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FM 3-0 Award DePuy Contest 2nd

Um passo à frente na abordagem da arte operacional

 

Maj Christopher M. Salerno, Exército dos EUA

 

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 A doutrina do Exército dos EUA concentrava-se principalmente no teatro de operações europeu até a transição para as operações em múltiplos domínios codificadas no FM 3-0

Em 2023, o Exército dos Estados Unidos da América (EUA) se viu em uma posição única. A Estratégia de Defesa Nacional (National Defense Strategy) de 2022 prioriza a China como a maior ameaça iminente e a Rússia como a segunda ameaça crítica.1 Isso representa uma mudança radical para o Exército dos EUA, que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, ajustou sua doutrina para o teatro de operações europeu, apesar do conflito quase constante em outros ambientes operacionais.2 O Exército poderia ter usado essa mudança no foco da Estratégia de Defesa Nacional — da Europa para o Pacífico — para justificar o uso de um conceito de múltiplos domínios das forças do Exército dos EUA no Pacífico como base para a última edição do Manual de Campanha 3-0, Operações (FM 3-0, Operations). No entanto, a invasão ilegal da Ucrânia pela Rússia despertou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para a ameaça russa e provocou mudanças para garantir que a aliança pudesse responder de forma eficaz.3 O Exército reconheceu que um futuro comandante da força conjunta, seja na Europa ou no Pacífico, deverá usar ferramentas semelhantes para desenvolver sua campanha e suas operações.

A decisão do Exército de usar as operações em múltiplos domínios (multidomain operations, MDO) como a base conceitual para o FM 3-0 afastou o Exército de sua tradição. Historicamente, as forças armadas dos diferentes países se concentravam em um único problema operacional existencial como base para sua doutrina.4 As forças armadas lidam com tal problema operacional desenvolvendo conceitos operacionais, que são posteriormente validados por testes e codificados em doutrina.5 Por exemplo, os soviéticos desenvolveram o conceito de combate em profundidade para responder à ameaça representada pela Alemanha no início do século XX.6 O Exército dos EUA criou o Combate Ar-Terra durante a Guerra Fria para responder à ameaça soviética na Alemanha.7 O Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) dos EUA está passando pelo plano de reestruturação Force Design 2030, implementando os conceitos de forças stand-in e operação de bases avançadas expedicionárias. O CFN pretende ser um capacitadorNT da força conjunta, capaz de operar em locais de antiacesso/negação de área de ameaças no Pacífico.8 Esses conceitos buscavam equilibrar o objetivo com os fatores operacionais de tempo, espaço e força.9 Essas soluções não são facilmente transferíveis para outros ambientes operacionais com fatores operacionais diferentes.

NT: Por vezes, os capacitadores (enablers) podem ser entendidos como “multiplicadores do poder de combate”, por vezes, como “elementos em apoio”.

Em 2023, o Exército dos EUA operou em vários ambientes operacionais contra ameaças únicas. Apesar de alguns pontos em comum, cada ambiente operacional requer conceitos que equilibrem adequadamente os fatores operacionais. O Exército não pode criar um conceito único que sirva para todos, pois isso representa um risco muito grande. O combate em profundidade soviético fracassaria se aplicado ao Pacífico, onde, pelo menos inicialmente, as forças terrestres eram uma força de apoio em vez de uma força apoiada. Da mesma forma, o Exército não poderia recriar o Combate Ar-Terra porque essa doutrina foi especificamente elaborada para uma ameaça soviética na Alemanha. O Exército, ao contrário do CFN, não pode optar por se concentrar apenas em um ambiente operacional devido aos diferentes tipos de missão. O FM 3-0 é eficaz porque oferece aos comandantes uma abordagem doutrinária da arte operacional. Diferentemente dos conceitos operacionais projetados para um único ambiente operacional, as MDO do Exército podem e devem ser adaptadas pelos comandantes para que tenham êxito em diversos ambientes operacionais.

