Ignorando o fracasso
O General DePuy e os perigos do escapismo entre guerras
Eric Michael Burke, Ph.D.
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Algumas das consequências mais impactantes da guerra decorrem da calibração incorreta dos preparativos, estratégia e táticas de um exército com as particularidades políticas e estratégicas de uma missão ou inimigo específico. Como advertiu Carl von Clausewitz, “o primeiro, o mais importante, o ato de discernimento mais decisivo” de qualquer comandante mais antigo é avaliar com precisão a natureza política dinâmica e o caráter estratégico de uma guerra, “não tomá-la por algo que não é ou querer fazer dela algo que, pela natureza de suas relações, é impossível que seja”.1 Por muito tempo, traduções errôneas e influentes dessa afirmação sugeriam que os conflitos podem ser categorizados em “modalidades” mais ou menos estáticas (convencionais, não convencionais, limitados, totais, etc.), ignorando a essência política e o dinamismo orgânico caótico do conflito humano que o autor original havia enfatizado. Por isso, há muito tempo, militares e acadêmicos consideram que a advertência de Clausewitz significa que um exército deve ter o tamanho adequado e estar preparado para uma “modalidade” específica de conflito que interpretam como iminente. No mínimo, costumam afirmar que os preparativos feitos para desenvolver ou “modernizar” uma força nos períodos entre guerras devem chegar a uma equação “menos errada” do que os possíveis adversários.2 Sem dúvida, nenhum comandante pode prever com exatidão que tipo de desafio está por vir. No entanto, um ponto cego predominante historicamente é a propensão das guerras a se transformarem fundamentalmente de uma “modalidade” para outra, mediante a troca caótica de golpes e contragolpes que as compõem coletivamente, derrubando os preparativos anteriores de ambos os beligerantes.
O novo Manual de Campanha 3-0, Operações (FM 3-0, Operations) do Exército, refere-se a essas mudanças como “transições”. As transições nas operações militares podem ocorrer entre contextos estratégicos (competição, crise ou conflito armado), tarefas (ataque, defesa ou estabilidade), fases operacionais ou Armas, Quadros e Serviços de uma campanha. Podem ocorrer de forma esperada, como quando um comando passa de um esforço principal para um esforço de apoio, durante mudanças na organização de tarefas ou ao transferir responsabilidades entre unidades. Também podem ocorrer de forma inesperada, forçando uma adaptação abrupta e, muitas vezes, drástica de uma modalidade de operação ou conflito para outro a fim de evitar desastres. Portanto, o planejamento, o treinamento e a antecipação de possíveis transições, em especial as de caráter potencialmente importante, representam uma responsabilidade imprescindível para os comandantes do Exército em todos os escalões.3 Clausewitz falou relativamente pouco, de forma explícita, a respeito das transições nos conflitos, mas seu paradigma operativo da guerra como uma atividade essencialmente caótica e imprevisível certamente implicava a probabilidade de ocorrência desse fenômeno.4
Embora atraente em teoria, a capacidade imaginária de muitos exércitos ao longo da história de evitar o desdobramento para certos tipos de conflitos ou de impedir a transformação de uma guerra de um tipo para outro sempre foi um ato de autoengano perigoso. O melhor que os líderes podem esperar é uma força preparada para gerenciar, enfrentar e se adaptar de forma eficaz a circunstâncias inevitavelmente em constante mudança, prevendo as principais transições mais prováveis conforme os objetivos designados, as estratégias nacionais e o ambiente operacional para o qual foram desdobrados. Apesar dessa realidade, as ideias inovadoras, os avanços tecnológicos, a reestruturação organizacional ou os novos conceitos operacionais têm, com frequência, cantos de sereia perigosos para os exércitos em épocas entre guerras, ansiosos por panaceias que lhes permitam evitar o que sabem ser suas fraquezas mais incômodas e aproveitar seus pontos fortes percebidos. Em vez de realizar análises extremamente honestas, dolorosamente minuciosas e desconfortavelmente abrangentes dos grandes reveses, os exércitos tendem a ignorá-los completamente ou, então, a se concentrar em como evitarão determinadas “modalidades” de conflitos na próxima vez. Muitas vezes, isso assume a forma de planos para vencer de forma decisiva qualquer conflito futuro tão rapidamente que a transição para um cenário indesejado se tornará impossível. Em outros casos, especialmente quando certos tipos de contingências inconvenientes parecem não chegar ao nível de uma ameaça existencial, os exércitos do período entre guerras fazem de conta que tais cenários são muito menos importantes ou urgentes do que outras alternativas, supostamente mais perigosas. Afinal de contas, por que se preparar para algo que não seja o pior possível? Tudo que pareça menos perigoso se resolverá por si só. Ou não?
Este último cenário se aproxima bastante da descrição da estratégia de desenvolvimento do Exército dos Estados Unidos da América (EUA) no início do período entre guerras, após a desastrosa Guerra do Vietnã. Devido às implicações de longo prazo das decisões tomadas durante um período tão influente, muitas das quais continuam sendo elogiadas por historiadores e militares como sucessos brilhantes, o Exército convive com suas consequências até hoje. À medida que a Força emerge da sombra da guerra no Afeganistão com algo muito aquém do que uma vitória brilhante para inscrever em seu estandarte, é hora de refletir sobre como as decisões e predileções de integrantes da alta liderança como o general William DePuy, primeiro Comandante do Comando de Instrução e Doutrina do Exército dos EUA (Training and Doctrine Command, TRADOC), colocaram em andamento uma tendência cultural quase indelével, em meados da década de 1970, que ainda ameaça a capacidade do Exército de aprender de forma produtiva com seus fracassos e superar suas vulnerabilidades históricas. Somente ao evitar o impulso da fuga impossível do que não se quer enfrentar é que qualquer exército pode se tornar a força mais resiliente, capaz e bem-sucedida possível. Os comandantes do Exército da atualidade têm uma segunda chance, extremamente rara, de evitar as mesmas armadilhas e acertar dessa vez.
O clube do “Nunca mais”
Em suas reflexões sobre a Guerra do Vietnã nas páginas finais de seu livro de memórias, A Soldier Reports (“Relatos de um soldado”, em tradução livre), o Gen William Westmoreland defendeu não apenas suas próprias decisões e ações como Comandante do Comando de Assistência Militar no Vietnã (Military Assistance Command–Vietnam, MACV), mas também as do Exército em geral, expressando o que se tornou quase um consenso entre os oficiais do Exército contemporâneo. “As Forças Armadas claramente fizeram o trabalho que a nação exigia e esperava delas”, argumentou, convencido de que os historiadores do futuro “refletiriam de forma mais favorável sobre o desempenho dos militares do que sobre o dos políticos e formuladores de políticas”.5 Os analistas da empresa Braddock Dunn & McDonald (BDM), encarregada pelo Exército em 1975 de elaborar sua única análise oficial da crise, discordaram da avaliação de Westmoreland. “Há méritos e culpas suficientes para compartilhar”, afirmaram.6
O conflito no Vietnã, em muitos aspectos, havia simplesmente se mostrado além dos limites da capacidade dos EUA. Embora os militares tenham se mostrado extremamente adaptáveis no nível tático, com muitos comandos abraçando os intrincados desafios de equilibrar a contrainsurgência com a necessidade de repelir a invasão de unidades comunistas da força principal, como argumenta o historiador Gregory Daddis, o complexo desafio estratégico e a “guerra híbrida” enfrentados pelas Forças Armadas dos EUA — principalmente as “limitações do que uma força estrangeira pode alcançar ao assessorar exércitos autóctones” — por fim se mostraram intoleráveis. Em última análise, os EUA “não conseguiram criar um exército, construir uma nação e lutar uma guerra ao mesmo tempo”, embora a missão exigisse exatamente a coordenação eficaz de todos os três objetivos.7 A dependência excessiva de táticas de “busca e destruição”, voltadas ao poder de fogo e criadas para serem empregadas contra inimigos soviéticos, apenas afastou ainda mais o sucesso estratégico.
