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Repensando os Grupos de Combate da Infantaria do Exército dos EUA

Maj Hassan Kamara, Exército dos EUA

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Integrantes da 25<sup>a</sup> Divisão de Infantaria participam em um exercício no terreno de armas combinadas

Não devemos considerar qualquer coisa do passado como sagrada, exceto o conceito da vitória. A estrutura e a organização do nosso Exército, tanto a operacional quanto a institucional, podem mudar radicalmente, e devemos ser imparciais nessa mudança.

—Gen Ex Mark A Milley

As mudanças na guerra, no pensamento militar e na sociedade, desde os anos 40, bem como as projeções sobre o combate do futuro, invalidam substancialmente muitos dos argumentos, fatos e premissas fundamentais que deram origem ao grupo de combate (GC) tradicional da Infantaria, justificando, assim, uma reforma. Este artigo ressalta isso e recomenda uma alternativa para reformar o GC.

O Exército dos EUA adotou o GC de nove fuzileiros em substituição ao GC de 12 fuzileiros que usava durante a Segunda Guerra Mundial, com base nas discussões e nas descobertas da Conferência sobre Infantaria ocorrida em 1946, no Fort Benning, Geórgia1. Embora tenha se evoluído um pouco, o GC atual ainda é composto por 9 militares (duas esquadras de quatro integrantes, incluindo seus comandantes, subordinadas ao comandante do GC). O Gen Ex Robert B. Brown concorda que o GC tem permanecido fundamentalmente o mesmo ao longo do tempo, com pequenas alterações, ao declarar que “apesar dos novos equipamentos dos soldados e dos avanços tecnológicos que empregamos no Afeganistão e no Iraque, os grupos de combate operam da mesma maneira do que seus predecessores no Vietnã e na Coreia”2.

O especialista em mudanças John Kotter destaca a importância da avaliação e do controle de sistemas organizacionais, estruturas [como o grupo de combate] e conceitos para acompanhar o ritmo das mudanças no mundo atual. Kotter escreve, “O mundo está mudando em uma velocidade em que os sistemas básicos, estruturas e culturas construídos ao longo do último século não conseguem acompanhar as novas exigências impostas a eles”3. No caso do GC, a afirmação de Kotter sugere que os profissionais e acadêmicos militares devem analisar a estrutura do GC tradicional para verificar se ela continua relevante.

Então, quão relevantes são os argumentos, fatos e premissas fundamentais que deram origem ao GC em relação às evoluções na guerra, nos assuntos militares e na sociedade, desde 1946, bem como às projeções sobre o combate do futuro? Essas evoluções invalidam suficientemente muitos dos argumentos, fatos e premissas fundamentais que sustentam a configuração atual e o emprego dos grupos de combate de fuzileiros, justificando a necessidade de uma reorganização e reforma.

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Sendo assim, por que se concentrar no GC, que é apenas uma pequena parte da grande estrutura organizacional para o combate? Este artigo se concentra no grupo de combate de fuzileiros básico da Infantaria (não nas diferentes variações da Infantaria Stryker e blindada [corresponde à Infantaria mecanizada — N. do T.]) porque é a formação básica da força decisiva do futuro. Além disso, considerando as mudanças no combate desde que ele foi adotado, é provável que a configuração atual do GC passe por problemas desnecessários nas operações futuras, que podem ser mitigados se o GC for reconfigurado e readaptado antes de ser empregado (a Figura 1 mostra a configuração atual do grupo de combate de fuzileiros)4. Essa desconcertante possibilidade já está se manifestando conforme as mudanças continuadas na tecnologia e na guerra têm acrescentado novas capacidades, equipamentos (e.g., veículos aéreos não tripulados [VANT] e guerra eletrônica) e funções de combate à estrutura do GC tradicional.

Ao ressaltar essa preocupação relativa à base da força decisiva do futuro, esta análise ajudará a promover estudos subsequentes que irão analisar, criticamente, toda a estrutura da força tradicional ou a ordem de batalha do Exército dos EUA (incluindo configurações dos GC blindados, aeroterrestres, Stryker e aeromóveis) para avaliar o grau de obsolescência, baseada nas mudanças ocorridas no combate e no pensamento militar, desde que essa estrutura e ordem de batalha foram adotadas.

As dimensões da guerra (operacional, tecnológica, logística e social), de Sir Michael Howard, são usadas como unidades de análise para ressaltar como as mudanças nos assuntos militares e na sociedade ocorridas desde a criação do grupo de combate, bem como as projeções sobre as guerras futuras, dão motivos para uma reconsideração e mudança5. Este modelo, além de englobar as dimensões militares típicas (operacional, logística), invoca a consideração das dimensões social e tecnológica da guerra, que são tão intrínsecas à guerra quanto as dimensões operacional e logística. Pode-se argumentar que esse modelo é o melhor para ressaltar, de forma abrangente, como mudanças nos assuntos militares e na sociedade, desde os anos 40 — bem como as projeções sobre a guerra do futuro — justificam uma reavaliação institucional e uma reforma do GC.

