A Morte que Vem de Cima
Os VANT e a Perda de Corações e Mentes
Jeffrey A. Sluka
As opiniões expressas neste artigo são do autor e não refletem a posição oficial de nenhum órgão do Departamento de Defesa. Este artigo foi originalmente publicado na edição em inglês de Maio-Junho de 2011 da Military Review.
Os veículos aéreos não tripulados (VANT), conhecidos como drones nos Estados Unidos da América (EUA), estão em uso constante nas regiões fronteiriças entre o Afeganistão e o Paquistão, as Áreas Tribais sob Administração Federal (Federally Administered Tribal Areas — FATA). Do ponto de vista do governo e das Forças Armadas dos EUA, o emprego ideal dos VANT Predator e Reaper consiste em eliminar líderes terroristas. Em 2007, havia 21 patrulhas aéreas de combate sendo conduzidas por VANT de caça e destruição (hunter-killer) em qualquer dado momento. No final de 2009, esse número havia subido para 38 e, em 2011, para 54 patrulhas em andamento. Em 2009, a Força Aérea informou que estaria, pela primeira vez, treinando mais pilotos remotos que novos pilotos de caças e bombardeiros, criando um “plano de carreira sustentável” para oficiais daquele primeiro grupo.
O Novo Fenômeno em Armas
Talvez por medo de uma perda estratégica da vontade nacional, em decorrência das impopulares baixas dos EUA e da coalizão, o Comando Central parece ter acolhido os VANT como atual arma de preferência no combate à Al Qaeda e ao Talibã. Ao que consta, os VANT estão “eliminando os vilões a torto e a direito”1. Segundo uma das estimativas, em março de 2011, pelo menos 33 líderes da Al Qaeda e do Talibã (alvos de alta prioridade) haviam sido mortos por VANT, além de algo entre 1.100 e 1.800 insurgentes2. Tom Engelhardt observa, em Drone Race to the Near Future (“A Corrida dos VANT ao Futuro Próximo”, em tradução livre), que os VANT são o “fenômeno em armas do momento” e que “já se pode ver o complexo militar-industrial-robótico em formação”3. Na verdade, como descreve James Der Darian, em Virtuous War: Mapping the Military-Industrial-Media-Entertainment Network (“Guerra Virtual: Mapeamento da Rede Militar-Industrial-Midiática-de Entretenimento”, em tradução livre), os VANT já fazem parte de uma enorme e crescente “rede-militar-industrial-midiática-de entretenimento”4.
O alarde e o orgulho arrogante em torno dessa tecnologia são enormes, e a grande mídia está repleta de reportagens elogiosas sobre os VANT, algumas das quais sugerem que seu emprego, por si só, pode vencer a guerra contra o terrorismo. Por exemplo, uma reportagem de abril de 2009 alegou que os VANT estavam eliminando líderes do Talibã e da Al Qaeda e que “o resto [de seus integrantes] haviam começado a lutar entre si, por pânico e suspeita”. “Caso se mantenha esse ritmo”, disse Juan Zarate, consultor sobre contraterrorismo, ao jornal LA Times, “a Al Qaeda acabou”5. Em uma reportagem com uma postura acrítica sobre as operações de VANT da Força Aérea dos EUA, veiculada no programa 60 Minutes, em maio de 2009, perguntaram ao oficial encarregado se, alguma vez, havia sido cometido algum erro nos ataques desse tipo: “E se errarem?” “Nós não erramos”, foi sua resposta6.
A Força Aérea declara que sua prioridade é visar insurgentes com precisão, evitando as baixas civis. Assevera ter grande preocupação nesse sentido; que são tomadas medidas extremas para evitá-las e que “preveni-las pode ser a tarefa mais demorada da equipe de seleção de alvos”7. No Centro Combinado de Operações Aeroespaciais, no Oriente Médio, há sempre um assessor jurídico militar de prontidão, para fornecer orientações relativas ao Direito dos Conflitos Armados (DICA), conjunto de tratados internacionais que proíbem ataques intencionais contra civis e exigem que as Forças militares minimizem os riscos para eles. A Força Aérea também sustenta que um rigoroso protocolo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) requer a aprovação do alto-comando para ataques aéreos, quando houver conhecimento da presença de civis em áreas visadas ligadas à Al Qaeda e ao Talibã ou proximidades. Exige, ainda, que os ataques sejam cancelados, quando for detectada a presença de civis. As Forças Armadas dos EUA alegam que a seleção de alvos é extremamente precisa e que várias operações já foram canceladas, quando pareceu haver a possibilidade de baixas civis8. Essas afirmações são coerentes com as táticas de contrainsurgência (COIN) descritas no Manual de Campanha 3-24.