Embora reconhecessem o caráter persuasivo dos argumentos em voga na época, enfatizando as ações sul-vietnamitas ou comunistas (e não as estadunidenses) ao explicar o resultado final do conflito, dado o foco nos EUA da análise da BDM, os autores procuraram abordar “o principal problema enfrentado pelo país: por que nosso poderio militar sobrepujante não poderia ser convertido em vantagens políticas e diplomáticas equivalentes na Indochina”?8 Afinal, como observou o Gen Bda DeWitt Smith, em julho de 1977, “Vencemos praticamente todas as batalhas, mas, de acordo com qualquer definição sensata de objetivos estratégicos, perdemos a guerra”. Para Smith parecia ser “absolutamente imprescindível” forjar um entendimento prático de como essa circunstância infeliz havia surgido.9
Os analistas da BDM acreditavam saber a resposta. Embora os combates e campanhas estejam entre as diversas ferramentas disponíveis aos comandantes encarregados da busca militar abrangente dos objetivos políticos, os enfrentamentos que se mostram “desnecessários e dispendiosos” podem acabar contribuindo para a derrota estratégica, mesmo que inicialmente se assemelhem a vitórias “no sentido militar tradicional”. Por outro lado, as operações consideradas derrotas no campo de batalha podem, paradoxalmente, “aproximar ainda mais um oponente determinado e inteligente de seu objetivo final”. Os oficiais estadunidenses testemunharam exatamente esse fenômeno na forma do ataque comunista quase suicida, no início de 1968. Apesar das perdas quase catastróficas sofridas pelas forças inimigas no campo de batalha, as implicações políticas da Ofensiva de Tet acabaram resultando em um benefício estratégico decisivo.10 Na verdade, os efeitos políticos drásticos decorrentes das baixas estadunidenses sofridas durante a ofensiva apenas exacerbaram os mais de três longos anos de “vitórias” comunistas menores, na forma de breves emboscadas nas montanhas ou de “milhares de vidas, membros e veículos destruídos por minas e armadilhas, sem nenhum inimigo à vista”. Esses eventos dificilmente justificavam a classificação como “batalhas” no léxico militar tradicional dos EUA, mas seu efeito estratégico cumulativo na formação do moral e da determinação tanto dos estadunidenses quanto dos sul-vietnamitas acabou sendo decisivo.11
Em sua análise final, os redatores da BDM atribuíram a derrota não apenas a uma “grave desconexão e incompatibilidade entre fins e meios” no esforço de guerra estadunidense, mas também às grandes diferenças entre uma “lógica fundamentalmente direta da liderança dos EUA” e um “pensamento sutil […] sofisticado” de seus inimigos comunistas.12 Enquanto o MACV atribuía os louros do passado às medidas convencionais de progresso mais apropriadas para operações de combate em larga escala contra um adversário com poder de combate quase equiparado, proporções de baixas, características do terreno “controladas”, etc., as autoridades comunistas mantiveram “uma visão mais ampla e de longo alcance, mais focada em ganhos e perdas políticas e psicológicas, [e] mudanças no impulso geral” no nível estratégico da guerra do que em combates individuais “vencidos” no nível tático.13 Os oficiais estadunidenses haviam superado seus oponentes, mas, no fim das contas, foram “superados no nível do pensamento”.14
O estudo da BDM sugeria que a elaboração de uma abordagem estadunidense bem mais abrangente para contemplar e abordar os aspectos políticos e psicológicos mais sutis da guerra traria grandes dividendos no futuro. Dada a lição do Vietnã de que “o poderio militar maciço dos EUA não era a melhor ou a única arma para o conflito do Vietnã, pelo menos da forma como foi empregado”, a questão parecia ser para onde ir a partir dali. Os autores se perguntaram: “As forças de combate dos EUA podem ser treinadas e condicionadas mentalmente para o tipo de guerra popular que foi travada na Indochina?” À primeira vista, considerando os hábitos de pensamento quase axiomáticos profundamente arraigados na psique militar estadunidense, a resposta parecia duvidosa. O “American Way of War” [“modo de guerra estadunidense”] — assim intitulado pelos autores —, decorrente da história, tendia a enfatizar a ciência em detrimento da arte da guerra, os aspectos físicos, temporais e espaciais em detrimento dos aspectos morais e psicológicos da estratégia, e as táticas de ação direta centradas no poder de fogo em detrimento de abordagens indiretas mais sutis.15 Uma maneira de combater esses hábitos de pensamento problemáticos — sugeriram os analistas em sua “Agenda para o futuro” — era buscar uma doutrina mais “ampla/flexível” que mudasse a tendência das Forças Armadas dos EUA de escrever e treinar para conceitos operacionais “estreitos/fixos” relevantes apenas para “modalidades” muito específicas de guerras e adversários.16 Acima de tudo, a questão premente parecia ser “como preparar e empregar melhor (as Forças Armadas)? E para que tipo de disputa(s)?” A última pergunta, claro, sugeria que o Exército teria, no futuro, o luxo de escolher exatamente “em que tipo de disputa(s)” lutaria.17
As conclusões dos analistas da BDM foram reproduzidas por uma minoria especialmente atenciosa e reflexiva do corpo de oficiais do Exército. Um mês após o acordo de cessar-fogo de janeiro de 1973 entre os governos dos EUA e do Vietnã do Norte, o Cap James Thomas, do componente da reserva do Exército dos EUA, redigiu um artigo para a Military Review, no qual expressava sua preocupação com a possível trajetória de desenvolvimento do Exército no pós-guerra. Seguindo a sugestão de pensadores estratégicos contemporâneos, como Robert Osgood e Roger Hilsman Jr., Thomas refletiu sobre os anos imediatamente após a crise da “guerra limitada” de 1950-1953, na Coreia. Após aquele pesadelo do início da Guerra Fria, muitos comandantes mais antigos do Exército desenvolveram uma clara aversão — na verdade, repulsa — à “ideia de limitar a violência internacional de modo a atender a fins políticos qualificados” no futuro. Eles achavam que, se a liderança política estadunidense convocasse as Forças Armadas a empregar a força no exterior, ela deveria se comprometer a permitir o emprego de todas as armas e táticas disponíveis para atingir os objetivos estratégicos de forma rápida e decisiva. Era preciso evitar operações “limitadas” que incluíssem um envolvimento confuso e aparentemente espinhoso em questões como contrainsurgência e construção nacional. Em sua opinião, nada — incluindo o uso de armas nucleares — deveria ser deixado de lado se os objetivos políticos fossem suficientes para justificar o uso da força militar. Na opinião de muitos oficiais do Exército, foi justamente esse obstáculo de ter de combater o inimigo comunista “com uma mão amarrada nas costas” que contribuiu para a derrota estratégica dos EUA no Vietnã.18 Se os objetivos políticos fossem qualificados, os presidentes e o Congresso não deveriam bater à porta do Pentágono. Thomas se referiu a esses oficiais como membros do “clube do ‘Nunca mais’”.19
Diferentemente de muitos de seus colegas, embora ele próprio fosse um veterano do Vietnã, Thomas entendia que a mentalidade que inspirava o clube do “Nunca mais” representava “um problema silencioso” que “se espalhava, como um tentáculo, por todo o Exército” e representava uma grande ameaça a uma Força que quase certamente seria desdobrada para outras “guerras limitadas” no futuro. “O passado recente se imporá ao futuro previsível”, advertiu os leitores, já que o “fato da guerra limitada como uma missão do Exército permanece”. Em vez de tentar ignorar ou evitar tais missões, ele acreditava que o Exército precisava tirar proveito da mudança de 1973 rumo a uma Força totalmente voluntária e adotar “mudanças em nossos procedimentos de treinamento […] concebidas para preparar nossos soldados psicológica e moralmente para o próximo engajamento limitado — caso nossos líderes eleitos assim determinem”. Afinal de contas, afirmou ele, “pode ser positivo ter uma alternativa ao que ocorreu duas vezes em nosso passado recente (na Coreia e no Vietnã)”.20
Na opinião de muitos oficiais do Exército, foi justamente esse obstáculo de ter de combater o inimigo comunista ‘com uma mão amarrada nas costas’ que contribuiu para a derrota estratégica dos EUA no Vietnã.