As Dimensões da Guerra

Uma breve discussão sobre as dimensões da guerra é necessária para enquadrar e entender a subsequente análise. Howard emprega as dimensões da guerra como um modelo para analisar a estratégia militar, mas elas são, também, ferramentas adaptáveis, úteis e transformadoras da Força para avaliar, holisticamente, o impacto das alterações operacionais, logísticas, sociais e tecnológicas a longo prazo nas organizações de combate.

A dimensão operacional. Pela perspectiva de transformação da Força, a implementação cuidadosa do planejamento e das mudanças na dimensão operacional melhorará o emprego decisivo das forças e de suas capacidades contra um adversário. Porém, ao planejar e implementar as mudanças nas organizações de combate, as forças militares precisam assegurar que se concentrem em todas as dimensões da guerra, não apenas na dimensão operacional.

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A dimensão logística. Quando o modelo é usado para analisar a transformação militar, a dimensão logística ajuda a identificar e ressaltar as considerações de mudanças críticas na logística (abastecimento, manutenção, apoio de saúde, etc.).

A dimensão social. Quando o modelo das dimensões da guerra é aplicado à transformação da Força, a dimensão social destaca a interação das organizações de combate com as sociedades, culturas e ambientes (considerando superpopulação e megacidades) na execução das guerras e na tentativa de conclui-las. Essa dimensão também provoca perguntas como, “Quais serão as implicações para as organizações militares no caso de uma convocação militar em massa, que é característica da guerra convencional?”

A dimensão tecnológica. Pela perspectiva de transformação da Força, a dimensão tecnológica fomenta consideração e comprometimento aos desenvolvimentos tecnológicos que podem proporcionar a superioridade operacional contra adversários potenciais ao mesmo tempo que facilita a logística e a interação estrategicamente benéfica com a população local em uma zona de conflito. Segundo Howard, desde o Século XX, o papel da tecnologia “como uma dimensão independente e significativa, já não pode ser desconsiderado”6.

O Grupo de Combate e as Transformações das Dimensões da Guerra

A guerra e os assuntos militares têm evoluído consideravelmente desde 1946, apresentando transformações que motivam uma reavaliação e uma reforma na estrutura tradicional do grupo de combate da Infantaria. Ressaltadas dentro de cada uma das dimensões da guerra, tais descontinuidades mudam suficientemente e (na maioria dos casos) invalidam os argumentos, fatos e premissas por trás da criação do GC de infantaria.

O GC na Dimensão Operacional da Guerra

A Conferência sobre a Infantaria de 1946 foi organizada para estudar as experiências do Exército durante a Segunda Guerra Mundial pela perspectiva da Infantaria e compilar lições que ajudariam a superar os problemas organizacionais, de treinamento e de equipamentos, bem como estimular a inovação e a reforma institucional. O Cel A. O. Connor concordava com isso e, durante seu discurso na conferência, disse, “O propósito dessa Conferência sobre a Infantaria é chegar a decisões sólidas em relação à resolução dos muitos problemas atuais e futuros da Infantaria”7. Oficiais e praças de todos os teatros de operações da Segunda Guerra Mundial participaram da conferência. Os participantes foram organizados em comitês; o Comitê A se concentrou sobretudo nos equipamentos, enquanto o Comitê B — sob a liderança do Gen Bda James M. Gavin — focou principalmente nos assuntos organizacionais. Naturalmente, a doutrina foi debatida extensivamente nos dois comitês. Os comitês votaram nas propostas de transformação da Força, que foram apresentadas no relatório final da conferência ao Comandante da Escola da Infantaria — Gen Bda John Wilson O’Daniel, o “Mike de Ferro”.

A base do Grupo de Combate Tradicional. O Comitê B recomendou mudar o GC de 12 fuzileiros, da era da Segunda Guerra Mundial, para um de nove fuzileiros com base em argumentos relacionados ao comando e controle; sobrevivência organizacional; e fogos e manobra.8 O GC de 12 fuzileiros usado durante a Segunda Guerra Mundial incluía um comandante, um subcomandante, uma peça de arma automática composta por três combatentes (atirador de metralhadora, assistente do atirador e remuniciador) e sete fuzileiros, dois dos quais eram designados como esclarecedores (veja a Figura 2)9. O GC proposto de nove fuzileiros incluía um comandante, dois esclarecedores, um atirador de arma automática (operador de metralhadora), um assistente do atirador e quatro fuzileiros (incluindo um granadeiro)10. O comitê propôs a nova organização do GC porque acreditava que essa era a quantidade máxima de militares que um comandante de GC podia controlar, durante o combate.

