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O modelo de condições exploráveis

Estratégias para pesquisa e análise sociocultural

 

Nicole M. Laster-Loucks, Ph.D.

Benjamin A. Okonofua, Ph.D.

 

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Manifestação de comerciantes quenianos, em 28 de fevereiro de 2023

A história ressalta como os impérios foram construídos com base na exploração, desde os espanhóis e portugueses na América Latina até os franceses e britânicos na América do Norte, desde os britânicos na Índia até os russos na Sibéria, entre vários outros exemplos. Atualmente, o conceito de exploração é útil para entender e explicar como uma série de atores contemporâneos — incluindo estadistas, empresas, senhores da guerra e governos — interagem com uma série de condições socioculturais para atingir seus objetivos. Quando transformada em arma, a exploração é mais eficaz e menos onerosa do que a guerra para obter vantagem sobre os rivais ou para tornar os sistemas (por exemplo, governos, instituições, mercados, recursos) favoráveis aos seus interesses. Por exemplo, durante séculos, os países desenvolvidos têm aproveitado sua influência sobre países mais fracos para obter acesso a recursos naturais, resolver problemas de infraestrutura, obter mão de obra barata ou conduzir ou criar divisões étnicas e religiosas. A manipulação dos contextos sociais ajuda os exploradores a atingir seus objetivos particulares, incluindo o aumento da instabilidade, o enfraquecimento da governança local, o acúmulo de riquezas, o aumento do acesso local e a expansão de sua influência, concomitantemente à redução da influência dos rivais.

Entretanto, muito pouco foi feito para delinear os parâmetros da exploração apesar do seu caráter central na estratégia geopolítica. É possível ir mais longe a fim de identificar e compreender as áreas em que isso ocorre e como é expresso relativamente aos objetivos particulares dos exploradores. As poucas tentativas de examinar a exploração não a relacionaram a condições locais específicas ou à competição global por influência entre atores rivais. Assim, a forma como os atores exploram as condições socioculturais para promover seus interesses tem sido, em grande parte, uma questão de conjectura. Quando a exploração, as vulnerabilidades locais ou nacionais e a competição global foram relacionadas, isso foi feito por analistas experientes que trabalhavam com outras tradições analíticas, em análises pontuais que não exploravam totalmente os parâmetros de cada fator.

Nossa abordagem é direcionada à melhora da capacidade do Exército de identificar brechas socioculturais fundamentais, que serão relevantes para seus esforços de compreensão do ambiente operacional. Nem todos os analistas empregados pelo Exército podem ser igualmente hábeis para entender como os atores tiram proveito de suas posições proximais em relação aos atores mais fracos na busca de seus objetivos particulares, mas também não precisam ser gênios para aplicar nossa abordagem. Acreditamos ser necessária uma abordagem diferente de análise sociocultural a partir de um exame mais completo e da compreensão das condições sociais inerentes e dinâmicas que se prestam à exploração nacional e estrangeira. O Exército precisa de abordagens desenvolvidas para atender às suas necessidades — juntamente com as normas processuais correlatas — que viabilizem a análise sociocultural do ambiente operacional, atualmente paralisado por um foco indevido em métodos desatualizados ou trabalhosos.

O modelo de condições exploráveis (Exploitable Conditions Framework, ECF) associa as vulnerabilidades às atividades de atores motivados. A associação das vulnerabilidades às atividades de atores nacionais e estrangeiros motivados pode ter um enorme impacto sobre a segurança e a estabilidade, bem como sobre os objetivos regionais dos Estados Unidos da América (EUA). Essa abordagem não está dissociada de abordagens analíticas socioculturais mais gerais baseadas nas ciências sociais. No entanto, nossa ênfase reside, primeiramente, em identificar o conjunto abrangente de condições que são, potencialmente, exploradas e, em seguida, verificar o comportamento do ator em relação a essas condições e seus objetivos finais. Embora este artigo seja direcionado primordialmente a analistas socioculturais e de inteligência do Exército, acreditamos que possa ser útil para qualquer pessoa interessada no estudo de fenômenos sociais — culturais, econômicos, políticos, ambientais, educacionais, industriais, legais, médicos ou outros —, principalmente se seus estudos abordarem a interseção entre os elementos internos e externos e segurança e estabilidade.

O que é o modelo de condições exploráveis?

O ECF ajudará os analistas a compreender, analisar, explicar e prever como, por que e quando um concorrente global aproveitará sua influência relativa para obter uma vantagem sobre os rivais. Além disso, quanto mais soubermos sobre a desorganização que a exploração das condições causa no ambiente operacional, mais poderemos determinar eventuais impactos sobre os relacionamentos e interesses dos EUA e os de seus aliados. Considerar a conexão entre as condições e os atores (por exemplo, vários atores domésticos malignos, atores globais como a China e a Rússia) é uma forma de analisar o acesso e a influência dos EUA.