Embora seja difícil avaliar a influência do editorial de Thomas entre os leitores da Military Review, suas ideias repercutiram o suficiente no Ten Cel Donald Vought, outro veterano do Vietnã, para que redigisse uma carta ao editor em maio. Vought também percebeu que “um novo clube do ‘Nunca mais’ estava se formando” e ficou muito preocupado com o fato de que “os membros desse clube pareciam ser de graus hierárquicos mais elevados do que os defensores da opinião contrária”. O pronunciamento frequente de muitos integrantes dos graus hierárquicos mais elevados do Exército de que a Guerra do Vietnã havia “terminado e pronto” costumava ter “um toque de definitividade bíblica que eu duvido ser o caso”. A tendência de presumir que as guerras futuras envolveriam principalmente a manobra de grandes unidades de combate em operações convencionais levou Vought a “suspeitar que talvez não estejamos nos preparando para lutar a próxima guerra no estilo da última, mas no estilo da antepenúltima (Segunda Guerra Mundial)”. Embora parecesse difícil acreditar que, depois de sair ensanguentado e ferido de uma guerra tão longa, o Exército simplesmente se esforçaria para descartar “as lições aprendidas a um custo tão alto” e, em vez disso, procuraria “se dissociar dessa experiência desagradável”, Vought se preocupava com o fato de que esse escapismo “pode muito bem se manifestar na criação de um exército profissional que não seja mais capaz de lutar em uma guerra limitada do que o de 1960”. Pior ainda, se fosse assim, caso os inimigos dos EUA e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) se “recusassem a participar da luta armada de qualquer outra forma, quem então exerceria a maior influência?”, indagou diretamente.21
Oito meses mais tarde, os editores da Military Review publicaram preocupações semelhantes, redigidas pelo Ten Cel James R. Johnson, veterano com duas missões no Vietnã, que, na época, atuava como docente do Department of Strategy at the Command and General Staff College. Johnson percebeu que muitos de seus colegas oficiais avaliavam “o custo do desastre do Vietnã para as Forças Armadas” como tendo sido “grande demais e afirmam que as forças do Exército nunca mais retornarão a uma situação semelhante”. De acordo com essa percepção, muitos também afirmaram “que não há obrigatoriedade de educar e treinar os oficiais do Exército em questões de defesa interna e desenvolvimento”. Essa intromissão na contrainsurgência provou ser tudo, menos eficiente, declararam.22
Johnson não concordou. As afirmações de que “não havia mais Vietnãs” no horizonte e que, portanto, o Exército precisava se preparar apenas para operações de combate em larga escala “podem proporcionar uma sensação de conforto e bem-estar”, escreveu ele, mas “não se justificam nem pela experiência histórica, nem pelas condições atuais”. Afinal de contas, observou, o Exército havia participado de muito mais operações de baixa intensidade e de contrainsurgência ao longo de sua história do que de guerras convencionais. “Há poucos motivos para suspeitar que o futuro trará mudanças substanciais na proporção”, presumiu, e, portanto, embora “alguns militares possam, portanto, preferir estudar táticas convencionais e tecnologia de campo de batalha”, nem o passado nem a situação global atual justificavam tais hábitos. Se conflitos como o do Vietnã servissem de guia, parecia plausível a afirmação de que “a guerra popular prolongada anuncia um novo período de guerra com base em uma doutrina que enfatiza as pessoas em vez das máquinas”.23
Enquanto a maioria dos membros do clube do “Nunca mais” percebia uma atrofia alarmante das capacidades estadunidenses no enfrentamento das ameaças no meio e no limite superior do espectro do conflito, oficiais como Thomas, Vought e Johnson temiam que a experiência do Vietnã sinalizasse uma incapacidade perigosa das forças estadunidenses para competir de forma confiável em guerras “limitadas” e “populares”, do tipo que haviam enfrentado por mais de sete anos. “Os militares estadunidenses […] devem dedicar o mesmo tempo e seriedade ao estudo da Guerra Popular ao se prepararem para futuros conflitos”, insistiu Johnson. A doutrina vigente do Exército mostrou-se, lamentavelmente, inadequada para conflitos híbridos tão complicados, concentrando-se na “guerra nuclear de média intensidade, em que todos os combatentes usam uniformes, os civis são considerados meramente como possíveis obstáculos […] [e] as decisões se baseiam na inteligência do campo de batalha”. Em vez disso, a doutrina comunista da “guerra revolucionária” muniu os inimigos estadunidenses com “a capacidade dos fracos de derrotar os fortes” e, portanto, Johnson não viu “nenhuma razão para acreditar que as lições não seriam lidas pelos planejadores [inimigos] de guerras futuras”. Sem doutrina e treinamento adequados para isso, “como os militares enfrentam um inimigo que não depende de sistemas de armas táticas modernas”? Somente uma verdadeira revolução na abordagem do Exército para conceituar e treinar todas as suas unidades para operações no amplo espectro da guerra poderia solucionar o déficit.24
O novo Comandante do novíssimo Comando de Instrução e Doutrina do Exército dos EUA (U.S. Army Training and Doctrine Command, TRADOC), Gen William E. DePuy, discordou totalmente. Indiscutivelmente um dos membros mais fiéis do “novo clube do ‘Nunca mais’”, a extensa experiência de DePuy na Segunda Guerra Mundial e no Vietnã o conduziu a uma conclusão diametralmente oposta. “As unidades de tropas regulares dos EUA são particularmente inadequadas para o propósito de operações de ‘segurança’ em que precisam estar em contato próximo com a população”, observou. Por outro lado, as táticas centradas no poder de fogo eram adequadas para um oficial que, enquanto comandava um batalhão de infantaria na Segunda Guerra Mundial, considerava que sua função principal era escoltar observadores avançados de artilharia pela França.25 No Vietnã, seus soldados da 1a Divisão de Infantaria se mostraram especialmente hábeis em táticas de “busca e destruição” focadas em localizar e neutralizar unidades inimigas com poder de fogo sobrepujante. O historiador Richard Lock-Pullan observou que “DePuy percebia o Exército dos EUA como preparado e capaz de lutar apenas em guerras de força principal”, convencido de que “o Vietnã foi uma aberração e não um desafio fundamental à compreensão dos EUA sobre a guerra e o papel do seu exército”. Em vez disso, o Exército deveria “se preparar […] para o tipo de guerra que preferia”. Em 1973, o Chefe do Estado-Maior do Exército, Gen Creighton Abrams, encarregou-o de reconstruir todo o sistema de treinamento do Exército, redirecionar os esforços de desenvolvimento do Exército para sanar o que considerava ser um desgaste profundo das habilidades de combate relevantes para dissuadir e, se necessário, derrotar o inimigo soviético convencional na Europa, o que era exatamente o que DePuy pretendia fazer.26