Hoje em dia, o emprego dos VANT vem sendo alardeado como o “futuro da guerra”, como a “única coisa boa a resultar da guerra contra o terrorismo” e como uma arma eficaz e precisa de contraterrorismo e contrainsurgência. Ninguém duvida que os robôs virão a ocupar um papel central nas Forças Armadas dos EUA. Alguns aspectos remanescentes do hoje extinto esforço de modernização “Sistemas de Combate do Futuro” do Exército dos EUA (atualmente, o Programa de Modernização da Equipe de Combate de Brigada) requerem uma infinidade de VANT, incluindo os de combate. Como demonstrou P.W. Singer em Wired for War (“Programados para a Guerra”, em tradução livre), tal modernização implica mudanças inéditas de perspectiva9.
Entretanto, a noção de que os VANT custam menos em vidas e recursos e a visão otimista de que virão, um dia, a retirar, completamente, os soldados de situações perigosas estão começando a parecer propostas duvidosas. O estardalhaço que essas armas ainda geram, como sendo o “mais formidável, estranho, excelente aparato no arsenal norte-americano”, está começando a parecer precipitado e irrefletido10. Um artigo na revista Newsweek, de setembro de 2009, chegou a chamar os VANT de “weapons porn” (“pornografia de armas”)11. Essa visão de precisão avançada “cirúrgica” e eficácia está começando a desgastar-se diante das informações estatísticas disponíveis.
Mesmo que questionemos os dados que parecem indicar que os VANT não são tão precisos quanto se pensava, eles, de fato, apontam a necessidade de analisar e reavaliar seu emprego em COIN. Os efeitos de erros nessa área podem estar prejudicando os objetivos norte-americanos no sentido de que as forças de segurança afegãs assumam o controle. Mesmo que a estratégia dos EUA mude para contraterrorismo, o Exército Nacional Afegão precisa conduzir uma contrainsurgência, e conquistar corações e mentes estará no cerne de sua luta.
Crítica à Guerra de VANT
As evidências mostram que as hipérboles difundidas em relação aos VANT e à sua tão alardeada precisão são pura fantasia, se não forem, literalmente, ficção científica. Já houve muitos erros, como o incidente ocorrido em junho de 2009, quando “VANT norte-americanos atacaram um complexo no Waziristão do Sul. Os habitantes correram para o local para resgatar os sobreviventes. Um VANT dos EUA lançou, então, mais mísseis, provocando um total de 13 mortes. No dia seguinte, moradores da região participavam de um cortejo fúnebre, quando os EUA atacaram de novo”, causando a morte de 70 deles12.
Os ataques de VANT já provocaram mais de mil baixas civis, têm exibido uma especial propensão para atingir casamentos e enterros e parecem estar estimulando fortemente a insurgência13. Ao invés de apoiarem a ideia de que os VANT estejam, sozinhos, quase vencendo essas guerras, os dados estatísticos indicam que seria mais correto dizer que, atualmente, eles as vêm perdendo quase por conta própria. A questão é se a tática está servindo à estratégia. Segundo um relatório de 2007 da Organização das Nações Unidas (ONU), os ataques aéreos dos EUA estavam entre os principais fatores de motivação para os homens-bomba no Afeganistão. No final de 2008, uma pesquisa entre 42 combatentes talibãs revelou que 12 haviam visto familiares serem mortos por ataques aéreos, tendo 6 deles aderido à insurgência depois de tal ocorrência. Há um número bem maior de indivíduos que não chegaram a tornar-se insurgentes, mas têm lhes oferecido apoio14.
Os ataques de VANT no Paquistão, que foram apregoados como os mais bem-sucedidos, provocaram o maior número de baixas civis. Dos 60 ataques por VANT Predator no local entre 14 Jan 06 e 08 Abr 09, apenas 10 atingiram seu verdadeiro objetivo, uma taxa de acerto de 17%, provocando a morte de 687 civis. A organização Pakistan Body Count, que acompanha o número de baixas provocadas por VANT, afirma que, no total, 2.205 civis haviam sido mortos e 909 gravemente feridos ao fim de março de 2011 e que isso representa uma taxa de acerto de apenas 3% contra a Al Qaeda15.