A conferência definiu o GC como “um grupo de praças organizado como uma equipe: a menor unidade tática, consistindo em apenas quantos homens que um comandante possa comandar facilmente no campo de batalha”, e com base nessa definição, ela escolheu “limitar o tamanho do GC ao número de homens que um comandante possa controlar pessoalmente com sinais verbais ou com a mão”11. No seu relatório, o Comitê B declarou claramente que “um homem sob condições favoráveis não pode controlar mais do que oito homens no campo de batalha”12.

A sobrevivência do GC como uma organização de combate exposta a alto atrito foi outro fator por trás do recém-proposto GC, mas foi secundária em relação ao comando e controle. Os participantes da Conferência da Infantaria observaram que os GC operavam tipicamente com números abaixo do efetivo completo durante a Segunda Guerra Mundial e buscou garantir que qualquer mudança no GC de 12 fuzileiros permitisse que ele fosse capaz de sobreviver e manter efetividade após sofrer um pouco de atrito. Coerente com esse fundamento lógico, o comitê decidiu que o GC de nove homens era a estrutura que tinha o maior potencial de sobrevivência que um comandante de GC podia controlar com sinais verbais e com a mão durante o combate. Em outras palavras, os participantes da conferência concordaram em sua maioria que o GC proposto, de nove homens, embora menor, ainda seria capaz de apoiar as manobras de pelotão, depois de passar por algum atrito no campo de batalha13.

Além disso, com base na sua experiência obtida durante a Segunda Guerra Mundial, os participantes da Conferência de Infantaria acreditavam que a menor unidade capaz de fogos e manobras orgânicos era o pelotão. Os proponentes do novo GC — que eram na maioria do Comitê B — argumentaram que durante a Segunda Guerra Mundial “o grupo de combate de fuzileiros nunca empregou manobras táticas durante o ataque, i.e., os elementos Able, Baker e Charlie [do velho alfabeto fonético, significando os aspectos básicos — N. do T.] de esclarecedores, base de fogos e manobra”14. Durante seu discurso sobre a organização da Infantaria, Connor declarou que “as guerras são vencidas pelos pelotões” e acrescentou que “no combate, o fogo e movimento é um trabalho do pelotão”15. Subsequentemente, os participantes da conferência consideravam que o GC tinha capacidade de fogo e manobra apenas incluído no pelotão — ou estabelecendo uma base de fogos para apoiar a manobra de outros GC dentro do pelotão, ou manobrando como um todo, enquanto outro GC proporciona apoio de fogo. Muitos dos participantes da conferência, especialmente aqueles no Comitê B, não acreditavam que o GC era capaz de realizar fogo e manobra no nível grupo de combate (uma esquadra apoiando as manobras da outra esquadra, com os fogos). Assim, eles racionalizaram que era desnecessário manter o GC de 12 fuzileiros devido à sua maior capacidade de fogo e manobra.

Integrantes do 501o Regimento de Infantaria Paraquedista disparam um morteiro de 81mm para apoiar militares afegãos

As transformações desde 1946 e as preocupações futuras. Muita coisa tem mudado na dimensão operacional desde 1946 que invalida os argumentos, fatos e premissas mencionados anteriormente para a adoção do GC de nove homens. Em termos de comando e controle, os equipamentos modernos de comunicação pessoal disponíveis aos infantes hoje em dia fazem com que seja possível para os comandantes de grupo de combate se comunicar e orientar os comandantes subordinados e — se necessário — qualquer integrante do GC. Capacitados pela tecnologia, por comandantes de esquadra capazes e pelo amadurecimento da filosofia do Comando de Missão, os comandantes de GC da atualidade podem controlar as manobras de mais de oito homens. Além disso, as ferramentas que ajudam a obter o conhecimento da situação disponíveis aos militares, sob iniciativas como o programa Warfighter Information Network–Tactical, possibilitam que comandantes possam controlar as manobras de formações bem além dos alcances verbais, visuais e dos sinais com a mão16.

Embora considerado irrelevante durante a Conferência de 1946, o fogo e manobra de nível GC é uma parte integral das manobras de Infantaria nos dias atuais e as melhorias obtidas na precisão do tiro pelos adversários dos EUA de poder de combate equiparados parecem exigir ajustes para garantir o emprego do GC como a menor unidade principal de manobras em batalhas no futuro. Esse último exigiria uma expansão do tamanho do GC para aumentar os fogos durante manobras e invalidaria qualquer necessidade de manter o GC pequeno para que possa ter mais mobilidade, como um elemento monolítico único, no fogo e manobra do pelotão.

