O conceito de Combate em Múltiplos Domínios estimulou a pesquisa histórica sobre as causas e precedentes com base nos quais ele foi elaborado. Na monografia “Multi-Domain Battle in the Southwest Pacific Theater of World War II” (“O Combate em Múltiplos Domínios no Teatro de Operações do Sudoeste do Pacífico na Segunda Guerra Mundial”), o estudioso Christopher M. Rein examina precedentes históricos para o emprego sincronizado de capacidades aéreas, terrestres e marítimas durante a Segunda Guerra Mundial na evolução das campanhas aliadas conduzidas contra as forças imperiais japonesas no Pacífico. Para visualizar esta monografia, acesse https://www.armyupress.army.mil/Portals/7/combat-studies-institute/csi-books/multi-domain-battle-in-the-southwest-pacific-theater-of-world-war-II.pdf.

Duas semanas depois, na Batalha de Tassafaronga, a Marinha Imperial Japonesa demonstrou que ainda tinha algum poder, quando contratorpedeiros equipados com os letais torpedos “Long Lance” destroçaram uma força de cruzadores norte-americanos, afundando um e avariando três outros. A Inteligência norte-americana havia permanecido tragicamente alheia às capacidades dessa arma, que iam muito além dos falhos torpedos norte-americanos. Com os reforços terrestres, a Força Aérea CACTUS também recebeu apoio adicional. Nos combates de novembro, reforços aéreos haviam chegado de Espiritu Santo, incluindo os primeiros aviões de longo alcance P-38 do 339o Esquadrão de Caças, assim como outros três esquadrões completos. As novas aeronaves e a capacidade de produzi-las destacam a possibilidade que indústrias ainda não expostas à espionagem cibernética tinham de desenvolver novas armas e o apoio de um público cujo moral não sofria o impacto de invasivas operações de informação. A CACTUS agora contava com um total de 41 aeronaves F4F Wildcat, 30 SBD Dauntless, 19 TBF-1 Avenger, as 2 P-400 que restavam, mais as sobreviventes da ala aérea do Enterprise, assim como as primeiras aeronaves de apoio da coalizão, quando 12 Lockheed Hudson do Esquadrão No 3 da Força Aérea Real da Nova Zelândia chegaram em 24 de novembro. A força adquiriu uma capacidade de bombardeio de maior alcance no final de dezembro, com os primeiros B-26 das Forças Aéreas do Exército10.

No mês seguinte, elementos precursores da 25a DI substituíram os exaustos fuzileiros navais. Como o comando divisionário de Vandegrift passou a controlar um efetivo equivalente a duas divisões completas, o Exército dos EUA enviou o novo XIV Corpo de Exército do General de Divisão Alexander Patch para dirigir o combate. Ao ser ativado, em 22 Jan 43, com três divisões completas, o Corpo de Exército controlava mais de 50 mil homens, uma evidência da capacidade norte-americana para mobilizar potencial de combate no TO, devido, em grande medida, ao controle do domínio aéreo e linhas de comunicação marítimas. O Corpo de Exército de Patch continha a Divisão Americal inteira e se beneficiou de chegadas quase semanais ao longo de sua agora desimpedida linha de suprimento. O Escalão de Combate do 35o RI/25a DI chegou em 17 de dezembro, seguido do 27o em 01 Jan 43 e do 6o Regimento da 2a Divisão/CFN em 4 de janeiro, para reforçar o 2o e 8o Regimentos/CFN que já estavam na ilha. Os mesmos comboios que traziam novos soldados evacuavam os exaustos fuzileiros navais, com o 5o Regimento/CFN saindo em 9 de dezembro; o 1o Regimento/CFN em 22 de dezembro; e o 7o Regimento/CFN em 05 Jan 43.

Os planejadores japoneses perceberam que não conseguiriam mais sustentar suas forças em Guadalcanal e começaram a planejar uma evacuação. Contudo, não abririam mão facilmente da área que mantinham, particularmente o terreno elevado à volta do Monte Austen, do qual se podia observar o campo de pouso Henderson e as novas pistas de pouso sendo construídas no perímetro em expansão. Encarregando a Divisão Americal de defender o perímetro, Patch determinou que duas divisões conduzissem um assalto contra as forças japonesas a oeste, com a 2a Divisão/CFN avançando ao longo da costa e a 25a DI liberando o Monte Austen e um complexo de montes, conhecido como “Cavalo Galopante” com base em sua aparência em fotos aéreas, mais para o interior. O assalto do XIV Corpo de Exército recebeu apoio da Força Aérea CACTUS, agora conhecida como AirSols (Força Aérea, Ilhas Salomão), sob a direção da 2a Ala Aérea/CFN. Em meados de janeiro, as Forças Aéreas do Exército estabeleceram a 13a Força Aérea em Nouméa, na Nova Caledônia, para coordenar seu crescente emprego de forças. As formações ad hoc criadas durante a crise do combate inicial estavam sendo finalmente formalizadas, organizadas e reforçadas.