O ECF esboça o caminho lógico pelo qual as fragilidades internas de um país permitem que os atores nacionais e, principalmente, os estrangeiros atinjam seus objetivos particulares. O modelo, que independe de um usuário específico (user agnostic) — o que significa que qualquer tipo de ator, inclusive os EUA, poderia explorar as condições identificadas por meio dele —, foi desenvolvido em resposta a uma solicitação de uma unidade do Exército interessada em compreender as condições socioculturais em todo o mundo que contribuem para a instabilidade, principalmente as condições que os adversários dos EUA provavelmente explorariam em proveito próprio e em prejuízo dos EUA.

A identificação de um conjunto de condições socioculturais maleáveis que poderiam interagir para oferecer oportunidades de exploração deve ser questão de grande interesse dos analistas e planejadores do Exército. Como demonstramos neste artigo, a identificação de condições socioculturais exploráveis se adequa a situações empíricas e é compreensível tanto para analistas experientes quanto para leigos. O mais importante é que o modelo oferece entendimentos, explicações, interpretações e previsões relevantes.

Quando a Rede de Conhecimento Cultural Global (Global Cultural Knowledge Network) desenvolveu o ECF em 2019, o modelo tinha 24 condições.1 Em sua forma revisada atual, o modelo tem 12 condições que atendem a quatro critérios principais: (1) são fatores socioculturais, (2) são exploráveis, (3) são mensuráveis e (4) são detectáveis no nível operacional da guerra.2 Os quatro critérios sugerem que a análise das condições deve gerar conclusões mais comparáveis e possivelmente generalizáveis, embora possam ser específicas aos casos. Da mesma forma que o modelo inicial e as abordagens comparáveis, um analista que use o modelo talvez não precise retirar os dados do contexto para fornecer uma análise, pois as condições e os atores têm visibilidade e mensurabilidade intrínsecas.

Fundamentação lógica do modelo de condições exploráveis

O objetivo do ECF é ajudar o combatente a prever a variedade de condições no ambiente operacional que representem vulnerabilidades. Essas vulnerabilidades, se não forem resolvidas, oferecem oportunidades para que atores estrangeiros ou nacionais promovam seus interesses, e as consequências podem representar riscos à segurança e estabilidade no ambiente operacional e ao acesso e influência regional dos EUA. Mediante o ECF, um analista pode identificar as condições presentes em uma área ou região de interesse e determinar quais condições são inerentemente exploráveis e, em seguida, identificar quem está preparado ou posicionado para explorar essas condições e os possíveis efeitos do envolvimento do adversário com essas condições na estabilidade do ambiente operacional e nos interesses regionais dos EUA. Em última análise, um analista pode estabelecer o caminho lógico pelo qual problemas a princípio benignos no ambiente operacional se tornam desestabilizadores, bem como suas implicações para os EUA e seus parceiros.

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Perceber o ECF dessa forma implica que se trata de um modelo conceitual para estudar e analisar os padrões e as relações de exploração em um ambiente operacional. Como todos os modelos conceituais, o ECF explica de forma gráfica e narrativa as principais questões a serem examinadas — condições-chave, atores-chave e objetivos concorrentes — e suas relações importantes (veja a Figura 1). O construto relacional proporciona uma compreensão mais clara das consequências da relação condição-ator para a segurança e a estabilidade do ambiente operacional e das prioridades e objetivos regionais dos EUA.

Via de regra, a criação de modelos se baseia em alguns construtos gerais que abrangem uma imensidão de particularidades.3 Condições como “múltiplas soberanias”, “governo ineficaz” e “pressões demográficas” são os rótulos que conferimos a assuntos históricos relevantes, que incluem diversos acontecimentos, atividades e comportamentos distintos. Independentemente de quão indutiva seja a abordagem, qualquer analista do Exército deveria saber como agrupar ideias e acontecimentos relativos a cada construto em compartimentos distintos. Assim, cada construto (por exemplo, múltiplas soberanias) é um compartimento, e cada compartimento surge da teoria e da experiência. Definir compartimentos, nomeá-los e esclarecer suas inter-relações, incluindo suas conexões com atores definidos e um conjunto de objetivos, estabelece as bases de um modelo conceitual.4

Durante a análise ativa, a separação em compartimentos — usando as 12 condições socioculturais do ECF como referenciais ou construtos — obriga os analistas do Exército a serem seletivos (veja a Figura 2). No início, a seletividade exige que os analistas decidam quais condições são relevantes ao contexto de um ator, quais relações entre condições e atores são as mais significativas, quais consequências da interação de condições e atores são prováveis e quais informações adicionais são necessárias para prosseguir com a análise. Além disso, o modelo também permite que diversos analistas trabalhem em um único projeto e, nesse caso, o ECF os ajuda a examinar o mesmo fenômeno de forma a permitir uma futura análise cruzada de casos.