Até David Kilcullen, autor de The Accidental Guerrilla (“O Guerrilheiro Acidental”, em tradução livre)16, apelidado pela mídia de “guru da contrainsurgência”, disse ao Congresso dos EUA, em abril de 2009, que os ataques de VANT no Paquistão estavam gerando resultados contrários aos desejados e deviam ser suspensos:
Desde 2006, eliminamos 14 líderes importantes da Al Qaeda com ataques de VANT; no mesmo período, causamos a morte de 700 civis paquistaneses na mesma região. Esses ataques são muito malvistos. São profundamente ofensivos para a população. Além disso, têm provocado um sentimento de raiva que une a população em torno dos extremistas e leva a aumentos de extremismo […] Nossa atual trajetória está levando à perda de controle do governo paquistanês sobre sua própria população17.
Kilcullen observou, enfaticamente, que a “proporção de mortes” tem sido de 50 civis para cada militante morto, uma “taxa de acerto” de 2%, ou seja, 98% de baixas civis, algo que dificilmente pode ser chamado de “precisão”.
Kilcullen sustenta que o apelo dos VANT é que seus efeitos são mensuráveis, eliminando os principais líderes e prejudicando as operações dos insurgentes, mas os custos gerados por eles têm excedido os benefícios por três razões. Em primeiro lugar, eles criam uma “mentalidade de cerco” e baixas entre civis, o que gera apoio para os insurgentes. Segundo, provocam a indignação pública não apenas no local, mas por todo o país, assim como no âmbito internacional e nos EUA. Terceiro, seu emprego representa uma tática — mais exatamente, uma forma de tecnologia — sendo utilizada em substituição a uma estratégia. Killcullen conclui: “Cada um desses não combatentes que foram mortos [gera] hostilidade entre seus familiares, um novo desejo de vingança e mais recrutas para um movimento militante que tem crescido exponencialmente, à medida que aumentam os ataques de VANT”18.
Ademais, mesmo quando os ataques aéreos chegaram a eliminar líderes militantes, esse fato só serviu, em muitos casos, para transformá-los em mártires. Por exemplo, mais de 5 mil pessoas compareceram ao enterro de Ghulam Yahya Akbari, um dos líderes dos rebeldes, morto em um ataque aéreo dos EUA, em outubro de 2009. Segundo reportagens, “milhares choraram” e “mulheres prantearam o morto dos telhados das casas”, quando um longo cortejo fúnebre de mais de 5 mil pessoas acompanhou seu corpo até o local da sepultura, perto de sua aldeia natal na Província de Herat19.
Uma enquete realizada no Afeganistão em novembro de 2009 constatou que 76% dos respondentes se opunham ao estabelecimento, pelo Paquistão, de uma parceria com os EUA para ataques de mísseis por VANT contra militantes20. Essa confiança no poder aéreo serviu para enfraquecer o apoio do público no Afeganistão e no Paquistão; contínuos bombardeios aéreos resultarão em mais baixas civis, gerando mais ressentimento e resultando em mais apoio e recrutas para os insurgentes, levando a uma longa guerra, fadada à derrota. Como afirma Engelhardt:
Toda força gera uma força contrária. O emprego de força, especialmente a partir do espaço aéreo, é um confiável instrumento de criação de inimigos. É um multiplicador de forças. Toda vez que se planeje um ataque em qualquer lugar do planeta, o indivíduo que ordená-lo deve presumir, automaticamente, que, em sua esteira, haverá maridos, mulheres, irmãs, irmãos, parentes e amigos em luto e com raiva — gente jurando vingar-se, um universo de potenciais candidatos, cheios da fúria causada por uma verdadeira injustiça. Nossos verdadeiros inimigos querem mais é que continuemos com nossos bombardeios, mísseis e disparos com a maior frequência possível, porque isso mais ou menos lhes garante novas levas de recrutas21.
Singer concorda, afirmando: “Estamos criando um problema muito semelhante ao que os israelenses enfrentam em Gaza. Eles se tornaram hábeis em eliminar líderes do Hamas. Entretanto, não conseguiram achar nenhum modo de prevenir que um menino de 12 anos se junte a este grupo”22.
