O Retorno do Manual de Campanha FM 3-0, Operações
Gen Div Mike Lundy e
Cel Rich Creed, Exército dos EUA
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Quando o Exército dos Estados Unidos da América (EUA) revogou o Manual de Campanha 3-0, Operações (FM 3-0, Operations) e lançou a Publicação Doutrinária do Exército 3-0, Operações Terrestres Unificadas (ADP 3-0, Unified Land Operations), em 2011, o mundo era um lugar diferente1. A probabilidade de um combate terrestre de grande vulto contra um inimigo de poder de combate equiparado parecia remota. Embora os russos houvessem intervindo na Geórgia com forças terrestres em 2008, havia poucos indícios de que eles se envolveriam em outras condutas fisicamente agressivas. As reivindicações marítimas chinesas no Mar do Sul da China pareciam ter pouco a ver com as considerações do Exército. A península coreana permanecia sob tensão, mas um recomeço da guerra não parecia mais provável que em nenhum outro momento desde o armistício de 1953. As duas brigadas de combate blindadas do Exército dos EUA que ainda estavam na Alemanha haviam recebido ordens de retornar para o território continental dos EUA, e a Força Terrestre implementava uma redução de pessoal ao mesmo tempo que acelerava o passo rumo a uma decisão que também colocaria uma significativa parcela das tropas do Exército estacionadas na Coreia em sistema de rodízio.
O ambiente estratégico mudou consideravelmente desde então. A agressão russa contra a Ucrânia e a conduta cada vez mais belicosa dos norte-coreanos e iranianos são excelentes exemplos. A modernização acelerada das forças armadas chinesas também contribuiu para a impressão de que o Exército precisava adaptar-se rapidamente a uma maior possibilidade de um combate terrestre de grande vulto contra adversários consideravelmente mais capazes que a Al Qaeda, os insurgentes iraquianos e o Talibã. Em consequência, o Exército começou a se adestrar para operações de combate de grande vulto durante os exercícios do programa de adestramento de Comando de Missão e nos centros de adestramento para o combate com “simulação viva”, após um hiato de uma década. Também descobriu que a nossa atual doutrina tática para operações de combate de grande vulto era inadequada.
Em 2016, o Chefe do Estado-Maior do Exército [equivalente ao Comandante do Exército no Brasil — N. do T.] determinou que o Comando de Instrução e Doutrina (Training and Doctrine Command — TRADOC) elaborasse um manual de operações que fornecesse a base doutrinária para a vitória no combate terrestre de grande vulto contra inimigos cujas capacidades militares, em contextos regionais, rivalizassem com as nossas. Embora contasse com alguns materiais doutrinários relevantes ao combate de grande vulto, o Exército não possuía um manual único e atualizado que tivesse como foco as táticas de grandes unidades a serem usadas contra ameaças modernas. Havia também a necessidade definitiva de abordar as operações do Exército ao longo do espectro dos conflitos e os papéis que ele desempenha para a força conjunta, conforme nossos adversários desafiam o status quo em várias regiões em todo o mundo.
As versões anteriores do FM 3-0, Operações, e seu precursor, o FM 100-5, continham ideias úteis, que são relevantes para os problemas contemporâneos, mas nenhum deles abordou de forma adequada todos os desafios do ambiente operacional da atualidade. Profissionais razoavelmente bem-informados podem debater e, de fato, debatem quais desafios são os mais graves, mas a maioria deve concordar que eles se enquadram em três categorias gerais. A primeira e possivelmente mais importante categoria se refere à ideia de que a cultura do Exército precisava mudar. O foco nos desdobramentos regularmente programados de brigadas de combate (brigade combat team — BCT), nos comandos superiores e nas tropas de apoio para a condução de operações de contrainsurgência, a partir de bases fixas, contra inimigos com capacidades militares limitadas, gerou uma visão de combate terrestre incompatível com a realidade de conduzir um combate em larga escala contra uma ameaça com poder militar equiparado. Restam poucos comandantes em nossos escalões táticos que tenham uma experiência significativa no adestramento ou combate contra ameaças com poder de combate equiparado, e os que têm experiência em escalões superiores estavam sem prática, após se concentrarem na contrainsurgência durante uma década ou mais. O novo FM 3-0 aborda a necessidade de mudar a cultura do Exército ao descrever o ambiente operacional e a ameaça, enfatizar os importantes papéis dos escalões acima do nível brigada durante as operações e tratar de considerações sobre o adestramento e prontidão em cada função de combate, durante o combate terrestre de grande vulto2.