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Várias questões importantes nortearam o desenvolvimento do ECF. Sob uma perspectiva social, o ECF indaga quais condições sociais representam desafios extremamente indesejáveis para as populações e o Estado, cuja manipulação ou direcionamento poderia desorganizar a ordem da sociedade. Sob uma perspectiva estrutural, o ECF indaga quais lógicas, atitudes e práticas comportamentais e relacionais referentes às condições sociais irão, provavelmente, moldar a segurança e a estabilidade do ambiente operacional. Do ponto de vista da competição, o ECF indaga quais fatores provavelmente determinarão se, como e em que medida as potências globais rivais manipulam as condições do ambiente operacional em seu benefício. Em outras palavras, como as potências rivais podem orientar as condições sociais de forma a afetar as opções de competição estratégica dos EUA. Essas perguntas exploram as diversas fontes de competição dentro do ambiente operacional, a resiliência do ambiente operacional à competição e, o mais importante, as contradições sociais intrínsecas que aumentam as oportunidades de competição entre potências no ambiente operacional.

Compreendendo a explorabilidade

O conceito central do ECF é a exploração. A explorabilidade é a probabilidade ou a facilidade com que um ator, nacional ou estrangeiro, consegue usar uma vulnerabilidade e se beneficiar dela. O conceito de “benefício”, ou seja, o ganho que o ator obtém ao tirar proveito de uma condição, é fundamental nessa definição. Esse benefício ou ganho pode ser medido nos níveis tático, operacional ou estratégico.

Por exemplo, um amplo conjunto de trabalhos caracteriza os adversários dos EUA, especialmente a Rússia e, cada vez mais, a China, como envolvidos em atividades que reforcem sua influência em áreas nas quais os EUA têm, historicamente, uma vantagem.5 Para atingir seus objetivos, esses adversários, com a ajuda de seus parceiros e proxies, incluindo oportunistas não estatais não alinhados, buscam constantemente maneiras de aproveitar as vulnerabilidades do ambiente operacional, principalmente em áreas diretas de interesse em que esperam desafiar ou usurpar a influência dos EUA.6 Assim, em qualquer área de interesse global (e mesmo em áreas próximas), os atores adotam comportamentos específicos para aproveitar as oportunidades criadas por vulnerabilidades específicas, chegando, às vezes, a criar distorções nessas vulnerabilidades para torná-las mais exploráveis.

Isso implica que as condições do ECF são importantes, porém irrelevantes, a menos que um ator as use ou manipule para exercer influência. Os atores nacionais e estrangeiros transformam as condições em oportunidades para alcançar resultados importantes. O ECF contextualiza essa relação condição-ator, concentrando-se nas complicações que os atores introduzem em uma área. Há vários motivos pelos quais os analistas devem priorizar essa relação de exploração condição-ator ao analisar, explicar, prever e medir a explorabilidade, incluindo:

  • a crescente globalização, que está reduzindo o espaço e o tempo e conectando as comunidades locais com influências externas mais poderosas, em que a proximidade cada vez maior cria oportunidades e incentivos para que os atores externos se envolvam, mesmo no nível micro;
  • uma conceituação mais ampla das ameaças, incluindo o aumento drástico das atividades dos adversários em regiões em desenvolvimento com uma forte conexão histórica com os EUA, com o potencial de desmantelar a governança nacional, a estabilidade e a influência regional dos EUA;
  • as regiões em desenvolvimento estão se tornando áreas de competição global, o que pode minar um objetivo histórico da política externa dos EUA de isolar os países em desenvolvimento das consequências nocivas da rivalidade entre grandes potências; e
  • a metástase de queixas associadas a condições socioculturais a princípio comuns, o enxerto dessas queixas no cômputo nacional e o desvio manipulador da real fonte da queixa para implicar os EUA ou seus parceiros, a fim de obter acesso e influência vitais.

Essas preocupações destacam duas abordagens amplas para medir a explorabilidade de uma condição: a abordagem categórica e a abordagem contextual. A abordagem categórica calcula a explorabilidade de uma condição usando uma escala Likert, que oferece uma classificação da explorabilidade.7 A classificação corresponde à probabilidade de um ator encontrar e usar a vulnerabilidade em uma condição para minar a governança local ou nacional, desmantelar a segurança e a estabilidade e degradar a influência nacional ou regional dos EUA. Aqui, o analista avalia a probabilidade de exploração de “muito improvável” para “muito provável”. Nesse sentido, todas as vulnerabilidades relativas a uma condição têm explorabilidade categórica, e os planejadores e decisores do Exército dos EUA podem usar essa abordagem para priorizar a cooperação em segurança, os exercícios e o planejamento de operações de apoio à informação militar.

A abordagem contextual determina a explorabilidade da condição com base nas informações conhecidas a seu respeito. Por exemplo, o caminho das relações sociais, os vínculos do caminho com qualquer número de atores e a heurística da condição (ou seja, explicações ou entendimentos derivados da experiência histórica) podem fornecer uma compreensão de como as vulnerabilidades internas podem aumentar a exploração de uma condição no ambiente operacional com o potencial de minar a influência dos EUA. Assim, os analistas podem usar a abordagem contextual para avaliar o provável impacto da exploração nos sistemas de governança e na influência dos EUA.