“Um novo jogo”
Em parte devido a preocupações com a deterioração das capacidades do Exército em guerras de média intensidade como resultado da situação difícil e prolongada no sudeste asiático, Abrams criou em 1973 o Astarita Study Group para avaliar a situação atual da Força em relação ao que ele e a administração consideravam a ameaça estratégica mais urgente do mundo livre — a invasão soviética da Europa Ocidental.27 Embora admitisse livremente que a determinação de “um caminho para o futuro é cheia de armadilhas […] [e é], na melhor das hipóteses, uma ciência imprecisa, moldada mais por percepções do passado e do presente do que por visões do futuro”, a proposição do grupo de reorientar o Exército para a Europa foi reforçada por informações de inteligência dos EUA cada vez mais nefastas, que indicavam mudanças ameaçadoras nos desdobramentos soviéticos.28 Pelo menos cinco divisões blindadas soviéticas haviam se deslocado para o oeste, muitas das quais ostentavam os modernos carros de combate T-62 e T-72, bastante aprimorados. A maioria dos analistas considerava esses novos sistemas de armas superiores ao que a OTAN tinha em mãos para enfrentá-los em caso de invasão e, mesmo que estivessem errados, os comandantes mais antigos do Exército sabiam que os números elevados poderiam compensar quaisquer disparidades qualitativas ocultas. Abrams, DePuy e a maior parte da liderança do Exército reconheciam que um ataque soviético repentino significaria defender a Europa Ocidental apenas com as forças da OTAN imediatamente disponíveis, o que equivaleria a uma ação retardadora provisória até que a ajuda chegasse do exterior. Ninguém sabia quanto tempo isso levaria. No entanto, o possível preço que as forças da OTAN teriam de pagar se estivessem despreparadas parecia ter ficado bem claro na tarde de 6 de outubro de 1973, quando as forças de uma coalizão entre Egito e Síria invadiram as fronteiras israelenses para dar início ao que viria a ser chamado, entre muitos outros nomes, de Guerra do Yom Kippur.29
Ao sobrepujar em duas frentes as forças israelenses pegas de surpresa, os comandantes árabes esperavam assegurar objetivos táticos limitados e mantê-los por tempo suficiente para forçar a intervenção diplomática dos EUA, da União Soviética ou de outros aliados árabes de forma a mudar a situação política regional a seu favor. A vitória sobre o arrogante Estado judeu, ainda orgulhoso dos louros conquistados na Guerra dos Seis Dias de 1967, também poderia ajudar a restaurar o moral abalado das Forças Armadas egípcias e sírias.30 Em suma, a coalizão árabe buscou infligir “as maiores perdas ao inimigo” para convencê-lo de que a ocupação contínua do território tomado durante a Guerra dos Seis Dias “exige um preço alto demais a ser pago”.31 A estratégia de segurança israelense de intimidação seria diretamente ameaçada, o que os líderes árabes esperavam que abrisse caminho para “uma solução honrosa para a crise do Oriente Médio” e uma “mudança básica” na diplomacia israelense e estadunidense.32
O ataque surpresa do Egito foi lançado por cinco divisões e, em dois dias, alcançou a maioria de seus objetivos na margem leste do Canal de Suez. Armados com mísseis anticarro soviéticos mortíferos, uma ampla rede de mísseis antiaéreos avançados e, o mais importante, o fator de surpresa total, a infantaria e os blindados egípcios fizeram os combatentes israelenses atônitos retroceder e surpreenderam o mundo com seu rápido sucesso tático. Os líderes egípcios rejeitaram vários apelos das principais potências para um cessar-fogo, na esperança de maximizar seus ganhos territoriais e consolidar a mudança repentina no equilíbrio regional de poder.33 Embora vários oficiais egípcios temessem uma recuperação do poder de combate israelense, com o apoio dos EUA, caso as forças árabes avançassem além de seus pontos fortes ao longo do canal, os contra-ataques israelenses bem-sucedidos, viabilizados pelo desdobramento hábil de reservistas contra as forças sírias ao norte das Colinas de Golã, exigiram uma ofensiva egípcia renovada ao sul para aliviar a pressão sobre seu aliado do norte.34 Em 14 de outubro, após um atraso de vários dias, teve início uma segunda ofensiva, mas, dessa vez, os árabes foram repelidos de forma sangrenta.35 Dois dias depois, os blindados israelenses viraram o jogo em um avanço para o outro lado do Canal de Suez. Embora os líderes dos EUA e da União Soviética tivessem ameaçado uma intervenção militar em apoio aos beligerantes, as cabeças mais frias acabaram prevalecendo e alcançou-se um cessar-fogo. No fim da guerra, com baixas inferiores a 3 mil, as forças israelenses haviam contra-atacado muito além das fronteiras pré-guerra do Estado Judeu e rapidamente se aproximavam das capitais de ambos os seus inimigos árabes. Um exército de campanha egípcio inteiro foi cercado e, talvez o mais importante, nenhuma vida de civil israelense foi perdida. Quase 18 mil soldados da coalizão árabe foram mortos e mais de 8 mil foram capturados.36
Para muitos comandantes mais antigos do Exército, a guerra no Levante tinha todas as características de ‘guerra moderna’ que há tempos esperavam de um conflito na Europa Ocidental.
Para muitos comandantes mais antigos do Exército, a guerra no Levante tinha todas as características de “guerra moderna” que há tempos esperavam de um conflito na Europa Ocidental. As forças israelenses, em desvantagem numérica e armadas com equipamentos predominantemente estadunidenses, foram inicialmente repelidas de forma contundente pelos árabes armados com sistemas de armas soviéticos avançados. A necessidade de proteger cada centímetro do território israelense soberano, as implicações desastrosas da derrota em uma campanha inicial e a necessidade urgente de desferir um golpe decisivo antes da intervenção de potências estrangeiras que propunham um cessar-fogo desvantajoso coincidiam com as preocupações da OTAN na Europa.37 Mesmo assim, embora historiadores tenham sugerido há muito tempo que a Guerra do Yom Kippur funcionou como um verdadeiro alerta para um Exército dos EUA focado em sua situação complicada no Vietnã, na verdade, oficiais como DePuy já haviam decidido mudar o foco de volta para a Europa antes que as primeiras colunas árabes ingressassem no território israelense. Como demonstrou Saul Bronfeld, o próprio DePuy caracterizou a guerra como “uma desculpa maravilhosa […] para revisar e atualizar nossa própria doutrina”.38 Para DePuy e o clube do ”Nunca Mais”, ao contrário do fracassado atoleiro no Vietnã, a Guerra do Yom Kippur foi o tipo certo de guerra no momento mais oportuno que se possa imaginar.