Combate em profundidade

O Gen Georgii Isserson, um pensador militar soviético, escreveu sobre o problema operacional mais urgente enfrentado pela União Soviética após a Primeira Guerra Mundial: a ameaça mecanizada alemã na Europa Oriental e o surgimento da profundidade ampliada no campo de batalha. Isserson contribuiu para o pensamento sobre o nível operacional da guerra e o conceito de combate em profundidade. Ele reconheceu que, se um exército não refletir sobre a questão operacional, ignorará como os fatores operacionais evoluem ao longo do tempo e apenas considerará os fatores como eram durante a execução.10 O preço a pagar por esses erros costuma ser a paralisação do progresso ou a derrota com grande número de baixas. Isserson buscou compreender o ambiente operacional e encontrar uma forma de equilibrar adequadamente os fatores operacionais e o objetivo. O equilíbrio dos fatores operacionais evita desastres e é de vital importância.11 A doutrina soviética de combate em profundidade foi bem-sucedida durante a Segunda Guerra Mundial e equilibrou tempo, espaço e força — os fatores operacionais da Europa Oriental na década de 1930.

Carros de combate M-60 do Exército dos EUA durante adestramento no Passo de Fulda, na Alemanha Ocidental, onde os EUA e a OTAN esperavam que as forças soviéticas e do Pacto de Varsóvia atacassem primeiro caso uma guerra quente irrompesse durante a Guerra Fria na Europa

Isserson reconheceu um desequilíbrio tempo-espaço-força que não existia anteriormente. O flanco, principalmente devido à mecanização, não mais reinava supremo. Em seu lugar, a profundidade e a capacidade de alcançar a retaguarda do inimigo em profundidade eram mais importantes.12 Os soviéticos, com o combate em profundidade, lidavam com uma ameaça singular que precisava ser enfrentada de forma sistemática. Os planejadores soviéticos acreditavam que poderiam aplicar o combate em profundidade durante um possível conflito contra a OTAN durante a Guerra Fria na Alemanha Ocidental.13 No entanto, o combate em profundidade não é uma solução única. Se os soviéticos tivessem tentado aplicar o combate em profundidade em uma campanha passando por diversas ilhas do Pacífico, não teriam obtido os mesmos resultados.14 Não é uma solução única pois os fatores operacionais mudam de acordo com quem, quando e onde decidem combater. O combate em profundidade exige profundidade e terreno adequado para a guerra mecanizada; nem todo ambiente operacional apresenta esse tipo de terreno. Os soviéticos não desenvolveram uma solução universal. Tentaram resolver o problema com um conceito operacional adaptado à sua ameaça, ao espaço físico e ao período. As MDO evitam as armadilhas de uma solução única e permitem que os comandantes reconheçam seu ambiente operacional particular.

Aeronaves F-16, F-15C e F-15E

O Exército dos EUA, ao contrário dos soviéticos, enfrenta diversos ambientes operacionais, cada um com fatores operacionais distintos. O Exército dos EUA deve equilibrar os respectivos fatores operacionais rumo ao objetivo para cada ambiente operacional que enfrenta atualmente. As MDO capacitam os comandantes operacionais porque, embora não tenham sido criadas para um único ambiente operacional, oferecem ferramentas para abordar os ambientes operacionais. O Exército não pode ignorar a Rússia em favor da China, pois ele existe para lidar com todas as ameaças com poder de combate equiparado, não com ameaças isoladas.15 O Exército não poderia transformar em doutrina um conceito operacional voltado para o Pacífico e esperar que funcionasse para o Exército na Europa. Não equilibrar os fatores operacionais do teatro de operações europeu em relação ao objetivo poderia resultar em uma catástrofe.16 A invasão da Ucrânia pela Rússia apenas reforça o fato de que o Exército não pode ignorar o ambiente operacional europeu em favor do Pacífico. Um conceito como o de combate em profundidade, projetado para um ambiente operacional específico, fracassaria em outros contextos, mas as MDO apresentam uma estrutura para abordar um ambiente operacional e conduzir a arte operacional.