Compreendendo a exploração

O ECF define a exploração como o esforço deliberado de um ator nacional ou estrangeiro, agindo sozinho ou em colaboração com outros, para obter uma vantagem de uma condição ao aproveitar sua proximidade com o ambiente operacional, manipular os fatores locais (por exemplo, relacionamentos) ligados à condição ou direcionar a condição ou percepção desta para obter benefícios. Normalmente, o ator utiliza uma série de recursos, incluindo elementos do poder nacional, para transformar uma condição a princípio benigna, porém potencialmente explosiva, em uma situação que o beneficie. Explorabilidade significa que o ambiente pode aceitar a exploração porque as condições são desejáveis para o ator ou atores que desejem aproveitá-las.

Compreender a explorabilidade pode ajudar a explicar a exploração, especialmente as relações proximais entre o ator e a condição que cria o caminho pelo qual a explorabilidade resulta em exploração. Atores poderosos, nacionais e estrangeiros, exploram regularmente as vulnerabilidades das condições, na medida em que as autoridades não conseguem cumprir os padrões mínimos convencionais de governança eficaz. Por exemplo, atores motivados exploraram a governança ineficaz, as múltiplas soberanias, as sociedades divididas e a escassez de recursos na República Centro-Africana (sob o comando do Presidente Faustin-Archange Touadéra), no Mali (sob o comando do Presidente interino Assimi Goïta), na Somália (sob o comando do ex-Presidente Mohamed Abdullahi Farmaajo) e no Sudão (sob o comando do Gen Div Abdel Fattah al-Burhan) para desmantelar a governança política e criar insegurança e instabilidade em benefício próprio.8 Da mesma forma, atores motivados exploraram as diferenças étnicas e religiosas (ou seja, sociedades divididas) para degradar a estabilidade e impedir que a Bósnia e Herzegovina se tornasse membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).9

A ideia, portanto, de que uma ou mais condições existem como vulnerabilidades que oferecem oportunidades de exploração amigável ou adversária é de enorme importância para a análise, teoria e políticas. Em termos de análise, explica a acessibilidade (ou seja, a proximidade das condições), a relevância (ou seja, a gravidade ou a importância) e a eficácia (ou seja, o sucesso ou fracasso) do esforço de um adversário para minar a governança local ou desafiar a influência dos EUA. Isso proporciona aos analistas um mecanismo para compreender e priorizar as ameaças decorrentes das condições locais com base no grau ou extensão de sua explorabilidade. Em termos de teoria, a explorabilidade contribui com novos insights sobre como os adversários priorizam as condições de exploração em diferentes níveis de governo e as medidas específicas que adotam para explorar as condições. Em termos teóricos e práticos, essa exploração apresenta consequências significativas ao minar a governança local, degradar a influência dos EUA e promover seus interesses particulares. Do ponto de vista de políticas, a compreensão da exploração como um conceito contribui para aprofundar o entendimento das atividades adversárias, que, de outra forma, seriam pouco transparentes, como ameaças à influência global dos EUA, e oferece contramedidas capazes de mitigar as ameaças e promover os interesses e a influência dos EUA.

Aplicando o ECF à análise militar

O ECF oferece um meio prático pelo qual os analistas podem incorporar a metodologia e lógica das ciências sociais à análise militar. Como um modelo para análise sociocultural, o ECF pode ser aplicado de três maneiras funcionais (veja a Figura 3).

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Primeiro, pode ser usado como uma ferramenta de organização para visualizar vulnerabilidades e efeitos desestabilizadores. Para essa aplicação, o ECF é usado no início da coleta e análise de dados para organizar os dados socioculturais. Dessa forma, o modelo ajuda os analistas a visualizarem e entenderem o ambiente operacional através da lente das condições exploráveis. Em particular, o ECF pode demonstrar como uma área pode estar vulnerável com base em suas condições de exploração.

Em segundo lugar, ele pode ser usado como uma ferramenta interpretativa para explicar a exploração no ambiente operacional. Aqui, o ECF é usado após a coleta e análise de dados para ajudar a entender a descoberta. Dessa forma, o ECF esclarece as condições mais prováveis de serem exploradas, por quem e para qual finalidade. Essa e a primeira aplicação são formas úteis de estender e expandir a visão do ambiente operacional e contribuir para a tomada de decisão militar.

Em terceiro lugar, pode ser usado como método para ancorar os analistas na análise sociocultural. Como método, o ECF é usado como uma técnica analítica e padrão que desenvolve habilidades de pensamento crítico para questionar suposições e opiniões, identificar mentalidades, estimular a criatividade e gerenciar a incerteza sobre a exploração do ambiente operacional. O uso regular do ECF pode permitir que os analistas do Exército estruturem o pensamento para enfrentar e resolver questões difíceis sobre vulnerabilidade e criar cenários de treinamento úteis que reflitam a exploração no mundo real.