Quando DePuy falou e escreveu sobre a necessidade de “atualizar nossa doutrina” à luz da Guerra do Yom Kippur e a necessidade do Exército de “recuperar o atraso na modernização, após perder uma geração de modernização durante a Guerra do Vietnã”, ele revelou uma forte suposição de que o conflito árabe-israelense era, de fato, representativo do futuro de uma maneira que a Guerra do Vietnã nunca havia sido, que se tratava de um “tipo” de guerra especialmente moderno e que, portanto, uma análise minuciosa dela (e, talvez mais exatamente, não do Vietnã) seria útil para melhorar a capacidade do Exército de enfrentar com sucesso as contingências no futuro próximo. Em um mês, Israel perdeu mais peças de artilharia e viaturas blindadas para o poder de fogo árabe de fabricação soviética do que todas as forças do Exército dos EUA mantidas na Europa. Uma “nova letalidade” parecia definir os assuntos no campo de batalha do Oriente Médio, e DePuy e muitos outros não podiam deixar de notar as semelhanças gritantes entre os confrontos entre árabes e israelenses e aqueles que previam que ocorreriam na Alemanha Ocidental.39
Obviamente, as semelhanças nas características táticas e, principalmente, técnicas do conflito dominaram essas comparações. Como fizeram com frequência no Vietnã, os comandantes no Exército dos EUA deram pouca ou nenhuma atenção aos contornos políticos, estratégicos ou mesmo operacionais da guerra.40 Na maioria das vezes, ignoraram os objetivos políticos fundamentalmente psicológicos da coalizão árabe que haviam anulado, de forma eficaz, as terríveis baixas que ela sofreu no campo de batalha, assim como os norte-vietnamitas antes deles. Também não reconheceram a relevância da incompatibilidade da doutrina israelense predominante com as circunstâncias estratégicas dinâmicas na região.41 No entanto, o conflito não apenas confirmou as noções preconcebidas de DePuy sobre a guerra moderna, mas também ofereceu “um meio de obter vantagem na negociação dos orçamentos do Exército e de convencer os generais de infantaria […] quanto à necessidade de mudança”, explica Bronfeld.42 Apesar da clareza de propósito de DePuy, foi significativa a resistência à sua reformulação míope da doutrina do Exército em resposta às lições da Guerra do Yom Kippur, principalmente por parte da liderança em Fort Benning.43
Oficiais da infantaria, como o Gen Bda Thomas Tarpley, então Comandante da Escola de Infantaria em Fort Benning, e o Gen Div John Cushman, escolhido por DePuy para o comando inaugural do novo Centro de Armas Combinadas (Combined Arms Center, CAC) em Fort Leavenworth, relutaram em aceitar a rejeição de DePuy às lições do Vietnã desde o início. Fortemente influenciados pelas operações predominantemente aeromóveis e de contrainsurgência que a Infantaria havia conduzido no sudeste asiático por quase uma década, ambos os oficiais tinham dificuldade em acreditar que a Guerra do Yom Kippur, fortemente centrada em blindados, havia demonstrado que tais operações eram agora, milagrosamente (e muito convenientemente para um EUA malsucedido), coisa do passado. A resistência da Escola de Infantaria costumava irritar DePuy, levando-o a condenar aqueles que chamava de “generais de infantaria” (embora ele próprio fosse da infantaria) por sua “mentalidade de quatro quilômetros por hora”. A Guerra de Yom Kippur foi uma guerra de blindados e infantaria mecanizada, explicou ele, completamente diferente dos métodos de combate do Vietnã ainda ensinados em Fort Benning. “Eles não entendiam”, contou DePuy mais tarde, o que fez com que sentisse a necessidade de “tirá-los daquela letargia”.44 Ele estava confiante de que as guerras futuras se assemelhariam muito mais à do Yom Kippur do que à do Vietnã, e não estava disposto a se desviar significativamente de suas prioridades. A noção de que uma guerra futura poderia conter o potencial de transição de uma para a outra, justificando assim uma preparação cuidadosa para ambas, não fez parte de suas considerações.
As visões de DePuy só se tornaram mais detalhadas após um Acordo de Exploração Israelense-Estadunidense assinado na primeira metade de 1974, autorizando a transferência de dados e equipamentos árabes capturados para análise pelos EUA. Naquele ano, diversos oficiais deslocaram-se sob ordens para o Levante para coletar os dados e formar suas próprias conclusões sobre as lições do conflito. Entre eles estava o Gen Don Starry, Comandante do Centro e Escola de Blindados do Exército dos EUA (U.S. Army Armor Center and School), em Fort Knox.45 Os frutos coletados nessas visitas e esforços de análise culminaram em uma série de relatórios sobre as lições da guerra, sendo o mais influente preparado pelo próprio DePuy, em fevereiro de 1975.46 No relatório, DePuy concluiu que as armas do campo de batalha moderno eram “muito mais letais do que quaisquer outras armas que já encontramos” e que era necessária uma “equipe de armas combinadas altamente treinada e capacitada” para superá-las.47 “Estamos em um novo tipo de jogo”, afirmou repetidamente. A guerra parecia demonstrar, um dia, que o Exército teria de “operar em um campo de batalha povoado por essas armas letais em grande quantidade e ainda assim cumprir a tarefa sem perdas catastróficas”.48 Fazer isso seria uma tarefa extremamente difícil, mas não impossível.
Acima de tudo, a mobilidade era fundamental. “Você não pode ficar estático”, advertiu. Os meios de armas combinadas precisavam ser coordenados de forma a suprimir as capacidades inimigas para facilitar uma guerra de manobras que culminasse “no ponto decisivo e no momento decisivo”. Os comandantes precisavam “enxergar o campo de batalha melhor do que o inimigo, para que saibam aonde e quando ir”.49 Como DePuy sabia muito bem, essa constância de inteligência relevante e a capacidade de “enxergar o campo de batalha melhor do que o inimigo” não poderiam ser mais diferentes do que muitos de seus leitores haviam experimentado pessoalmente no Vietnã e se preocupavam em enfrentar novamente. De fato, o próprio Starry caracterizou o conflito como “um tipo de guerra extremamente difícil e sem informação”.50
Ignorando esses escrúpulos sobre um tipo de guerra que logo abandonaria e, em vez disso, comparando os blindados modernos estadunidense e soviéticos, DePuy enfatizou a realidade alarmante de que “não temos nenhuma vantagem decisiva, nem eles”. Por isso, a guerra futura seria simplesmente uma questão do que se converteu em “proporções de mortes” aritméticas, que lembra bastante a infame contagem de corpos no Vietnã. “Quem tiver mais carros de combate no campo de batalha terá vantagem”, insistiu.51 O alcance ampliado e as capacidades de penetração dos canhões de carros de combate e mísseis anticarro soviéticos avançados significavam que, se as forças dos EUA “puderem ser vistas no campo de batalha, seriam atingidas”, alertou DePuy. “O que pode ser atingido, pode ser eliminado.”52 A única maneira de evitar esse destino sombrio consistia em dominar o uso do terreno e da ocultação ao se aproximar de posições inimigas e usar o carro de combate para levar o combate até o inimigo. Essa manobra magistral exigiria treinamento extensivo e o apoio de uma equipe de armas combinadas igualmente bem treinada.53 “O ambiente do campo de batalha moderno está se tornando mais complexo, mais letal e mais interativo do que nunca”, afirmou.54 Esse refrão viria a se tornar muito comum.
