Competência é a minha palavra de ordem
A chave para estar pronto
Command Sgt. Maj. Kirk R. Coley
Centro de Excelência em Aviação
Tradução de Ana Luisa Gauz, Army University Press
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Introdução
Encontrar um tópico relevante para todos os graduados líderes no Exército é um desafio. Somos uma grande equipe com enormes diferenças e especialidades. Ainda assim, ao me sentar para escrever este artigo, queria encontrar um elo em comum e, por fim, me ocorreu: competência. Os graduados são os principais instrutores dos soldados, e essa função exige competência, independentemente da especialidade.
Depois de quase 30 anos no Exército, tenho inúmeros exemplos da competência dos graduados. Porém, uma lembrança antiga de um cabo ainda me afeta hoje como command sergeant major.NT1 Por quê? Porque competência era a sua palavra de ordem.
NT1: Graduação entre subtenente e segundo-tenente, sem equivalente no Exército Brasileiro
O cabo competente
Quando servi na 82a Divisão Aeroterrestre, no final dos anos 90, os graduados eram a base do treinamento das unidades. Os soldados treinavam para dominar seu ofício em qualquer ambiente e se tornar especialistas na defesa de zonas de concentração táticas.
Os cabos e sargentos das unidades eram alguns dos líderes de maior conhecimento e influência. Queriam provar seu valor a todos, e não havia desafios que não pudessem superar.
Os graduados de menor antiguidade eram geralmente encarregados de estandes de tiro, operações de comboios e marchas a pé. E serviam como mestres de salto em operações aeroterrestres.
Um dos mestres de salto mais experientes na primeira companhia a que fui designado era um cabo. Ele estava a dois pontos de atingir o máximo para a promoção, mas devido ao efetivo total, não conseguiu atingir o limite para ser promovido a sargento.
Esse cabo era o graduado da sala de treinamento e o mestre de salto da companhia. Nesse período, foi premiado várias vezes como soldado e graduado do mês. Ele parecia um regulamento ambulante, e havia poucas perguntas sobre treinamento e liderança de unidades que ele não pudesse responder.
Como cabo, ele acumulou mais saltos táticos do que qualquer outro na unidade. Era divertido ver comandantes mais antigos invejando um cabo que supervisionava uma operação aeroterrestre tática em massa e noturna de risco moderado, com horário de lançamento às 00h30.
Eu era um private first classNT2 quando conheci esse cabo incrível e imediatamente admirei sua dedicação e seu profissionalismo. Percebi que tanto os líderes quanto os soldados respeitavam esse graduado de menor antiguidade por sua competência e domínio técnico do seu ofício. O jovem parecia abraçar as responsabilidades adicionais com tremenda energia, pois sabia que todos dependiam de sua expertise.
Sua competência — a proficiência de um único graduado de menor antiguidade — manteve nossa unidade pronta para realizar operações aeroterrestres com sucesso. Cada interação com ele influenciou minha percepção dos graduados e definiu quem eu queria me tornar como futuro líder. Competência rapidamente se tornou minha palavra de ordem.
Competência é a minha palavra de ordem
Ao longo da história do Exército, os graduados têm sido a espinha dorsal da organização. Muitos que ouvem isso pela primeira vez se perguntam o que significa. Um ótimo ponto de partida para compreender é o Credo do Graduado, com suas ideias sobre conduta, serviço e humildade.
Esses elementos são vitais, mas uma afirmação próxima à parte central do credo estabelece o núcleo da espinha dorsal do Exército: “Competência é a minha palavra de ordem”. (NCO Creed — Army Values, n.d.) Os graduados pautados na competência — independentemente da graduação — são proficientes técnica e taticamente, conscientes de seus deveres e responsabilidades e focados na prontidão como líderes. Competência é mais do que uma palavra de ordem. É a chave para estar pronto.