Com respeito à dimensão operacional, os argumentos, fatos e premissas fundamentais para a criação do GC de nove fuzileiros estão desatualizados ou invalidados. Em outras palavras, as preocupações da Conferência sobre a Infantaria de 1946 que levaram ao desenvolvimento da estrutura do GC tradicional têm sido invalidadas, em grande medida, pelas mudanças na guerra, nos assuntos militares e na sociedade. Isso exige uma reavaliação total da sua estrutura e sua subsequente reforma.

O GC na Dimensão Logística da Guerra

Como mencionado anteriormente, essa dimensão trata do recrutamento, dos equipamentos e dos aspectos de sustentação do esforço de guerra. Pela perspectiva de transformação do GC, se concentra na alocação de pessoal, no equipamento e no ressuprimento.

A base do Grupo de Combate Tradicional. Com respeito à transformação do GC, a alocação de pessoal e os equipamentos eram os aspectos predominantes dessa dimensão durante a Conferência de Infantaria de 1946. Em termos de alocação de pessoal, a integração de substitutos durante o combate parecia ser a principal preocupação logística que sustentava a recomendação de um GC de nove homens. A logística do GC em termos de apoio continuado (suprimentos, manutenção, etc.) não parecia ser parte do diálogo da conferência, o que era compreensível porque os comandantes de Infantaria na época tinham uma perspectiva centrada no pelotão para as operações de pequena unidade.

Os participantes da conferência pareciam gravitar em torno do GC de nove homens porque eles raciocinaram que seria mais fácil para novos recrutas e substitutos entenderem e lutarem em um GC menor. Os participantes estavam influenciados em grande medida pela sua observação, em tempos de combate, da dificuldade experimentada pelos graduados oriundos do alistamento em liderar o GC de 12 fuzileiros durante a Segunda Guerra Mundial. O consenso parecia ser manter a estrutura do GC simples, com nove pessoas, para que os recrutas e os substitutos de um exército mobilizado em massa pudessem rapidamente entender e lutar dentro da nova organização, no combate. O Marechal Omar Bradley citou essa preocupação durante sua palestra na conferência. Bradley apoiou a recomendação para o GC de nove homens, citando observações sobre os problemas dos sargentos que não eram de carreira que tinham que assumir o papel de comandante de grupo de combate devido ao alto atrito. Ele disse, “Com a promoção rápida devido às baixas, encontramos, às vezes, com pessoas em comando dos grupos de combate que têm bastante dificuldade em comandar um grupo de combate de tal tamanho”17.

As transformações desde 1946 e as preocupações futuras. A guerra, os assuntos militares e a sociedade têm evolvido suficientemente com respeito a essa dimensão para minar o fundamento lógico para a criação do GC de nove homens. Restringir o GC a nove pessoas para que seja mais fácil integrar os conscritos, no caso de uma mobilização em massa, já não é um argumento válido. Além do treinamento prático em campanha, que é tipicamente intensivo em termos de recursos (e.g., munição, combustível) e, assim, não podendo ser realizado frequentemente, o Exército atual tem simulações de realidade virtual que utiliza para o treinamento. Pode-se argumentar que esse método de treinamento econômico capacita o Exército a adestrar os soldados com mais efetividade do que podia durante a era da Segunda Guerra Mundial, porque pode proporcionar a eles a prática continuada (repetida) nos ambientes de combate imersivos e simulados. Isso ajuda a mitigar a preocupação que o Exército seria menos capaz de treinar e integrar os conscritos, se o GC fosse aumentado.

O assunto de ressuprimento no nível GC, embora ausente do diálogo da Conferência de Infantaria de 1946, pode crescer e dificultar a infraestrutura logística do Exército devido à aumentada dispersão de forças — possivelmente até o nível GC — nos campos de batalha do futuro. Por exemplo, os desenvolvimentos em sensores, seleção de alvos e fogos precisos de longa distância por potenciais adversários equiparados em poder de combate provavelmente provocarão a necessidade de aumentada dispersão das forças dos EUA, nos campos de batalha do futuro.

O GC na Dimensão Social da Guerra

O alistamento em massa foi um importante fator para a vitória dos EUA na Segunda Guerra Mundial. As fileiras do Exército dos EUA engrossaram relativamente rápido com cidadãos-soldados que eram extremamente inexperientes, em comparação com soldados regulares, mas que estavam ávidos para treinar e lutar.

A base do Grupo de Combate Tradicional. A experiência em tempos de guerra com o treinamento e a integração dos conscritos no Exército Regular compeliu muitos dos participantes da Conferência sobre a Infantaria de 1946 a exaltarem o GC menor, de nove homens. Com base em suas próprias experiências pessoais, esses veteranos acreditavam que seria mais fácil treinar e integrar os conscritos ao novo GC de nove homens do que ao GC de 12 homens, da Segunda Guerra Mundial, simplesmente porque o comando e controle dos conscritos inexperientes seria melhor no GC menor. Assim, os participantes escolheram o GC de nove homens.