Combate Ar-Terra

O Gen Donn A. Starry, como Comandante do V Corpo de Exército na Europa, enfrentou um problema semelhante ao de Isserson na década de 1970. Ele precisava de um conceito que funcionasse para seu ambiente operacional específico. Ele entendia como os soviéticos esperavam combater na Alemanha e compreendia seu objetivo, mas precisava descobrir como equilibrar os fatores operacionais. Starry estava muito preocupado com a profundidade das forças soviéticas e o curto período de tempo para seu emprego.17 Essas são preocupações de fator operacional porque, relativamente à União Soviética, seus fatores não estavam equilibrados. Starry entendeu que era possível superar o desequilíbrio de espaço e tempo por meio de forças superiores, treinadas e equipadas.18 Ele desenvolveu o conceito operacional, que acabou se tornando o Combate Ar-Terra. O insight particular de Starry referia-se a como o comandante de corpo de exército poderia criar condições que os soviéticos não esperavam, atacando em toda a profundidade de sua ofensiva.19 O Combate Ar-Terra equilibrou os fatores operacionais do Exército e impôs um desequilíbrio para o qual os soviéticos não estavam preparados. Assim como o combate em profundidade, o Combate Ar-Terra não é uma solução universal, mas foi concebido para um problema específico em um momento específico.

O Combate Ar-Terra causou um efeito duradouro no Exército devido ao seu êxito na Guerra do Golfo. O efeito ocorreu à medida que o Combate Ar-Terra transcendia um único ambiente operacional, mas o Combate Ar-Terra serviu como um conceito para o contexto da Guerra Fria e para a ameaça soviética.20 Muitos adversários, como o Exército iraquiano na Operação Desert Storm, operavam armas soviéticas e usavam táticas soviéticas.21 O Combate Ar-Terra expressou bem como alcançar a vitória, dado o contexto específico do problema enfrentado.22 O Combate Ar-Terra foi eficaz na Guerra do Golfo porque o contexto e a missão estavam alinhados com o contexto da Guerra Fria. A missão e o contexto da ameaça iminente (a China) e da ameaça crítica (a Rússia) são muito diferentes para um único conceito operacional. Os princípios de MDO não estão vinculados a um contexto específico, e sim definem como desenvolver um conceito para um problema operacional e equilibrar os fatores operacionais. Essa necessidade de “ajuste” é o desafio atual do Exército, e sua liderança está assumindo tal desafio de forma semelhante a Isserson e Starry.

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Um conceito como o de combate em profundidade, projetado para um ambiente operacional específico, fracassaria em outros contextos, mas as MDO apresentam uma estrutura para abordar um ambiente operacional e conduzir a arte operacional.

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O Comandante do Exército dos EUA no Pacífico, Gen Charles A. Flynn, e o Comandante do I Corpo de Exército, Gen Div Xavier T. Brunson, publicaram artigos em 2023 descrevendo conceitos para o combate como parte de uma força conjunta no contexto do Pacífico. Flynn reconheceu o papel de apoio do Exército e mostrou como a Força poderia ajudar na convergência, criando oportunidades para a Força Aérea e a Marinha, ao contrário do conceito de Combate Ar-Terra, em que o Exército era a Força apoiada.23 O conceito de Brunson — nós de comando e controle distribuídos — aborda como vencer, levando em conta a missão e o contexto do I Corpo de Exército.24 O conceito de Brunson adota todos os princípios de MDO, mas, assim como o conceito de Flynn, inverte a forma como o Exército se sente confortável para operar. O I Corpo de Exército não está treinando para combater como uma concentração de infantaria e blindados contra um objetivo. O I Corpo de Exército, como apenas um exemplo, está preparado para apoiar a criação dessas linhas interiores e apoiar a força conjunta por meio de suas forças-tarefa em múltiplos domínios. Os comandantes devem pensar de forma não convencional e criar conceitos operacionais com base em sua organização atual e no que pode ser possível com base no que, em breve, será implementado.25 Em ambos os casos, as MDO viabilizaram diretamente sua abordagem da arte operacional. A liderança do Exército dos EUA na Europa também deve desenvolver e disseminar conceitos não classificados para o Exército na Europa usando as MDO como uma estrutura para a arte operacional. Esses conceitos são melhores do que o Exército conseguiria alcançar com a doutrina baseada em ameaças específicas ao teatro de operações.