A segunda categoria de desafios consiste em melhorar a prontidão do Exército para vencer no combate terrestre de grande vulto contra oponentes com capacidades equivalentes. Nosso Exército e nossa doutrina haviam sido otimizados para operações limitadas de contingência focadas, principalmente, em operações nas quais as tarefas de contrainsurgência e estabilização representavam o grosso do que as unidades e os quartéis-generais fariam. Desde 2003, raramente algum escalão acima de pelotão correu o risco de destruição por forças inimigas, e nenhuma unidade enfrentou forças inimigas capazes de concentrar fogos ou manobrar forças de grande porte efetivamente. O problema é que a capacidade de efetivamente moldar os ambientes de segurança e prevenir o conflito por meio de uma dissuasão convencional convincente ou de consolidar ganhos para alcançar o objetivo político pretendido advém da demonstração de prontidão para prevalecer no combate terrestre de grande vulto contra as ameaças mais letais. É por isso que a essência do FM 3-0 aborda operações de combate terrestre de grande vulto nos escalões brigada, divisão e corpo de exército. Descreve as táticas e procedimentos utilizados durante a defensiva e a ofensiva, e os que conhecem as edições anteriores do FM 3-0 ou FM 100-5 provavelmente não ficarão surpresos com o que lerão nesses três capítulos. Não há novas tarefas táticas, mas há um reconhecimento renovado e uma discussão mais aprofundada sobre as táticas necessárias para empregar capacidades dentro e entre múltiplos domínios, a fim de possibilitar a liberdade de ação para os escalões subordinados.
O que é novo em relação às edições anteriores, porém, são os capítulos focados nas operações para moldar, operações para prevenir e operações para consolidar ganhos. Uma grande parte do Exército está continuamente empenhada nessas operações por todo o mundo, e o desempenho da Força tem uma influência significativa tanto sobre a probabilidade de um combate terrestre de grande vulto quanto sobre os resultados estratégicos de tal combate, caso ocorra. O FM 3-0 aborda, portanto, as operações que o Exército conduz em todo o espectro dos conflitos, ao desempenhar seus papéis estratégicos como parte da força conjunta, reconhecendo que é a capacidade demonstrada de vencer no combate terrestre de grande vulto que possibilita a execução eficaz de missões em apoio aos demais papéis estratégicos. Assim, o manual também contém uma renovada ênfase nos papéis dos escalões corpo de exército e divisão para empregar essas capacidades.
Os corpos de exército e divisões desempenham um papel central no combate terrestre de grande vulto, que não é nem pode ser um empreendimento centrado na brigada de combate. Quando devidamente constituídos, adestrados e comandados, os escalões de comando desoneram os escalões subordinados ao estreitar seu foco, reduzir seu alcance de controle e manter a perspectiva mais ampla no tempo e espaço, necessária para um efetivo planejamento. A divisão é o primeiro escalão capaz de planejar e coordenar, efetivamente, o emprego de todas as capacidades em múltiplos domínios ao longo de todo o modelo operacional. O mesmo se aplica ao corpo de exército durante operações que requeiram várias divisões. Cada escalão superior tem uma perspectiva que deve considerar o tempo, a geografia, o processo decisório e o espectro eletromagnético de um modo diferente. Essa não é uma nova ideia militar, mas reflete uma mudança significativa em relação às experiências de formação da maior parte do comando do Exército dos EUA, vividas em uma época que as divisões e corpos de exército desempenhavam o papel de comando conjunto ou estavam mais focados no nível operacional, em lugar do tático.