Proficiência tática e técnica
Há muitos aspectos a serem considerados quando se fala em competência, mas a proficiência tática e técnica vem logo à mente. No passado, as cadeias de suprimentos fixas possibilitaram a uniformidade em questões de equipamentos e na exposição ao treinamento.
Por outro lado, os equipamentos do Exército atual mudam com frequência, e a organização reavalia constantemente se o treinamento e a educação dos graduados são suficientes. No entanto, treinamento à parte, a responsabilidade de desenvolver e manter a proficiência técnica é uma questão de responsabilidade pessoal.
A proficiência técnica com as ferramentas do seu ofício é uma questão de séries e repetições, não de graduação. Quanto mais os graduados dominarem seu ofício ou especialidade, mais bem preparados estarão para liderar, orientar e treinar outros nesse conjunto de habilidades.
Além disso, um graduado proficiente tecnicamente estará sempre pronto, e isso inclui lidar com novos equipamentos! Afinal, esse tipo de prontidão é a marca registrada de um profissional.
Porém, a proficiência técnica nas Forças Armadas requer contexto: um entendimento de como as ferramentas e habilidades são empregadas. A proficiência tática é o contexto para o emprego de habilidades proficientes tecnicamente no campo de batalha ou para apoiar a missão do comandante. Os soldados e as unidades geralmente desenvolvem a proficiência tática de duas maneiras.
Em primeiro lugar, os soldados devem compreender a doutrina norteadora de sua arma, quadro ou serviço e a doutrina do Exército como um todo. A expectativa de ler a doutrina pertinente relativa à profissão escolhida é razoável.
Afinal, a doutrina oferece aos líderes e soldados uma linguagem e um entendimento comuns das operações. Esse conhecimento compartilhado complementa a confiança entre líderes e soldados, um alicerce para o exercício da iniciativa disciplinada.
Em segundo lugar, a proficiência tática surge do treinamento. O Exército não tem orçamentos de treinamento padronizados, e a qualidade percebida do treinamento varia entre as unidades. No entanto, a capacidade de adotar e comunicar o valor do treinamento para estar pronto para um futuro desconhecido é altamente valiosa e está ao alcance de todos. O treinamento nos torna mais competentes e preparados taticamente para um possível combate.
Os graduados competentes técnica e taticamente estão prontos para usar e empregar suas armas ou sistemas para apoiar qualquer missão. O combate acabará servindo como uma avaliação para os graduados e seus soldados; ele não permite pausas ou preparação de última hora.
Portanto, os graduados devem estabelecer as competências antes do combate. Aqueles que enfatizam a competência técnica e tática para si mesmos e para seus soldados tornam-se capacitadores do combate para seus comandantes.
Consciência: deveres e responsabilidades
Os graduados são profissionais. A promoção à graduação de sargento implica que os soldados tomaram uma decisão deliberada de abraçar seu trabalho como profissão. Independentemente da graduação, os graduados competentes compreendem os deveres e responsabilidades que lhes foram atribuídos e não precisam necessariamente de um lembrete ou explicação sobre sua função na equipe.
Afinal, o Credo do Graduado afirma que os graduados “terão o máximo de tempo para cumprir seus deveres” e “não terão de cumprir os meus” (NCO Creed — Army Values, n.d.).
Os graduados competentes em seus deveres e responsabilidades conhecem e assumem seu papel de instrutores principais e superiores diretos em suas unidades de designação. Os graduados competentes organizacionalmente compreendem o comando de missão e o valor da comunicação. Eles desenvolvem relacionamentos profissionais significativos em suas unidades.
Em suma, os graduados competentes organizacionalmente compreendem seu propósito e precisam de orientação mínima, operando regularmente a partir da intenção do comandante. Novamente, a graduação e a função são irrelevantes. Os graduados competentes organizacionalmente aumentam a prontidão em todos os níveis. O combate não quer saber se você entende quais são as suas funções e seus deveres, mas o combate testará essa compreensão.