DePuy previu que as lições do conflito do Yom Kippur “determinariam as características necessárias em nossos novos sistemas”.55 Era importante que “nossas escolas, nossos desenvolvedores de combate e os envolvidos em treinamento se lembrassem dessas lições e as relacionassem com nossos conceitos”, explicou. “Tudo o que fazemos”, concluiu o general, ”deve estar relacionado a essas lições tão importantes, convergir para nossos conceitos e resultar nas melhores armas, melhores táticas e melhores técnicas, para que o Exército dos EUA possa vencer o primeiro combate da próxima guerra, em inferioridade numérica”.56 Foram ignorados os possíveis riscos inerentes a uma busca tão agressiva e obstinada de prontidão para uma contingência estratégica extremamente específica. As possíveis implicações caso “o primeiro combate da próxima guerra” ou, de fato, de qualquer conflito futuro, não seguisse o roteiro da Guerra do Yom Kippur, ou o que poderia acontecer caso essa guerra se transformasse ou passasse para um tipo completamente diferente, foram deixadas de fora do informe de DePuy.
“Não são […] os mais inteligentes”
Ao longo de sua carreira, DePuy permaneceu firmemente comprometido com o aumento do poder de combate nos escalões táticos mais baixos.57 Essa prioridade, forjada em suas experiências na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, influenciou todos os aspectos de sua abordagem da reforma militar. Veterano da 90a Divisão de Infantaria, notória pela má sorte, que sofreu perdas de 150% de seu corpo de oficiais durante a campanha de 1944 na Normandia, DePuy havia saído da guerra com pouco respeito pelas habilidades inatas de liderança dos subalternos estadunidenses. Quase todos os fracassos foram atribuídos a um treinamento inadequado antes do desdobramento.58 No coração das táticas de fogo e manobra do Exército — argumentou ele — estavam as habilidades aprendidas aliadas ao entendimento das capacidades do sistema de armas nas fileiras subalternas. Sem essas vantagens resultantes de instrução e exercícios, todas as diversas vantagens inatas dos combatentes estadunidenses seriam desperdiçadas.
Como ele tendia a interpretar sua experiência pessoal da Segunda Guerra Mundial como uma verdadeira condição sine qua non da guerra, conflitos mais complicados do ponto de vista estratégico, como a Coreia e o Vietnã, nunca se encaixaram perfeitamente em sua definição de guerra real, o que o levou a rejeitar prontamente a legitimidade desses conflitos. A Guerra do Yom Kippur, por outro lado, com sua concentração de carros de combate e manobras de infantaria mecanizada com poder de fogo, era exatamente o tipo de confronto que ele tinha em mente.59 Mais responsável do que qualquer outro indivíduo pela trajetória futura do treinamento e da doutrina do Exército, as particularidades da experiência pessoal de DePuy serviram cada vez mais de base para a abordagem de guerra de toda a Força. O general via pouca utilidade na teoria e estratégia militar eruditas no nível tático, no qual, a seu ver, o Exército mais precisava de uma reforma imediata. Por esse motivo, ele julgava que o Exército precisava passar da ênfase na educação militar — mais apropriada para as contingências complicadas da era da “Resposta Flexível” de Kennedy — para um treinamento militar voltado para a formação de unidades e líderes para sua própria e iminente Guerra do Yom Kippur na Europa.60
Embora inicialmente encarregado por Abrams de reformular um conjunto de questões de pessoal relativas à mudança para uma Força totalmente voluntária, a reforma e reconstrução total da doutrina e dos métodos de treinamento do Exército tornaram-se rapidamente o principal foco de DePuy como primeiro Comandante do TRADOC. Entendendo que a única maneira de preparar o Exército para o que acreditava estar por vir era mostrar o caminho por escrito, ele anunciou a expectativa de que todos os manuais de campanha do Exército seriam em breve atualizados e substituídos, alinhando cada um deles com seu conceito da missão principal da Força na Europa.61 De longe, o mais importante e influente dos manuais do Exército foram as sucessivas edições do FM 100-5, Operações (Field Manual 100-5, Operations), a doutrina operacional fundamental (capstone) da Força, que delineia sua forma de pensar sobre a natureza da guerra e seu papel nela. Atualizado pela última vez em 1968 para abordar as lições óbvias da guerra em curso no Vietnã, DePuy estava convencido de que era necessária uma nova edição amplamente reformulada para definir o tom e o padrão de todos os manuais subsequentes elaborados nos centros e escolas das Armas, Quadros e Serviços do Exército. O novo FM 100-5 seria mais do que um manual de campanha. Conforme a intenção de DePuy, seria um substituto para a revolução e uma boia salva-vidas para um exército que acreditava estar à beira do desastre na Europa.
Dada a grande importância da coordenação de armas combinadas que DePuy considerava ser o cerne das operações no novo campo de batalha, moderno e extremamente letal, o novo CAC do Gen John Cushman, em Fort Leavenworth, seria o principal responsável pela elaboração do novo manual. Assim, em dezembro de 1974, Cushman participou de uma conferência com DePuy em Fort A. P. Hill, orgulhosamente preparado para informar o Comandante do TRADOC sobre o que acreditava que, certamente, seria o próximo manual doutrinário fundamental do Exército. Infelizmente, o engenheiro formado pelo MIT que se tornou oficial de infantaria tinha uma mentalidade bem diferente da de DePuy, com uma inclinação intelectual acadêmica misturada com a convicção de que a melhor doutrina era a doutrina flexível, evitando regras rígidas no espírito das recomendações dos analistas da BDM e enfatizando a necessidade de juízo independente e raciocínio dependente do contexto por parte dos oficiais do Exército no terreno. Afinal, o Vietnã havia provado que as operações militares no amplo espectro do conflito descrito no FM 100-5 de 1968 exigiam um pensamento inovador quando o livro disponível não fornecia respostas imediatas. Dessa forma, a versão preliminar — extremamente concisa — do manual de Cushman caracterizava a guerra como uma “arte do homem pensante” que “nada tinha a ver com regras”. Ele também se opunha à ideia, tão proeminente entre aqueles que se impressionaram com a Guerra do Yom Kippur, de que os blindados e a infantaria mecanizada eram a chave para futuras vitórias. Não havia “sistemas de armas supremos”, adequados universalmente para todas as contingências possíveis no amplo espectro do conflito, afirmava a versão preliminar, o que significava que todas as ferramentas e técnicas deveriam continuar sendo consideradas.62
Ao contrário das expectativas de Cushman, DePuy ficou chocado. Toda a premissa da versão preliminar do manual desafiava todas as suas convicções sobre o Exército e o combate em geral. Ele acreditava que a guerra se baseava em princípios atemporais e “regras invioláveis” que emergiam naturalmente das capacidades quantificáveis específicas dos sistemas de armas. Além disso, o tipo de iniciativa necessário para a criatividade na resolução de problemas era extremamente raro entre os oficiais que ele conhecera ao longo de sua carreira, sendo que a maioria exigia instruções simplistas e diretas, estritamente prescritivas em sua intenção. Os militares precisavam de orientação passo a passo sobre “como lutar”, e não de abstrações mais adequadas a um seminário sobre teoria estratégica de uma academia militar, argumentou.63 Como afirmou o próprio Cushman, sua versão preliminar se concentrou, intencionalmente, em “como pensar sobre o combate”, diferentemente do manual de instrução estritamente prático que DePuy tinha em mente.64