Em um ataque que começou em 10 de janeiro, o Escalão de Combate do 27o RI expulsou os defensores japoneses das encostas, incluindo um bolsão de resistência conhecido como “Gifu”, nome de sua Província de origem no Japão. Em seu avanço para o “Cavalo Galopante”, a 25a DI descobriu que a logística, e não os japoneses, constituía o maior obstáculo. Em um certo momento, a escassez de água, nas palavras de um comandante de pelotão do 27o Regimento, “levou diretamente à desintegração do ataque em 11 de janeiro”, em parte porque “a água que começava a ser transportada adiante era geralmente consumida antes de alcançar as companhias na linha de frente”11. Como recordou um aluno da Escola de Infantaria em 1947, Capitão Winston Olson: “o intenso calor tropical estava causando grande dano. Os cantis estavam vazios e o esgotamento pelo calor devastava o batalhão […] os homens se estiravam prostrados devido à falta de água”12. Ainda em 2008, a falta de água continuou a dificultar operações em locais tão distantes como Wanat, no Afeganistão13. Foram usados lançamentos aéreos para buscar sanar a deficiência; bombardeiros pesados da Força Aérea foram empregados para executar o serviço. “Em 13 de janeiro, um B-17 lançou mais de 3 mil kg em quatro voos e, dois dias depois, um outro lançou quase quatro toneladas. As rações resistiram relativamente bem ao lançamento; 85% dos alimentos permaneceram aproveitáveis, mas apenas 15% da munição pôde ser utilizada e quase todas as latas de cinco galões de água foram destruídas”14.

As forças terrestres sofreram terrivelmente durante toda a campanha. Combate, doenças, desnutrição, neurose de guerra, micoses, disenteria e inúmeras outras enfermidades reduziram o efetivo de combate. Mais uma vez, a capacidade norte-americana para suportar e repor as perdas e para negar o mesmo ao inimigo proporcionou a margem da vitória, conferindo à 25a DI uma vantagem que ela foi capaz de explorar no último mês da batalha. “As tropas japonesas não tinham alimentos porque os poderes aéreo e naval as haviam isolado quase totalmente de suas bases”15. Conforme declarou o General Miyazaki: “A superioridade e contínua atividade da força aérea norte-americana foi responsável por nossa incapacidade de executar nossos planos. A superioridade dos aviões do Exército dos EUA tornou os mares mais seguros para a movimentação norte-americana em todas as direções e, ao mesmo tempo, imobilizou o Exército japonês, como se tivesse as mãos e pés atados”16.

Depois de conquistarem os pontos característicos do terreno, a 25a DI e a 2a Divisão/CFN avançaram rumo ao Cabo Esperança na extremidade ocidental da ilha. Utilizando pequenas embarcações que se infiltraram furtivamente sob o manto da escuridão, os japoneses evacuaram sua guarnição inteira de 11 mil homens nas noites de 1, 4 e 7 de fevereiro. Operando com reduzidos recursos logísticos, os defensores só puderam oferecer uma resistência mínima, e o rápido avanço da 25a DI lhe conferiu o indicativo rádio “Lightning” (“Raio”), que seria imortalizado mais tarde tanto no distintivo da divisão quanto no apelido de seu comandante, “Lightning Joe” Collins.