Valor intrínseco do ECF

O ECF é um modelo simples que ajuda a revelar a vulnerabilidade e explicar a exploração. É um sistema de ideias que disponibiliza (1) uma imagem abrangente da sociedade e (2) uma maneira de refletir sobre o ambiente operacional.

ECF como imagem da sociedade. O ECF oferece uma perspectiva do ambiente operacional a partir de seus sistemas de choques. Um choque ocorre quando uma questão sociocultural específica desafia ou confronta as instituições e os mecanismos de manutenção da estabilidade de uma área. No contexto do ECF, os choques são mudanças relativamente súbitas na natureza das principais condições socioculturais que as tornam vulneráveis à exploração. Dessa forma, o ECF pode servir como um importante sistema de monitoramento, medição e alerta para que as partes interessadas detectem e acompanhem as mudanças que afetam a vulnerabilidade, principalmente as decorrentes da exploração.

Os efeitos da exploração podem incluir a incapacidade dos sistemas de governança de um Estado de canalizar recursos para atender às necessidades e/ou o desmantelamento das estruturas e coesão sociais. Essa incapacidade (de canalizar os recursos necessários ou de tratar do desmantelamento do Estado) pode levar à insegurança e instabilidade na área imediata. Há três maneiras pelas quais um analista pode monitorar uma mudança repentina nas condições socioculturais.

Monitorar a mudança na natureza de uma condição. Isso se refere a uma mudança significativa em uma condição, produzindo um efeito mais do que proporcional. Por exemplo, uma mudança significativa nas leis de extração mineral pode aumentar os lucros das companhias petrolíferas e impulsionar as atividades de extração de petróleo, mas também fortalecer a oposição ativa à extração de petróleo. Isso pode levar a um aumento manipulado da atividade militante que prejudica a produção de petróleo, agrava a insegurança e ameaça a estabilidade econômica e política. Assim, a mudança na condição (ou seja, a nova lei de extração de petróleo) torna o efeito das condições (ou seja, a escassez de recursos e a desigualdade econômica) sobre a sociedade mais importante quando explorado. Por exemplo, a extração de petróleo na Nigéria, que pode ser analisada sob o rótulo mais amplo do ECF de “escassez de recursos”, testemunhou pelo menos três choques relacionados que afetaram várias condições exploráveis:10

  • A descoberta de quantidades comerciais de petróleo em 1956 gerou uma grande receita inesperada e provocou agitações pelo controle de recursos (escassez de recursos), levou a uma guerra civil devastadora e aprofundou suspeitas e antagonismos entre as etnias nigerianas (sociedades divididas).
  • A degradação ambiental generalizada e incessante — um resultado direto da produção de petróleo (ameaças ambientais) — provocou a agitação civil, incluindo a atual violência militante no Delta do Níger (sociedades divididas).
  • O aumento impressionante dos preços do petróleo na década de 2000 ampliou as disparidades na receita gerada pelo petróleo (ou seja, bilhões de dólares) e as condições de miséria do povo do Delta do Níger (desigualdade econômica), bem como a completa devastação da ecologia dessa região (ameaças ambientais).

Monitorar a mudança nos mecanismos de absorção de choques de um governo. É a capacidade do governo de aceitar, gerenciar e neutralizar os efeitos nocivos dos choques (ou seja, a mudança na capacidade institucional de lidar com choques ou mitigar riscos). Por exemplo, a não reformulação pela Colômbia de suas políticas de segurança para reduzir sua dependência das Forças Armadas na garantia da segurança nas áreas rurais e permitir uma força policial civil mais forte criou uma lacuna de segurança que as redes ilícitas exploraram para promover seus interesses particulares, agravando a insegurança relacionada a gangues e drogas no país (governo ineficaz e redes ilícitas).11

Monitorar a mudança nas capacidades reativas da sociedade. Essa é a habilidade da sociedade — o povo (por exemplo, indivíduos, grupos e comunidades) — de manter a coesão e continuar a funcionar com uma capacidade anterior, apesar da mudança de uma condição ou de seus efeitos. Assim, a forma como a sociedade reage à exploração de uma condição pode piorar o impacto de uma condição explorada em uma área. Por exemplo, as comunidades dos países da África Ocidental afetadas pela variabilidade climática sofrem com a capacidade reduzida de mitigação dos efeitos do clima em sua economia (governo ineficaz e ameaças ambientais). Como consequência de sua capacidade reativa reduzida, elas foram facilmente manipuladas para se concentrarem no comportamento de vizinhos afetados de forma semelhante (por exemplo, fazendeiros, pastores) e menos nos fatores climáticos, o que aprofundou as suspeitas e os antagonismos e aumentou a hostilidade e a violência (sociedades divididas).12

Portanto, estabelecer uma visão de linha de base da sociedade é uma ação militar comum e um ponto de partida importante para o monitoramento da explorabilidade. O ECF serve como uma “lente” útil para observar a sociedade e seu potencial para a desordem vista através da relação ator-condição. Além disso, a imagem pode refletir a cristalização de condições mutáveis em desafios imutáveis, e o analista pode observar e monitorar essa metamorfose, incluindo seus efeitos.