Talvez o pior de tudo seja o fato de que nada na versão preliminar de Cushman prometia apoiar os esforços de aquisição do Exército, dada sua admissão tácita de que a Força não poderia prever com perfeição as contingências mais prováveis que ameaçavam a segurança nacional. Na opinião de DePuy, era preciso que os congressistas — controladores do dinheiro público — acreditassem que o Exército sabia exatamente o que estava por vir, e se fazia necessário um manual que desse essa impressão.65 Em suma, como observa Paul Herbert, DePuy pretendia elaborar um manual que fosse “ao mesmo tempo uma doutrina de combate e uma estratégia de aquisição”.66 Se o Exército pudesse conceber uma doutrina convincente, argumentou, “Então, devemos comprar as armas que fazem com que ela funcione e escrever os manuais que explicam como usar as armas que fazem com que ela funcione”.67 A possibilidade de que os objetivos políticos específicos de conflitos futuros não exigissem, em última instância, tais armas, assim como a recente crise no Vietnã havia exigido um conjunto de ferramentas fundamentalmente diferente do arsenal contemporâneo dos EUA, era praticamente irrelevante para ele. A transformação da Força começou com uma visão do futuro campo de batalha, combinada com descrições detalhadas de cenários táticos plausíveis. Cálculos minuciosos baseados nas capacidades conhecidas de forças amigas e inimigas ajudariam a identificar as deficiências e lacunas que precisavam ser sanadas por meio de jogos de guerra e pedidos fundamentados de aquisições ou financiamentos adicionais. Para DePuy, essa lógica era irrepreensível. Ela também estava totalmente ausente na versão preliminar do manual de Cushman.68
Em uma dura repreensão à versão preliminar de Cushman, DePuy descartou prontamente o manuscrito inteiro, agendando uma nova conferência na primeira metade de 1975 e encarregando Cushman de revisar o projeto por completo. Compreensivelmente contrariado, o comandante do CAC não obedeceu. Como resultado, talvez de acordo com seus planos desde o início, em abril de 1975 DePuy optou por formar sua própria equipe de elaboração doutrinária, um tanto informal, em Fort Monroe. Os oficiais escolhidos a dedo para a tarefa estavam em sintonia com seu chefe relativamente às necessidades de desenvolvimento mais urgentes do Exército. Sob sua supervisão direta, em um prédio no posto informalmente conhecido como “Boathouse”, puseram-se, diligentemente, a escrever a fim de concretizar a visão de DePuy.69 Embora muitos oficiais ansiassem por uma Força totalmente voluntária, com recrutas da mais alta qualidade disponíveis na sociedade estadunidense, DePuy continuou sendo um produto de suas experiências de carreira no Exército baseado no serviço militar obrigatório. “Nosso sistema não coloca as pessoas mais inteligentes em unidades de fuzileiros na melhor das guerras”, alertou. Os soldados de infantaria e de carros de combate que habitualmente servem nas unidades mais avançadas eram “ótimos rapazes, mas não são eloquentes” e, certamente, “não são intelectuais”. Eles precisavam de uma doutrina cuidadosamente redigida “para que conseguissem entender”. Instruiu a “turma do Boathouse” a elaborar o novo FM 100-5 com isso em mente e evitar as abstrações teóricas acadêmicas de Cushman. Eles deveriam se ater estritamente “à aritmética do campo de batalha”, disse-lhes, incluindo gráficos abundantes em toda a versão preliminar, retratando as principais ideias e estatísticas contidas no texto.70
Tudo no novo manual representou um profundo estreitamento de foco na abordagem oficial do Exército sobre como pensar e conduzir a guerra. Reorientou a Força exclusivamente para a preparação de apenas um cenário estratégico altamente específico. A nova doutrina foi projetada explicitamente para tirar “o Exército dos arrozais do Vietnã” e reintroduzi-lo “no campo de batalha da Europa Ocidental contra os integrantes do Pacto de Varsóvia”.71 O documento instava os líderes a se concentrarem nos imperativos prováveis de lutar em situação de inferioridade numérica contra capacidades inimigas comparáveis em uma “guerra curta e intensa”, na qual a primeira batalha muito possivelmente seria a última.72 Desde que conseguissem estar prontos para tal missão, os autores da doutrina presumiram que o Exército seria capaz de combater ameaças supostamente menores com apenas pequenas adaptações doutrinárias no terreno.73
Enquanto o FM 100-5 de 1968 começava com uma definição ampla das operações do Exército como “ações ou a condução de missões militares estratégicas, táticas, de serviço, treinamento ou administrativas”, DePuy afirmava em seu primeiro parágrafo que o “objetivo principal do Exército é vencer o combate terrestre — lutar e vencer em combates, grandes ou pequenos, contra qualquer inimigo, onde quer que sejamos enviados para a guerra”. O manual de 1968 explicava, desde o início, as intrincadas conexões entre os objetivos nacionais, a estratégia nacional e a estratégia militar, além de reconhecer as diversas formas que os conflitos poderiam assumir no que chamava de “o espectro da guerra”. Seus redatores alegaram que o Exército “deve ser capaz de conduzir operações sob cada uma ou todas essas formas de guerra em todas as áreas geográficas do mundo”. Embora tenha admitido que a Força “pode se ver em uma guerra em qualquer um dos vários lugares e situações”, enfrentando tanto as unidades regulares soviéticas quanto “unidades irregulares em uma parte remota do mundo menos desenvolvido”, o novo FM 100-5 de 1976 não ofereceu quase nenhuma instrução sobre como combater estas últimas, nem sobre as conexões cruciais entre objetivos nacionais, estratégia e operações. Muito pelo contrário, a doutrina de DePuy focada no combate concentrava-se em uma interpretação das operações militares estritamente em termos de “como o Exército dos EUA destrói as forças militares inimigas e alcança ou defende objetivos geográficos importantes”. Na verdade, o novo manual omitiu completamente as diretrizes sobre “operações de estabilização”, incorporadas à doutrina fundamental do Exército apenas em 1968 para refletir os desafios contínuos de contrainsurgência e as lições aprendidas no Vietnã.74
Em 1o de julho de 1976, o Chefe do Estado-Maior do Exército [equivalente a Comandante do Exército no Brasil], Bernard W. Rogers, aprovou o novo manual de DePuy, publicado em um fichário de três anéis, destacando seu foco tático e facilitando as revisões.75 Para garantir a conformidade com a nova doutrina e a padronização nas diversas escolas das Armas, Quadros e Serviços e centros de treinamento do Exército, no ano seguinte, o TRADOC de DePuy instituiu uma grande reforma na metodologia de avaliação de treinamento do Exército. O novo Programa de Treinamento e Avaliação do Exército definiu missões específicas e objetivos de treinamento tático para cada unidade e formação do Exército, incluindo listas de verificação padronizadas das tarefas e habilidades necessárias ao cumprimento de cada missão.76 Representando uma profunda melhoria em relação às medidas de treinamento baseadas no tempo que substituiu, o Programa de Treinamento e Avaliação do Exército revolucionou o rigor e a relevância doutrinária do treinamento em todo o Exército e lançou as bases do desenvolvimento de uma força de combate altamente profissional e significativamente mais competente do ponto de vista tático.
O desastre do Vietnã ofereceu ao Exército uma rara oportunidade de analisar criticamente suas evidentes deficiências de prontidão para episódios futuros semelhantes — como os que ocorreriam no Iraque e Afeganistão.