A terceira categoria de desafios se refere à realidade de que o Exército dos EUA não goza de enormes vantagens contra todo oponente que possivelmente tenha de enfrentar. O FM 3-0 reconhece que alguns adversários têm capacidades iguais ou até superiores, que podem colocar as forças do Exército dos EUA em uma posição de relativa desvantagem, particularmente em um contexto regional. Algumas capacidades das ameaças, particularmente os sistemas de defesa antiaérea integrados e os fogos de longo alcance superfície-superfície, coíbem, seriamente, a liberdade de ação nos domínios aéreo e marítimo, o que significa que as outras Forças Singulares talvez não sejam capazes de ajudar a resolver problemas táticos terrestres de um modo tão rápido ou fácil quanto foi possível no Iraque e no Afeganistão. Contra alguns oponentes, o Exército dos EUA provavelmente terá uma quantidade muito inferior e um menor alcance em artilharia de tubo e foguetes, o que apresentaria um problema tático, mesmo que as forças amigas não fossem confrontadas no domínio aéreo. A possível combinação de desvantagens relativas nos domínios terrestre, marítimo e aéreo tem implicações para o modo pelo qual as forças do Exército conduzem operações contra formações inimigas concebidas com base em sistemas de fogos de longo alcance, que empregam armas de manobra em apoio a fogos com mais frequência do que o inverso. Portanto, entender os vários métodos empregados por nossos adversários e potenciais inimigos (guerra sistêmica, isolamento, impedimento, guerra de informação e área segura) é essencial para formular planos táticos para derrotá-los, e é importante entender que esses métodos provavelmente se manifestarão de modo diferente em cada situação.
Diferentemente do Combate Ar-Terra, que se concentrava em um inimigo, ou de versões anteriores do FM 3-0, que, na verdade, não se concentravam em nenhuma ameaça em particular, esta edição do manual tem como foco os adversários com poder de combate equiparado ou quase equiparado (Rússia, China, Irã e Coreia do Norte) no atual ambiente operacional. Por essa razão, os desafios operacionais diante do Exército dos EUA abarcam todo o espectro das operações militares em todos os domínios, e precisam ser abordados. O FM 3-0 não foi otimizado para um único tipo de operação ou ameaça, mas foi elaborado tendo como referencial as mais potentes capacidades e métodos adversários que têm se proliferado mundialmente, e leva em consideração o que o Exército tem de fazer — de conduzir o combate terrestre de grande vulto a moldar o ambiente de segurança por meio do engajamento regional, passando por todos os tipos de operação. O FM 3-0 não muda o conceito operativo fundamental do Exército, que continua sendo as operações terrestres unificadas. O que ele faz é considerar melhor a razão por trás das operações que conduzimos, para esclarecer a inter-relação entre objetivo estratégico, planejamento, prontidão e as tarefas táticas designadas às unidades.
Organização e Propósito
O FM 3-0 organiza as operações segundo o propósito, em conformidade com os quatro papéis estratégicos do Exército. O Exército molda o ambiente operacional, previne conflitos, conduz o combate terrestre de grande vulto e consolida ganhos. As forças do Exército fazem isso como parte da força conjunta, geralmente em um contexto multinacional, para um comandante da força conjunta. As versões anteriores do FM 3-0 e do FM 100-5 não enfatizaram, de modo adequado, a ligação crucial entre as tarefas táticas e a consecução do objetivo estratégico para o qual nós as conduzimos. A classificação dos tipos de operação segundo o propósito está em consonância com o conceito de faseamento conjunto constante da Publicação Conjunta 3-0, Operações Conjuntas (JP 3-0, Joint Operations), ao mesmo tempo que se enfatiza que nem sempre há uma relação linear direta entre essas fases (veja a figura 1)3. Os capítulos 3 (Operações para Moldar) e 4 (Operações para Prevenir) do FM 3-0 descrevem as operações conduzidas que não chegam ao patamar de combate terrestre de grande vulto, nas quais os adversários buscam utilizar métodos abaixo do limiar do conflito armado para abalar o status quo ou subverter nações amigas. Os capítulos 5 (Combate Terrestre de Grande Vulto), 6 (Defesa) e 7 (Ofensiva) se concentram no combate terrestre de grande vulto, e o capítulo 8 (Operações para Consolidar Ganhos) aborda a transição escalonada do combate terrestre de grande vulto à consecução final do objetivo operacional ou estratégico.