As transformações desde 1946 e as preocupações futuras. Graças às capacidades inerentemente maiores de aprender na era da informação, pode-se argumentar que o Exército está mais capaz, hoje em dia, de efetivamente treinar conscritos no caso de uma mobilização em massa para uma guerra do que estava na ocasião da entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial. Isso elimina a necessidade de manter o GC com nove pessoas para melhor ajudar o civil comum alistado a aprender rapidamente como ele opera. Além disso, a Tecnologia da Informação — na forma de jogos e de mídias — tem exposto o povo americano ao combate em um nível muito maior do que experimentava durante os anos entre guerras (o período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial). Graças à tecnologia, o jovem norte-americano comum no Século XXI tem, na média, gastado mais tempo em algum tipo de combate aproximado simulado (jogos, realidade virtual, paintball, etc.) do que seu equivalente durante o período entre as guerras. Em seu estudo de como os artistas “de nível mundial” se desenvolvem, Geoff Colvin mostra, de forma convincente, pelo uso de estudos de caso sucessivos sobre os melhores artistas altamente bem sucedidos, em campos diferentes, que o desempenho excepcional é desenvolvido por meio da prática continuada ou deliberada. Isso sugere que, com base na prática continuada ou deliberada que eles obtêm, pelas simulações em realidade virtual de combate antes de juntar-se ao Exército, os jovens atuais talvez sejam inerentemente mais capazes de ser treinados (em termos de habilidade tecnológica e de instintos de combate) do que seus equivalentes do período entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coreia18. Esse interessante desenvolvimento da sociedade norte-americana pode servir bem à Nação, no caso de mais uma guerra em que seja necessário empregar a mobilização em massa, e é mais uma razão para reconsiderar o raciocínio de 1946, de limitar o GC a nove pessoas, pela questão de treinamento e integração rápidos de conscritos.

O crescimento da população como um fator determinante. Além disso, mudanças na sociedade, particularmente o crescimento de megacidades, desafiam a decisão da Conferência de Infantaria de reduzir o tamanho do GC para conseguir melhor comando e controle. Ao olhar para o futuro, o surgimento e a crescente onipresença das megacidades por todo o mundo significam que as guerras futuras provavelmente serão travadas em ambientes urbanos, extremamente congestionados e restritos. Segundo o Exército dos EUA, “é bem provável que as megacidades sejam o acidente capital do terreno estratégico, em qualquer crise futura que exija a intervenção militar dos EUA”. Isso ocorre principalmente porque os fatores como “a população, a urbanização e as tendências relacionados aos recursos que contribuem ao surgimento das megacidades não têm mostrado sinais que estão diminuindo ou revertendo”19.

Parece que o Gen Ex Mark A. Milley compartilha dessa perspectiva, declarando que “é quase certo que as guerras do futuro serão travadas principalmente nas cidades, o que tem implicações significativas para as Forças Armadas”20. Essa evolução dos ambientes urbanos aumentará o atrito de pessoal, equipamentos e munição nas operações de combate do futuro. A batalha pela cidade alemã de Aachen, em outubro de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, proporciona discernimentos sobre como o combate urbano futuro contra um adversário convencional, nas megacidades, pode afetar os grupos de combate. John C. McManus escreveu que apesar dos admiráveis esforços dos enfermeiros do Exército em Aachen:

As baixas ainda estavam erodindo o poder de combate das companhias de fuzileiros. Em poucos dias, a maioria operava com a metade ou dois-terços do efetivo. Cada noite, as equipes de logística de pessoal forneciam substitutos para as companhias. Isso mantinha as companhias de fuzileiros em operação, mas sempre abaixo do efetivo total, em uma constante necessidade de reforços21.

Em Aachen, os GC de 12 homens provaram, decididamente, que sua maior sobrevivência organizacional (capacidade de sobreviver e manter eficácia no combate em situações de atrito) era uma vantagem no combate urbano de alto atrito, contra um adversário convencional muito competente. Da mesma forma que em Aachen, bem como em outras batalhas travadas no terreno densamente urbanizado, no combate futuro contra um adversário de poder de combate equiparado em uma megacidade, os GC provavelmente perderão bem mais pessoal do que perderam contra os insurgentes nas cidades iraquianas. Então, eles precisarão ser maiores para permanecer efetivos após sofrer atritos. A sobrevivência organizacional provará ser especialmente importante nesse sentido, porque o sistema de substituição de tropas durante o combate não tem sido testado de tal maneira, desde a Guerra do Vietnã, há mais de meio século.