O ECF como uma forma de pensar. Mais do que uma forma de ver a sociedade, mais do que um sistema de sinalização para alertar as partes interessadas sobre mudanças sociais importantes, o ECF oferece uma maneira de compreender a interação entre condições e pessoas envolvidas — um nexo modelo-ator. Os modelos costumam ser percebidos como estáticos e quase imutáveis. Entretanto, as condições do ECF assumem sua força devido aos comportamentos de atores que podem manipular ou direcionar uma condição ou um sistema de condições para criar um desafio mais complexo para a sociedade.

Portanto, é importante compreender a interação modelo-ator e suas consequências. O ECF ajuda o analista a prever a complexa interação entre uma condição e um ator ao forçar o analista a fazer perguntas ponderadas sobre o relacionamento. Por exemplo, se um analista tiver um compartimento com o rótulo “escassez de recursos” e, dentro dele, houver um subtítulo “comportamento”, o analista estará implicitamente fazendo perguntas sobre comportamentos relacionados à escassez de recursos. Suponha que o analista tenha uma seta bidirecional do compartimento “escassez de recursos” ao compartimento “sociedade dividida”. Nesse caso, está questionando como as pessoas que manipulam a escassez de recursos (ou são afetadas por ela) estão criando divisões na sociedade e, de forma recíproca, como as divisões na sociedade afetam o comportamento daqueles que manipulam a escassez de recursos (ou são afetados por ela). Perguntas como essas ajudam a operacionalizar o ECF e são uma tarefa essencial para que os analistas envolvidos com o ECF compreendam os fundamentos dessa interação modelo-ator.

Observe-se que não é apenas a natureza de uma condição que gera insegurança ou instabilidade; é a manipulação da condição por atores motivados que conduz à insegurança e instabilidade. Por exemplo, a condição de “sociedades divididas” não é inerentemente desorganizadora e pode não causar desordem. Torna-se desorganizadora e produz desordem quando os atores exploram a diferença para promover seus objetivos particulares. Essa utilização da diferença como arma, como a Rússia fez na República Centro-Africana, impede a qualidade transformadora da diferença para aprimorar os processos políticos, criar salvaguardas constitucionais e institucionais contra o autoritarismo e permitir a resolução (inclusive judicial) de divergências políticas.13 Em vez disso, as suspeitas entre os grupos divididos se agravam, a insegurança e a instabilidade se aprofundam e os objetivos regionais da Rússia se consolidam, limitando a influência dos EUA.14

Situar o modelo dessa forma significa que a análise deve levar em conta as duas grandes vertentes do ECF: a condição em si e a explorabilidade da condição. Ambas são fatos sociais distintos e muito diferentes que interagem para criar instabilidade. Podemos pensar nas condições como fatos sociais materiais e em como as condições são exploradas como fatos sociais imateriais. Embora o analista deva estar sintonizado com as condições materiais, deve estar igualmente preparado para lidar com os aspectos imateriais, incluindo os interesses, os pontos fortes, a ideologia e os recursos do ator.

Resumo e conclusão

O ECF é um modelo dedutivo que começa com algumas estruturas ou quadros de orientação (ou seja, as condições), extrai perguntas e, em seguida, começa a alinhar as perguntas com o quadro analítico e de amostragem apropriado (por exemplo, atores, acontecimentos e documentos podem ser amostrados). Em outras palavras, o ECF fornece ao analista os “compartimentos” analíticos preferidos para criar facilmente as setas relacionais à medida que interpretam, compreendem, explicam ou preveem fenômenos sociais no ambiente operacional. Os analistas usam o ECF para decidir explicitamente quais perguntas são mais importantes e como devem obter as respostas. Eles podem fazer uma análise melhor do ambiente operacional quando a estrutura analítica e as perguntas pertinentes, casos e instrumentos associados são explícitos, em vez de implícitos. Assim, o ECF permite e facilita uma melhor análise do cenário sociocultural do ambiente operacional e economiza tempo e recursos do Exército.

Ao receberem um conjunto de condições necessárias, que inferem algumas noções a priori sobre os fatores que têm o maior poder explicativo e preditivo, os analistas só precisam se concentrar em operacionalizar as condições por meio de perguntas de pesquisa cuidadosamente consideradas. Essas perguntas determinarão se as condições estão presentes ou ausentes no ambiente operacional, quem as está explorando (ou irá, provavelmente, explorá-las) e se isso teve um impacto na segurança e estabilidade do ambiente operacional ou na influência dos EUA. É importante saber como e por que vários atores exploram uma condição, pois evidenciam as relações sociopolíticas por meio das quais uma condição é transformada de um estado benigno em um estado desorganizador ou desestabilizador.