Implicações para a Eficácia Moral e Estratégica
Nas operações militares, decisões sobre alvos devem ser feitas de modo a minimizar as baixas civis. Qualquer outra opção seria um crime de guerra — isso é incontestável. Outro aspecto fundamental é que não minimizar baixas civis é extremamente contraproducente em termos estratégicos. Como as vítimas dos VANT são, em sua maioria, civis, essas aeronaves parecem ser, à primeira vista, armas criminosas de terror estatal, por um lado, e estrategicamente equivocadas, por outro. No Reino Unido, Lord Bingham comparou-as a bombas de dispersão e minas terrestres, armas que foram consideradas cruéis demais para serem utilizadas. Kilcullen opinou que seu emprego é “imoral”23. Esse tipo de classificação não é um bom sinal para o cumprimento dos objetivos de COIN. Robert Naiman observou, em “Stopping Pakistan Drone Strikes Suddenly Plausible” (“Suspensão de Ataques de VANT Paquistaneses Subitamente Plausível”, em tradução livre):
Já que está evidente que 1) os ataques de VANT causam baixas civis; 2) fazem com que a opinião pública no Paquistão se vire contra seu governo e contra os EUA; 3) angariam mais apoio para os insurgentes; e 4) até os especialistas militares acham que os ataques estão gerando mais danos que benefícios, até do ponto de vista das autoridades norte-americanas; por que não deveriam cessar?24
A resposta parece ser o fato de que os militares afirmam que os VANT são a única opção disponível e representam uma alternativa a enviar mais tropas terrestres, reduzindo, assim, a quantidade de baixas norte-americanas — uma preocupação estratégica relativa à vontade nacional e internacional. Outra razão relacionada parece ser o fato de que agora há, como sua força motriz, um enorme e poderoso complexo “militar-industrial-midiático-de entretenimento”, que movimenta bilhões de dólares. Não se sabe até que ponto essa influência molda as políticas, mas provavelmente não contribui em nada para a identificação da melhor abordagem estratégica. Em vez disso, o impulso em direção à tecnologia muitas vezes gera inércia, algo que se opõe à formulação de uma boa estratégia. O Coronel Douglas Macgregor observou que “os políticos frequentemente substituem a estratégia por uma fascinação com ações diretas na forma de ataques aéreos ou de eliminações em operações especiais”25.
Os VANT têm servido como principais agentes de recrutamento para os militantes.
A perspectiva é tudo quando se conduzem avaliações morais e estratégicas. Para o Presidente Obama e a maior parte da população norte-americana, os VANT são vistos como um instrumento de eliminação de terroristas, mas, no terreno, entre as populações civis do Afeganistão e do Paquistão, são considerados assassinos aterrorizantes, que matam de modo indiscriminado. De uma perspectiva de “cima para baixo” os VANT de caça e destruição, controlados remotamente, são vistos como uma nova arma incrivelmente eficaz, saída diretamente da ficção científica. Entretanto, da perspectiva “de baixo para cima” das populações atacadas, os VANT são vistos como uma arma falha, que é temida, ressentida e desprezada, em função dos danos colaterais que têm provocado. Eles têm servido como principais agentes de recrutamento para os militantes e gerado o antagonismo nos “corações e mentes” da população26.
Durante os anos 80, o emprego de helicópteros de ataque pelos soviéticos em sua guerra no Afeganistão e pelas Forças militares equipadas pelo Presidente Reagan em El Salvador e na Guatemala gerou discussões sobre a psicologia do medo de ataques aéreos — da morte vinda de cima sendo vivenciada como “terror estatal”: “Muitos afegãos hoje dizem que prefeririam ver o Talibã de volta ao poder a olharem ansiosos para os céus todos os dias”27. Um habitante que sobreviveu a um ataque de VANT no Paquistão explicou que “até as crianças que brincavam estavam intensamente conscientes dos VANT que as sobrevoavam”28. Psicologicamente, os afegãos e os paquistaneses nas áreas tribais enxergam os VANT como perigosos predadores e nunca os verão como seus protetores. Ignorar esse aspecto psicológico provavelmente se mostraria uma insensatez estratégica.