O GC na Dimensão Tecnológica da Guerra

A tecnologia deve ser um fator relevante na estrutura e na operação do GC do futuro. O desenvolvimento tecnológico e a automação têm aumentado a capacidade de maiores cargas de trabalho enquanto reduzem a necessidade de pessoal, no setor comercial. No entanto, o oposto é a verdade para o GC de fuzileiros. Parece que a tecnologia e a automação têm aumentado a carga de trabalho do GC nos campos de batalha contemporâneos, com mais equipamentos para os mesmos nove homens controlar e operar, além das funções de combate tradicionais.

A base do Grupo de Combate Tradicional. Os participantes da conferência apoiaram a recomendação de um GC de nove homens com base nas premissas sobre a tecnologia. Alguns raciocinaram que os avanços contemporâneos e futuros nos sistemas de armas, como os fuzis e metralhadoras aperfeiçoadas e mais leves, eliminaram a necessidade do poder de fogo fornecido pelos três integrantes adicionais de um GC de 12 homens. Em outras palavras, os participantes acreditavam que o melhor sistema de armas atual equipararia o poder de fogo de um GC de nove homens ao de um GC de 12 homens, que usavam armas mais antigas, assim justificando sua recomendação de um grupo de combate menor. Por exemplo, durante seu depoimento na conferência, Bradley declarou que ele pensava que o GC da Segunda Guerra Mundial era demasiadamente grande e era favorável à nova estrutura menor, declarando, “Com melhores armas, poderia ser melhor não ter muitos [fuzileiros] em uma equipe”22. Como projetado em 1946, as armas do GC melhoraram e o poder de fogo do GC aumentou. Contudo, devido à proliferação de avanços semelhantes entre os adversários potenciais, tais avanços já não são justificativas válidas para manter o GC de tamanho reduzido, de nove pessoas.

As transformações desde 1946 e as preocupações futuras. Embora a tecnologia militar desde 1946 tenha ajudado a aumentar o poder de fogo do GC ao seu nível atual e, sem dúvida, continuará a aprimorá-lo no futuro, já não é razão suficiente para manter o GC com seu efetivo atual ou reduzi-lo. De fato, muito pelo contrário, a tecnologia militar emergente que irá crescer e aprimorar a capacidade do GC, como VANT armados e outros sistemas robotizados, é um argumento convincente para o aumento do número de soldados no grupo de combate de infantaria, com mais uma esquadra de fuzileiros.

As Razões para Mudança

As transformações ressaltadas nos assuntos militares e na sociedade, bem como as projeções sobre a guerra do futuro, exigem que repensemos e reformemos o grupo de combate. Pela perspectiva operacional, já que o comando e controle é agora possível para um GC maior, o Exército deve aumentar o GC para expandir sua capacidade de sobreviver à destruição completa durante combates de elevado atrito com adversários de poder de combate equiparado.

Em termos de logística, o combate disperso nos campos de batalha futuros, para neutralizar a precisão do tiro do inimigo, exigirá maneiras inovadoras para reabastecer os GC remotos, sem sobrecarregar a infraestrutura logística no teatro de operações. A adaptação do GC para aproveitar novas tecnologias, como os VANT para suprimentos e logística, pode ajudar o Exército a lutar dispersado e dificultar a precisão do tiro pelo inimigo, nos conflitos convencionais futuros. Curiosamente, antecipando tais desenvolvimentos futuros, o Exército experimentou múltiplos protótipos de veículos aéreos não tripulados chamados Joint Tactical Autonomous Air Resupply Systems (Sistemas Táticos Conjuntos de Ressuprimento Aéreo), em abril de 201723.

Com base nas mudanças na dimensão social da guerra — o crescimento da população e as megacidades — e na possibilidade real de se envolver em combate urbano de alto atrito nas megacidades, uma ampliação no efetivo do GC aumentará sua capacidade de sobreviver no combate. Além disso, os desenvolvimentos tecnológicos no treinamento e a aumentada exposição ao combate entre os cidadãos civis chamados para o serviço obrigatório eliminam a necessidade de manter o GC pequeno, já que os recrutas aprenderão de maneira mais fácil como o GC opera.