O CFN e o Force Design 2030

O CFN, diferentemente do Exército, pode priorizar um único conceito operacional para um contexto e uma missão específicos, pois o Exército complementa o CFN nesses outros contextos. A atualização de maio de 2022 do Force Design 2030 não se refere à Rússia, mas afirma: “A ameaça iminente para o nosso desenho de força, conforme apontado pelo atual governo e os dois anteriores, são as Forças Armadas da República Popular da China (RPC)”.26 Embora não tenha mudado por inteiro, o CFN está passando por atualizações gigantescas de formação à medida que prioriza os esforços para responder à ameaça iminente da China. Atualmente, o CFN está testando essas novas formações e desenvolverá uma doutrina de apoio à medida que avança rumo ao Force Design 2030. Abordagens de um só tipo não funcionam para o Exército, mas o CFN pôde se dar ao luxo de se desfazer de seus blindados pesados, por exemplo, por entender que o Exército disponibilizaria blindados para a força conjunta quando solicitado por um comandante da força conjunta.27 O CFN está adotando uma abordagem diferente da do Exército. Sua priorização de uma única ameaça está mais próxima ao que o Exército alcançou com o Combate Ar-Terra contra a ameaça soviética.

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O Corpo de Fuzileiros Navais, diferentemente do Exército, pode priorizar um único conceito operacional para um contexto e uma missão específicos, pois o Exército complementa o Corpo de Fuzileiros Navais nesses outros contextos.

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O Force Design 2030 complementa os esforços do Exército para adotar as MDO. Entretanto, como o Exército está posicionado para responder de forma eficaz a múltiplas ameaças, o CFN dos EUA pode priorizar uma única ameaça. O contexto e os requisitos para o Exército no Pacífico resultarão em um uso diferente do Exército.28 Em sua essência, o CFN não tem esse mesmo problema, pois pode priorizar uma única ameaça e elaborar uma doutrina fundamental (capstone) para apoiar esse esforço. O CFN pode equilibrar a prioridade de um único conceito com a manutenção de uma perspectiva de mundo inteiro e a forma de operar em todo o mundo.29 O CFN atenua o risco representado pela priorização de um único ambiente operacional ao não se transformar completamente, pois ainda mantém a estrutura da força-tarefa ar-terra dos fuzileiros navais para uma parte considerável da Força. Isso se asssemelha à forma como o Exército priorizou o Combate Ar-Terra, mas permaneceu capaz de responder fora do teatro de operações europeu. O Exército exige uma doutrina flexível para que os comandantes operacionais possam levar em conta seu ambiente operacional específico.

Contra-argumentos

Os contra-argumentos sustentam que, como doutrina, o FM 3-0 é inadequado e impraticável. Ele não oferece uma resposta específica sobre como vencer em um determinado contexto. Toda doutrina deve ser adaptada às circunstâncias específicas de um determinado contexto e objetivo. O Gen Huba Wass de Czege, da reserva remunerada — oficial de infantaria que foi decisivo para a redação e o desenvolvimento do Combate Ar-Terra —, escreveu um comentário sobre “The U.S. Army in Multi-Domain Operations 2028” (“O Exército dos EUA em Operações em Múltiplos Domínios 2028”), no qual fez críticas às MDO. Ele alegou que as MDO não descrevem o problema e tampouco como podem resolver esse problema com sucesso de uma forma que tanto amigos quanto inimigos entendam.30 Ele compara as MDO e o Combate Ar-Terra, mostrando como este último apresentou bem o problema para a Força e conseguiu dissuadir uma ameaça.31 Nessa visão, as MDO fracassam por não serem uma solução.