O ECF está surgindo como um quadro construtivo explícito na análise militar e de defesa. No entanto, analistas de diferentes áreas e do Departamento de Defesa sempre pensaram no ambiente operacional como um universo específico de forma, estrutura e interações, incluindo o universo sociocultural. Porém, seus esforços para entender o universo em que as Forças Armadas operam devem mudar à medida que esse universo altera seu caráter fundamental. Os tipos de saber antigos devem ceder lugar a novos. O ECF representa uma nova forma de pensar e conduzir a análise sociocultural do ambiente operacional em uma época de crescente competição entre potências globais com poder de combate equiparado e quase equiparado, bem como entre potências regionais e locais, e à medida que as arenas de contestação se deslocam cada vez mais dos centros antigos para os novos.

A análise sociocultural, portanto, deve enfatizar as condições sociais que favorecem a exploração e propor maneiras pelas quais o Exército pode mitigar os riscos resultantes da possível exploração de uma condição para os interesses dos EUA e missões do Exército em todo o ambiente operacional. Cada condição é um esquema conceitual que permite que os analistas descrevam processos sociais importantes, pelo menos por um tempo, até que esses processos sofram mudanças fundamentais. Basicamente, o ECF oferece um novo olhar para enxergar a realidade sociocultural do ambiente operacional e, igualmente relevante, para compreender essa realidade em um determinado momento e lugar.


Referências

 

  1. Global Cultural Knowledge Network (GCKN), Competition in 2035: Anticipating Chinese Exploitation of Operational Environments (Fort Leavenworth, KS: U.S. Army Training and Doctrine Command [TRADOC] G-2, 15 August 2019), p. 4, acesso em 24 abr. 2023, https://community.apan.org/wg/gckn/m/chinaproduct/411312.
  2. GCKN, “Exploitable Conditions Framework (ECF)” (Fort Leavenworth, KS: TRADOC G-2, 2021), acesso em 24 abr. 2023, https://community.apan.org/wg/gckn/m/toolsandmethodologies/411343.
  3. Matthew B. Miles e A. Michael Huberman, Qualitative Data Analysis: An Expanded Sourcebook, 1st ed. (Thousand Oaks, CA: Sage, 1991), p. 18.
  4. Ibid.
  5. Alan Kuperman, “Constitutional Reform and Violent Conflict: Lessons from Africa, for Africa”, Climate Change and African Political Stability Research Brief No. 15 (Austin, TX: Strauss Center, 2 July 1013), acesso em 3 abr. 2023, https://www.strausscenter.org/wp-content/uploads/research-brief-no.15_final-.pdf; Juan Pappier, “The Urgent Need to Reform Colombia’s Security Policies”, Americas Quarterly (site), 22 September 2020, acesso em 3 abr. 2023, https://www.americasquarterly.org/article/the-urgent-need-to-reform-colombias-security-policies/; Leif Brottem, “The Growing Complexity of Farmer-Herder Conflict in West and Central Africa”, Africa Security Brief No. 39 (Washington, DC: Africa Center for Strategic Studies, 12 July 2021), acesso em 3 abr. 2023, https://africacenter.org/publication/growing-complexity-farmer-herder-conflict-west-central-africa/; Eoin F. McGuirk e Nathan Nunn, “Transhumant Pastoralism, Climate Change and Conflict in Africa”, BREAD Working Paper No. 588 (Washington, DC: Africa Center for Strategic Studies, 4 May 2021), acesso em 3 abr. 2023, https://africacenter.org/security-article/transhumant-pastoralism-climate-change-and-conflict-in-africa/.
  6. Samuel Ramani, “Russia’s Strategy in the Central African Republic”, Royal United Services Institute for Defence and Security Studies, 12 February 2021, acesso em 3 abr. 2023, https://rusi.org/explore-our-research/publications/commentary/russias-strategy-central-african-republic.
  7. Com base em uma escala Likert de cinco pontos, composta por (1) muito improvável (muito improvável de ser explorada), (2) improvável (improvável de ser explorada), (3) neutro (nem provável nem improvável de ser explorada), (4) provável (provável de ser explorada) e (5) muito provável (muito provável de ser explorada).
  8. Joseph Siegle, “How Russia Is Pursuing State Capture in Africa”, Firoz Lalji Institute for Africa, London School of Economics, 21 March 2022, acesso em 18 abr. 2023, https://blogs.lse.ac.uk/africaatlse/2022/03/21/how-russia-is-pursuing-state-capture-in-africa-ukraine-wagner-group/.
  9. Baroness Helić, “Electoral Reform Proposals in Bosnia and Herzegovina Will Cement Ethnic Divisions”, Royal United Services Institute for Defence and Security Studies, 1 August 2022, acesso em 18 abr. 2023, https://rusi.org/explore-our-research/publications/commentary/electoral-reform-proposals-bosnia-and-herzegovina-will-cement-ethnic-divisions; Vesna Bojicic-Dzelilovic, “The Politics, Practice and Paradox of ‘Ethnic Security’ in Bosnia-Herzegovina”, International Journal of Security and Development 4, no. 1 (2015), https://doi.org/10.5334/sta.ez; Francesco Alicino, “Religions and Ethno-Religious Differences in Bosnia and Herzegovina: From Laboratories of Hate to Peaceful Reconciliation”, in Proceedings of the Conference: Twenty Years after Dayton, the Constitutional Transition of Bosnia and Herzegovina, ed. Ludovica Benedizione and Valentina Rita Scotti (Rome: LUISS University Press, 2016), p. 143-58, http://dx.doi.org/10.13130/1971-8543/7778.
  10. Kuperman, “Constitutional Reform and Violent Conflict”.
  11. Pappier, “The Urgent Need to Reform Colombia’s Security Policies”.
  12. Brottem, “The Growing Complexity of Farmer-Herder Conflict in West and Central Africa”; McGuirk and Nunn, “Transhumant Pastoralism, Climate Change and Conflict in Africa”.
  13. Ramani, “Russia’s Strategy in the Central African Republic”.
  14. Luke Harding e Jason Burke, “Leaked Documents Reveal Russian Effort to Exert Influence in Africa”, The Guardian, 11 June 2019, acesso em 18 abr. 2023, https://www.theguardian.com/world/2019/jun/11/leaked-documents-reveal-russian-effort-to-exert-influence-in-africa.