A consecução do objetivo estratégico das operações é a teoria subjacente da vitória no FM 3-0, sendo abordada no final do capítulo 1. Há poucas soluções permanentes aceitáveis para o conflito no nível estratégico. A maioria dos conflitos no mundo é administrada no decorrer de longos períodos, em que cada lado tenta aumentar e explorar posições de vantagem relativa. Com efeito, a força conjunta está ganhando ou perdendo uma competição que oferece oportunidades para a obtenção de resultados positivos durante operações aquém de um conflito armado, durante o conflito armado e durante a transição que ocorre depois dele. O Exército, ao desempenhar seus papéis estratégicos como parte da força conjunta, conduz operações ao longo de todo o espectro dos conflitos para que os EUA mantenham uma posição de vantagem em relação a ameaças reais e potenciais. As operações para moldar ou prevenir têm sucesso quando derrotam o propósito de um adversário, como no caso de uma tentativa de desestabilizar o status quo desejado ou de subverter um Estado amigo. Vencemos durante o combate terrestre de grande vulto ao destruirmos ou derrotarmos as capacidades convencionais e a determinação de resistir de um inimigo. Consolidamos ganhos, efetivamente, quando concluímos ações que garantam que o inimigo não possa constituir outras formas de resistência para prolongar o conflito ou mudar sua natureza de algum modo que prejudique nosso propósito. Em suma, o FM 3-0 fornece um contexto para que os comandantes e seus estados-maiores possam praticar, com sucesso, a arte operacional adequada para o espectro das operações militares.
O Antigo e o Novo
Todo debate sobre uma nova doutrina para operações de combate terrestre de grande vulto costuma gerar o argumento de que o Exército dos EUA anseia pelos dias “mais simples” do planejamento para a ameaça soviética na Europa como uma forma de escapar do desafio representado pela contrainsurgência. Outro argumento é que o Exército está buscando trazer de volta o combate em larga escala como uma justificativa para manter a estrutura da força. Nenhum deles é o caso. O capítulo 1 descreve um ambiente operacional bem diferente daquele de 35 ou até 5 anos atrás. A abordagem intelectual consiste em considerar, especificamente, os adversários da atualidade e as amplas categorias de operações que o Exército conduz para enfrentá-los como parte da força conjunta. Foi fundamental incorporar a diretriz do Chefe do Estado-Maior do Exército com respeito a preparar a Força para o combate terrestre de grande vulto contra um oponente com capacidades equiparadas, e o FM 3-0 deixa claro que há uma ligação entre o que ela faz durante operações que não o conflito e o que ela precisa fazer para prevalecer na guerra. O FM 3-0 leva em consideração tanto o que é permanentemente fundamental quanto o que mudou no contexto das atuais realidades ambientais, organizações e capacidades do Exército.
Há algumas ideias significativas que não são necessariamente novas para as operações, mas que não foram adequadamente abordadas na doutrina ou experiência recentes. Buscamos, especificamente, levar em consideração a importância das capacidades das forças amigas e das ameaças nos múltiplos domínios e no ambiente informacional. Assim, modificamos o modelo operacional para aproximá-lo da estrutura do campo de batalha ampliado constante do conceito de combate em múltiplos domínios (veja a figura 2)4. Essa modificação reconhece as realidades do ambiente operacional, as atuais capacidades do Exército e conjuntas e as considerações de planejamento essenciais para vencer. O novo modelo operacional acrescenta a área de apoio estratégico, área de segurança conjunta (JSA, na sigla em inglês), área de consolidação e área de fogos profundos às áreas anteriormente denominadas profunda, aproximada e de apoio.