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Essa é uma observação razoável, mas a comparação é injusta ao considerar os diferentes contextos estratégicos de 1982 e hoje. Os dois teatros de operações têm algumas semelhanças, mas os fatores operacionais são muito diferentes. O equilíbrio adequado acabará sendo com o Exército como parte da força conjunta, fazendo coisas muito diferentes em cada cenário. Embora adequado ao seu contexto, um conceito operacional como o Combate Ar-Terra enfrentaria dificuldades em outros contextos. Os comandantes operacionais não teriam nada além de suas ideias sobre como vencer. Eles precisam de uma estrutura norteadora para abordar a arte operacional, que as MDO abordam por meio de seus princípios. O comandante recebe as ferramentas necessárias para criar campanhas e operações de sucesso.

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É possível também argumentar que toda doutrina deve ser adaptada a situações específicas. O Gen David Berger, ao se dirigir aos comitês de defesa do Congresso, destacou que o CFN, mesmo quando focado na ameaça iminente da China, ainda está preparado e mais adaptado para responder a muitos tipos de missões em todo o mundo.32 O Exército deve se concentrar em um único conceito para vencer em um contexto específico e ajustá-lo conforme necessário para outros contextos. Isso não quer dizer que o CFN tem tipos de missões totalmente diferentes das do Exército. O CFN complementa a força conjunta ao manter o foco nas operações expedicionárias.33 O foco do Exército continua mais amplo, voltado para as duas ameaças de adversários com poder de combate equiparado. Essas funções são diferentes na execução. Flynn observou que o Exército dos EUA no Pacífico precisava criar linhas interiores que já possuía na Europa.34 Essas alterações não são pequenas para um determinado ambiente operacional. São abordagens diferentes, mas os princípios de MDO fundamentam as diferentes abordagens.

Conclusões e recomendações

O FM 3-0 é eficaz porque oferece aos comandantes de nível operacional uma abordagem doutrinária da arte operacional que podem adaptar aos seus diferentes ambientes operacionais. Esses comandantes não recebem um conceito completo que requeira pequenos ajustes no terreno, como as gerações anteriores receberam com o Combate Ar-Terra, pois isso não é mais possível. Esses comandantes precisam abordar o problema operacional em seu ambiente operacional, com base nos princípios das MDO, e desenvolver um conceito para vencer. Desde a publicação do FM 3-0, esses conceitos vêm surgindo e estão inseridos como parte de uma força conjunta. Uma solução pré-fabricada, uma encarnação moderna do combate em profundidade no contexto do século XXI, não é capaz de equilibrar corretamente os fatores operacionais. A interação entre espaço, força e tempo não será a mesma, e os objetivos de cada teatro de operações não são os mesmos. Os conceitos que restringem os comandantes de nível operacional a uma única abordagem são potencialmente perigosos. Os comandantes precisam de apoio para abordar seu problema operacional. É isso que o FM 3-0 e as MDO oferecem à Força. Os princípios das MDO são características positivas que um comandante deve buscar em operações ou campanhas, mas não são a resposta para o problema.

Os comandantes podem considerar as MDO incômodas porque elas reconhecem a natureza multipolar do mundo e como os métodos antigos podem não funcionar em situações novas. Ainda assim, as MDO são o rumo certo para o Exército porque obrigam todos os comandantes a refletir profundamente sobre seus respectivos ambientes operacionais e funções. Não se deve permitir que a identidade da Força se torne um obstáculo ou um impedimento para a mudança.35 O Exército deve se acostumar com o fato de que a doutrina fundamental aceita que, às vezes, o Exército não terá a primazia dentro da força conjunta. O Exército precisa de líderes apoiados pela doutrina capazes de desenvolver soluções mesmo quando o Exército é a força de apoio.