Ao mesmo tempo, devido à doutrina de foco restrito que esses métodos de treinamento foram projetados para apoiar, paradoxalmente também contribuíram para uma redução acentuada da flexibilidade tática das unidades treinadas e especializadas para realizar uma determinada missão ou função de combate. Pior ainda, ela se prestou ao surgimento de uma abordagem inerentemente tecnocrática, tanto em relação à preparação quanto à reflexão sobre a guerra, incorporada no novo FM 100-5.77 O compromisso de DePuy com essa filosofia de treinamento tão metódica combinava com sua paixão por capacidades de combate quantificáveis. Ele costumava mencionar como as tripulações dos carros de combate israelenses no Levante haviam alcançado “proporções de força” de um para cinquenta contra os blindados inimigos e como suas análises sugeriam que a artilharia moderna poderia reduzir o poder de combate das unidades blindadas de ataque em exatamente 33%.78 Certa vez, ele afirmou a necessidade de aumentar a capacidade profissional de cada batalhão do Exército em exatamente 500%, o que supostamente permitiria que dominassem pelo menos cinco unidades inimigas de tamanho comparável.79 A maneira exata de medir esse conjunto dinâmico de variáveis não foi mencionada, mas a lógica implícita da declaração (ou talvez a falta dela) foi muito significativa.
O historiador Richard Lock-Pullan observou como o desafio da defesa da OTAN “proporcionou a especificidade fundamental necessária para o sucesso da inovação, ao apresentar um problema concreto para o Exército, como instituição, resolver”. Embora seja, sem dúvida, conveniente para oficiais como DePuy, encarregados da “modernização” da Força, o foco míope em um desafio estratégico tão específico também introduziu seus próprios perigos extremos, que iam além de simplesmente ignorar outras possíveis contingências. Esse foi exatamente o caso quando — como de fato ocorreu nas décadas seguintes — o temido cenário de pesadelo nunca chegou a acontecer. Mesmo depois de reconhecer as grandes restrições orçamentárias da época, como afirma Ingo Trauschweizer, ainda “parece provável que o […] Exército poderia ter mantido maior expertise em pequenas guerras e contrainsurgências, mas isso foi deliberadamente negligenciado”.80 Além disso, como observam Trauschweizer e Lock-Pullan, as decisões de doutrina, treinamento e aquisições tomadas no início da década de 1970 definiram as bases para mudanças futuras que, inevitavelmente, colocaram o Exército em uma trajetória específica de desenvolvimento. Para o bem e para o mal (e a grande maioria dos historiadores tem se concentrado exclusivamente no primeiro caso), os futuros comandantes do Exército só poderiam se apoiar em uma base estrutural, ideológica e cultural estabelecida por oficiais como DePuy, produzida para ser exclusivamente relevante para dissuadir ou repelir as divisões blindadas soviéticas na Alemanha Ocidental.81 Optando por lidar com sua maior crise institucional da era pós-Segunda Guerra Mundial mediante o abandono radical das lições de sua experiência traumática no Vietnã, o Exército, em vez disso, voltou a se concentrar apenas no que seus comandantes mais antigos consideravam a missão “mais árdua” concebível, com base nas lições de um único conflito estrangeiro considerado suficientemente “moderno” para ser contemplado de forma relevante.82 Ao fazer isso, contribuiu significativamente para as dificuldades que enfrentaria no próximo meio século, pois foi forçado a se envolver em transições dolorosamente custosas e adaptações trabalhosas a uma enorme série de desafios fundamentalmente diferentes daqueles para os quais havia sido reformulado para enfrentar.
A “Defesa Ativa” de DePuy seria apenas a primeira em uma longa lista de reformas doutrinárias que acabaram levando ao famoso conceito de Batalha Ar-Terra e seus sucessores da era da Guerra Global contra o Terrorismo, às operações no amplo espectro e operações terrestres unificadas. Cada um deles, embora reconhecesse (muitas vezes por pura necessidade) a exigência de que as forças do Exército se preparem, treinem e planejem a condução de operações diferentes do combate em larga escala contra um inimigo com poder de combate quase equiparado, teve dificuldades para reformular com êxito uma base cultural estabelecida pelo TRADOC de DePuy na era imediatamente pós-Vietnã. Embora os oficiais do Exército tenham mantido por muito tempo uma afinidade problemática por pensar apenas nas raríssimas “grandes guerras” da história militar estadunidense, apesar de séculos de envolvimento em quase todos os outros tipos concebíveis de contingência, crise e missão, o desastre do Vietnã ofereceu ao Exército uma rara oportunidade de analisar criticamente suas evidentes deficiências de prontidão para episódios futuros semelhantes — como os que ocorreriam no Iraque e Afeganistão. Em vez disso, ao se permitir ser ativamente distraído por comandantes mais antigos determinados a desviar o olhar do embaraçoso “elefante na sala”, o Exército estava destinado a arcar, mais uma vez, com os custos sangrentos e elevados associados ao despreparo, quando seus maiores desafios do século XXI se recusaram a seguir as regras que a Força, há muito, havia aprendido a esperar.
Referências
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- A Study of Strategic Lessons Learned in Vietnam, EX-1.
- Ibid., EX-3.
- Ibid., EX-6.
- Ibid., EX-4.
- Ibid., EX-5.
- Ibid., EX-11.
- Não deve ser confundido com o influente estudo homônimo de Russell Weigley, de 1973.
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- Ibid., EX-9.
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- Ibid., p. 28-29.
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- Ibid., p. 56.
- Ibid.
- Ibid., p. 56-58.
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- Jensen, Forging the Sword, p. 44; FM 100-5, Operations (Washington, DC: U.S. Government Printing Office, 1976), p. 1-1.
- Herbert, Deciding What Has to Be Done, p. 9.
- FM 100-5, Operations (Washington, DC: U.S. Government Printing Office, 1968), p. 1-1, 1-2; FM 100-5, Operations (1976), p. 1-1, 1-2.
- Kretchik, U.S. Army Doctrine, p. 197.
- Herbert, Deciding What Has to Be Done, p. 38-39; Kretchik, U.S. Army Doctrine, p. 201.
- Linn, The Echo of Battle, p. 200-1.
- Herbert, Deciding What Has to Be Done, p. 80.
- Bronfeld, “Fighting Outnumbered”, p. 471.
- Trauschweizer, “Back to the Cold War”, p. 33.
- Lock-Pullan, “Inward Looking Time”; Trauschweizer, “Back to the Cold War”, p. 33, 35. Entre os trabalhos mais influentes que enaltecem os esforços redentores e transformadores de DePuy nessa era estão James F. Dunnigan, Getting It Right: American Military Reforms after Vietnam to the Gulf War and Beyond (New York: William Morrow, 1993); James Kitfield, Prodigal Soldiers: How the Generation of Officers Born of Vietnam Revolutionized the American Style of War (Washington, DC: Brassey’s, 1995); e, mais recentemente, Suzanne C. Nielsen, An Army Transformed: The U.S. Army’s Post-Vietnam Recovery and the Dynamics of Change in Military Organizations (Carlisle Barracks, PA: U.S. Army War College/Strategic Studies Institute, 2010).
- Poucas monografias recentes oferecem uma avaliação tão eficaz da postura do Exército de desprezar lições significativas de sua experiência no Vietnã quanto Learning to Forget: US Army Counterinsurgency Doctrine and Practice from Vietnam to Iraq, de David Fitzgerald (Stanford, CA: Stanford University Press, 2013).
Eric Michael Burke, Ph.D., é historiador de combate terrestre e instrutor da equipe de Staff Ride do Combat Studies Institute e da Army University Press no Combined Arms Center, em Fort Leavenworth. Serviu como Sargento de Infantaria em campanhas no Iraque e Afeganistão. É autor de Soldiers from Experience: The Forging of Sherman’s Fifteenth Army Corps, 1862-1863 (LSU, 2023), coautor de Enduring Success: Consolidating Gains in Large-Scale Combat Operations (AUP, 2022) e autor do livro em via de publicação Siren Songs: The Perils of Interwar Escapism (AUP, 2023).
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