Pela perspectiva tecnológica, o acréscimo de mais uma esquadra ao GC pode otimizá-lo para obter as capacidades de realizar reconhecimento por meio de sistemas não tripulados armados, de cibernética e de guerra eletrônica. Junto com a crescente filosofia do Comando de Missão, a expansão do GC para aproveitar as tecnologias mencionadas acima irá melhor prepará-lo a operar independentemente dos escalões superiores (pelotão e companhia), nos campos de batalha do futuro. No conflito futuro entre Estados, contra um adversário de poder de combate igual ou equivalente, os líderes do Exército visualizam campos de batalha onde as pequenas unidades (muito provavelmente os grupos de combate) lutarão dispersas para dificultar a precisão do tiro das armas e dos fogos do inimigo enquanto mantêm a capacidade de se reagrupar, quando necessário. Segundo Milley, haverá forte utilização de sensores nos campos de batalha do futuro e,

com sensores em todo lugar, a probabilidade de ser visto é muito elevada ... se puder ser visto, será atingido. Então isso significa que, simplesmente para sobreviver, nossas formações provavelmente terão que ser pequenas. Terão que deslocar-se constantemente. Terão que agrupar e dispersar rapidamente24.

Pode-se argumentar que a capacidade orgânica de combate mais essencial que os GC precisarão, quando lutarem independente dos escalões superiores (pelotão e companhia), é o reconhecimento. Em um campo de batalha futuro cheio de sensores, a importância de localizar o inimigo primeiro, por meio de reconhecimento, e rapidamente empregar fogos para destruí-lo, não pode ser subestimada.

Recomendações

O Exército deve considerar a restauração de uma forma modificada da equipe de reconhecimento de esclarecedores que usava durante a Segunda Guerra Mundial, para que o GC tenha mais capacidade de sobrevivência no combate de alto atrito, fornecer melhores recursos a ele para controlar a carga de trabalho das novas capacidades que estão sendo integradas (VANT, cibernética e guerra eletrônica) e ajudá-lo a operar e lutar independente dos escalões superiores, nos campos de batalha do futuro. Conceitualmente, uma equipe cibernética/reconhecimento de três pessoas, composta de infantes treinados em sistemas aéreos não tripulados e em sistemas robóticos, acrescentará capacidades permanentes de reconhecimento por meio de sistemas armados não tripulados, cibernética e guerra eletrônica ao GC. Essa mudança pode aumentar a capacidade de sobrevivência (quantitativamente) do GC como um pequeno elemento disperso no campo de batalha e facultá-lo a combater em múltiplos domínios [terrestre, aéreo aproximado e cibernético]. Além disso, a mudança pode prover aos GC a capacidade para aproveitar os VANT e a tecnologia robótica para ressuprimento nos ambientes de combate dispersos, do futuro. Essa reforma irá, também, criar uma estrutura organizacional flexível no GC para a integração continuada e o emprego da tecnologia militar de VANT e de robótica que está em rápida evolução.

Conclusão

As mudanças da guerra, dos assuntos militares e da sociedade desde os anos 40, bem como das projeções sobre o combate do futuro, invalidam suficientemente muitos dos argumentos, fatos e premissas fundamentais que produziram o grupo de combate tradicional de infantaria e, assim, justificam uma reavaliação e uma reforma institucional. A era atual é a mais oportuna para essa mudança, no momento em que conforme a Instituição considera as mudanças organizacionais que seriam melhores para capacitá-la a lutar em múltiplos domínios (terrestre, marítimo, aéreo, espacial e ciberespaço), coerente com o conceito de combate em múltiplos domínios.

Apesar de ser um tipo de vaca sagrada institucional, está na hora de reavaliar e reformar, de forma ousada e adequada, o grupo de combate ao aumentar seu tamanho, para otimizar sua capacidade de sobrevivência e seu desempenho. Segundo Milley, “É melhor para nós [o Exército dos EUA] abater nossas vacas sagradas nós mesmos, em vez de perder uma guerra porque estamos demasiadamente inflexíveis para pensar no impensável”25. Consequentemente, os estudos subsequentes não devem apenas ousadamente explorar e analisar novas estruturas organizacionais para o GC de todos os tipos de tropas (incluindo os GC de Stryker e de Infantaria blindada), mas também para a ordem de batalha inteira do Exército dos EUA (do pelotão até o nível de exército de campanha). O fomento dessa discussão é essencial para garantir que a estrutura e a organização do Exército dos EUA sejam otimizadas para o conflito, apesar das transformações surgidas nas dimensões da guerra.