O FM 3-0 disponibiliza as ferramentas necessárias para o comandante, mas a descrição do que é vencer exige a publicação de conceitos operacionais conjuntos. Isso é fundamental para a dissuasão e para mostrar à Força o que é vencer.36 Os conceitos operacionais conjuntos não classificados garantirão aliados e parceiros, dissuadirão adversários e promoverão um entendimento comum na força conjunta. Os conceitos do Exército devem se encaixar nos conceitos conjuntos. O contexto é importante. O Combate Ar-Terra foi uma excelente doutrina que serviu bem ao Exército no contexto da Guerra Fria, com lições duradouras para os dias de hoje, mas foi uma solução para um problema específico. O Exército enfrenta problemas globais específicos, e as MDO fornecem aos comandantes de nível operacional a doutrina essencial para apoiar seus esforços.


Referências

 

  1. Office of the Secretary of Defense, 2022 National Defense Strategy of the United States of America (Washington, DC: Department of Defense, 2022), p. 2.
  2. Robert A. Doughty, The Evolution of U.S. Army Tactical Doctrine, 1946-76, Leavenworth Papers #1 (Fort Leavenworth, KS: Combat Studies Institute, August 1979), p. 46, https://www.armyupress.army.mil/Portals/7/combat-studies-institute/csi-books/doughty.pdf.
  3. Steven Erlanger, “With Russia’s Invasion of Ukraine, NATO Readies for Combat on Its Borders”, New York Times (site), 17 April 2023, https://www.nytimes.com/2023/04/17/world/europe/nato-russia-ukraine-war.html.
  4. John L Romjue, From Active Defense to AirLand Battle (Fort Eustis, VA: U.S. Army Training and Doctrine Command, 1984), p. 6, https://www.tradoc.army.mil/wp-content/uploads/2020/10/From-Active-Defense-to-AirLand-Battle.pdf.
  5. Ibid., p. 46.
  6. G. S. Isserson e Bruce Menning, The Evolution of Operational Art (Fort Leavenworth, KS: Combat Studies Institute Press, 2013), p. 26, https://www.armyupress.army.mil/Portals/7/combat-studies-institute/csi-books/OperationalArt.pdf.
  7. Doughty, Evolution of U.S. Army Tactical Doctrine, p. 40.
  8. David Berger, “Preparing for the Future Marine Corps Support to Joint Operations in Contested Littorals”, Military Review 101, no. 3 (May-June 2021): p. 8, https://www.armyupress.army.mil/Portals/7/military-review/Archives/English/SE-S21/SES21-Berger-Marine-Corps-Support.pdf.
  9. Milan Vego, Operational Warfare at Sea: Theory and Practice, 2nd ed. (New York: Routledge, 2017), p. 132; Joint Publication 5-0, Joint Planning (Washington, DC: U.S. Government Publishing Office [GPO], 2020), p. IV-20.
  10. Isserson e Menning, The Evolution of Operational Art, p. 27.
  11. Vego, Operational Warfare at Sea, p. 132.
  12. Ibid.
  13. Lester Grau, “Russian Deep Operational Maneuver: From the OMG to the Modern Maneuver Brigade”, Infantry 106, no. 2 (April-June 2017): p. 2, https://www.benning.army.mil/infantry/Magazine/issues/2017/APR-JUN/pdf/8)Grau-RussianDOM_txt.pdf.
  14. Josh Bedingfield, Kelsey Kurtz e Dan Warner, “The Human Dimension of War with LTC Nate Finney”, in The Operational Arch, 15 April 2023, School of Advanced Military Studies, podcast, https://podcasts.apple.com/us/podcast/the-human-dimension-of-war-w-ltc-nate-finney/id1660058003?i=1000609077724.
  15. Field Manual 3-0, Operations (Washington, DC: U.S. GPO, 2022), p. 2-6.