As áreas de apoio estratégico e de segurança conjunta abarcam os locais onde as atividades do Exército ocorrem fora das áreas de operações sob responsabilidade dos comandantes de nível tático da Força. As forças do Exército transitam e operam nessas áreas, mas estas ficam, de modo geral, a cargo das outras Forças Singulares, comandantes de comando unificado e comando conjunto, por englobarem, principalmente, domínios que não o terrestre. Nós as acrescentamos porque as forças do Exército são fortemente influenciadas pelo que ali acontece, tendo responsabilidades de planejamento por suas atividades naquelas áreas e no ambiente informacional. A área de fogos profundos é aquela parte da área profunda que fica além do local onde as forças do Exército imediatamente planejariam manobrar com tropas terrestres e onde seriam empregadas, de modo geral, capacidades em múltiplos domínios conjuntas e do Exército. A área de apoio estratégico, área de segurança conjunta e área de fogos profundos descrevem, na verdade, o que já existia de fato, mas não era explicado na anterior doutrina tática para grandes unidades. É a área de consolidação que representa a maior mudança no modelo operacional em termos de como as forças do Exército consideram as áreas de operações nos escalões corpo de exército e divisão.
A área de consolidação foi concebida para resolver um antigo problema durante as operações. Há muito que o Exército enfrenta desafios de segurança atrás de suas forças enquanto mantém o ritmo nas áreas aproximada e profunda, particularmente durante operações ofensivas, quando os limites da retaguarda da brigada de combate avançam e aumentam o tamanho da área de apoio da divisão além da capacidade das unidades que ali operam para controlar o terreno e populações ou proteger-se contra forças inimigas desbordadas. A solução típica era designar tropas das brigadas empenhadas em operações nas áreas aproximada e profunda à brigada de apoio à manobra (MEB) [ou “brigada de multiplicadores do poder de combate” — N. do T.] durante os exercícios, o que tinha resultados satisfatórios contanto que a divisão desbordasse apenas pequenas formações inimigas e o cenário de adestramento fosse mensurado para evitar que as forças inimigas fossem agressivas demais. A experiência real contra forças iraquianas durante os primeiros meses da Operação Iraqi Freedom indicou que essa abordagem envolve significativo risco tanto durante quanto depois da execução de operações de combate terrestre de grande vulto. Não se pode dar ao inimigo tempo de reconstituir novas formas de resistência para prolongar o conflito e reverter nossos ganhos iniciais no campo de batalha. Contra ameaças mais capazes, precisamos abordar o problema diretamente por meio do planejamento e emprego do poder de combate adicional necessário além do que for requerido para as áreas aproximada e profunda para consolidar ganhos durante as operações de combate de grande vulto.
Durante a Guerra Fria na Europa, o Exército podia contar com seus aliados para o rápido fornecimento do poder de combate necessário para consolidar ganhos, conforme o combate em larga escala terminava em uma área de operações particular. Embora esse ainda seja o caso na Coreia, e isso provavelmente se aplique quando combatem como parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), há outros lugares no mundo onde as forças do Exército dos EUA precisariam consolidar os próprios ganhos, pelo menos inicialmente. Isso é especialmente importante ao conduzirmos operações ofensivas de ritmo acelerado que desbordem significativas forças de manobra inimigas para evitar sermos fixados enquanto estivermos dentro do alcance dos fogos de canhões, foguetes e mísseis de longo alcance inimigos. O FM 3-0 afirma que os comandantes de corpo de exército e divisão podem designar uma área de consolidação a um escalão subordinado como uma área de operações, para facilitar a liberdade de ação ao desonerar unidades nas áreas de apoio, aproximada e profunda. No caso de uma divisão, isso seria executado, normalmente, por uma brigada de combate adicional, que deve ser levada em consideração quando o exército de campanha efetuar a adaptação da força para o comandante da força conjunta. Um corpo de exército designaria a uma divisão a responsabilidade por sua área de consolidação, que se ampliaria conforme suas divisões avançassem e os limites das unidades mudassem para manter a impulsão.
As áreas de consolidação são dinâmicas, já que as unidades a elas designadas conduzem, inicialmente, ações ofensivas, ações defensivas e as ações de estabilização mínimas necessárias para derrotar forças desbordadas, controlar acidentes capitais, instalações críticas e centros populacionais. Com o tempo, à medida que a situação amadurecer, a combinação de tarefas táticas será, provavelmente, metade segurança e metade estabilização em cada área de consolidação. Contudo, as tarefas relacionadas à segurança são sempre prioritárias. O planejamento e a execução para consolidar ganhos deve levar em consideração todos os possíveis meios de resistência inimigos e serem abordados como uma forma de exploração e perseguição, caso queiramos produzir resultados duradouros. É crucial evitar dar aos inimigos tempo para se reorganizarem para um tipo diferente de combate.