Referências

  1. Report of Committee “B” on Tactics and Technique (Fort Benning, GA: The United States Army Infantry School, 1946), p. T-18, 6.
  2. Robert B. Brown, “The Infantry Squad: Decisive Force Now and in the Future,” Military Review 91, no. 6 (November-December 2011): p. 2, acesso em: 12 dez. 2017, http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/MilitaryReview_20120630MC_art004.pdf.
  3. John P. Kotter, Accelerate: Building Strategic Agility for a Faster-moving World (Boston: Harvard Business Review Press, 2014), p. vii.
  4. Army Techniques Publication 3-21.8, Infantry Platoon and Squad (Washington, DC: U.S. Government Publishing Office [GPO], 2016), p. 1-13.
  5. Michael Howard, The Causes of Wars, 2nd ed. (London: Maurice Temple Smith, 1983), p. 105.
  6. Ibid., p. 104-5.
  7. A. O. Connor, “The Infantry Conference: Lecture on Infantry Organization” (transcrição, U.S. Army Infantry School, Fort Benning, GA, 10 Jun. 1946) p. 1, acesso em: 11 dez. 2017, http://cgsc.contentdm.oclc.org/utils/getdownloaditem/collection/p4013coll8/id/441/filename/431.pdf/mapsto/pdf.
  8. Report of Committee “B” on Tactics and Technique, T-18. A “capacidade de sobrevivência” é usada neste artigo para referir-se à capacidade do grupo de combate de manter eficácia de combate em face do atrito. Isso é coerente com a definição doutrinária da capacidade de sobrevivência na Joint Publication 4-0, Joint Logistics (Washington, DC: U.S. GPO, 16 Oct. 2013), p. I-10: “A capacidade de sobrevivência é a capacidade de uma organização de obter a vitória apesar de impactos adversos ou de ameaças potenciais”.
  9. Field Manual (FM) 7-10, Infantry Field Manual: Rifle Company, Rifle Regiment (Washington, DC: U.S. Government Printing Office, 1942), p. 130, acesso em: 11 dez. 2017, https://ibiblio.org/hyperwar/USA/ref/FM/FM7-10/FM7-10-6.html; FM 22-5, Basic Field Manual Infantry Drill Regulations (Washington, DC: Government Printing Office, 1939), p. 57, acesso em: 11 dez. 2017, https://ia800308.us.archive.org/13/items/Fm22-5/Fm22-5.pdf.
  10. Report of Committee “B” on Tactics and Technique, p. T-18, 6.
  11. Ibid, p. T-18, 3.
  12. Ibid, p. T-18, 5.
  13. Ibid, p. T-18.
  14. Report of Special Committee on Organization of the Infantry Division (Fort Benning, GA: The United States Army Infantry School, 1946), p. 3, acesso em: 11 dez. 2017, http://cgsc.cdmhost.com/utils/getdownloaditem/collection/p4013coll8/id/418/filename/408.pdf/mapsto/pdf.
  15. Connor, “The Infantry Conference: Lecture on Infantry Organization,” p. 8.
  16. “Warfighter Information Network-Tactical (WIN-T),” General Dynamics Mission Systems (website), acesso em: 11 ago. 17, https://gdmissionsystems.com/c4isr/warfighter-information-network-tactical-win-t/. O Comando de Missão é uma filosofia que defende a prática de conceder o poder de decisão aos subordinados para executar missões dentro da intenção dos escalões superiores, empregando a iniciativa disciplinada.
  17. The Infantry Conference: Report of Special Committee on Organization of the Infantry Division (testimonial of Omar Bradley), p. 8.
  18. Geoff Colvin, Talent is Overrated: What Really Separates World-Class Performers from Everybody Else (New York: Penguin Group, 2008).
  19. Marc Harris et al., “Megacities and The United States Army: Preparing for a Complex and Uncertain Future,” Chief of Staff of the Army Strategic Studies Group, U.S. Army paper, June 2014, p. 5, acesso em: 11 dez. 2017, https://www.army.mil/e2/c/downloads/351235.pdf.
  20. Milley, “AUSA Eisenhower Luncheon,” p. 12.
  21. John C. McManus, Grunts: Inside the American Infantry Combat Experience, World War II through Iraq (New York: NAL Caliber, 2011), p. 120.
  22. The Infantry Conference: Report of Special Committee on Organization of the Infantry Division (testimonial of Omar Bradley), p. 8.
  23. Monica K. Guthrie, “Amazon-style ‘Drone Delivery’ the Future of Military Resupply,” U.S. Army press release, 14 Apr. 2017, acesso em: 11 dez. 2017, https://www.army.mil/article/186115/amazon_style_drone_delivery_the_future_of_military_resupply.
  24. Milley, “AUSA Eisenhower Luncheon,” p. 15.
  25. Ibid.

 

O Maj Hassan Kamara, do Exército dos EUA, éé componente do Grupo de Estudos Estratégicos do Comandante do Exército, atuando no grupo de Estudos Futuros do Exército e na Força-Tarefa de Modernização do Exército. É bacharel em Ciência Política pela Arizona State University e mestre em Estudos de Segurança pela U.S. Naval Postgraduate School e mestre em Aquisição pela Webster University. É um graduado com distinção do U.S. Naval War College Comand and Staff Course. Comandou uma companhia de Infantaria Stryker no Fort Bliss, Texas, e uma companhia blindada em Kirkuk, Iraque.

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Terceiro Trimestre 2018