  16. Milan N. Vego, Joint Operational Warfare: Theory and Practice (Newport, RI: U.S. Naval War College, 2009), p. 132.
  17. Romjue, From Active Defense to AirLand Battle, p. 25.
  18. Aaron Kaufman, Continuity and Evolution: General Donn A. Starry and Doctrinal Change in the U.S. Army, 1974–1982 (Fort Leavenworth, KS: School of Advanced Military Studies, 2012), p. 47, https://apps.dtic.mil/sti/pdfs/ADA566186.pdf.
  19. Donn Starry, “Extending the Battlefield”, Military Review 61, no. 3 (March 1981): p. 49, https://www.armyupress.army.mil/Portals/7/online-publications/documents/1981-mr-donn-starry-extending-the-battlefield.pdf.
  20. Mark Mankowski, “Does the Australian Army Need Multi-Domain Operations”, The Cove, 9 November 2019, https://cove.army.gov.au/article/does-australian-army-need-multi-domain-operations.
  21. Huba Wass de Czege, Commentary on “The US Army in Multi-Domain Operations 2028” (Carlisle, PA: U.S. Army War College Press 2020), p. 5, https://press.armywarcollege.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1908&context=monographs.
  22. Ibid., p. 8.
  23. Charles Flynn e Sarah Starr, “Interior Lines Will Make Land Power the Asymmetric Advantage in the Indo-Pacific”, Defense One, 15 March 2023, https://www.defenseone.com/ideas/2023/03/interior-lines-will-make-land-power-asymmetric-advantage-indo-pacific/384002/.
  24. Xavier Brunson e Liam Walsh, “How I Corps Fights: Pivoting to Meet Threats in the Indo-Pacific”, Association of the United States Army, 19 April 2023, https://www.ausa.org/articles/how-i-corps-fights-pivoting-meet-threats-indo-pacific.
  25. Kevin Benson e James Greer, “War in 2050: The Army’s Operating Concept after Next”, Modern War Institute, 1 May 2023, https://mwi.usma.edu/war-in-2050-the-armys-operating-concept-after-next/.
  26. U.S. Marine Corps, Force Design 2030 Annual Update (Washington, DC: Department of the Navy, 2022), p. 1, https://www.marines.mil/Portals/1/Docs/Force_Design_2030_Annual_Update_May_2022.pdf.
  27. Ibid., p. 8.
  28. Nathan P. Freier e John Schaus, “INDOPACOM through 2030”, Parameters 50, no. 2 (15 May 2020): p. 28, https://doi.org/10.55540/0031-1723.1016.
  29. Berger, “Preparing for the Future Marine Corps”, p. 208.
  30. Wass de Czege, Commentary, p. 38.
  31. Ibid.
  32. Michelle Macander e Grace Hwang, “Marine Corps Force Design 2030: Examining the Capabilities and Critiques”, Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, 22 July 2022, https://www.csis.org/analysis/marine-corps-force-design-2030-examining-capabilities-and-critiques.
  33. Marine Corps Doctrinal Publication 1-0, Marine Corps Operations (Washington, DC: Headquarters, U.S. Marine Corps, 2018), p. 1-1, https://www.marines.mil/Portals/1/Publications/MCDP%201-0%20w%20Ch%201-3.pdf.
  34. Flynn e Starr, “Interior Lines”.
  35. Berger, “Preparing for the Future Marine Corps”, p. 208.
  36. Wass de Czege, Commentary, p. 38.

 

O Maj Christopher Salerno, do Exército dos EUA, é aluno do Naval War College Intermediate Course. É bacharel pelo Boston College e mestre pela Columbus State University. Entre suas atribuições, atuou como líder de pequenos grupos do Maneuver Captain’s Career Course e observador controlador/instrutor no National Training Center. Anteriormente, serviu na 1a Divisão de Cavalaria e na 10a Divisão de Montanha.

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