Conforme mencionado anteriormente, as forças designadas para áreas de consolidação são adicionais e não significam retirar poder de combate da área aproximada. Quando planejamos operações e alocamos forças, devemos considerar o requisito de consolidar ganhos como parte da elaboração de estimativas de estado-maior responsáveis e exatas. O requisito de consolidar ganhos não desaparece se o ignorarmos, e quanto maior for o atraso em abordá-lo, maior será o impacto sobre a capacidade da força para manter o ritmo e mais difícil o requisito provavelmente se tornará como um todo. O Exército sempre foi encarregado de consolidar ganhos. Cumpriu tal incumbência com diferentes graus de sucesso nas Guerras Indígenas; durante a Reconstrução após a Guerra Civil; durante a Guerra Hispano-Americana; durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coreia; e no Vietnã, Haiti, Iraque e Afeganistão. Nosso grau de sucesso influencia o modo pelo qual os resultados dessas guerras ou conflitos são vistos atualmente.
Essa ideia tem implicações óbvias. As unidades de acompanhamento e apoio designadas, segundo a composição de meios, para conduzir as operações de armas combinadas são essenciais. As unidades podem estar no teatro de operações, ou consistir em forças que cheguem mais tarde no processo de desdobramento. Unidades da coalizão poderiam, muitas vezes, ser adequadas à designação para áreas de consolidação. A maior implicação é que mais forças são requeridas e devem ser alocadas para derrotar o inimigo no campo de batalha e consolidar ganhos a fim de alcançar um objetivo estratégico do que para simplesmente derrotar o inimigo no campo de batalha.
Escalões do Exército e o Modelo Operacional
O FM 3-0 reconhece a importância das capacidades cibernéticas e espaciais, da guerra eletrônica e do acirradamente disputado ambiente informacional. Incorpora aspectos-chave da mais recente doutrina sobre essas áreas nas operações conduzidas por exércitos de campanha, corpos de exército e divisões. Fazer essas capacidades convergirem em apoio às forças terrestres para obter e explorar posições de vantagem é um papel fundamental desempenhado pelos escalões divisão e superiores. As brigadas de combate que lutam na área aproximada geralmente não têm tempo ou capacidade para efetivamente planejar e empregar capacidades nos múltiplos domínios além das que já estiverem sob seu controle. A mobilidade, a letalidade e a proteção dominam o foco cognitivo nos escalões brigada e inferiores durante o combate terrestre. Os exércitos de campanha, corpos de exército e divisões estão suficientemente afastados do combate aproximado para ter uma perspectiva mais ampla ao longo de todo o modelo operacional, e é neles que as capacidades pertencentes a cada domínio são coordenadas e sincronizadas para convergir no tempo e no espaço a fim de permitir a liberdade de ação aos escalões subordinados. São eles que identificam e exploram janelas de oportunidade.
O modo pelo qual pensamos no modelo operacional mudou. A primeira diferença a considerar é que deixamos de discutir a questão de conceitos lineares versus não lineares. Em vez disso, o FM 3-0 tem áreas de operações contíguas e não contíguas para considerar melhor a natureza não linear de todas as operações, independentemente das linhas físicas sobre um calco. A próxima e maior diferença é que cada área do modelo operacional tem considerações físicas, temporais, cognitivas e virtuais que se correlacionam com o foco de um escalão em particular. Sem um foco específico a um escalão no tempo e no espaço em múltiplos domínios, seria provável que todos se concentrassem no combate aproximado e operações correntes.
As considerações sobre o modelo operacional proporcionam aos comandantes e estados-maiores uma forma de examinar os múltiplos domínios e o ambiente informacional no contexto das operações terrestres. Essas considerações são tão inter-relacionadas quanto os domínios em qualquer situação específica, tendo diferentes implicações para os diferentes escalões que operem em diferentes áreas do modelo operacional. As considerações físicas e temporais dizem respeito ao espaço e tempo, e já convivemos com elas há muito tempo. As considerações cognitivas são aqueles aspectos que dizem respeito ao processo decisório do inimigo, à vontade do inimigo, à nossa vontade e ao comportamento das populações. As considerações virtuais dizem respeito a atividades e entidades situadas no ciberespaço, tanto de forças amigas quanto das ameaças. Examinadas em conjunto, as quatro considerações permitem que os comandantes e estados-maiores reflitam sobre a realidade de que todo combate é em múltiplos domínios e já é assim há muito tempo.