A experiência japonesa em Guadalcanal demonstra que uma estratégia de antiacesso/negação de área pode levar a combates de desgaste, e o lado que melhor puder efetuar sua sustentação logística e repor suas perdas acabará prevalecendo. A campanha custou à Marinha dos EUA dois navios-aeródromos de esquadra, a mesma quantidade perdida nas Batalhas de Midway e do Mar de Coral juntas. Ambas as marinhas contribuíram, fortemente, para os naufrágios que cobrem o “Ironbottom Sound” — a Marinha dos EUA contribuiu com mais de 20 navios de guerra de grande porte à frota fantasma no leito marinho, junto com mais de uma dúzia da Marinha Imperial Japonesa. Nenhum dos dois lados pôde manter mais do que algumas centenas de aviões no TO. As aeronaves recém-chegadas rapidamente se transformavam em baixas, em combates ar-ar, devido a contratempos ou ao serem destruídas no solo. Embora os soldados do CFN tenham se tornado os ícones da Batalha de Guadalcanal, imortalizados em obras como With the Old Breed, de Eugene Sledge, e Guadalcanal Diary (intitulado Diário de Guadalcanal, no Brasil), de Richard Tresgaskis, sua sina e a dos soldados da 25a DI e Divisão Americal muitas vezes ficaram nas mãos dos pilotos, que sofreram muitos dos mesmos problemas vividos em terra, mas enfrentaram perigos adicionais no ar. Esquadrões de caças e bombardeiros de mergulho do CFN formaram o grosso da “Força Aérea CACTUS” durante toda a sua existência, e seus esforços determinaram se as forças terrestres enfrentariam uma quantidade sobrepujante de agressores bem abastecidos ou enfermos e sobreviventes enfraquecidos de uma jornada extenuante através de matas e pântanos tropicais. O controle de cada domínio — terrestre, marítimo e aéreo — aliado à superioridade de informações, força econômica e capacidade de desdobrar e sustentar forças: tudo isso forneceu a margem de vitória final em Guadalcanal.


Referências

  1. Um relato completo do combate, incluindo uma cronologia detalhada, consta de Jonathan Parshall e Anthony Tully, Shattered Sword: The Untold Story of the Battle of Midway (Washington, DC: Potomac, 2005).
  2. Wesley Craven e James Cate, The Army Air Forces in World War II, vol. 4, The Pacific: Guadalcanal to Saipan: August 1942 to July 1944 (Chicago: University of Chicago Press, 1950), p. 29.
  3. John Miller Jr., Guadalcanal: The First Offensive, United States Army in World War II: The War I the Pacific (Washington, DC: Office of the Chief of Military History, 1949), p. 81.
  4. Ibid., p. 87.
  5. Samuel Eliot Morison, History of United States Naval Operations in World War II, vol. 5, The Struggle for Guadalcanal, August 1942-February 1943 (Chicago: Little Brown, 1949), p. 75.
  6. Craven and Cate, The Army Air Forces in World War II, p. 91.
  7. Morison, History of United States Naval Operations in World War II, vol. 5, p. ix.
  8. Miller, Guadalcanal, p. 169.
  9. Ibid., p. 209.
  10. Craven e Cate, The Army Air Forces in World War II, p. 59.
  11. Captain Winston L. Olson, “The Operations of the 27th Infantry (25th Infantry Division) on Guadalcanal, Solomon Islands 10 January 1943 – 13 January 1943: Personal Experience of a Rifle Platoon Leader” (trabalho não publicado, Donovan Research Library, Fort Benning, Georgia, 1947–1948), p. 16, p. 19, p. 25, acesso em 23 mai. 2017, https://www.benning.army.mil/library/content/Virtual/Donovanpapers/wwii/STUP2/OlsonWinstonL%20%20CPT.pdf.
  12. Olson, “The Operations of the 27th Infantry”, p.16, p.19, p. 25.
  13. U.S. Army, Combat Studies Institute, Wanat: Combat Action in Afghanistan, 2008 (Fort Leavenworth, KS: Combat Studies Institute, 2010), p. 91, p. 108–10, acesso em 23 mai. 2017, http://usacac.army.mil/cac2/cgsc/carl/download/csipubs/Wanat.pdf.
  14. Miller, Guadalcanal, p. 289.
  15. Ibid., p. 230.
  16. Ibid., p. 337.

Christopher M. Rein, Ph.D., é historiador do Combat Studies Institute, Army University Press, em Fort Leavenworth, Kansas. Concluiu seu doutorado em História em 2011 pela University of Kansas e é autor do livro The North African Air Campaign, publicado pela University Press of Kansas, em 2012, e diversos artigos. É tenente-coronel da reserva remunerada da Força Aérea dos EUA, tendo servido como navegador aéreo a bordo de aeronaves E-8C Joint STARS durante as Operações Enduring Freedom e Iraqi Freedom.

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Quarto Trimestre 2018