 

Nicole Laster-Loucks, Ph.D., é a Cientista Social Chefe da Global Cultural Knowledge Network da seção de inteligência (G-2) do Comando de Instrução e Doutrina do Exército dos EUA. Obteve seu Ph.D. na University of Texas at Austin. Serviu no Afeganistão em 2011-2012 e é a arquiteta-chefe do Modelo de Condições Exploráveis.

Benjamin A. Okonofua, Ph.D., é Gerente de Projetos de nível estratégico para avaliação, monitoramento e avaliação de cooperação em segurança na seção de Estratégia, Planos e Política (J-5) do Comando dos EUA na África. É especialista em assuntos sobre a África na Global Cultural Knowledge Network e professor adjunto da National Intelligence University. Recebeu seu Ph.D. da Georgia State University e é membro do conselho editorial da Sage Open.

 


República Centro-Africana

Explorada para se tornar um Estado cliente da Rússia

 
Mercenários russos fornecem segurança adicional para um comboio com o Presidente da República Centro-Africana, Faustin-Archange Touadéra, em 16 de fevereiro de 2022

A República Centro-Africana (RCA) é o principal alvo de exploração por parte de vários atores — principalmente a Rússia — porque possui diversas condições exploráveis, incluindo governança ineficaz, sociedades divididas, múltiplas soberanias e ameaças ambientais. Como resultado da intermediação do Presidente Faustin-Archange Touadéra em um acordo para o fornecimento de armas, mercenários e uma força de proteção pela Rússia em troca de acesso às minas de ouro e diamantes do país, Moscou tem permanecido ativo no país, culminando com a captura do Estado.

O pretexto para o acordo foram as contínuas lutas da RCA com grupos itinerantes que aproveitaram as condições exploráveis de sociedades divididas, múltiplas soberanias e ameaças ambientais para derrubar a segurança e a estabilidade. Assim, após inúmeras tentativas fracassadas de sanar a instabilidade intransigente, o regime de Touadéra cedeu à pressão russa para entregar o Estado a Vladimir Putin. Valery Zakharov, um russo, tornou-se Assessor de Segurança Nacional da RCA, e a captura pela Rússia do regime de Touadéra levou a França — aliada de longa data da RCA — a se retirar do país, promovendo ainda mais os interesses geoestratégicos da Rússia.

Consequentemente, o Grupo Wagner, a força paramilitar obscura da Rússia ligada à inteligência de defesa russa, enviou cerca de 2.000 mercenários ao país. Embora sua missão declarada na RCA seja apoiar a segurança e a estabilização do país, seu objetivo e suas atividades reais envolvem a segurança das minas e a manutenção do regime de Touadéra no poder, até mesmo manipulando as eleições de 2020 para esse fim. Nesse processo, os agentes do Grupo Wagner abusam rotineiramente dos direitos humanos, ameaçam integrantes das forças de paz da ONU e perseguem as vozes dissonantes.

As relações de exploração entre Moscou e o regime de Touadéra também aumentaram o ônus de governança sobre os cidadãos, agravando a corrupção e a insegurança e minando as liberdades civis. Além de seus efeitos em cascata sobre a governança e a sociedade, a exploração por Moscou da fraca governança na RCA também destaca o fato de que, depois que um explorador obtém acesso irrestrito a um país soberano, é quase impossível remover sua presença, o que torna a exploração da RCA pela Rússia significativa para o país e para o equilíbrio regional do poder nos próximos anos.

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Julho-Dezembro 2023