As capacidades marítimas influenciam o combate terrestre há mais de 2 mil anos. As capacidades aéreas também o fazem há mais de um século, ao passo que as capacidades espaciais já existem há mais de 40 anos. Até mesmo o ciberespaço tem desempenhado um papel crucial por quase duas décadas. Ao estender, explicitamente, o modelo operacional além de um modelo físico de foco tático, o FM 3-0 considera o emprego de capacidades livres de restrições de alcance durante operações que não cheguem ao conflito armado, durante contingências de pequeno vulto, durante o combate terrestre de grande vulto e quando consolidarmos ganhos para obter resultados duradouros para nossas operações táticas.
O Caminho À Frente
O novo FM 3-0 tem implicações significativas para o Exército conforme ele se reorienta para o combate terrestre de grande vulto ao mesmo tempo que conduz outros tipos de operação em todo o mundo para prevenir que adversários com poder de combate equiparado e quase equiparado obtenham posições de vantagem estratégica. Muitas das considerações necessárias para alcançar o êxito militar no atual ambiente operacional permanecem fundamentalmente inalteradas, mas o que mudou é importante. As forças do Exército não podem se dar ao luxo de se concentrarem exclusivamente no combate terrestre de grande vulto à custa das demais missões que a nação delas requer, mas, aos mesmo tempo, não podem se dar ao luxo de estarem despreparadas para aquele primeiro tipo de operação em um mundo cada vez mais instável. O fato de estarem preparadas para o combate terrestre de grande vulto gera uma dissuasão convincente e contribui para a estabilidade em âmbito mundial. Para se prepararem, é preciso que haja uma doutrina adequada, para que os exércitos de campanha, corpos de exército, divisões e brigadas conduzam operações com a combinação certa de forças capazes de executar tarefas táticas para alcançar objetivos operacionais e estratégicos. Contamos com um animado debate profissional por todo o Exército, conforme integrarmos nossa nova doutrina operacional na Força. Esse debate profissional sem dúvida servirá de base para outras mudanças no futuro e nos tornará um Exército melhor.
Referências
- Field Manual (FM) 3-0, Operations (Washington, DC: U.S. Government Publishing Office [GPO], 2008 [obsoleto]). A Emenda1 a essa versão foi publicada em 2011; Army Doctrine Publication 3-0, Unified Land Operations (Washington, DC: U.S. GPO, 2011 [obsoleto]).
- FM 3-0, Operations (Washington, DC: U.S. GPO, 6 Oct. 2017).
- Ibid., figura 1-4.
- Para obter mais informações sobre o conceito de combate em múltiplos domínios, veja David G. Perkins, “Multi-Domain Battle: Driving Change to Win in the Future,” Military Review 97, no. 4 (July-August 2017): p. 6–12.
O Gen Div Michael Lundy, do Exército dos EUA é o Comandante do U.S. Army Combined Arms Center e do U.S. Army Command and General Staff College, em Fort Leavenworth, Estado do Kansas. Possui o título de mestrado em Estudos Estratégicos e concluiu os cursos do U.S. Army Command and General Staff College e U.S. Army War College. Serviu, anteriormente, como Comandante do U.S. Army Aviation Center of Excellence, em Fort Rucker, Estado do Alabama, e em missões no Haiti, Bósnia, Iraque e Afeganistão.
O Cel Richard Creed, do Exército dos EUA, é o Diretor do Combined Arms Doctrine Directorate, em Fort Leavenworth, e um dos autores do FM 3-0, Operations. Concluiu o bacharelado pela Academia Militar dos EUA e mestrados pela School of Advanced Military Studies e U.S. Army War College. Serviu em missões na Alemanha, Coreia, Bósnia, Iraque e Afeganistão.
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