Liderança com foco na prontidão
Os graduados que conhecem seu ofício e sua função em suas unidades devem considerar a prontidão sempre. A prontidão não acontece da noite para o dia e — para continuar a se inspirar na mensagem do sergeant major do Exército — o combate não quer saber se você ou seus soldados estão prontos. (Weimer, 2024)
Os líderes e os profissionais se importam com a prontidão. Os graduados competentes tática e tecnicamente que têm um forte senso de estrutura organizacional e propósito treinam de forma significativa os soldados a quem servem diretamente e aprimoram ainda mais o treinamento da unidade.
Um senso de liderança focada na prontidão significa que os graduados compreendem as realidades da guerra, preparam-se para o combate futuro e desenvolvem os soldados para que se tornem combatentes e líderes competentes.
Os graduados focados na prontidão têm a marca maior do profissionalismo, percebendo que fazem parte de algo maior, “um membro de um corpo honrado pelo tempo” (NCO Creed — Army Values, n.d.). Esses graduados entendem que o combate não quer saber se você está pronto ao chegar e avaliam a prontidão individual e da unidade muito antes da chegada em um teatro de operações de combate.
Conclusão
A prontidão é um tema importante no Exército atualmente e continuará sendo no futuro. Competência, a palavra de ordem consagrada do graduado, é a chave para a prontidão. Aqueles que possuem a chave têm em suas mãos o sucesso futuro do Exército. A competência vem da formação e de um treinamento significativo. A competência não surge da mera participação — é o resultado de um treinamento difícil e realista.
Cultivar a competência e a prontidão resulta na capacidade de atender ao chamado da nação. Em 11 de setembro de 2001, a história entregou às Forças Armadas a notificação de um teste de competência. Várias unidades foram ativadas em resposta ao ataque e à subsequente busca por Osama bin Laden. Até então, essas unidades estavam treinando de forma decisiva para a competência no combate em larga escala. Como resultado, essas unidades eram altamente disciplinadas e capazes de reagir quando o combate as colocava à prova.
Ao considerar o significado da frase “Competência é a minha palavra de ordem”, reflita bem sobre ela. Os soldados e graduados nunca devem se esquecer de que desenvolvem a competência por meio do estudo profissional e do treinamento árduo. Conheça a função e o propósito de sua organização e apoie profissionalmente seus comandantes, companheiros líderes e soldados designados.
Sua busca por competência criará um senso de liderança orientado para a prontidão que produzirá, de forma expressiva, oportunidades de treinamento para melhorar a capacidade de sobrevivência e a letalidade da sua unidade e do Exército. Afinal de contas, a missão de todo soldado é estar acessível e pronto a qualquer momento, para alertar e se reunir rapidamente em preparação para ingressar em território inimigo.
Busque a competência em tudo o que fizer como graduado e soldado. Esse esforço garantirá que você permaneça fiel a uma profissão que é motivo de inveja de nossos adversários e é a espinha dorsal do Exército dos EUA.
Referências
NCO Creed — Army Values. (n.d.). https://www.army.mil/values/nco.html
Weimer, M.R. (2024). Combat Doesn't Care: How Ready Are You? NCO Journal, p. 1-4. https://www.armyupress.army.mil/Journals/NCO-Journal/Muddy-Boots/Combat-Doesnt-Care-Weimer/
O Command Sgt. Maj. Kirk R. Coley serve no Aviation Center of Excellence em Fort Novosel, Alabama. Alistou-se no Exército em 1995 como técnico de reparos de sistemas elétricos de armamento/instrumentação de aeronaves para o helicóptero AH-1 Cobra e, mais tarde, fez a transição para o helicóptero OH-58D Kiowa Warrior. Serviu em diversas funções, de comandante de grupo de combate a graduado encarregado das operações e mestre de salto de brigada. É bacharel em Estudos Profissionais em Negócios e Administração pelo Excelsior College.
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