Para muitos, a tão apregoada sofisticação da tecnologia dos VANT só torna as mortes civis mais perturbadoras. Perguntam: se essa tecnologia é tão sofisticada, por que, na prática, não é capaz de fazer distinções e mata tanta gente inocente? Essa é a experiência no terreno. Como afirmou um político afegão: “Estão bombardeando aldeias porque ouviram que o Talibã está no local. Mas esse não é o caminho: bombardear e matar 20 pessoas na tentativa de eliminar um talibã. É por isso que a população está perdendo a esperança e a confiança no governo e nos estrangeiros”. Como muitos afegãos e paquistaneses, ele começava a suspeitar que havia um significado mais sinistro por trás das mortes civis: “Os norte-americanos podem cometer um erro uma, duas, talvez três vezes”, disse ele. “Mas vinte, trinta vezes? Não estou convencido de que estejam fazendo isso sem querer”29. Quer seja verdade quer não, essa é uma impressão que vem crescendo na região, e a trajetória dessa percepção vem tornando os esforços na área de informações da coalizão praticamente insustentáveis.
Michael Ignatief alerta que a guerra virtual é uma ilusão perigosa e sedutora: “Nós nos enxergamos como nobres guerreiros e aos nossos inimigos como tiranos desprezíveis. Vemos a guerra como um bisturi cirúrgico e não como uma espada ensanguentada. Com isso, descrevemos a nós mesmos de forma equivocada, da mesma forma que erramos ao descrever os instrumentos da morte. Precisamos nos manter longe dessas fábulas de invulnerabilidade e superioridade moral”30. A guerra virtual desumaniza as vítimas, insensibiliza os que cometem a violência e reduz as barreiras morais e psicológicas contra o ato de matar.
Como arma de contrainsurgência, portanto, os VANT de caça e destruição parecem ser perdedores. Criam mais militantes do que eliminam, e seu crescente emprego vem gerando hostilidade ou “perdendo os corações e mentes” das populações civis no Afeganistão e no Paquistão. Os VANT provocaram a morte de mais de 700 civis só em 200931. Em outubro daquele mesmo ano, o Relator Especial da ONU sobre Execuções Extrajudiciais alertou que os ataques de VANT norte-americanos que matam civis inocentes violam as leis internacionais contra a execução sumária e representam execuções extrajudiciais32. Em outras palavras, podem ser vistos como uma nova forma, terrível e aterrorizante, de “esquadrão da morte” sancionado pelo Estado.
A mentalidade sinistra de terror estatal no emprego de VANT se revela nos nomes escolhidos: Predator (“Predador”) e Reaper (referente ao Grim Reaper, ou “Anjo da Morte”). Os próprios nomes já sugerem uma estupidez obstinada quanto à eficácia das operações de informação. Os civis os escutam e são psicologicamente condicionados por eles: não ficam apenas aterrorizados com os VANT que os sobrevoam, muitos acabam se radicalizando. Enquetes no Afeganistão e no Paquistão mostram que um desejo de revidar contra os EUA aumenta após cada ataque de VANT. Quando perguntaram a Faisal Shahzad, o paquistanês naturalizado norte-americano que tentou colocar uma bomba em Times Square em maio de 2010, como ele justificava um ato que poderia ter levado à morte de crianças, ele replicou: “Quando os VANT atacam, não veem crianças, não veem ninguém. Matam mulheres, crianças; matam todos. […] Faço parte da resposta. […] Estou me vingando pelo ataque”33.
Da mesma forma, o fato de os israelenses estarem empregando VANT com regularidade para bombardear a Faixa de Gaza só tem servido para radicalizar mais palestinos: “Os VANT bombardearam com sucesso uma grande parte de Gaza, do partido Fatah, laico, ao islamita Hamas e à fanática Jihad”34. Ao perder corações e mentes, a guerra de VANT no Afeganistão e no Paquistão vem perdendo a luta contra o terrorismo e reforçando esse tipo de ameaça, aumentando — e não diminuindo — a probabilidade de que haja mais ataques terroristas contra os EUA.
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- HARI.
- Ibid.
Jeffrey A. Sluka é professor associado de Antropologia Social na Massey University, Nova Zelândia. É o autor de Hearts and Minds, Water and Fish: Popular Support for the IRA and INLA in a Northern Irish Ghetto (Greenwich: JAI Press, 1989) e organizador de Death Squad: The Anthropology of State Terror (Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2000).
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